Uma Carta para Deus
Ivan Jubert
Guimarães
19/12/95
Deus! Esta é a primeira vez que vos escrevo,
embora já tenhamos conversado tantas e tantas
vezes.
Reconheço que muitas vezes em que vos invocava
meu pensamento vagava por outras coisas, por
prazeres materiais e muitas vezes procurava
terminar rápido nosso papo para que eu pudesse
fazer aquilo que meu pensamento desejava. Mesmo
sabendo de que nada adiantava minhas conversas
com esse espírito, eu não perdia a vergonha e
sempre vos procurava pedindo ajuda. De uma forma
ou de outra, essa ajuda sempre chegou e, muitas
vezes, eu sempre achava que havia conseguido o
que desejava pela minha própria capacidade, pela
minha inteligência. Quase nunca creditei meus
sucessos ao Senhor, meu Deus.
Quando se aproxima o Natal, meu coração inicia
um processo de purificação que vai aumentando à
medida que a data se aproxima. Daquele estado
nervoso que sempre antecede esses momentos,
paulatinamente, meu peito vai-se abrindo. Sinto
aquela vontade de ajudar cada irmão terreno. Dou
mais esmolas nessa época. Fico com imensa
ansiedade de ver felicidade espalhada em cada
rosto que vejo pelas ruas. Assisto filmes de
Natal e lágrimas me correm pelas faces. Sinto-me
puro e capaz de ver todos os meus erros.
As lições que tenho aprendido no evangelho de
Jesus, motivo de toda essa celebração, me chegam
à memória. Nesses momentos eu percebo o quão
fácil é ser perfeito. Tenho toda a teoria, sei
de que nada valem esses sentimentos fugazes e
tão efêmeros. Tão logo passa o Natal, eu volto a
ser como era antes: intransigente, egoísta,
nervoso, impaciente e por aí afora. Fico
imaginando um pobre qualquer que tenha recebido
qualquer ajuda de mim, na semana do Natal, e
voltar a pedir alguma coisa qualquer depois que
o Natal tiver acabado. Certamente ouvirá de meus
lábios que não tenho nada para lhe dar. E às
vezes, minha resposta será até humilhante.
Sempre temos algo para dar. Alguém já disse que
é dando que se recebe. Nós, infelizmente,
esperamos receber primeiro para dar depois.
Não faz muito tempo, escrevi para Papai Noel e
pedia que ele nos desse bons governantes, que
nos desse esperança. Pedia para que ele me
ajudasse na educação de meus filhos, que eles
tivessem uma infância feliz, uma juventude sadia
e que se transformassem em pessoas de bem,
honestas e trabalhadoras. Pedi que me ajudasse a
compreender meus pais, que me ajudasse a
respeitar e amar sempre minha esposa. Acho que
consegui muito do que pedi embora muitas vezes
eu estrague tudo. Mais de dez anos se passaram
desde então. Há dois ou três anos recebi a
resposta daquela carta. Mas nunca mais fiz
qualquer contato. Por que eu escrevi uma carta a
Papai Noel já quando adulto, se ainda criança
descobri que ele não existia? Por que escrevo
agora estas linhas falando dele? Acho que
descobri a resposta. Assim como mandastes Jesus
à Terra há quase dois mil anos atrás, vós mesmo
vos travestis de Papai Noel e chega até nosso
planeta para ver se aprendemos alguma coisa. O
presentear desta época talvez seja o sentido
prático do “é dando que se recebe”.
Por isso Pai nosso, criador nosso, fonte eterna
de amor e luz, meu Papai Noel, abençoa neste
Natal todos os nossos irmãos, que cada um dos
bilhões de teus filhos terrenos sinta no peito a
chama de vosso amor e do amor de Jesus. Que cada
um mande suas mais sinceras vibrações de amor e
paz a cada ser humano.
Que dentro das famílias haja amor suficiente
para ser multiplicado, nunca dividido.
Meu Deus, meu Papai Noel: ajudai-me a ser mais
condescendente com meus familiares, com meus
amigos, com meus companheiros. Dai-me de
presente a dádiva da compreensão e do
coleguismo. Dai-me de presente a consciência
permanente de meus atos, para que eu não aja
pelo impulso da ira, da inveja e do egoísmo.
Dai-me de presente a força e o equilíbrio para
que eu possa sustentar aqueles que necessitam de
meu amparo. Dai-me de presente a dádiva da
benevolência e da tolerância, virtudes já tão
esmaecidas do meu cotidiano. Dai a este país a
esperança de que finalmente as coisas vão dar
certo e que nossos governantes possam receber
vossa luz divina e realmente se dedicarem para
aquilo para que foram escolhidos. Dai a este
planeta a oportunidade de regeneração, que os
governantes do mundo percebam que não seriam
nada se não tivessem um povo para governar. Que
eles possam se ajudar na difícil tarefa de
preservação da raça humana. Dai aos povos do
mundo inteiro o alento de que necessitam.
Ajudai-nos a dar o pão a quem tem fome e a água
a quem tem sede. Ajudai-nos a dar trabalho para
quem tem filhos a sustentar.
Permita meu Deus, meu Papai Noel, que todos
aqueles irmãos que estão em vias de partir,
possam deixar registrado no Livro da Vida que
cumpriram sua missão. E Papai Noel, Pai amado,
dai vossa benção e proteção a todos aqueles que
estão para nascer. Que possam chegar à Terra e
encontrar um mundo melhor e que possam dar sua
contribuição para a regeneração deste planeta
ainda maravilhoso.
Finalmente meu Deus, meu Papai Noel, faça chegar
a todos os corações esta mensagem de paz e de
amor. Que todos, indistintamente, possam ter um
Feliz Natal e que o Ano Novo traga o que cada um
necessita de acordo com seu merecimento.
Com muito amor,
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