Rádio Base
Descubra como começa o som de uma emissora de rádio
Para desvendar os mistérios do
rádio, só mesmo visitando os bastidores. Abri-gadas em pequenas
salas, as emissoras escondem seus segredos em corredo-res cheios
de estúdios. São bastidores calmos e silenciosos, diferentes
dos shows, mas que em nada deixam a desejar: a magia que circula
por lá é a mesma.
Os primeiros passos
Por trás dos números do dial, cada emissora possui uma
personalidade, um estilo, e é ele quem dita o resto, desde o
espaço físico ocupado pela rádio até o perfil do locutor -
passando, lógico, pela escolha dos equipamentos. Uma rádio
jovem, por exemplo, não precisa de muito espaço. Um estúdio
para locução e outro, pequeno, para gravação de vinhetas e
afins; um kit de equipamentos básicos, compreendendo uma mesa,
computador, softwares de gravação e edição, leitores de MD e
CD e microfones é o suficiente para fazê-la funcionar. E bem.
Em uma emissora com perfil adulto, de música calma e
informativos ocasionais, contudo, as necessidades mudam um pouco.
Dois estúdios - para suprir a demanda de gravações de
vinhetas, chamadas e pequenos programas - e mais um para a
locução.
Os equipamentos também variam de acordo com a necessidade.
Mesas, leito-res de CDs e MDs, computadores e softwares também
seguem a personalidade da emissora. Numa rádio de notícias,
tudo parece mais simples ainda: no estúdio do ar, uma mesa - com
um número de canais um pouco maior que o normal para dar conta
do número de praças que o noticiário alcança -; e um outro
estúdio - na verdade apenas uma cabine com isolamento acústico
- destinado à gravação dos noticiários que irão ao ar.
Com isto em mente, fica fácil entender as diferenças entre um
estúdio e outro dentro do universo das AM e FM, principalmente
quando nos deparamos com gravadores de rolo e antigos cartuchos
convivendo pacificamente com MDs e softwares de edição. Não é
difícil ver um profissional de rádio utilizar a velha técnica
de corte com gilete para editar um fita de rolo, e logo em
seguida gravar o resultado em MD ou MP3. A convivência é
pacífica entre as tecnologi-as - seguindo a própria linha do
rádio que, embora ameaçado de extinção várias vezes,
consegue ainda conviver pacificamente com as novas mídias.
Rádio em rede
As
grandes redes de comunicação também já atingiram o rádio. Um
dos exem-plos é a rede Jovem Pan, uma emissora com sede em São
Paulo e diversas afiliadas espalhadas Brasil a fora. Na filial
carioca, dois estúdios dão conta do recado. Um para gravação
de vinhetas, chamadas, programas e comerciais locais; e outro
para a locução. A demanda de trabalho não é muito grande, já
que a maioria do material, chamado de plástica da rádio, vem da
matriz pau-listana via Internet ou satélite. "Deixo um
canal na mesa - uma Tascam M-1508 - para receber o sinal do
satélite. Durante a Agência Nacional a matriz envia o material
gerado para lá, vinhetas e comerciais nacionais", explica
Wagner Correia, o Bonitinho, operador de gravação e coordenador
técnico da rádio em Pan Rio de Janeiro.
Esta geração, como é chamado na rádio o envio de material via
satélite, é feita durante a Agência Nacional, que é uma
transmissão local em todas as cidades. Assim o sinal do
satélite fica livre para a rádio Jovem Pan matriz, em São
Paulo, enviar o material que preparou para suas afiliadas.
"Coloco tudo na Tascam, porque ela já tem um MD ligado
direto. Se eu precisar gravar a transmissão na hora, é só
colocar um MD e abrir o canal", diz Bonitinho. A Tascam tem
oito canais mono que se transformam em quatro estéreo. Nela,
Bonitinho trabalha com a híbrida - um dispositivo que permite
levar ao ar o áudio de ligações telefônicas - que é mono e a
Agência Nacional, "que eu coloquei como mono",
explica. A mesma mesa ainda monitora o som da rádio, o som do
satélite e o aparelho de CD, "caso eu precise gravar alguma
coisa sem atrapalhar", justifica. A Yamaha O1V, com 16
canais, é utilizada para trabalhar o material local. "Mas
eu nunca vou utilizar todos os canais ao mesmo tempo porque faço
tudo no computador. Uso a mesa para jogar tudo para o PC e
trabalhar. O produto final passa pela mesa e vai para o ar",
conta Bonitinho, que tem microfones, MD, CD e DAT ligados neste
console. Falando em computadores, eles estão presen-tes nos
estúdios da Jovem Pan com uma participação ainda restrita à
edição. Lá são utilizados os programas Sound Forge 6.0 e
Vegas 3.0 para criar e editar vinhetas e comerciais. O Play List
trabalha dividido em duas partes. Bonitinho explica: "existe
a parte da OPEC - braço operacional da área comercial da rádio
- e a parte musical".
No estúdio de locução, dois
computadores dividem o espaço: um com programação musical
visual, para o locutor saber o que ele vai tocar e em que
forma-to a música está, MD ou CD; e o outro com os comerciais.
No estúdio de gra-vação ainda é possível ver um gravador de
rolo da Tascam, um deck da Denon e um DAT da Tascam. "São
nossos coringas, mas ninguém usa nada disso aqui", revela
Bonitinho. Ainda no estúdio do ar, o setup do DJ chama
atenção: um Mixer Pioneer DJM600 e dois CDJ100. Todo este
equipamento, segundo Bonitinho, utiliza apenas um canal da mesa
do estúdio do ar. "Sai do mixer o L/R e entra na mesa. Esse
equipamento todo é como se fosse um CD ou um MD", conclui.
Detalhes do satélite
Esmiuçando um pouco mais o sistema de satélite, Bonitinho
revela que a rádio acaba funcionando num regime de franquia.
"Todas as afiliadas utilizam a mesma empresa, a Comsat, e
trabalham com o mesmo sistema. Na hora do satélite, por exemplo,
durante o programa Pânico, que começa ao meio dia, acontece o
que nós chamamos de engatar o satélite", conta. Neste
momento o locutor começa a ouvir uma contagem em cue - como é
chamado o off no rádio - avisando que o programa vai entrar no
ar. Quando o programa já está entrando no ar, sendo gerado da
matriz em São Paulo, o locutor libera o sinal do satélite para
o ar na cidade onde está a afilia-da. "Os comerciais, que
são locais, estão todos no computador. A partir do momento em
que ele conecta o satélite no computador, ele pode até ir para
casa e voltar duas horas depois [tempo de duração do programa
Pânico] por-que, quando o locutor em São Paulo disparar o
computador dele para soltar os comerciais da matriz, todos os
breaks das rádios afiliadas entrarão no ar
au-tomaticamente", conta.
A mais nova das FMs
Abrigada no mesmo prédio que sua co-irmã Jovem Pan, a Paradiso
FM, uma das rádios mais novas do dial carioca, faz parte do
mesmo grupo empresarial, o Dial Brasil. A rádio ocupa a
freqüência e as instalações da extinta Alvorada FM e arrendou
os três estúdios, um de locução e dois de gravação, e todo
o equipamento da outra emissora. Foi também Bonitinho o
responsável pela implantação dos computadores e softwares na
Paradiso, coisas que não existi-am nos estúdios quando a rádio
chegou.
Os softwares Sound Forge 6.0 e Vegas 3.0 trabalham na gravação
e edição. Na hora da programação, outro sistema, o Informa,
comanda as músicas e co-merciais que vão ao ar, todos em MP3.
Diferente da Jovem Pan, a Paradiso utiliza o mesmo computador
para todas as funções. Como todas as músicas estão em MP3, o
programador planeja todos os blocos musicais do dia ouvindo o
banco de dados da rádio. Na tela do PC, o locutor vê o bloco
musical e o comercial. A inserção de vinhetas e a leitura de
notas informativas são feitas na hora.Uma mesa Tascam M-1516, de
16 canais, MD, DAT, CD, microfones e compu-tador compõem um dos
estúdios de gravação da rádio, onde são feitas vinhe-tas,
chamadas e programas. "A maioria dos programas não é
gravada aqui no estúdio, porque os apresentadores viajam muito.
Utilizamos MD portátil, para gravar com José Wilker e Luciano
Huck, ou via telefone mesmo, no caso de Valéria Monteiro, que
mora em outro estado e, às vezes, está fora do país",
revela Bonitinho.
O outro estúdio de gravação conta com
uma mesa Yamaha O1V, CD, MD e surpreendentes toca-discos.
"Como é uma rádio adulta, a programação resgata coisas
de vinil também. Faixas que ainda não foram lançadas em
CD". Os possíveis chiados podem ser atenuados ou
extraídos, dependendo da qualidade da gravação original.
Bonitinho revela, porém, que, em alguns casos, a faixa é tão
rara que o chiado fica propositalmente. "Faz parte do
charme", diz.
Para Ricardo Teles, locutor da Paradiso FM, a vantagem de ter
toda a progra-mação dentro do PC é poder se concentrar em
outras coisas. "Assim posso interpretar melhor uma notícia,
dar uma informação bem, porque você não fica naquela tensão
de ter que procurar música, deixar no ponto, prestar atenção
se está lendo o CD, tudo ao mesmo tempo. O trabalho da gente
rende mais". Ao contrário do que parece, o locutor não
vira escravo da programação, o Informa permite que a
programação seja interrompida a qualquer momento para
inserção de alguma informação adicional. "Eu posso abrir
o microfone e falar o que eu quiser a qualquer hora, não fico
preso. Posso pausar a progra-mação se precisar de mais
tempo".
FM O Dia e MPB FM
No prédio do jornal O Dia, no centro do Rio de Janeiro,
encontram-se duas rádios pertencentes ao grupo, a popular FM O
Dia e a nacionalista MPB FM. Para atender à demanda das rádios,
que dividem o mesmo andar, quatro estúdios são necessários,
dois de gravação e dois de locução. "Estamos proje-tando
um estúdio reserva agora", adianta Marcelo Roma,
Coordenador de Operações das duas rádios.
Com um volume de trabalho maior, a FM O Dia acaba concentrando mais equi-pamentos em seu estúdio de gravação. "Colocamos um gravador de HD com 24 canais, para gravar os shows", diz Marcelo, iniciando a lista, que segue com duas mesas, uma Yamaha O3D e outra Yamaha O2R, "linkadas para atender ao grande número de canais", justifica, referindo-se ao multicabo com 36 vias que vem do auditório no mesmo andar dos estúdios, onde acontecem os even-tos das rádios. No espaço, shows especiais e exclusivos são organizados. Nes-sas ocasiões, o local ganha uma estrutura de casa de shows, com direito até a mesa de PA.
Os eventos organizados ali vão
parar direto no radinho dos ouvintes, e, mais tarde, algumas
faixas viram CDs comercializados normalmente. Fatos como estes
justificam a presença do todo poderoso Pro Tools no estúdio da
rádio. O segundo estúdio de gravação pertence à MPB FM e,
comparado ao da FM O Dia, tem uma configuração bem mais
modesta: Yamaha O3D, computador, com SAW Studio e Sound Forge
7.0, e MD.
Ambas as rádios estão estreando um software novo, o V7,
fabricado por uma de uma empresa do Sul do País, nos estúdios
do ar. "É um programa de auto-mação para o ar com muito
mais recursos que o Play List", diz Marcelo. Dentro do V7
são armazenados todos os dados da programação, roteiro das
músicas, comerciais, vinhetas e notas para leitura dos
locutores. O programa vai mos-trando todo o roteiro do horário
para o locutor. Quando há uma nota para ler no ar, uma tela se
abre e o texto aparece em teleprompt. "Já estamos com as
vinhetas e comerciais prontos dentro das máquinas. As músicas
estão apenas com os nomes, os arquivos digitalizados estão
sendo preparados para entrar em breve", conta Marcelo,
explicando que os arquivos entrarão no formato MP3 com
compressão de 256 kbit/s.
Os microfones dos locutores,
todos Electro-Voice RE27, recebem tratamento das rádios FM O Dia
e MPB. Todos passam pelo processador de microfone, um Symetrix
528E que tem compressor, gate e equalizador, tudo já
pré-ajustado. "Eu coloco num ponto em que não vai
prejudicar nenhum locutor. Escuto todos os locutores para poder
ajustar", explica Marcelo, que chega a demorar sema-nas para
conseguir um ajuste satisfatório. "Preciso conhecer bem a
voz de cada locutor", justifica.
Uma antena no quintal
Com um estilo próprio desde as instalações arquitetônicas, a
rádio Antena 1 difere de todas as outras já citadas.
Funcionando numa casa no tranqüilo bairro da Urca, Zona Sul do
Rio de Janeiro, a Antena 1 convive em harmonia com a vizinhança.
"Quase ninguém sabe que estamos aqui há mais de dez
anos", revela Suzana Masetti, diretora artística da rádio
que acredita que, de certa forma, o clima das instalações se
reflete na programação da rádio. A fachada da casa de dois
andares não chama a atenção quando comparada às outras da
rua. Os segredos da rádio, contudo, se revelam no quintal. Uma
antena de transmissão de 70 m de altura é a única coisa que
faz lembrar que ali não se abriga uma família.
Com apenas dois estúdios, um para locução e outro de gravação, a rádio toca sua programação com perfil adulto, com músicas que misturam flashbacks e hits atuais, mas nada que ultrapasse o perfil de light FM, um estilo já consolidado não só na parte musical. A locução também tem seu diferencial, seis locutoras se revezam no cast da rádio. Todas elas mantém o mesmo padrão de locução e, praticamente, o mesmo timbre de voz. Na madrugada, um opera-dor, o único homem a freqüentar o estúdio do ar na rádio, comanda a discote-cagem, mas sem dizer uma palavra. As vinhetas são gravadas com as vozes das moças.O tradicionalismo no ar é mantido também no estúdio. Tudo é simples e fun-ciona como da mesma forma há anos: com os tradicionais MDs (306 no total) e papeizinhos com lista de programação e roteiros para os comerciais. "Não temos nada no computador para o uso diário da rádio, mas nosso acervo já está todo digitalizado. Quando a direção da rádio quiser, podemos mudar o formato", adianta Suzana.
O esquema antigo impera:
adrenalina na hora de trocar os MDs, atender o ouvinte ao
telefone, programar o comercial, ler as notas, informar a hora
certa, fazer as vinhetas, tudo ao mesmo tempo, obedecendo o
roteiro da equipe de programação. "É super humana nossa
discotecagem", filosofa.
O console utilizado no estúdio do ar é um Auditronics 2500, que
monitora leitores de MD Denon DN980F e Sony MDS-101. O microfone
é um Sennheiser E 835. Para o estúdio de gravação, um mixer
Mackie 1604, leitores de MD Denon DN991R e Sony MDS-101, e
microfone Shure SM58. No PC o software Sound Forge cuida da
gravação e edição de todo o material. Mesmo gostando do
formato atual e tendo bons resultados, Suzana sabe que toda esta
maneira clássica de fazer rádio vai ter que mudar.
"Trabalhamos com leitores de MD da Denon e é cada vez mais
difícil encontrar reposição de peças para eles. Tem máquina
parada desde janeiro, esperando por peças que não chegam",
lamenta e reconhece que o computador é bem mais simples de lidar
nesse ponto de vista.
Com experiência de 11 anos de trabalho em rádio, Suzana se diz
preparada para mais esta mudança, uma vez que já passou por
tantas outras, como a de cartucho para DAT e depois para MD.
Outro ponto onde a Antena 1
difere das outras rádios é na administração. Em todas as
outras encontramos técnicos responsáveis pela instalação e
manuten-ção dos equipamentos trabalhando internamente. Na
Antena 1 o trabalho é terceirizado, sendo executado por duas
empresas, a Transtécnica Montagem e Manutenção de
Transmissores Ltda., responsável pela manutenção de todos os
equipamentos da rádio no Sumaré, e a Mini Disc Serviços
Eletrônicos Ltda., que cuida dos projetos da rádio e
manutenção dos equipamentos dos estúdios. "Esta forma de
trabalho vem sendo um sucesso devido à relação de
cus-to/benefício de que a emissora desfruta", revela João
Pedro Nascimento, técni-co da Mini Disc.Além da vantagem da
economia da rádio, a flexibilidade que proporciona às empresas
contratadas, segundo João Pedro, também é muito vantajosa.
"Isto nada mais é do que o resultado de uma tendência
inevitável do mercado bro-adcast".
O Império Radiofônico
O discreto prédio no bairro da Glória, Zona Sul do Rio de
Janeiro, esconde o Sistema Globo de Rádio, o SGR. Com cinco
emissoras no ar - Globo AM, CBN, Mundial, Globo FM e 98 FM - e 16
estúdios, o SGR impressiona. "Quatro estúdios para
locução, um reserva para as FM, um reserva para as AM e o
restante para gravação, jornalismo e criação de
vinhetas", explica Wandeuvres Santos, Coordenador Técnico
do SGR. Cada rádio tem seu estúdio de locução, com exceção
da Mundial. "Ela não tem nem mesmo um estúdio",
revela Santos, que abriga a rádio num cantinho da central
técnica e se resume a um computador em cima de uma pequena mesa,
dividindo sua programação entre a rádio Viva Rio - uma ONG que
atua no Rio de Janeiro - e o Jóquei Clube.
Nos estúdios AM, os microfones são Beyer M88TG. Nos estúdios
FM são Elec-tro-Voice RE20. A diferença também está
relacionada ao formato de cada rádio. "O Beyer é um
microfone um pouco mais duro, porque no estúdio AM o retorno
fica lá dentro e os comunicadores trabalham com ele muito alto.
Um microfone mais sensível causaria uma realimentação",
explica Santos. Isso não ocorre nos estúdios FM, onde os
locutores utilizam fones de ouvido e têm um estilo mais
"calmo" de fazer locução.
Os consoles são variados, mas também respeitam o princípio da
funcionalida-de. Nos estúdios de locução das FM a Auditronics
série 200 foram os eleitos. Nos os estúdios da Globo AM quem
comanda é uma Pacific BMX3. Na CBN o trabalho todo passa pela
Auditronics série 210, "porque é uma mesa maior - tem 18
canais - para dar conta de todas as fontes", justifica
Santos explicando que, nas rádios AM é comum ter um número
grande de fontes, ou seja, repór-teres nas ruas, ligações
telefônicas e, no caso da CBN - especializada em notícias - as
fontes incluem reportagens geradas em outras praças.
O repórter aéreo
O repórter aéreo, um dos serviços mais disputados pelos
motoristas ouvintes de rádio, passa as horas de tráfego pesado
nas grandes cidades sobrevoando áreas críticas e informando ao
motorista sintonizado o melhor caminho para fugir dos
engarrafamentos e eventuais acidentes de trânsito. Para tanto, o
repórter entra no ar ao vivo, via rádio, com boletins dentro da
programação da emissora. Uma coisa impressiona: a limpeza do
áudio que chega no rádio. O segredo de uma transmissão em
condições nada favoráveis, como dentro de um helicóptero e,
às vezes, com as portas abertas, por exemplo, é simples. O
ruído provocado pelo motor do helicóptero, somado ao barulho da
hélice mais o vento, tecnicamente deixariam os boletins
inaudíveis. Mas, ao contrário disso, ouve-se muito bem o que o
repórter tem a dizer em sua locução. O segredo está no
microfone. "É um headset aeronáutico com cancelamento de
ruído e ligação direta com o rádio", revela Max
Salzmann, técnico de manuten-ção da rádio Paradiso FM, onde o
headset tem cápsula David Clark AM7 e é fabricado para
aviação e utilizado também pelas equipes de Fórmula 1.
O sistema é o mesmo utilizado pela JB e Cidade. O fone também
é um David Clark, modelo H10-13S, fabricado para aviação.
Além dos fones, o repórter ainda tem um kit completo com dois
rádios, um para ouvir a emissora e acom-panhar a programação e
a hora de seus boletins, e outro comunicador para enviar as
notícias, este último, originalmente utilizado em viaturas,
adaptado para esta função. "Como não é um
rádio-transmissor de aviação, tivemos que fazer uma
adaptação no PPT para ele ouvir o retorno. De um lado do fone
ele ouve a rádio, do outro ele tem o retorno dele", explica
André Luiz Lemos. O PPT ganhou uma entrada para o plug dos
fones.
De acordo com Santos, nos
estúdios de gravação há uma miscelânea. Consoles DDA, Ramsa
da Panasonic, Yamaha 2642, todas analógicas. "A única
digital que nós temos aqui, na verdade não é totalmente
digital. Ela tem entradas e saídas analógicas, mas dentro ela
trabalha digital", diz Santos, referindo-se à Yamaha ProMix
01, antecessora da Yamaha O1V, que trabalha levando para dentro
do computador comerciais, vinhetas e músicas.
O DADpro32, Digital Audio Delivery, da Enco Systems, é o
software utilizado nas rádios do SGR para gerenciar toda a parte
comercial e vinhetas. "Nossos computadores são touch screen
e com este programa o locutor pode soltar todo o bloco de
comerciais já programado com um toque", explica Santos. As
músicas ainda estão em MD e CD. Programação automática mesmo
só na madrugada da 98 FM. "O DAD assume a programação
tocando as músicas gravadas no HD", diz. As músicas já
digita-lizadas foram gravadas no formato MPEG-2. "Porque o
software que usamos aqui faz a conversão para WAV via
hardware", justifica Plínio Marcos Souza, analista de
suporte do SGR. O trabalho dos locutores do SGR ainda é manual,
o software mostra a programação musical, na ordem que deve ser
tocada, indicando o número do MD ou CD em que ela está.
Em meio a tanta tecnologia, um fato chama atenção. O acervo das
rádios do SGR ainda não está todo digitalizado, apenas os gols
de partidas de futebol passaram pelo processo. "O material
estava todo em fita e, para não perder para o mofo, passamos
tudo para meio digital", revela Alexandre Rebello,
Supervisor de Operações do SGR. A emissora tem gravados os gols
de diversos jogos desde 1963. Eles são um material raro que
merece ser conservado, especialmente porque até hoje é
utilizado na programação das rádios do Sis-tema Globo. As
músicas, grande parte ainda em vinil, um meio menos perecí-vel
que as fitas, ainda podem esperar para serem transformadas em
arquivos digitais.
Passado e presente nos mesmos estúdios
Mas,
nem só de modernidade vive uma rádio. Nos estúdios das rádios
AM do SGR ainda é possível encontrar peças de museu como as
temidas cartucheiras, gravadores de rolo, tudo ainda em pleno
uso. Jorge Martins, operador de áudio, manipulava um material
gravado em fita de rolo enquanto M&T visitava a rádio.Fato
que causa estranheza, uma vez que, na frente do operador, um PC
com softwares de edição estavam à disposição. "O rolo
ainda é muito útil. Nesta fita tem uma entrevista com um
artista que iríamos exibir na íntegra, mas, por causa do
futebol, eu estou editando aqui mesmo para levar ao ar só as
partes mais importantes", explica.
O programa de entrevistas vai ao ar aos sábados na Globo AM e
sempre é gravado em fita de rolo. Estes equi-pamentos, porém,
estão com os dias contados. O mercado já não supre a
necessidade de equipamentos tão antigos. "Você já não
encontra mais matéria prima como cassetes, fitas de rolo e
cabeças de gravação", conta Alexandre Rebello. Ele revela
ainda que uma cabeça de gravação de uma máquina de rolo hoje,
quando encontrada, chega a custar US$ 200.
As emissoras Hi-tech
Localizadas no centro do Rio de Janeiro, dividem o mesmo andar em
um prédio comercial as irmãs Rádio Cidade e JB FM. Uma recente
mudança de endereço reduziu muito o espaço físico dedicado
às emissoras. As duas agora dividem quatro estúdios, dois de
locução e dois de gravação. No estúdio de locução das
rádios JB FM e Cidade existem três computadores, um para o
comercial e outro para a parte musical, o terceiro é back-up
para segurança. "Trabalhamos com dois sistemas, Echo Play
para as músicas e Play List para comerciais e vinhetas",
explica Rosângela Cardoso, gerente de tecno-logia das rádios. O
formato de arquivo das musicas está em transição dentro das
rádios. "Utilizávamos o MP3, mas estamos migrando para o
formato WAV. As músicas ficarão todas em WAV e o comercial e
trilhas em MP3", diz Rosângela.
A gerente de tecnologia explica ainda que, apesar de mais
pesados, os arqui-vos no formato WAV têm uma qualidade superior
ao formato MP3. "Eles não têm nenhuma compressão, e, por
conseqüência, não sofrem perdas", explica André Luiz
Lemos, Técnico de Manutenção. O cuidado com a qualidade do
áudio gerado dentro emissora se explica ao lembrar que ocorrem
perdas du-rante o caminho da emissora até a casa do ouvinte. A
opção de separar a área comercial da musical foi da gerência
artística, que dividiu a as rádios em duas partes: uma
comercial e outra musical criando uma rede separada para cada
finalidade. Com este sistema, as equipes do comercial utilizam as
máquinas de sua área com o conteúdo necessário para seu
traba-lho. A equipe artística tem acesso à rede onde está
armazenado o acervo musical das rádios. "Assim conseguimos
uma maior segurança e agilidade no trabalho", explica
Rosângela, que agora se sente segura contra um possível
contágio de vírus. "A possibilidade de um contágio nas
máquinas do musical é remota".
Nos estúdios do ar, a
disposição dos equipamentos chama atenção. A mesa é limpa,
não há leitores de MD, CD ou cartuchos. No lugar de tudo isso
há apenas três monitores e uma mesa que controla tudo. Com
design arrojado, o console alemão Klotz Digital Paradig M ganhou
espaço nas rádios JB e Cidade pela facilidade de operação e
de comunicação. "Disparamos o programa pela mesa mesmo,
ela se comunica bem com os softwares utilizados nos
estúdios", conta André Luiz, que precisou estudar a mesa
para descobrir uma maneira de fazê-la trabalhar com os
softwares. Além de tudo isso, a mesa ainda conta com um
processador interno que atua no microfone do locutor. "É
uma mesa híbri-da, analógica e digital, só tem poucos canais,
mas, para um rádio pequena, é bastante funcional", diz
André Luiz.
Para quem pensa que um PC com todas as músicas dentro já
programadas para irem ao ar na seqüência certa, com suas
devidas intervenções de vinhetas e comerciais, pode deixar o
locutor privado de seu trabalho de discotecário e comunicador,
André Luiz tem uma explicação. "Existem duas maneiras de
irradiar um micro no ar: o vitrolão, que é o programa que
coloca uma música atrás da outra, e a nossa maneira", diz,
referindo-se à liberdade que o locutor tem com o equipamento
instalado nos estúdios das rádios JB e Cidade, já que os
computadores dos estúdios do ar possuem quatro placas de áudio,
deixando o locutor livre para fazer uma mixagem, se quiser.
"Ele recebe o roteiro na tela, mas tem total liberdade de
interromper para falar alguma coisa quando quiser", completa
Rosângela. Ela lembra que o computador não trabalha
au-tomaticamente, ele é comandado todo o tempo pelo locutor.
Robson França, locutor da JB FM, aprova o estilo hi-tech da
rádio. "Nosso trabalho continua o mesmo, mas bem melhor
porque não precisamos separar CDs e MDs como antigamente".
Microfones Shure SM7 são utilizados nos estúdios de locução.
André Luiz expli-ca que a opção por eles foi devido à
cápsula direcional que apresentam. "Den-tro dos estúdios
temos três computadores ligados com suas respectivas vento-inhas
para os HDs das máquinas, que fazem muito barulho. Este
microfone direcional não capta este e outros possíveis ruídos
dentro do estúdio", conta. No estúdio de gravação
encontramos uma mesa Yamaha O1V. Um segundo estúdio de
gravação abriga outra O1V e vários microfones Electro-Voice RE
27MD, para a gravação de entrevistas e programas da rádio
Cidade.