O ladrão se utilizou do fato de me conhecer para
entrar em minha casa.
Com a simpatia de um bom malandro, conquistou minha confiança e o deixei
entrar em meu castelo.
Com o tempo mostrei cada canto de cada cômodo, apresentei todos os meus
tesouros e o cobri de tudo que tinha de melhor.
Entreguei segredos nunca antes revelados, confissões e sonhos, comecei a
participar e investir em sua vida, queria construir algo maior a seu lado...
Criei confiança nas palavras que eram ditas, negava as atitudes
contraditórias como quem se agarra a um pedaço de isopor no meio do oceano,
"é claro que ele me ama!”
Comecei tirando o pouco de alimento que tinha para ajudá-lo, a construção
demanda investimento!
Aos poucos o alimento acabou, mas ainda havia a luz, o combustível, o
telefone, meu amor e quanto amor!
Investi, investi tudo! Dei do melhor, dei meu o melhor, coloquei tudo o que
tinha de bens e de bom naquele relacionamento. Me dei por inteiro, pus meu
castelo em suas mãos!
Quando dei por mim, que abri os olhos, fiquei perdida, assustada; minha casa
fora invadida, com minha permissão e ajuda, e quando olhei ao redor, não
reconheci mais nada do que ali havia.
Cada cômodo que entrava tudo estava revirado, os meus tesouros levados, o
que eu tinha de melhor, destruído.
A casa estava em pedaços, fora toda destruída....
Onde? Cadê?
Sabia que tinha um restinho de força guardado aqui em algum lugar, preciso
achar!
Encontrei um pedacinho, é pequeno, mas olha aí, juntando com este pedaço de
amor próprio eles se fortalecerão.
Em cada lugar que olho há evidências da sua passagem, impossível não
lembrar.
Onde foi parar aquele que dizia amar?
Que eu era o amor de sua vida?
Que vida?
Dizia que cuidaria de mim...
Como? Se tudo me tirou?
Levou tudo para construir um lar, um outro lar o qual eu desconhecia...
Deixou um bem, um tesouro, foi sem querer, aliás, acredito que se ele
pudesse voltar no tempo, não teria cometido esta "falha".
Este era um tesouro que queria em outras condições, no lar que está sendo
construído na surdina, já faz tempo, muito tempo.
Cada um vivendo seu momento.
O ladrão, pensando nos tesouros que tem que levar para seu novo castelo, se
utilizou de todos os meios para isto, e quando não tinha apoio e carinho de
sua amada, buscava nos braços de quem o amava verdadeiramente (e de outras
mais) para contentar àquela.
Não se deu conta (???) do mal que estava promovendo. Sua atitude envolveu o
castelo de outra pessoa, que agora está um escombro!
E que escombro!
Está tudo fora do lugar, não sei o que é de onde.
Como faço para reconstruir?
A energia acabou! Estou no escuro! Ando tateando as coisas para decifrar o
que toco. Choro, angústia, desespero, "meu Deus que medo, por favor, por
Amor, me ajude a reconstruir"!
Nestas alturas ainda procuro mais da coragem, da força, da garra, do
otimismo, sei que tenho tudo isto aqui... mas onde nesta bagunça?
Qual a cola para juntar todos estes cacos?
Sobrou algo inteiro?
Cadê meu pote de sonhos?
E onde foi parar toda minha esperança?
Que angústia!
Que raiva!
Como pude ser tão burra!
Lágrimas, várias poças delas.
Raiva, raiva de mim mesma, raiva dele pela falta de honestidade.
Quis ser sua cúmplice, sabia que ele já estava sendo desonesto com outra
pessoa (também), acreditei na possibilidade de ajudá-lo. E pensando bem,
ajudei e muito, só não imaginava que era dando apoio ao seu coração partido
pela traição que ele havia sofrido e que iria perdoar.
Observei a situação de fora, vi o meu amor se desfazendo por outra pessoa,
procurei apoiá-lo para fortalecê-lo e ele voltou para ela.
Mentiu, enganou, me usou, ganhou dinheiro, deu para ela. Eu? Quem sou eu? Eu
sou a ruína, não há mais nada que possa tirar. Fui apenas um passatempo
temporário, um corpo, alguém onde encontrava forças para continuar.
Significado real? Nenhum.
De vez em quando vinha, dava uma olhada, destruía alguma parede que ainda
estivesse inteira, jogava pó de esperança e antes de sair assoprava para que
ele se esvaísse...
Cuidar...
Amor...
Verdade...
Dor!
Reconstrução!
Tenho que reconstruir, Deus está me estendendo várias mãos, neste ponto
somente posso agradecer.
Agora devo me ater ao que importa, aproveitar que tudo foi destruído, limpar
o terreno, jogar o que não serve mais fora e construir uma casa. Desta vez
uma casa fortificada, paredes grossas, muros altos com cerca elétrica,
sistema de alarme, portão duplo e sentinelas de plantão. Preciso encontrar
aquele pote de força e coragem...
Tenho que estar com minha casa pronta para a chegada do meu tesouro, meu
maior tesouro!
Quero poder passar tudo de bom que se possa imaginar para meu filho.
É uma questão de "ter que" estar bem na sua chegada, ele já está passando
por tantas turbulências, um processo de destruição e construção dentre
lágrimas, angústias e decepções.
Exemplo, é isto, ensinamos com exemplos e atitudes!
Como poderia ser uma boa mãe, se me sujeitasse e continuasse a ser fraca?
Que exemplo passaria estando com um homem que não me ama e sabendo disso
continuasse com ele?
Pior, contribuindo para ele manter outro(s) lar (es) enquanto dentro de casa
tudo se acaba?
Com alguém que promete, diz que fará, porém, nunca cumpre, nunca faz?!
Palavras! Palavras! Palavras!
De que valem as palavras se não as utilizamos de maneira a sermos confiáveis
pelas ATITUDES?
NADA,
RIEN,
NIENTE,
GARNICHT,
NOTHING!
Quero que meu Filho olhe para mim e veja, sinta que pode confiar plenamente,
que saiba que SEMPRE estarei com Ele, ao lado Dele, por Ele!
A melhor maneira de fazer isto? Demonstrando, agindo. E a melhor hora de
começar a fazer isto é já.
Continuo procurando entre os escombros, encontrei! O resto de ilusão que
tinha que ele fosse capaz de reconhecer seus erros... por suas atitudes ou
falta delas. Eis que acho um pedaço de realidade e consciência: "ele tem
medo e se acovardou depois de desmascarado, pare de se iludir, ele nunca
mudará, continuará fazendo os outros de palhaços, se aproveitando enquanto
tiverem algo para oferecer e descartando quando acabar o interesse. E sem
qualquer resquício de remorso. Remorso? Xô, ilusão! Ele não sabe o que é."
Olha! Encontrei a raiva junto com a vingança e a inteligência! Contudo a
minha consciência é maior, sabe que poderia tomar atitudes irreversíveis,
que destruiriam aquele que me destruiu, mas faria um estrago muito maior, em
todos os âmbitos todas as portas se fechariam. Mas não. A sabedoria
encontrada mostrou que isto ele fará sozinho ou encontrará outra pessoa que
o faça!
Ainda tenho muito o que procurar e revirar nos escombros, sei que
encontrarei o resto da dignidade, do amor próprio, da honra, da sabedoria,
do conhecimento, e tudo de bom que sei que está por aqui, vou usar a Luz da
Consciência para encontrar tudo. Assim, quem sabe algum dia encontrarei o
perdão?
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