Pérolas aos porcos
Ivan Jubert Guimarães
19/09/2006
É impressionante como o
homem muda o destino das coisas sempre fazendo
prevalecer seu próprio egoísmo sobre todo o
resto, não se importando em momento algum com o
sofrimento que suas decisões podem provocar nos
outros, em outras famílias, no povo em geral.
Todos querem ter poder e poder exercê-lo da
forma que quiser. É incrível o que o homem faz
para conquistar o poder, para ter riquezas que
ele mesmo nunca conseguirá gastar sozinho em
toda uma vida.
Sociedades antigas, da Idade Média, por exemplo,
procuraram se organizar de acordo com as
profissões exercidas com o intuito de conservar
dentro das famílias os conhecimentos específicos
de cada profissão, onde os ensinamentos eram
passados de pai para filho, ou mesmo de mestra
para aprendiz. Essa prática, entretanto, data
desde os tempos de Cristo, pois os hebreus já a
utilizavam. E foi assim que nasceu o
corporativismo, que nada mais é, do que o uso e
abuso do egoísmo, fechando as portas para quem
quiser seguir determinada profissão.
O tempo foi passando e o homem foi aprimorando
cada vez mais a sua forma egoísta de gerir seus
negócios. Daí foram sendo criadas as
organizações patronais, sindicatos, associações
de classe, conselhos representativos de classes,
CRM, CREA, OAB e muitas outras entidades.
Fui soldado da Infantaria quando prestei o
serviço militar e em uma das primeiras
instruções gerais, a tropa toda em forma, foi
passada a idéia do que seria o espírito de
corpo, um soldado da infantaria deveria sempre
defender outro soldado da infantaria. Algo como
a gente via nos filmes americanos, sempre eles,
promovendo rivalidades entre marinha e exército
e força aérea.
Corporativismo, além da organização social de
interesses profissionais, também significa “uma
ação sindical, política, etc. em que prevalece a
defesa dos interesses ou privilégios de um setor
organizado da sociedade, em detrimento do
interesse público”, segundo definição do
Dicionário Aurélio.
Tente processar um médico, um advogado, um
engenheiro, você que é um cidadão comum. Tente
ir a uma delegacia e dizer que um policial o
destratou. Aí você vai ver funcionar o “tal do
espírito de corpo”. Corpo de corporativismo.
Mas a pior manifestação dessa coisa nojenta se
dá quando você tenta tirar um político do poder.
Você esbarra em tantos mecanismos de defesa que
acaba desistindo por razões que podem ser as
mais diversas possíveis, como medo de
represálias, falta de dinheiro para sustentar
seu advogado ou porque sabe que não vai dar em
nada. Eles se protegem entre si,
independentemente dos partidos aos quais
pertencem. Aliás, hoje em dia, não devemos mais
dizer que fulano pertence a tal partido, tamanha
é a infidelidade partidária. Mas eles têm lá o
seu código de ética, o seu código de honra que
visa exclusivamente a proteção de seu
corporativismo e lembrando o Aurélio, em
detrimento do interesse público. Governo e
oposição caminham de braços dados e é por isso
que fingem se respeitar, fingem ter ética, em
época de eleição principalmente.
Corporativistas políticos. Quem teve a
oportunidade de ler A Revolução dos Bichos de
George Orwell, certamente entenderá porque foram
os porcos que assumiram o poder na Granja do
Solar. Em Brasília também tem um granja.
As eleições estão aí. E você, vai jogar pérolas
aos porcos?
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