Ultimamente eu tenho nadado com a maré baixa e
me ralado todo de areia do fundo do mar.
Adoro o meu trabalho e tenho uma secretária
exuberante e quiçá inteligente também. Sabedora
disso, ela se veste muito bem, com roupas
provocantes e blusas que sempre deixam aparecer
as curvas de seus seios maravilhosos. Ela é meu
braço direito, sabe? Aquele que a gente usa
para...
Ela é muito gentil comigo, parece até uma
doméstica de luxo, pois limpa minha mesa
diariamente e assim que chego ao trabalho, logo
ela me traz um café e, enquanto eu o sorvo
lentamente, ela me diz a agenda do dia. Gosto
quando ela faz um biquinho quase imperceptível
quando tenho alguma reunião com outra mulher.
Ela tem pernas longas e bem torneadas e seus
seios são médios, daqueles que você pode segurar
em uma das mãos. Ah! Ela digita muito bem no
computador e é atenciosa e educada ao telefone.
Para meu azar, ela tem carro e costuma vir
trabalhar com ele e, assim, nunca pude
oferecer-lhe carona. Mas, um dia, ela comentou
que o carro estava na revisão e “logo hoje que
está chovendo” ela emendou.
- Se quiser, eu posso lhe dar uma carona –
murmurei.
- O que você disse?
- Disse que posso dar-lhe uma carona.
- Não quero incomodá-lo chefinho, eu pego um
táxi.
- Táxi? Com chuva? Nem pensar, eu levo você.
- Então está bem.
Aquele finalzinho de tarde não passava e estava
difícil controlar minha ansiedade. Salete, esse
é o nome dela, estava radiante como sempre, mas
os seus olhos estavam mais brilhantes naquele
dia, convidativos talvez.
O expediente chegou ao final e ela foi ao
toalete para se arrumar. Com a maquiagem
retocada ela parecia uma deusa. No elevador, o
perfume dela inebriava a todos. Os narizes se
voltavam para ela. Eu atrás dela encostava minha
perna ligeiramente, bem de levinho, na perna
dela. Ela parecia impassível e eu estava
esquecendo de respirar. No térreo, desceram
quase todos e eu segui com o elevador até a
garagem.
Quando Salete sentou-se no carro, sua saia subiu
um pouco e algo subiu em mim também. Que pernas!
Claro que eu sabia o que havia no meio delas,
mas eu precisava ver. Quase gaguejando,
perguntei:
- Pra onde?
- Pra fora – ela respondeu rindo, pois ainda
estávamos na garagem.
Menina espirituosa, mas ela não perdia por
esperar. Saímos da garagem e ao chegar à rua
demos de cara com um trânsito todo parado.
Meia hora depois ainda estávamos próximos ao
escritório e já começava a faltar assunto sobre
o trabalho. E aos poucos, fomos ficando calados
e o trânsito parado. Vez por outra eu olhava
para aquele par de pernas e para seus seios e
ela mordia os lábios.
- Está nervosa? – perguntei.
- Odeio esse trânsito.
- A gente podia parar em algum lugar e...
- Já estamos parados.
Essas gracinhas dela começavam a me incomodar,
pois me deixavam sem jeito de ir um pouco mais
adiante, mas quem sabe teria sido um sinal?
Coloquei um CD com músicas suaves, sempre
carrego alguns no carro,
quando a voz de Nat King Cole entoou “When I
fall in love, it will be forever...”
eu não mais resisti. Peguei a primeira rua
transversal e saí daquela avenida congestionada.
- Adoro essa música – ela disse.
- Eu também – murmurei.
- Escuta Salete, o trânsito por aqui também está
horrível e nem sei aonde esta rua vai dar. Que
tal pararmos para beber alguma coisa, esperar o
trânsito melhorar e aí eu te levo para casa? –
disse tudo isso sem respirar.
- Está bem. Você conhece algum lugar por aqui?
- Para ser sincero, nem sei onde estou.
- Vá em frente, lá em baixo tem um cruzamento e
tem dois barzinhos por lá. Dá até para escolher.
Fiz o que mandou e segui em frente. De fato, no
cruzamento, havia dois barzinhos incrementados.
Um deles, que devia ser o melhor, estava quase
lotado. O outro, do outro lado da rua estava
meio vazio. Optei por este, pois não estava com
vontade de multidão. Eu não percebi, mas quando
ela foi descer do carro pôs o pé numa grande
poça d’água e molhou-se bastante. Pedi desculpas
pelo ocorrido e ela disse para eu não me
preocupar.
Sentamo-nos a uma mesa de canto, o lugar era
aconchegante, e pedimos uma garrafa de vinho e
uma porção de queijo parmesão. Falei:
- Deixe-me enxugar seus pés com o lenço.
- Não precisa chefinho, mesmo!
- E se eu insistir? Confia em mim, não vou me
aproveitar e fazer nenhuma sacanagem não.
Ela riu e permitiu que eu enxugasse seu pé,
erguendo ligeiramente a perna em minha direção.
Ah! Não dava para não fazer uma pequena
sacanagem, pelo menos tentar, e eu tentei.
Segurei seu tornozelo e passava o lenço por sua
perna desde atrás do joelho até os pés.
- Estão gelados – ela disse.
- É, estão sim. Eu gostaria de esquentá-los. –
Ela nem escutou meu sussurro.
Mas conversa vai, conversa bem, fui aproximando
meu pé direito do pé direito dela e fui
encostando, ela se retraiu um pouco, mas o calor
de meu pé contra seu pé gelado fez com que ela
mudasse de idéia. Aquela perna já era minha.
Agora tinha que pegar todo o resto.
Servimo-nos das últimas taças de vinho e a chuva
continuava forte. O ambiente estava quase vazio,
como eu já disse, e o dono do estabelecimento na
tentativa de segurar os poucos fregueses,
arrastou algumas mesas do centro e colocou
músicas românticas e mandou para as poucas mesas
ocupadas algumas porções extras de petiscos. Foi
a deixa para eu chamar mais uma garrafa de
vinho.
A conversa fluía mais descontraída agora. É
incrível o que o vinho faz com a cabeça de uma
mulher. Salete estava mais solta e descontraída
e isso foi fazendo com que eu vencesse aquela
timidez inicial e arriscasse:
- Você quer dançar?
- O que foi?
- Não foi nada, só resmunguei.
- E por quê?
- Nada não.
- Você está muito estranho chefinho.
Eu odiava quando ela me chamava de chefinho lá
no escritório, mas ali, naquele bar quase vazio,
com uma chuva forte do lado de fora, era
delicioso ouvir aquela voz aveludada.
- Não estou estranho não, imagine!
- Você é sempre tão alegre e espirituoso e está
tão calado. Acho que não se sente à vontade em
estar aqui comigo.
- Deixa de bobagens Salete. – Era estranho como
minha voz saia forte como sempre quando eu
conversava sobre coisas triviais com ela. – É
que eu não consigo de parar de olhar para você!
- Só escutei para eu deixar de bobagens, o resto
não ouvi.
Tomei um grande gole de vinho, senti o rosto
pegar fogo e emendei:
- Eu não consigo parar de olhar pra você!
- Quer trocar de lado? – E lá vinha ela com
outra gracinha.
- Vamos dançar! - E já fui me levantando antes
que eu mesmo mudasse de idéia. Ela não teve
escolha senão levantar-se também. Nos dirigimos
ao centro do bar, peguei sua mão e começamos a
dançar. O sujeito tinha acabado de trocar o CD e
agora colocara um CD de um tal de Luís Miguel,
boleraço.
- Hum eu adoro Luís Miguel! – e eu nunca tinha
ouvido falar dele.
- Eu também gosto, canta bem ele não?
A cada bolero que tocava eu ia apertando-a um
pouco mais e nossos rostos foram se aproximando,
aproximando e eu já senti meu corpo comprimir os
seus seios. Mas ainda estava tudo dentro do bom
comportamento, afinal de contas ela era minha
amante, ou melhor, ela era a minha secretária e
era eu que já estava ficando meio bêbado. Será?
Naquela altura eu já não sabia se eu era a caça
ou o caçador, até que o danado do Luís Miguel
começou:
- Besame, besame mucho, como si fuera esta la
noche la ultima vez...
Fala a verdade, dá pra agüentar uma mulher
linda, corpo escultural, abraçada a você numa
noite de chuva, num bar vazio, com a mão em sua
nuca, o copo todo encostado ao seu e ainda por
cima cantando Besame Mucho no teu ouvido? Não
dá! Interrompi seu canto e beijei-a com
sofreguidão. Pronto! O resto já tinha vindo e
agora era só saber aonde.
Voltamos para a mesa de mãos dadas e ao nos
sentarmos seus olhos baixaram, não querendo me
encarar. Eu, por minha vez, já era todo coragem,
era comigo mesmo! Eu ia levar Salete para a
cama.
Ainda chovia forte, mas paguei a conta e nos
dirigimos para o carro. Abri a porta para que
ela entrasse primeiro e assim poder apreciar
aquele par de pernas deslumbrante. Avisei-a da
poça d’água e ela entrou e sentou-se recostando
a cabeça no banco. Dei a volta e também entrei
no carro. Pus as mãos no volante e fiquei
imaginando onde eu poderia levar aquela mulher
linda e que estava comigo e tinha dado
demonstrações que me queria.
- Onde? – perguntei sem querer.
- Pega essa rua, segue em frente até o farol
entra à direita e já estaremos na rua de casa.
Idiota, idiota, idiota! Por que eu tinha que ter
perguntado isso?
- Você não prefere beber alguma coisa?
- Bebemos até agora Luís!
Luís, ela me chamou de Luís! Tudo bem, eu me
chamo Luís, mas me chamar pelo nome logo depois
do que aconteceu?
- Tem razão! Bebemos, mas por que me chamou de
Luís? – perguntei dando a partida no carro.
- Ora, não é o seu nome?
- Não, meu nome é chefinho!
- Acho que você bebeu além da conta Luís. Será
que consegue chegar em sua casa ileso?
- Bebi tanto quanto você – e menti – É que gosto
quando você me chama de chefinho.
- Bobo! Eu sei que não gosta, chamo-o assim só
para mexer com você.
Só para mexer comigo, e eu achando que fosse por
carinho.
- Salete, eu quero beijar você outra vez e quero
agora.
- Não é uma boa Luís, a gente se excedeu por
causa do vinho.
- Do vinho, da musica, da chuva e eu sinto que
você foi receptiva.
Receptiva, eu não poderia ter escolhido uma
palavra pior.
- Olha Luís, foi uma noite legal, não vou negar
que eu gostei do beijo mas... Interrompi-a com
outro beijo ardente, sufocante, que foi fazendo
com que ela cedesse e, aos poucos, deixou de
oferecer resistência. Minhas mãos acariciavam
suas pernas tentando chegar às coxas aveludadas.
Eu a queria, porque queria e alisava suas pernas
e toquei seus seios e aí ela não resistiu mais e
se deixou levar pelos abraços e pelos beijos até
que:
- Pare Luís, por favor, estamos em frente de
casa, alguém pode nos ver.
- Vamos para outro lugar então.
- Não, já é tarde! O que você vai dizer em casa?
Aí é que eu me dei conta. Estava longe de casa,
na ânsia de sair do escritório deixei o celular
carregando a bateria, estava em um bairro que eu
não conhecia e aquela mulher me lembrou que eu
era casado.
- Quando então Salete? Eu desejo você, te quero.
- Também desejo você chefinho! Mas vamos fazer
assim ó, no dia da secretária a gente sai para
almoçar e passa a tarde inteira juntos, o que
acha?
Você não esqueceu não é? Quero meu presentinho!
- Claro que não esqueci. Então está combinado.
Almoçaremos e ficaremos toda a tarde juntos. Me
dá um beijo de despedida.
Salete inclinou-se e me beijou suavemente nos
lábios e desceu do carro, entrando no edifício
onde morava. Ainda fiquei alguns segundos
parado, tornei a dar a partida no carro e fui
para casa pensando na desculpa que teria que
dar. Mas não houve problema algum, pois a
televisão mostrou como o trânsito estava
intenso. Quando cheguei, já estavam todos
dormindo.
No dia seguinte eu era só alegria, barbeei-me
com perfeição, escolhi a gravata com todo o
cuidado do mundo e fui para a cozinha tomar o
café da manhã.
Tão logo sentei-me a mesa, minha esposa
comentou:
- Oi querido! Viu que coisa chata? Este ano o
Dia da Secretária cai num domingo, vi isso ontem
na folhinha e pensei que a Salete iria ficar
triste com isso. Então eu liguei ontem para ela
lá no escritório e convidei-a para vir aqui
almoçar com a gente. O que você acha?
WebDesigner Isolda Nunes
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