No início era apenas mais uma ostra fechada como as demais naquele fundo de mar onde nos conhecemos. Não que fosse um mar de tormentas, não! Era um mar bonito, em cujo fundo nadavam peixes de todos os tipos, a maioria muito belos.
Eu aparecia por lá como um simples pescador. Mergulhado naquelas profundezas a tudo eu observava em silêncio, silêncio esse que era rompido algumas vezes em conversas com outros pescadores sobre o tempo que estavam lá e quanto tempo faltava para irem embora.
Apesar de estar fechada dentro de si era impossível não ver uma ostra no fundo, pois, mesmo fechada, notava-se certo movimento dentro dela. Ela parecia balançar, mesmo no fundo do mar.
Foi preciso que uma sereia, já em outros mares, me alertasse sobre aquela ostra e que eu deveria abri-la, pois ela sentia que daquela ostra saia uma energia muito forte. Decidi, então, atender ao pedido da sereia, pescador que se preza jamais contraria uma sereia e acreditem, elas existem.
Aproximei-me, confesso que até meio sem jeito, daquela ostra, agitava nas mãos uma folha de papel branco como se fosse uma bandeira de paz. A ostra se abriu e então, que maravilha o que lê de dentro saiu: duas pérolas maravilhosas como eu nunca havia visto antes. Eu podia vê-las, podia ouvir suas falas e uma delas até que falava bastante! Mas que delícia ouvi-las falando e sorrindo. E quando sorriam era como se dezenas de outras pérolas brancas surgissem de dentro delas. O mar ficava mais claro lá no fundo. Eu, como pescador queria-as para mim. Mas não pude! Jamais poderia deixar que aquelas belezas saíssem de seu habitat e tornei-me, assim, uma espécie de anjo guardião.
Abandonamos aqueles mares, levados por uma correnteza e acabamos nos separando. As marés foram nos levando para outras enseadas e profundezas, mas parece que algo muito forte nos une até hoje. Algo telepático talvez, embora eu prefira dizer que é mágico. Afinal trata-se de um contato entre um velho pescador e duas pérolas. Sim, magia! É nisso que se tornou essa história de pescador, que conto aqui mesmo sabendo que ninguém vai acreditar.
Faz mal não! É até melhor que isso fique apenas entre nós. Afinal o que é belo é para ser sentido e contemplado. Não é para ser espalhado, até por respeito à natureza que as criou. Mas, quando a saudade se faz presente, esse velho pescador caminha pelos rochedos, não sem um pouco de medo, mergulha nas águas frias do mar e grita:
Núbia!!!! Núria!!!! E elas ressurgem das profundezas, com toda sua magnitude e beleza, e me dizem, em vozes uníssonas: “que surpresa seu Ivan e que saudade!”
História de pescador? Quem sabe?



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