Mudando de Vida
Poemas escritos entre 01/72 e 04/93

Não importa a existência de dias negros, pois o mundo
continua girando e tornará a passar no ponto em que brilha o sol.


14.12.1971
O Desabafo de um Povo

Domingo de sol, o povo descansa;
Esquece o trabalho e o custo de vida;
Ninguém fala em problemas,
Ninguém lembra que o leite está mais caro;
Nem que a passagem do ônibus aumentou;
O café também subiu de preço,
Mas ninguém fala disso.

Tarde de domingo,
Ninguém fala do salário mínimo,
Que continua mínimo;
Ninguém pensa na fome que irá sentir 2ª. feira;
E na 3ª, 4ª, 5ª, 5ª e até sábado.

Tarde de domingo,
Ninguém pensa na 2ª. feira que se aproxima;
Ninguém quer lembrar que o preço da carne está alto;
Ninguém fala do arroz com feijão cotidiano,
Ou do pão que já não é mais como o de antigamente,
E está cada vez mais caro.
Tarde de domingo,
Ninguém reclama o que todos reclamam a semana inteira.

Tarde de domingo,
O estádio está lotado,
A gritaria é geral;
É o desabafo de um povo.



Erotismo

Na tela do Universo, o sol assistiu
a lua ser possuída pelo homem.


Verdade

Realmente, ninguém é insubstituível; porém,
são tão poucos os verdadeiros titulares.


29.11.1969
Despedida do Terceiro Clássico

Adeus amigos,
É chegada a hora de dizer-lhes adeus;
Um novo mundo se nos abre as portas
Mostrando-nos muitos caminhos a escolher.
Seguiremos por diferentes deles;
Eu por um lado, vocês por outros.

Adeus amigos,
A hora da escolha chegou;
Acabou-se o tempo de simples colegiais;
Agora, a responsabilidade se nos apresenta maior,
Pois temos que lutar sozinhos,
E muito, para alcançarmos a vitória.
Pensemos muito no que fazer daqui por diante
E, depois, retomemos a corrida com uma decisão firmada.

Vamos, vamos,
Não fiquem indecisos quanto as estradas a seguir;
Confiem em vocês mesmos,
Digam: “eu quero ser”,
E serão;
Digam: “eu vou vencer”,
E vencerão.

Adeus amigos,
É chegada a hora de dizer-lhes adeus;
É uma triste despedida esta que lhes apresento,
Pois talvez nunca tornemos a nos encontrar.
Agradeço-lhes toda a amizade que me ofertaram
Durante este tempo tão curto que passou.
Espero que os caminhos que temos a seguir
Encontrem-se num ponto qualquer,
Fazendo com que nós, um dia,
Possamos nos encontrar também.

Adeus amigos,
É chegada a hora de dizer-lhes adeus;
Como gratidão aos que me ouviram,
E aos que me ofereceram amizade,
Só posso dizer-lhes,
Companheiros de tão curta jornada:
Boa sorte nos caminhos da vida!


Mágoa

Adeus, tu mentiste pra mim;
Enganaste-me falando de amor.
Mas pra ti eu não signifiquei nada.
Usaste-me para te lamentares
E, agora, tal como soldado vitorioso,
Abandonas a arma da conquista,
E passas a viver em mundo diferente.

A mágoa que sinto no peito,
Calada, doída que dói,
Nem mesmo ela, essa maldita,
Fará com que eu esqueça de ti,
Pois este amor que cresce,
Este amor que é verdadeiro,
Que é honesto e sincero,
Nada destrói.

Vá, siga livre o teu caminho;
Não fiques indecisa, vá!
Siga pela vida afora;
Se voltares, ofereço-te meu perdão.
Dá-me um beijo de adeus,
Na mesma boca que te manda embora.


15.06.1970
Ao Cair da Tarde
Cai a tarde...

Da janela de minha sala deslumbro a paisagem úmida
da chuva que até há pouco caía.

Fico perdido em meio a pensamentos e incertezas alucinantes.
É estranho como às vezes se está contente e num repente sente-se vazio.
As coisas parecem perder o nexo. É engraçado como mudamos o modo
de pensar, à medida que as coisas se nos apresentam adversas.
Defendemos idéias e pontos de vista sem mesmo termos tido uma experiência.

As pessoas visam os próprios interesses, a conveniência própria.
Os conselhos que nos dão, não são o que é de melhor para nós,
e sim para os próprios conselheiros. Se eu digo sentir-me triste,
todos acham que não há motivo para isto. A mesma coisa se eu digo
estar irritado, vazio, aborrecido. Todas as razões que apresento
para o meu estado de espírito são bobas, sem sentido.

Se eu insisto em algum pedido e, às vezes, com raiva até, todos
acham que sou um egoísta que deseja fazer prevalecer a vontade.
Todos dão muitas desculpas para justificar uma ação qualquer e
sou obrigado a aceitá-las para mostrar compreensão.
Mas, no momento em que dou a mesma desculpa,
lá vem as críticas novamente.

A noite já se faz sentir presente, e eu continuo perdido em
meus pensamentos. Sinto muita vontade de, a qualquer momento,
mandar tudo para o inferno e viver sem ter com o que me preocupar
e até, sem ter em quem pensar.

Eu que defendia tanto a eternidade de certo sentimento, o
amor, hoje já não sei se o faria.

Realmente, eu preciso acreditar que nada é eterno, nem a
lembrança, nem a saudade, nem o amor. Tudo vai se transformando
de acordo com nossas necessidades, e o amor é uma necessidade humana,
tanto espiritual, como material.



12.01.1972
O Palhaço


Todos o olhavam com certa curiosidade.
Ele usava roupas esquisitas, antiquadas.
Tinha um gesto rude, às vezes desajeitado.
Nas ruas, só dava ele; despreocupado.
Não parecia ser um hippie. Ele era diferente em tudo.
Por isso todos o olhavam.
Quem seria aquele homem que despertava tanta atenção?

Alegre, rude, indiferente, tranqüilo. Chamavam-no
louco; ele não ligava. Chamavam-no palhaço, ele sorria.
Parecia ser feliz em sentir-se sozinho no mundo.
E estava. Feliz e sozinho. Afinal de contas por que é
que se precisa de amigos? E de amantes? Por que é que
a gente faz um bem a uma pessoa, ou procura fazer, e
somos maltratados e ofendidos por esta pessoa?

Era assim que pensava aquele homem que resolveu largar
de tudo quanto possuía para não sofrer novas desilusões.
Resolveu viver a vida a seu modo, pois cada um vive da
maneira que melhor lhe apraz. O homem estava cansado.
Cansou-se de tudo. Tinha um mundo à sua frente e
resolveu largar de tudo. Agora sentia-se livre, livre
como sempre desejara ser. Cansado e enojado de um, passara
a viver em outro mundo, um mundo todo seu.


10.04.1972
O Amor Mais Lindo do Mundo


Este amor amadurecido,
Consolidado e fortalecido,
Precisa às vezes de saudade,
Pois a saudade que ora eu sinto,
Dos poucos dias sem ver-te,
Dão-me a ânsia de chegar, beijar e ter-te.

Este amor que foi semeado,
Regado e bem tratado,
Me provoca em desafios.
Sinto no peito as chamas
De um fogo ardente e brejeiro,
E ainda a mesma emoção
De nosso encontro primeiro.

Este amor um pouco ciumento,
Necessitado e, às vezes, até violento,
Sabe ser doce e compreensivo;
É um amor orgulhoso eu sei,
Pois ele provoca teu pranto, mas confesse,
Tem seus momentos de acalanto.

Este amor fortemente sentido,
Sobre todo teu corpo estendido,
Foi o que de mais belo aconteceu;
Uma hora parece um segundo,
Este é o amor mais lindo do mundo,
E ele é todinho teu!



11.03.1972
Nenhum sentimento ou trabalho deve ser
prejudicado por orgulho ou egoísmo


Felicidade

Felicidade é sentir dentro da gente,
Um espírito vivo e confiante;
É ser puro, alegre e decente,
É ter esperança, é amar bastante.

Felicidade é ter um dia,
Apenas um dia que seja,
Muito amor pra dar, muita alegria,
Pra que todo mundo veja.

Felicidade é um sentimento raro,
É ter sempre alguém do lado.
Pra ser feliz o preço é caro,
Felicidade é ser amado.


24.10.1972
Metafísica

Muito além que qualquer sentimento,
Desejo ou necessidade por ou de alguém;
Muito além de toda a tirania humana,
De todas as crenças fanáticas,
Da fé em Cristo e em todos os santos;
Muito além da filosofia moral, espiritual ou
Materialista, das esperanças da vida,
Das certezas e das dúvidas;
Muito além das criações de meu cérebro,
Das fantasias absurdas;
Muito além dos fatos históricos,
Da realidade da ciência;
De minha imaginação;
Muito além dos mistérios de teu corpo,
Do meu desejo de tua carne,
Está o sentimento mais nobre e puro: o meu amor.
Um amor que agora é transcendental.



13.04.1972
O Assalariado

Por todo um processo exaustivo, rotineiro e enfadonho,
o assalariado tenta mudar de vida.
Quando amanhece o dia, lá vai ele para o chuveiro,
se houver. O café é sorvido rapidamente, quase
sem tempo para o pão e leite, se houver.
Aí vem a árdua espera do ônibus que
chega sempre lotado e atrasado.
Depois de muitas cotoveladas, muito empurra-empurra;
depois da roupa toda amassada e o sapato, limpo na
noite anterior, estar todo sujo, o assalariado chega
ao emprego, cansado e nervoso, e pensa como seria
bom ganhar na loteria esportiva.
Durante todo o expediente ele ouve ordens e reclamos:
“Faça isso, faça aquilo”, “Isto é urgente”, “Já está pronto?”.
Às vezes, sente vontade de mandar tudo à p.q.p. Mas pensa nas
dívidas assumidas, pensa no pão que não pode faltar.
Às seis horas sai depressa e tenta refrescar a cabeça enquanto
caminha em direção ao ponto de ônibus.
Numa tentativa de melhorar de vida, o assalariado vai à escola
noturna. O assalariado é universitário. Sente orgulho em pensar
que faz parte de uma classe privilegiada. Mas quando termina o
curso, vê que o mercado de trabalho está abarrotado. Então faz
outros cursos e assim por diante.
Quando chega em casa, depois da aula, toma um banho, tira o
suor do dia e vai jantar. Já é meia-noite e o assalariado volta a
pensar na loteria esportiva como solução de seus problemas.
Então ele sonha por uns cinco minutos e vai dormir porque ele
tem que se levantar às 6 horas.
Quando chega o tão esperado fim de semana, ele pensa em poder
descansar, mas não consegue. Tem que estudar ou sempre aparece algum
servicinho doméstico pra fazer. Se faz sol, ele está sem dinheiro e,
se o tem, chove. E lá fica ele em casa remoendo as tristezas da semana que passou.
Liga o rádio para ouvir o resultado da esportiva e vê que não fez
os 13 pontos. Ainda não foi desta vez. Pensa na 2a.feira que está
chegando e sente-se desesperado só de pensar em começar tudo de novo.
Pergunta a si próprio: “Qual será o meu futuro?”.


27.03.1973
Autenticidade

O que é autenticidade? Quando é que somos ou não autênticos?
Seremos falsos por natureza ou sofremos uma transformação
de nossa individualidade à medida que os fatos se sucedem?

A nossa reação aos acontecimentos é adversa, dependendo de
um estado emocional que se apresenta quase sempre diferente
do dia anterior pois, nos dias que correm, sofremos uma
avalanche de novas situações que assolam nossa mente já
conturbada pelas intempéries cotidianas.

O progresso chegou muito rápido, sem nos dar tempo suficiente
de nos adaptarmos ao novo ritmo de vida. A máquina empresarial
transformou-nos também em uma máquina. Por isso vivemos num
mundo moderno, conturbado e veloz. Estamos sempre em velocidade
constante. As coisas e os métodos tornam-se ultrapassados antes
mesmo de tomarmos conhecimento deles. É a metamorfose do progresso.
É a evolução que nos torna assim.

Hoje aprendemos algo que amanhã descobriremos estar errado.
Por este motivo chegamos a duvidar de tudo.

Ficamos sem saber o que é certo e o que é errado. Uma dúvida
permanente toma conta de nós e esta incerteza
alucina nossa mente já agastada.

Ora, tudo isto faz com que vivamos sempre em agitação.
Hoje fazemos coisas que se parássemos para pensar, nunca
faríamos. Mas, e tempo para pensar? E mesmo que houvesse tempo,
nossa mente não poderia raciocinar corretamente.

É por isto que muitas vezes os outros dizem que não nos
conhecem mais. E, às vezes, nós próprios não nos conhecemos
em determinadas situações. Como poderemos, então, saber se
somos ou não autênticos? Somos vivos e dinâmicos. Nossas idéias,
nossas reações e atos, variam de acordo com nosso estado emocional.

Hoje, como já vimos, nosso estado emocional é agitado e,
consequentemente, nosso estado mental é conturbado, é constante,
portanto normal.

Chega-se à conclusão que nos dias de hoje, a palavra autenticidade
não cabe mais a nenhum de nós, pois além de tudo o que já foi dito,
vivemos em competição com o próximo.

Eu substituiria a palavra autenticidade pela palavra dinâmico.
E o belo significado da palavra autenticidade ficará guardado
em uma página qualquer do dicionário.


03.04.1973
Soneto Para Um Anjo Que Dorme


Quando você está dormindo,
Despreocupada, terna e calma,
Seus lábios ficam sorrindo,
E doce sensação invade minha alma.

Quando você está dormindo,
Vestida com sua camisola transparente,
Que torna seu corpo ainda mais lindo,
Sinto-me, só de olhá-la, num mundo diferente.

Tudo fica de um belo infindo,
O mundo fica calmo e sossegado,
Quando você está dormindo.

Mesmo em sono você está amando,
E, quando você dorme,
O mundo todo parece descansando.


14.04.1973
Criança


Falar sobre crianças é fácil.
Criança é sinônimo de alegria, de pureza, de inocência e de amor.
Gostar de criança é gostar da gente mesmo.
É gostar da vida, pois quando vemos uma criança,
Lembramo-nos de nossa infância
E sentimos vontade de voltar no tempo
E fazer de novo todas aquelas brincadeiras e peraltices.
Os tempos mudaram,
Os brinquedos são mais modernos e abundantes,
Mas a alma da criança continua a mesma:
Pura, inocente e cheia de amor.
Eu gosto de criança que brinca, que faz peraltices.
Eu só não gosto de uma criança:
A criança chata.
Porque a criança chata torna-se um adolescente chato,
E o que é pior: um adulto chato.
E tenho dito.


19.04.1973
Auto-análise

Como é que um homem pode escrever de si mesmo?
Como assinar o nome em nossa própria análise?
Se falarmos bem de nós, se exaltarmos nossas qualidades,
chamar-nos-ão de vaidosos, egoístas e outros qualificativos
quaisquer. Se, ao contrário, falarmos de nossos defeitos,
seremos chamados de recalcados, complexados,
frustrados e por aí adiante.
A própria imperfeição aliada a um egoísmo nato em
qualquer ser humano, impede uma análise equilibrada
de nossa personalidade. A opinião do leitor ou ouvinte,
nem sempre irá coincidir com a do apresentador. Portanto,
o que dizer a respeito de meu comportamento como homem casado?
Devo dizer que me acho um bom marido e que serei um bom pai
para meus filhos? Devo dizer que amo minha esposa e que me sinto
realizado como marido? Não, eu creio que nada disso serviria para
avaliar meu comportamento.
O que eu posso dizer é que depois de casado, descobri que
em minhas mãos existe muito mais utilidade do que simplesmente
andar de mãos dadas com a namorada. Descobri nelas uma vontade
de trabalho, de luta, de amor, que até então eu desconhecia.
Descobri que minhas mãos precisam dar apoio. Descobri que mesmo
separado de minha esposa no horário de trabalho,
estamos sempre de mãos dadas.
Depois de casado, percebi quantas coisas e conhecimentos
achavam-se escondidos dentro de mim. Descobri que posso trocar
uma tomada elétrica, que posso fazer café e até cozinhar. Sinto,
hoje, que aquela vida parasitária já se vai longe.
Descobri, ainda, que o amor é muito mais belo que eu imaginava
que fosse. Que não é só na cama que devo agradar minha esposa
com palavras de amor, aliás eu já sabia disso. E quem, porventura,
teve a felicidade de ler meus versos, sabe como eu pensava antes
de me casar, sobre o amor. O que eu quis dizer foi que o amor
deve existir sempre vivo dentro de nós, independente de sexo.
Eu devo ser gentil com minha esposa, respeitá-la durante
todo o tempo. Afinal, nos dias de hoje, passa-se a
maior parte do tempo fora da cama.


19.04.1973
Mundo Lindo

Que mundo lindo,
Que vida linda esta.
Quanta coisa bela para se olhar,
Pra se sentir, pra se escrever, pra se encantar.
Quão belo é olhar uma criança correndo nos prados,
Atirando uma pedra no regato.
Quão belo é ver um pássaro bailando
Alegre e suave no espaço.
Quanta riqueza existe na natureza,
Quantas flores, quanta bondade,
Quanto perfume tem na rosa,
Quanta felicidade!
Quanto mistério tem no mar!
Quanta riqueza existe no mundo,
Dinheiro nenhum pode comprar.
Ah quando eu partir desta vida,
De certo sentirei saudade,
De meu pai, de minha mãe e
Dos beijos de amor de minha amada.
Que mundo lindo, que vida linda esta!
Tudo certinho, tudo equilibrado, nada falho.
E lá do alto, bem acima das nuvens,
Deus descansa de seu bom trabalho.


14.02.1974
Infância

As bolinhas de sabão vão subindo,
Levadas pelo vento, vão bem alto;
Parecem até impulsionadas por um ventilador.
Na esquina, o garoto assustado,
Amarrado no poste,
Vê com espanto outro garoto aproximar-se
Com uma espada de cabo de guarda-chuva,
O fichário e o blusão do colégio no chão.



14.02.1974
O Cigano


O homem com roupas coloridas,
Um brinco dourado na orelha esquerda.
Cobria-lhe o peito, comprido colar,
Como se fossem diversos clipes envoltos entre si.
O rosto barbado, o corpo suado,
Parecia até um espantalho,
Esses bonecos que ficam nos pés de milho,
Para espantar as aves.
Trazia nas mãos seus óculos e sua bíblia.
Era um padre.
Um interruptor da vida nômade pagã,
Que ainda conservava as tradições ciganas.



14.02.1974
Débora Cristina


Abril.
Uma nova vida se inicia;
É uma criança que nasce;
É minha sobrinha que chega.
Que lindos sóis,
Que lindas luas,
Que belas estrelas iluminem teus passos nesta terra.
Que o carinho de tua mãe,
Que a mão de teu pai
Façam de ti uma mulher de verdade.
Que saibas conhecer este mundo,
Que saibas conhecer teus amigos,
Que sejas feliz, eis tudo.
Que saibas, sobretudo, sem medo,
Ir de encontro à tua sina.
Felicidades eu te desejo,
Bem-vinda ao mundo menina.


23.04.1974
Pequena História de Uma Menina Triste


Marisa, moça bonita,
Vaidosa, pintada,
Cafona elegante.
Na tarde de sábado,
Marisa cansada
Se arruma bastante.
Se veste, se pinta, se enfeita.
Se prepara para outra noite de aventura.

A lua vem cedo,
Marisa satisfeita,
Marisa impura,
Marisa da vida,
Marisa dos homens,
Marisa do amor.

Mas chove e Marisa entristece.
E só, a miséria aparece.
Seu quarto sujo e alagado,
Estraga sua noite de sábado.
E Marisa se lembra
Quando era Maria
E os dias de sol.


10/10/1974
Num cartão de casamento

Uma só palavra:
Amor.

Uma só relação:
Amizade.

Dois corações
e
Um só desejo:

Felicidade.


08.11.1974
Carta Para Mauricio

Meu filho, esta é a primeira vez que te escrevo.
Não sei por que mas ao olhar-te, a única vontade que tenho,
Não é a de sentar-me e pensar sem nenhum enlevo;
Minha vontade não é a de sair, é de ficar, por isso eu venho.

Meu desejo é ver-te crescer e te tornares um homem;
É ver-te amadurecido, honesto e com dignidade;
Não é ver-te rico, famoso por coisas que se consomem;
Estas coisas não te trarão felicidade.

Amanhã, quando tu fores adulto,
Quero que te lembres de tua infância;
Quando te olhares no espelho e vires teu vulto,
Possas dizer: “hoje sou homem, mas um dia fui criança”.

E quando eu me for deste mundo, deixando-te sozinho,
Que não te sintas um homem só, porém um forte;
Pois com fraqueza não se vive, morre-se aos pouquinhos;
Portanto, lute com força, com afinco, e trace tua sorte.

Tenha fé, creia em Deus, faça Dele teu melhor amigo;
Nunca desanimes, nunca perca a perseverança,
E meu filho, apenas mais uma coisa te digo:
Brinque, brinque muito; e tenha um feliz dia da criança.



12.10.1977
Oração para um time 23 Anos sem ser campeão



Ave Corinthians cheio de graça,
Quero-te hoje com toda a tua força, com toda vontade,
Te quero brioso e cheio de raça,
Pois hoje eu quero cantar na cidade.

Não temo a derrota, não temo o fracasso,
Mas não quero e nem posso ver meu povo chorando,
Eu quero a alegria do mundo num abraço,
Quero o povão teu hino entoando.

Jogue com raça e chegue em primeiro,
Que a Fiel vai lá te ajudar Timão;
Pois o povo deste Brasil inteiro,
Te ama e deseja te ver campeão.

Vamos Corinthians, entra com garra,
Se tu precisares também lá eu vou,
Quero que ganhes este jogo na marra,
Quero o povo num grito uníssono de gol.


13/10/77
Aline
( Para quando você tiver a primeira briga com o papai)


Eu só quero te amar,
E nunca chegar tarde para ti.
Quero te compreender em todo teu momento incerto,
Dar-te meu apoio sempre que preciso,
Por isso quero estar sempre por perto.

O que eu não quero, juro que não quero,
É dominar tuas vontades.
Vais crescer, te transformares em mulher,
E terás as tuas vaidades.
Seja, pois, desde já, aquilo que queres ser.

Eu quero te ver crescer solta,
Sem mentiras, sem receios, sem preconceitos.
Quero que lutes sempre por teus direitos.
E filha, minha maior vontade:
Quero que nunca te esqueças o que é liberdade.
Com um beijo.


02.05.1980
Jeanne

Você que quer um poeta para marido,
Não sabe, talvez, que neste mundo sofrido,
Não existe mais lugar para poesia;
Mas já existiu, eu sei, um dia.

Hoje, o poeta é apenas um sonhador;
Fala de paz e de um mundo cheio de amor;
Fala da felicidade de modo até insano,
Fala da liberdade num mundo tirano.

Mas, apesar das adversidades,
Os poetas de todas as idades
Fazem poesia e vivem de um sonho;
Falam de um mundo belo, num mundo medonho.

É que o poeta revela em sua fantasia,
Que compensa todo sofrimento por um pequeno momento de alegria;
Acredita que seja por quanto tempo for,
Todos têm o direito de viver um grande amor.

Por isso menina, carregue sempre consigo,
A lembrança deste poeta, seu primo e amigo,
E ame, ame a todos nem que seja só por um instante;
Que a vida é muito curta, mas quem ama vive o bastante.

Não se preocupe muito em ser amada,
Nem seja possessiva, isto não leva a nada;
Cada um tem o amor que merece,
Lute pelo seu, que um dia ele acontece.

E que o mundo seja muito bom pra você.


18.05.1980
Alguma Coisa

Alguma coisa em mim está mudando;
Não sei bem o que, mas algo acontece.
De repente, nos versos que vou criando,
Escrevo tudo que o meu medo emudece.

Cansado deste sistema obscuro,
De opressões e violências constantes,
Quero de volta o direito seguro,
De votar e escolher meus governantes.

Quero acabar com as incertezas e receios,
Ter uma situação de vida mais amena;
Quero lutar com meus próprios meios,
Por algo que realmente valha a pena.

Quero que acabe o sentimento impuro
De desventura e participação alienante,
Quero ver meu povo, num breve futuro,
Passar de dominado a dominante.

Alguma coisa realmente importante
Aos poucos me torna consciente,
É algo forte e muito vibrante
Que toma conta de minha mente.


26.05.1980
Sonho Impossível


Quisera fosse possível,
Um novo e belo futuro;
Atingir o mais alto nível,
Descobrir o meu porto seguro.

Deixar bem longe o passado,
Tornar livre tudo que foi proibido;
Ser mais eu, certo ou errado,
Amigos fiéis para não ser traído.

Deixar de ser um burocrata,
Ser to tipo “se eu gosto eu faço”,
Todos fossem da mesma nata,
Governado e governante num abraço.

Houvesse uma única crença;
Que todo pobre tivesse um abrigo;
Houvesse remédio para cada doença,
Não existisse crime nem castigo.

Abundâncias de safras o ano inteiro,
Que o ensino melhorasse de nível,
Que todo patrão fosse brasileiro,
Tomara tudo fosse exeqüível.



09.06.1980
Lembranças
Para Silvia e Jeanne

Ao vê-las assim crescidas,
Eu que quase as vi nascer,
Voltei às páginas esquecidas
Sentindo vontade de escrever.

Penso nos tempos de criança,
Quando tudo inda era fantasia;
Quando não havia tempestade, só bonança,
Quando não havia tristeza, só alegria.

Lembro de seus primeiros dias de escola,
Das primeiras revistas em quadrinhos,
Da gente no terraço jogando bola,
De eu as erguendo pra que vissem os passarinhos.

Das camas arrumadas no chão,
Das brincadeiras de cavalinho,
Do doce de leite com pão,
De tudo guardo muito carinho.

Porém a situação iria ser outra;
Já num teto que não era nosso,
Vivemos uma vida amarga, quase louca,
Que eu tento esquecer mas não posso.

E lembro de uma noite de 1968,
Que não consigo apagar de minha mente:
Uma discussão sem sentido, um gesto afoito,
Depois a partida que na época era para sempre.

Sem nada entender, sem culpa de nada,
Arrancadas do sono ainda crianças,
Partiram já quase madrugada;
São tristes e vãs tais lembranças.

Foram-se passando os anos,
Sem notícias, sem encontros, sem alentos,
Mas apesar de tantos e tantos danos,
Foram muitos os nossos bons momentos.

E Agora com o reencontro acontecido,
De tudo guardo imensa saudade,
Mas quero recuperar o tempo perdido,
Cultivando muito e cada vez mais nossa amizade.



08.06.1980
Amor Eterno

Eu quero construir um castelo
Para abrigar meu amor infinito;
Eu quero que este amor seja muito belo,
Mais que maravilhoso, muito mais do que bonito.

Quero um amor forte e independente,
Despreocupado e atrevido sem ser banal;
Que de ambos os lados não seja carente,
Pode ser doce e ingênuo, mas que seja imortal.

Eu quero uma relação sem promessa;
Navegar em um mar de delícias,
E quando eu te amar, sem nenhuma pressa,
Que antes, durante e depois, não faltem carícias.

Quero que à noite ele te rompa as barreiras,
Que te torne frágil, sensível e impura,
Pois quero te amar de todas as maneiras,
Fazendo de cada momento um mundo de loucura.

E, finalmente, que haja muita amizade,
Que este amor nunca seja esquecido,
Que após a morte, exista saudade,
Quando um de nós houver partido.


12.06.1980
Meus Filhos


Alma pura de criança
Lânguida e doce nas manhãs;
Inocente e bela nas tardes.
Nas noites, irrequieta e faladeira.
Es um anjo, minha filha

Meu grande companheiro,
Ainda um menino,
Um moleque levado à beça.
Ranzinza demais, às vezes;
Interesseiro, sabe o que quer.
Carinhoso e calmo (quando dorme)
Inteligente e ativo,
O meu filho querido.



05.11.1982
Sonhos

Na febre provocada por meus anseios,
Tornei minha mente delirante,
Deixei-me levar por devaneios,
E te senti o corpo inteiro vibrante.

Afastei de meu peito todas as dores,
Abri por inteiro meu coração.
De repente não tinha mais temores,
Passei a viver um momento de ilusão.

Tinha que ter teu corpo, fosse como fosse,
E avancei despojado de receios,
Sentindo o gosto autoritário da posse,
Fazendo do travesseiro, tua boca, teus seios.

Segui dizendo frases sem nexo,
Minhas mãos te afagando os cabelos,
Meu sexo procurando teu sexo,
Teu corpo não resistindo aos apelos.

Por fim, sentido-me extasiado,
Acordei, cansado do jogo,
Mas vendo-te, linda, acordada ao meu lado,
Simplesmente começamos tudo de novo.


08.11.1982
Bailarina

Suavemente seu corpo se ergueu do chão;
Como se levantasse vôo, ela se elevou;
Não a vi de perto, mas parecia bonita.
As músicas se sucediam e ela,
A cada nova melodia,
Parecia se fortalecer e dançava, dançava;
Cada movimento seu, a cada compasso,
Foi um momento de rara beleza.
Era gostoso ver seu corpo bailar com tanta leveza.


1980

É difícil fazer o povo pensar em liberdade,
quando ele está preocupado com a sobrevivência.


Acho estranho defender a ecologia,
morando num apartamento de cobertura.


Anatomia

Este teu jeito irreverente,
O andar solto e descontraído,
Lindos olhos e um olhar distraído
São tão belos que apaixonam a gente.

Esta tua voz morna e macia,
A beleza e suavidade dos gestos
Pervertem todos os homens, mesmo os honestos;
És santa, no entanto, que ironia.

Uns brincos sempre pendurados na orelha,
Este nariz um pouco batatinha,
Teu sorriso formando covinha,
Ah como és bela companheira.

O conforto de teu abraço,
A umidade e calor de tua boca,
(Ah meu Deus que coisa louca),
Tua mão amiga em tudo o que faço.

Teus pés tamanho trinta e sete,
Tuas pernas, grossas e bem torneadas,
Tuas coxas macias, aveludadas,
Serão sempre minhas? Vamos, promete?

O colo onde me aconchego,
E durmo meio sem jeito,
Sentindo-te arfar o peito,
Produz em mim forte chamego.

E fico-te grato para sempre,
Por tuas atitudes amenas,
Pelas decisões sempre serenas,
Pelos dois frutos (maravilhosos) de teu ventre.


11/11/1982
O Presente
Para Aline nos seus 3 anos

Queria que hoje não chovesse
E que o sol brilhasse o dia inteiro;
E que quando a noite chegasse,
Houvesse no céu muitas estrelas a brilhar.

Que uma lua cheia de luz te iluminasse,
Que uma pombinha branca fosse tua companheira,
Que eu pudesse ficar todo o tempo contigo,
Para que não chorasses nunca mais.

Queria que a vida te fosse generosa,
E que o medo nunca te dominasse.
Queria que fosses sempre com esperança,
Todos os problemas do mundo enfrentar.

Queria que o tempo parasse,
Para que nunca viesses a sofrer,
Pois esta infância princesinha,
É a melhor época de se viver.

Queria que tua vida fosse,
Uma vida de paz e de liberdade,
Queria que fosses sempre feliz,
Este é o presente que eu queria te dar.



24/11/82
Vida de Cachorro

Depois de procurar por restos de comida no lixo
alheio, e matar sua fome,o mendigo, antes
de dormir, mija no poste.


Saudade
Para Laura

Com meu desejo reprimido,
Por medo, respeito e amizade,
Alimentei um sonho, escondido,
Que seria lindo, fosse realidade.

E te senti o corpo presente,
O riso alegre, a tristeza do olhar;
E mesmo te sabendo ausente,
Senti meu corpo todo vibrar.

Mas um vazio se me fazia sentir,
Pois, de repente, abraçava o nada,
E, de longe, te vendo partir,
Senti uma saudade antecipada.

E só, pensei até fazer promessa,
Que te fizesse voltar,
Pois se o tempo vai sempre tão depressa,
Por que agora demora tanto a passar?




21/01.83
Um Dia, Um Amigo
Para Giácomo Cacici


Nesta vida, que sempre nos desaponta,
Seria triste ter que dizer adeus,
Principalmente se se levar em conta,
Que os teus caminhos, também foram os meus.

O tempo consegue preencher o nada
E tornar-se uma doce lembrança, esquecida.
Mas, assim como num conto de fada,
Nossa amizade será, pela ausência, fortalecida.

Assim, não serão esquecidos,
Ao contrário, serão sempre lembrados,
Nossos bons momentos vividos.

Nossa amizade será eterna, até a morte;
Portanto, companheiro, nada de despedidas,
Vai com Deus e boa sorte.
 

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