- Papai, onde o senhor está me levando?
O pai, sem largar a mão do filho, agacha-se para
ficar de sua altura e esticando seu braço
esquerdo aponta para uma igreja distante e diz:
- Quero lhe mostrar uma coisa lá naquela igreja
e contar-lhe uma história muito bonita, triste,
mas muito bonita.
- Pensei que fôssemos comprar enfeites de Natal.
- Sua mãe vai cuidar disso, gostaria de lhe
mostrar o que é Natal e a causa de comemorarmos
todos os anos essa data. Você sabe?
- É quando vem o Papai Noel não é papai?
O pai sorri com a pergunta do filho e, para não
desapontá-lo responde:
- É sim meu filho, é quando vem o Papai Noel,
mas eu quero mostrar a você porque o Papai Noel
vem nos visitar todos os anos – e dizendo isso o
pai se levanta e recomeçam a caminhada rumo à
igreja.
- Ora papai, ele vem porque é Natal!
- E você sabe o que quer dizer Natal?
- Eu já disse papai, é quando vem o Papai Noel.
- Preste atenção meu filho, Natal significa
nascimento e é isso que nós comemoramos no dia
de Natal, o nascimento do menino Jesus.
- É eu sei disso, tinha só me esquecido. Mas
papai, se Natal significa nascimento e se todos
os dias nascem crianças, por que todo dia não é
Natal?
- Deveria ser meu filho, mas os homens ignoram
isso por pensarem cada um em si mesmos.
- Que nem o tio João papai?
O pai ri da pergunta do menino e responde:
- Sim meu filho, como o tio João.
Os dois continuam andando em direção à igreja,
quando o menino avista a mãe e a irmã vindo em
sua direção.
- Veja papai, lá está mamãe e acho que ela ainda
não nos viu.
- É porque elas ainda estão longe, logo ela irá
perceber. Olha, ela já está acenando para nós.
Quando se encontraram a mulher disse:
- Ah meu bem, me desculpe, não consegui comprar
absolutamente nada, as lojas estão lotadas e as
pessoas todas num empurra-empurra que eu não
agüentei ficar por lá.
- Não se importe com isso, podemos comprar mais
tarde ou outro dia.
- É que daqui a pouco as lojas vão fechar e
falta comprar de tudo!
- Não se aborreça com isso meu anjo, compraremos
tudo o que precisamos. Por que vocês duas não
vêm conosco? Estou levando Carlinhos até a
igreja, pois quero mostrar a ele a origem do
Natal.
E os quatro, então, seguiram em direção à
igreja.
- Você sabia Bia, que Natal quer dizer
nascimento?
- Quem disse isso?
- O papai, e eu disse pra ele que todo dia
quando nasce uma criança deveria ser Natal
também.
- Você é um bobinho Carlinhos, mas acho que
dessa vez você está certo.
- Começa a contar a origem do Natal papai –
pediu o menino.
- Vou começar, foi assim:
Carlos, o pai, pigarreia para limpar a garganta
e inicia a história, agora andando de mãos dadas
com Simone, sua esposa.
- Carlinhos e Bia, tudo começou há muitos anos.
Já naquela época o mundo vivia momentos de
tensão, muitas guerras, e o povo ainda não
possuía nenhuma cultura. Os romanos achavam que
o mundo pertencia a eles e foram tomando conta
de tudo e expandido seu domínio por todo o
Oriente. Roma era tão poderosa que se dizia na
época que todos os caminhos levavam à Roma.
- Até o Egito, outrora um povo muito culto e
poderoso caiu sob seus domínios. E os povos
todos temiam os romanos que cultuavam seus
próprios deuses. Quando chegaram à Palestina, os
romanos se defrontaram com um povo diferente,
obediente, mas diferente. Eles aguardavam a
vinda de um Messias que iria salvá-los do jugo
dos romanos e seria o rei dos judeus. Então,
eles esperavam e pagavam os tributos que Roma
lhes exigia. Vocês estão acompanhando?
- Sim papai – respondeu Bia.
- Bem, ali na região da Galiléia, havia uma
cidade chamada Nazaré, onde moravam José e Maria
e ela estava prometida a José, um carpinteiro,
como sua futura esposa.
- Deus estava desgostoso com as coisas que via
acontecer, pois de nada adiantara ter destruído
Sodoma e Gomorra, de nada adiantara ter mandado
um Dilúvio e de nada adiantara entregar as
tábuas com os Dez Mandamentos a Moisés, pois os
homens insistiam no pecado. Era preciso mais e
Deus então resolveu mandar seu próprio filho à
Terra. Convocou o Arcanjo Gabriel e
transmitiu-lhe a notícia.
Nesse instante eles chegaram à igreja e
sentaram-se nas escadarias.
- Continua papai – pediu Carlinhos.
- Estão gostando?
- Estamos sim papai – disse Bia.
- Pois bem - disse Carlos olhando com um sorriso
para Simone que lhe retribuiu com carinho.
- Tempos depois, o Arcanjo Gabriel foi até a
cidade de Nazaré e foi encontrar-se com Maria,
uma linda virgem, e aproximando-se dela sem que
ela percebesse, Gabriel lhe disse: “Salve Maria,
o Senhor é convosco, bendita tu entre as
mulheres”. A princípio, Maria se assustou com
aquilo, mas o anjo transmitia tanta paz que ela
continuou ouvindo. E o anjo lhe dizia que ela
teria um filho e que deveria chamá-lo de Jesus e
disse-lhe ainda que ela seria fecundada pelo
Divino Espírito Santo.
- O Arcanjo Gabriel foi procurar por José e lhe
disse que ele deveria aceitar Maria como sua
esposa e aceitar o menino que ela teria, pois
ele era filho do Espírito Santo. José ficou meio
em dúvida com tudo aquilo, mas como era um homem
muito bom e acreditava em Deus aceitou.
- Maria estava aflita e um belo dia foi visitar
Isabel que morava nas montanhas. Não tenho bem
certeza, mas acho que Isabel era sua prima.
Assim que chegou, Maria saudou Isabel que também
estava grávida e, ao ver Maria, Isabel lhe
disse: “Bendita tu entre as mulheres e bendito o
fruto do teu ventre”.
- Parece a prece da Ave-Maria, não parece papai?
– perguntou Bia.
- Parece sim, minha filha. Mas acho que já estão
cansados de ouvir essa história, não estão não?
- Não estamos não, não é Carlinhos?
- Está bem, mas antes vamos até ali comprar
pipocas.
- Eu tinha parado quando Maria tinha ido visitar
sua prima Isabel. Bem, Após três meses com
Isabel, Maria voltou para sua casa e, logo
depois, casou-se com José.
- O tempo foi passando e logo chegou a hora de
Isabel ter seu filho e foi assim que nasceu João
Batista.
- Passados mais uns meses, houve uma ordem para
que fosse feito um censo em toda a região e as
pessoas teriam que se alistar em sua própria
cidade de nascimento. Assim, José e Maria teriam
que deixar Nazaré e ir para Belém, onde haviam
nascido. A viagem foi longa e cansativa. José ia
a pé e puxava um burrico no qual Maria ia
montada, já que estava grávida e a qualquer
momento a criança poderia nascer.
- Corriam pela região, fortes boatos de que o
Messias estava para chegar e se tornar o Rei dos
Judeus.
- José e Maria viajavam durante o dia e, ao
entardecer, paravam para descansar. José ajudava
Maria a descer do burrico e procurava um bom
lugar onde ela poderia descansar. Recostaram-se
a uma grande árvore e foi aí que José viu uma
grande estrela brilhando no céu. Chamou a
atenção de Maria para aquela beleza e Maria
disse: “Ela é realmente linda e parece que está
nos seguindo desde que saímos de Nazaré”.
- Longe dali, Gaspar, Melchior e Baltazar
olhavam a mesma estrela e cavalgando acabaram
por se encontrar em um mesmo ponto. Um deles
disse: “Parece que se dirige a Belém!”
- Quem eram eles papai? – perguntou Carlinhos.
- Eles eram os três Reis Magos. Eles também
tinham ouvido falar da chegada do Rei dos Judeus
e começaram a seguir aquela estrela formosa que
aparecera no céu. Cada um deles levava um
presente para o menino que ia nascer.
- Os três Reis Magos passaram a cavalgar juntos
e, ao contrário de José e Maria eles cavalgam
também à noite para acompanhar a estrela.
- Quando o dia amanheceu José e Maria partiram
novamente. Maria tinha uma doçura no olhar, mas
parecia estar sentindo dores, mas não queria
incomodar José e manteve-se firme em cima do
burrico. De vez em quando José parava um pouco
para descansar e assistia Maria dando-lhe água
para beber. Durante o dia, o calor era muito
grande, pois estavam viajando praticamente numa
área deserta. Quando a noite chegava, esfriava
bastante.
- Naquele dia José sabia que já estavam bem
próximos de Belém e não pararam ao cair da
tarde, como era de hábito fazer. A noite já
havia caído quando José, puxando o burrico que
trazia Maria, entrou na cidade de Belém. Por
causa do censo, a cidade estava cheia de gente e
José não encontrou vaga em nenhuma estalagem,
mas, em uma delas, o dono foi complacente com o
estado de Maria e disse que eles poderiam ficar
no estábulo que ficava ao lado e para lá eles se
dirigiram.
- No estábulo, como era próprio, havia outros
animais e Maria olhava com bondade para todos
eles quando, repentinamente, começou a sentir
dores. José ficou desesperado e não sabia o que
fazer e era Maria quem o tranqüilizava. José
apoiou a cabeça de Maria em seu colo,
alisando-lhe a fronte e logo em seguida, entre
um gemido e outro, nascia o tão esperado menino
Jesus.
- Lá fora, a estrela ganhou um brilho ainda
maior e parou no céu. O povo todo pressentiu que
o Messias havia chegado e os Reis Magos tiveram
a certeza de onde ele estava e se dirigiram para
lá. Enquanto isso, dentro do estábulo, Maria
envolvia o menino Jesus em um manto e o colocou
na manjedoura após enchê-la de palha. Foi o
berço que ela improvisou para aquele menino
abençoado. E logo depois chegaram os reis Magos,
cada um trazendo uma oferenda para o menino que
acabara de nascer.
- Que bacana papai – disse Carlinhos – então é
por isso que no presépio existem tantos animais
e três velhos reis?
- É por isso mesmo Carlinhos. O presépio é a
representação do lugar onde Jesus nasceu.
Bia pediu:
- Continua a história papai, nunca ouvi uma
história tão bonita.
- Bem, vamos lá, eu comecei e agora tenho que ir
até o final – disse rindo.
- Longe dali o rei Herodes também já tinha
ouvido os boatos da chegada do rei dos Judeus e
o que foi então que ele fez? Com medo de perder
o poder sobre seu povo, os judeus, ele mandou
matar todas as criancinhas recém nascidas em
todo o seu reino.
- Numa noite, enquanto dormia, anjos apareceram
para José e o avisaram do que Herodes já estava
fazendo e o alertaram para que pegasse o menino
e fugisse com ele e com Maria para o Egito. E
assim eles partiram para que o menino não
sofresse o ataque de Herodes. E eles ficaram no
Egito até que Herodes morreu e os anjos
novamente avisaram José para que ele pegasse o
menino e fosse para a Terra de Israel. E José,
Maria e o pequeno menino Jesus se dirigiram para
Nazaré. E é por isso que Jesus é chamado de o
Nazareno.
- Puxa papai, tem tanta coisa que eu não sabia –
disse Bia.
- E ali em Nazaré, Jesus passou sua infância e
foi crescendo, tornando-se um menino de espírito
forte e com muita sabedoria e quando ele tinha
doze anos seus pais, depois de muito procurarem
por ele, encontraram-no no meio dos doutores da
época, conversando com eles, ouvindo-os e
interrogando-os.
Carlos interrompe um pouco sua narrativa,
achando que as crianças já estão cansadas e já
ia se levantando quando Carlinhos pergunta:
- E depois papai, o que aconteceu?
- Bem, depois disso, não existem registros na
Bíblia sobre o que aconteceu com Jesus até os
seus trinta anos. Supõe-se, entretanto, que seu
pai o tenha levado aos essênios.
- Desta vez foi Simone quem o interrompeu:
- Quem? Que povo era esse?
- Os essênios eram um povo diferente, faziam
parte do povo judeu, mas eram um povo mais
evoluído, tanto que eram chamados de terapeutas.
Vestiam-se de branco e entre outras coisas
praticavam o ato da cura. Mas deixe-me
continuar:
- Os essênios acolheram Jesus e passaram a
ensinar-lhe tudo o que sabiam, mas em doses bem
homeopáticas. Lá Jesus recebeu muitas
informações e instruções e também muitos
ensinamentos sobre a cura e sobre a vida. Lá
Jesus teria adquirido todo o conhecimento da
humanidade. E só quando estava pronto para sua
missão, é que deixou aquele lugar.
- Que missão papai? – perguntou Carlinhos.
- Lembra-se do começo da história quando eu
disse que Deus estava desgostoso com os homens e
que iria mandar seu filho para salvar a Terra?
- Lembro sim papai.
- Pois então, Jesus veio para cá com a missão de
livrar os homens dos pecados e dos sofrimentos,
mas deixe-me continuar.
- Jesus teria saído da convivência com os
essênios completamente mudado, possuía muito
conhecimento e provavelmente muito desse
conhecimento teria sido adquirido no Egito,
quando esteve na Grande Pirâmide. De lá, ele
voltou para a região da Galiléia.
- Na Galiléia, mais precisamente no Rio Jordão,
João Batista, aquele que era filho de Isabel,
pregava para os fiéis e os batizava com as águas
do rio quando avistou um homem de longos cabelos
chegando e pedindo para ser batizado. João
estava completamente estático diante daquele
homem. João não conseguia falar nada e apenas
balbuciava palavras e diante da insistência do
homem em ser batizado, João Batista disse: “eu é
que deveria ser batizado por vós”. Então Jesus
lhe disse: “Deixa por agora, porque assim nos
convém cumprir toda a justiça”.
- Não entendi isso papai – disse Carlinhos.
- Nem eu – completou Bia
- Bem, deixe-me ver se consigo achar um meio de
explicar isso. O que Jesus quis dizer com essas
palavras é que tudo o que estava para acontecer
naquele momento já estava previsto e cada um
deles, tanto Jesus como João Batista tinham que
cumprir o que Deus previra. Ficou mais claro
agora?
- Ficou sim papai – responderam as crianças.
- Assim que foi batizado por João Batista, Jesus
seguiu seu caminho e pouco tempo depois se
dirigiu ao deserto para meditar e foi lá que uma
grande mudança se verificou. Jesus ficou
quarenta dias e quarenta noites no deserto
jejuando. Ao fim do jejum, eis que surge o diabo
e este fez diversas tentações para Jesus que se
negou a se submeter a todas elas. Fez também
desafios a Jesus, pois este estava com fome após
quarenta dias jejuando dizendo-lhe que se ele
era mesmo o filho de Deus que fizesse algumas
pedras virarem pão e Jesus respondeu que nem só
de pão vive o homem. Como Jesus se negava a
ceder diante de todas as tentações e desafios do
diabo este foi embora.
- Enquanto Jesus estava no deserto, João Batista
havia sido preso e Cristo resolveu ir para a
Galiléia.
- E por que João Batista foi preso papai?-
perguntou Bia.
- Herodíades, esposa de Herodes pediu que João
Batista fosse preso por um daqueles caprichos de
mulher. João Batista condenava o modo de vida
dela, pois ela era na verdade esposa de outro
homem que era irmão de Herodes e foi Salomé, sua
sobrinha quem pediu a cabeça de João Batista.
- Hum entendi, mas Herodes não tinha morrido
quando Jesus era pequeninho?
- Boa pergunta Bia, Aquele Herodes que morreu
era o pai desse Herodes, esse era chamado de
Herodes Antipas, o pai era conhecido como
Herodes o Grande.
- Posso continuar ou vocês têm mais dúvidas?
- Pode continuar sim papai responderam as
crianças.
- A prisão de João Batista entristeceu Jesus e
ele começou a pregar e a dizer: “Arrependei-vos
porque é chegado o reino dos céus”.
- Certo dia, percorrendo pela praia da Galiléia,
Jesus começou a atrair os primeiros discípulos.
Encontrando Simão (depois chamado de Pedro) e
André jogando redes no mar, Cristo lhes disse:
“venham comigo e eu os transformarei em
pescadores de homens”. Logo depois se encontrou
com Tiago e seu irmão João que deixaram seu
barco e passaram a seguir Cristo.
- Cristo continuou sua peregrinação por toda a
Galiléia fazendo suas pregações e, logo, uma
multidão passou a segui-lo vinda de todos os
lugares, da Galiléia, de Jerusalém, da Judéia.
- Um belo dia, olhando toda aquela multidão,
Cristo subiu a um monte e disse, talvez, suas
mais belas palavras, que ficaram conhecidas como
o Sermão da Montanha:
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus;”
“Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados”;
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão
a terra”;
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque eles serão fartos”;
"Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão minha misericórdia;
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque
eles verão a Deus”;
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles
serão chamados filhos de Deus”;
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por
causa da justiça, porque deles é o reino dos
céus”;
“Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem
e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal
contra vós por minha causa”,
“Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso
galardão nos céus: porque assim perseguiram os
profetas que foram antes de vós”.
- Isso é lindo papai! – disse Bia.
- É maravilhoso - disse Simone, dá vontade de a
gente chorar.
- Eu também gostei – falou Carlinhos.
- É lindo sim, mas o Sermão da Montanha não
termina aí, ele é bem mais longo do que isso e
nele estão praticamente todos os ensinamentos de
Cristo. Vale a pena cada um de vocês ao
chegarmos em casa, lerem-no com paciência e com
o coração e com a mente abstraída de qualquer
pensamento ruim. Foi durante o Sermão da
Montanha que Cristo nos ensinou a falar com
Deus.
E como foi isso papai? – perguntou Carlinhos.
Foi assim:
- Cristo disse que quando dermos esmolas, não
devemos deixar que os outros vejam, que não
devemos orar para que os outros vejam e ouçam o
que estamos fazendo, e fez assim: “quando
quiseres falar com meu Pai, fareis assim: Pai
nosso, que estás nos céus,santificado seja o teu
nome; venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terá como no céu. O pão nosso
de cada dia nos dá hoje, e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores; e não nos induzas à tentação, mas
livra-nos do mal, porque teu é o reino, e o
poder, e a glória, para sempre. Amém.
- Meu querido – disse Simone – ouvindo assim,
parecem as palavras mais lindas do mundo.
- Papai, fale dos milagres! – disse um Carlinhos
cheio de ansiedade.
- Cristo não fez milagres.
- Nãoooooooo? – indagaram todos.
- Não, se vocês prestaram atenção nos filmes que
já assistiram, vocês vão se lembrar de que
Cristo quando fazia uma cura, e ele fez muitas,
ele dizia à pessoa que havia sido curada: “Foi
tua fé que te curou”. Lembram-se disso?
Todos assentiram com suas cabeças.
- O que ele queria mostrar é que a fé de uma
pessoa é que produz os verdadeiros milagres, que
se a pessoa não quiser ser curada, se não tiver
fé, não adiantaria nada Cristo tentar curá-la. E
diante dos olhos surpresos da multidão ele
dizia: “Vós podeis fazer isto e muito mais”!
Simone interveio:
- Isso é um gesto de grande humildade, não pegar
para si os méritos dos outros.
- É verdade meu amor, Cristo nos deu exemplos e
mais exemplos para que mantivéssemos aqui na
Terra uma convivência pacífica com todos os
homens, mas, infelizmente, nós nunca seguimos
seus exemplos – e virando-se para os filhos,
continuou – meus filhos, muitas coisas
aconteceram nessa história que eu acho que vocês
devem ler na Bíblia e o papai vai tirar qualquer
dúvida que tiverem. Vou pular um pedaço agora,
tudo bem?
- Tudo bem sim papai, o senhor já deve estar bem
cansado – disse Bia.
Carlos sorriu para a filha e continuou seu
relato.
- Cristo, ainda antes do Sermão da Montanha, já
havia dito que ele era o filho de Deus e isso
incomodava muito o Sinédrio que era um tribunal
dos sacerdotes judeus que começaram a perseguir
Cristo para entregá-lo aos romanos que eram o
povo que dominava toda aquela região da
Palestina. Os romanos não queriam se envolver
com problemas religiosos do povo judeu, mas os
sacerdotes, liderados por Caifás que era o sumo
sacerdote diziam a Pôncio Pilatos que Cristo se
proclamava o Rei dos Judeus e isso não agradava
aos romanos. Tanto fizeram que Cristo acabou
sendo preso e o resto eu quero mostrar a vocês
lá dentro da Igreja para que vejam com seus
olhos e sintam com o coração tudo o que
aconteceu na Via Crucis de Cristo.
E Carlos levantou-se com a família e todos
entraram na Igreja.
- O que é Via Crucis papai? – perguntou Bia.
- Via Crucis é o trajeto que Cristo percorreu
carregando a cruz até seu Calvário. Algumas
pessoas confundem muito Via Crucis com Via
Sacra. Via Sacra quer dizer um movimento que
fiéis fazem percorrendo mentalmente com Cristo o
caminho que o levou do Tribunal de Pilatos até o
monte Calvário. Nós vamos ver tudo isso aqui
dentro da igreja, olhando os vitrais que mostram
as quatorze etapas que representam a Via Crucis.
- Aqui, na primeira etapa, Cristo é condenado à
morte.
- Por que papai? Indagou Carlinhos
- Veja meu filho, Cristo tornou-se um problema
para os sacerdotes judeus e para Caifás, que era
o sumo sacerdote. Eles nunca aceitaram que
Cristo fosse o Messias que eles esperavam e
esperam até hoje. Quando foi levado a Pilatos,
este não queria se envolver com a religião dos
judeus e lavou as mãos, deixando a decisão para
o povo e o povo condenou Cristo, libertando um
bandido chamado Barrabás, pois era Páscoa, uma
data em que o governo romano sempre libertava um
prisioneiro.
- Vejam agora esta segunda estação onde aparece
Cristo carregando a cruz em suas costas.
Imaginem o sofrimento de ele ter que carregar
tanto peso, depois de ter sido açoitado e
torturado pelos soldados romanos e ainda por
cima ter que carregar na cabeça uma coroa de
espinhos em sua cabeça. Notem que durante todo o
percurso ele não deu um só grito e não derramou
uma só lágrima de dor.
- Aqui na terceira etapa ele não resiste ao
cansaço e ao peso da cruz e cai de joelhos. Ele
é açoitado outra vez e com sacrifício ele se
levanta e continua sua caminhada.
- Meu Deus – disse Bia – como ele sofreu papai!
- Sofreu sim minha filha, e tudo isso por levar
a todos os homens da Terra uma mensagem de amor
e de paz.
- Não entendo uma coisa papai – interveio Bia
mais uma vez – Com tantos lugares no mundo por
que ele foi parar logo nessa região tão hostil?
- Hum, uma boa pergunta minha filha, uma boa
pergunta. É o seguinte, naquele tempo todas as
regiões do mundo eram habitadas por povos
politeístas que acreditavam em muitos deuses e a
Palestina era habitada por um povo que
acreditava em um único Deus. Foi por isso que
ele foi para lá.
Mas deixe-me continuar mostrando os vitrais para
vocês.
- Nesta quarta estação ele encontra Maria, sua
mãe, que tenta aproximar-se, mas é impedida
pelos guardas romanos. Imaginem o que deve ser o
sofrimento de uma mãe vendo seu filho ser
tratado dessa forma tão violenta pelos homens.
- A quinta estação mostra Simão Cirineu ajudando
Cristo a carregar a cruz. Ele era uma homem
comum que estava ali assistindo aquele calvário
e como Cristo estava enfraquecido, sem alimento,
sem água, sem ter dormido durante horas de
interrogatório e ter sido muito torturado, sua
força física estava no fim.
- Vejam a sexta estação. Aqui Verônica limpa o
rosto de Cristo. Ela também era uma pessoa comum
que não resistiu ver Cristo sendo tratado
daquela forma e foi enxugar-lhe o rosto. Contam
que ao fazê-lo a imagem do rosto de Cristo ficou
no xale que usou. Hoje nas igrejas católicas que
possuem um coral sempre existe uma Verônica que
é a cantora principal da igreja.
- Olhem com atenção esta sétima estação. Cristo
cai pela segunda vez devido ao cansaço. Seus
olhos estão fixos na multidão que acompanha seu
calvário.
- Agora estamos vendo a oitava estação do
calvário de Cristo que mostra seu encontro com
as mulheres de Jerusalém, que choram com seu
sofrimento.
- Aqui, na nona etapa desse martírio, Cristo cai
pela terceira vez já próximo do cume do monte.
- Esta décima etapa mostra a humilhação sofrida
por ele, quando chega ao topo do monte e é
despido pelos soldados romanos.
- A décima primeira etapa mostra Cristo sendo
pregado na cruz. Imaginem a dor que ele sentiu e
ainda ter forças para dizer, já com a cruz
fincada ao solo, “Pai, perdoai-os porque eles
não sabem o que fazem”.
- Simone interveio mis uma vez – Acho que ele só
teve um momento de fraqueza quando disse: “Pai,
por que me abandonaste?”
Carlos esclareceu a esposa: - Na verdade não foi
isso o que ele disse querida. Pense bem, ele
sempre soube que tudo aquilo aconteceria e foi
para cumprir seu destino que ele decidiu entrar
em Jerusalém. Ele jamais diria isso, assim como
não disse uma única palavra pedindo clemência e
tantas foram as ofertas que recebeu para isso.
Além do mais você acha que após proferir as
palavras pedindo que o Pai perdoasse os homens
porque eles não sabiam o que faziam ele diria
isso? O que Cristo disse na verdade foi: “Pai,
Tu me glorificaste”. Bem diferente não é? E tem
mais meu amor, em seguida ele diz que tudo está
consumado e que ao Pai ele entregava seu
espírito.
- Você tem razão querido, acho mesmo que ele
nunca poderia ter dito aquilo.
- Continuando: Venham até a décima segunda
estação. Ela mostra a morte de Cristo, que antes
de morrer para o corpo, disse aquelas palavras
lá em cima e ainda disse olhando para sua mãe e
para o discípulo que amava: “Mulher, eis aí teu
filho” e voltando-se para o discípulo: ”Eis aí
tua mãe”. Vejam que grandeza de espírito.
- Enquanto tudo isso acontecia, uma forte
tempestade assolou aquela região fazendo com que
muitos fugissem do local, mas muitos
reconheceram naquela hora que aquele homem era
de fato o filho de Deus. Vamos para a penúltima
etapa.
- Após a morte de Cristo, seu corpo é retirado
da cruz e é abraçado por Maria.
- E aqui, na última estação, o corpo de Cristo é
enterrado. Mas seu corpo não havia sido entregue
à família, um discípulo oculto de Cristo,
chamado José de Arimatéia foi até Pilatos e
pediu-lhe o corpo de seu mestre para que a
família o enterrasse.
- Um dia depois do sepultamento, Maria Madalena
foi até o túmulo e viu que a pedra que o
fechava, estava aberta e foi correndo chamar por
Simão Pedro e quando chegaram ao sepulcro eles
viram os lençóis no chão e não viram o corpo de
Cristo.
- Todos se foram e Maria Madalena ficou chorando
quando após ter visto dois anjos viu Cristo, mas
não sabia que era ele, e Cristo então lhe disse:
“Mulher, por que choras? Quem buscas?” e
Madalena disse que buscava por seu Mestre, e
Cristo tornou a dizer: “Não me detenhas, porque
eu ainda não subi para meu Pai, mas vai para
meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai
e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”.
- Essa Madalena é a mesma que Jesus salvou de
ser apedrejada? -Perguntou Bia.
- Não se tem provas de que tenha sido ela a
prostituta que ia ser apedrejada, mas ela foi
quem lavou os pés de Jesus e os enxugou com seus
cabelos.
Bia, com os olhos cheios de lágrimas disse ao
pai: - que história mais linda contada assim
pelo senhor papai. E pensar que tudo poderia ter
sido diferente se Judas não houvesse traído
Jesus.
Carlos começou a caminhar levando a família para
fora da igreja e chegando do lado de fora
comentou:
- Judas não traiu Cristo.
- Como assim, não traiu? – quis saber Simone,
parando de andar e voltando-se para Carlos.
- Não foi Judas quem traiu. Aliás, ninguém traiu
Cristo. Judas era o mais inteligente e o mais
fiel dos discípulos e Cristo o escolheu para a
difícil missão de ir chamar aqueles que o
prenderam, porque assim tinha que ser feito.
- Mas está na Bíblia Carlos.
- Eu sei que está, como está que Cristo
perguntou ao Pai porque Este o abandonara. E os
homens sempre têm que arrumar um culpado para se
eximirem de suas próprias culpas.
- E eu sempre achei que ele fosse um grande
covarde – disse Bia.
- Eu também – completou Carlinhos.
- Se vocês querem mesmo saber, covardes foram
todos os outros apóstolos. Eles abandonaram
Cristo. Pedro o negou três vezes, como Cristo
previra. E nenhum deles teve coragem de ficar
por perto quando o Mestre era julgado e
condenado. Nenhum deles se ofereceu para
carregar a cruz de Cristo, pois tinham medo de
serem presos.
- Nunca mais hei de ler a Bíblia – disse Simone.
- Não meu amor, não só você, mas também nossos
filhos têm que lê-la sempre, mas com muita
atenção e raciocínio para entendê-la e
interpretá-la corretamente. Cristo falava por
parábolas e existem muitas delas que são
maravilhosas e merecem ser lidas.
- Papai – interrompeu Bia – e essa história de
que Jesus teria amado Madalena e que ela seria
um dos apóstolos de Jesus e que se casaram?
- Veja Bia, preste atenção, se tudo isso for
mesmo verdade, o que muda nas mensagens que
Cristo deixou? Pense nisso e qualquer hora
iremos conversar mais sobre esse assunto.
- Ainda não consigo aceitar a idéia de que um
homem como Jesus tenha morrido crucificado.
Carlos sorriu sabendo que o que iria dizer iria
causar uma reação de todos, mas tinha que falar:
- Jesus não morreu na cruz, Jesus morreu no
deserto.
- Como é que é? – perguntaram as crianças ao
mesmo tempo.
- É isso mesmo, Jesus não morreu na cruz, quem
morreu na cruz foi Cristo, Jesus morreu no
deserto logo depois de ter derrotado o demônio.
Ao fazê-lo, nasceu o Cristo. Vocês não
perceberam que enquanto eu contava a história
para vocês, logo depois de Jesus ter derrotado o
demônio, eu nunca mais falei o nome dele? Só o
chamei de Cristo? Pois é. Agora vamos para casa.
Outra hora eu explico isso também.
- Foi de fato um alinda história querido e cheia
de surpresas.
- Foi sim papai – disse Bia.
- Sabe papai? – perguntou Carlinhos – eu queria
escrever outra carta para o Papai Noel e tem que
ser urgente.
- Por que tem que ser urgente meu filho?
- Para ele não passar em casa esse ano, porque
essa história que o senhor contou foi meu melhor
presente de Natal.
- Também acho papai – completou Bia.
- E eu acabei não conseguindo comprar nada para
por embaixo da árvore meu amor.
- Temos a árvore minha querida.
08/12/2007