São Paulo, 4 de dezembro de
2.000
Ivan Jubert Guimarães
Querido Papai
Noel,
Está e a segunda vez que te escrevo. A primeira, não
sei se está lembrado, foi há 18 anos. Naquela
ocasião fiz alguns pedidos e até acho que fui
atendido. Ganhei esperança, fé e pude dar aos meus
filhos a educação que queria. Eles tiveram uma
infância feliz e são sadios, trabalhadores e
honestos, tal como eu pedi. Ainda tenho dificuldade
em entender minha mãe. Meu pai, infelizmente, teve
que partir antes que eu pudesse entendê-lo. Também
não tenho mais minha esposa do lado. E quanto ao meu
País, ele ainda caminha a passos de tartaruga, só
que nem sei para onde.
A exemplo da primeira vez que escrevi, economistas e
políticos brincavam muito com a minha paciência.
Parecia que estávamos vivendo no País das
Maravilhas. E, parece, que estamos de novo vivendo
lá. Eu abro os jornais, as revistas, ouço no rádio e
vejo na televisão, que este ano será o melhor Natal
dos últimos tempos. No entanto, tenho ouvido por aí,
muitas queixas e dissabores. Lojas um tanto quanto
vazias, restaurantes sem filas de espera, muitas
classes de trabalhadores que não receberam seu 13o
salário e outras que nem vão receber. E falam que
será o melhor Natal da década.
Tenho medo de melhor Natal. Toda vez que vinha um
Natal melhor, atrás dele sempre vinha um Ano Novo
pior. Confesso que já nem sei onde vivo e, por isso,
nem vou me dar ao trabalho de colocar endereço de
remetente.
Virei empresário Papai Noel. Mas confesso sentir
saudades daquele tempo em que eu trabalhava
cumprindo ordens, mas recebia meu salário no final
do mês. Hoje, ainda cumpro ordens, mas com a
diferença de que já não tenho salário.
Carta pessimista não é? Pois é. Mas alguém que se
preocupa pode ser otimista quando abre os jornais e
vê tanta miséria, tanta politicagem?
A exemplo da vez anterior, não vou fazer nenhum
pedido material Papai Noel. Eu nunca liguei para
essas coisas embora eu confesse, neste instante, que
adoraria ter um pouco de dinheiro, só para pagar
algumas dívidas e comprar algumas coisas que
necessito. São dispensáveis, entretanto. Posso ficar
sem elas. Mas tem coisas, que não dá para ficar sem.
Tenho tentado mas não dá Papai Noel. Não dá mais
para viver sem coragem, sem objetivo, sem
determinação. Eu tinha tanto disso, que acho que
desperdicei bastante pelos caminhos da vida e agora,
tento voltar para trás e tentar achar aquilo que
joguei e não encontro nada. Acho que os passarinhos
comeram tudo, como na história do João e da Maria.
É, então eu retomo meu caminho seguindo em frente e,
aí eu olho nos rostos das pessoas e vejo que elas
também sentem medo, insegurança e também não fazem
nem idéia do que devem fazer. Elas também estão sem
objetivos. É claro que não é todo mundo. Tem gente
por aí, que sabe muito bem o que quer, e está
conseguindo. Mas aí eu olho de novo e vejo que elas,
que elas estão ficando doentes! Ou então, que elas
conseguem tudo o que querem mas estão perdendo
coisas de que ainda não se aperceberam. É. Tem
coisas que a gente nem sabe que tem e só dá pela
falta quando de fato a gente não tem. É.
Sabe Papai Noel, uma das coisas que eu mais gostava
de ser, era, era ser Papai Noel. Mas eu exorbitei de
minha função. Fui perdulário ao invés de generoso.
Fui imprudente ao invés de solidário. Fui
megalomaníaco ao invés de magnânimo. Eu sempre tive
dificuldades para lidar com os adjetivos.
No Natal, a gente sempre pede por coisas novas. Por
coisas que a gente nunca teve. Eu me lembro, hoje
mais do que nunca, de uma antiga canção de Natal que
dizia que Felicidade é um brinquedo que não tem.
Diz-me Papai Noel, não tem mesmo? Ou como as
revistas estão dizendo que esse Natal vai ser o
melhor de todos, o brinquedo já está esgotado? Mas
fica tranqüilo, eu não vou pedir felicidade não. Até
por entender que isso a gente não ganha, mas
conquista. É como liberdade.
Eu não quero presente Papai Noel, eu quero ajuda.
Ajuda para encontrar aquelas coisas pequeninas que
fui largando pelos caminhos que percorri. Ajuda para
que eu consiga me ajoelhar no chão e ficar catando
as migalhas que os passarinhos não conseguiram
levar. Ajuda para me levantar e retomar a caminhada.
Ajuda para o reencontro comigo mesmo. Ajuda para,
quando me olhar no espelho, poder ver os teus olhos
nos meus. Sabe aquele olhar de benevolência? Pois é.
É difícil de conseguir isso Papai Noel? Diz. É?
Eu só quero o que eu já tive. Ter uma família de
novo. Ouvir meus filhos me chamando de papai, assim
como eu estou fazendo com você agora. Diz, é
possível isso? É possível que eu ame e seja amado
outra vez? Eu sei que é mas o que eu quero saber de
verdade é se eu posso amar e ser amado pela pessoa
que eu amar. Eu preciso de alguém Papai Noel. Eu
descobri que não sei viver sozinho. Que eu preciso
ter alguém para tomar conta, para dar minha mão que
tem tanto calor e energia mas que não sabe construir
nada para si.
Como em todos os anos, como sempre fiz em todos os
natais, eu vou montar a minha árvore. E, neste ano,
ela vai ser tão bonita ou muito mais bonita do que
todas. Porque neste ano ela muito provavelmente não
terá embrulhos debaixo dela. Mas quem olhar pra ela,
mas com aquele olhar benevolente, vai poder ver
muita, mas muita esperança embaixo dela.
Quem olhar por entre os galhos, vai conseguir ver
muito amor espalhando-se, caindo de galho em galho.
Amor é uma coisa que nunca faltou dentro de mim.
Junto com os enfeites, vou pendurar pedacinhos de
bondade, de paciência, de amizade, de tolerância. E
na hora em que eu estiver passando os fios daquelas
luzes coloridas por entre os galhos, vou ajeitando,
para que todo mundo veja, aquelas contas pequeninas
de pureza e de encantamento que sempre aparecem por
ocasião do Natal.
Agora, Papai Noel, quando aquelas pequeninas luzes
acenderem, elas terão tanta, mas tanta luminosidade,
que vão iluminar as almas de todos os que a virem
piscando! Sabe, vai parecer que são os olhos das
pessoas é que se que acendem e apagam, acendem e
apagam. Só que o brilho, aquele brilho colorido e
maravilhoso deverá ficar para sempre nos olhos
delas.
E por falar em olhos Papai Noel, coloque seus olhos
sobre todas as criancinhas deste planeta, sobre
todos aqueles que necessitam de amor e de
compreensão.
Coloque seus olhos sobre aqueles que estiverem num
leio de dor na noite de Natal para que o seu
sofrimento seja amenizado.
Coloque seus olhos sobre todas as pessoas
ensinando-as a olharem-se nos olhos umas das outras.
Coloque seus olhos sobre os lares em desalinho para
que a harmonia volte a imperar.
Coloque seus olhos sobre aqueles que não têm amor em
seus corações e que por conta disso vivem a destruir
a felicidade dos outros.
Coloque seus olhos benevolentes sobre todos os seres
infelizes do planeta. E ai, sim Papai Noel, teremos
o melhor Natal, não da década, mas do milênio.
E antes que eu me esqueça, um Feliz Natal pra você.
WebDesigner Isolda Nunes
Juliana® Poesias ²ºº³ - Copyrigth© ²ºº³
Todos os Direitos Reservados®
Melhor visualização 800x600 ou 1024x768
Salvador - Bahia - Brasil | |
|
|