Será o fim da crise na Brasil 2000?
Por Marcos Ribeiro
A agora
confirmada demissão de Juan Pastor pode ser o fim de uma crise
que se instalou na Rádio Brasil 2000 desde janeiro 2.001. Na
ocasião, o radialista e músico Tatola teve sérios
desentendimentos comerciais com a direção da emissora e foi
demitido. Solidário a seu amigo e parceiro, Roberto Muller Maia,
mentor intelectual e diretor da emissora também levou um nada
elegante pé na bunda.
Os diretores da fundação Brasil 2000, mantenedora da emissora,
viram na demissão desses dois profissionais a chance de
transformar uma rádio que era referência para os amantes do
rock e amantes da boa música numa emissora comercial e fútil
como muitas que existem por aí.
Para tanto contrataram Lélio Teixeira, um radialista
especializado em rádios do tipo "hitmaker", que antes
de ser convidado para ir dirigir a Brasil 2000, transformou a 97
FM, a primeira rádio de rock de São Paulo, em uma emissora
vulgar de dance music de grande audiência.
Na época, os ouvintes da Brasil 2000 temiam que ele fizesse o
mesmo com a rádio da Universidade Anhembi Morumbi. Para sorte da
molecada e roqueiros inveterados ele pouco mexeu na
programação. A única coisa de concreto que ele fez foi criar
um programa que reune palpites sobre futebol e muito besteirol no
horário do rush, que trouxe um bom retorno financeiro para a
estação, mas que nada tinha a ver com a linha da programação.
A crise, em vez de atenuar, foi sendo empurrada com a barriga,
pois esse programa de "esporte" virou líder de
audiência da rádio, mas não agregava ouvintes à
programação. Quem segurava a audiência de verdade eram os
programas semanais especiais nos quais Lélio teve medo de mexer,
face ao fraco desempenho da chamada programação normal que era
tão ruim quanto a das concorrentes.
Tal como uma doença incubada, a crise explodiu quando Juan
Pastor foi contratado para reformular a programação dentro de
um pretenso projeto educacional chamado "Escola
Aprendiz", que não decolou. Por presunção, inexperiência
ou incompetência o então coordenador tirou o programa Garagem,
um dos mais antigos e mais ouvidos da casa por diferenças
pessoais - segundo se comentou na época - com um de seus
apresentadores, com uma certa conveniência do então diretor
(Lélio), que por sua vez só parecia ter olhos para seu projeto
de "programa esportivo".
A grita foi geral por parte da audiência e Pastor, agora
transformado em diretor, tirou alguns poucos programas criados na
época de Lélio e outros tantos surgidos ainda na gestão de
Roberto Maia. A emissora caiu no descrédito total dos ouvintes,
mesmo com a contratação de Marcelo Tas e perdeu audiência
cativa cultivada por anos a fio.
A administração de Juan Pastor foi para as cucuias de vez
quando o programa "Na Geral", menina dos olhos de
Lélio Teixeira foi para a Rádio Bandeirantes. Aquela audiência
ocasional estrondosa do fim de tarde simplesmente sumiu e o
"Ibope" despencou de vez.
A emissora tentou em vão competir com suas concorrentes diretas
(Mix e 89). Enquanto a primeira subia vertiginosamente e caía na
mesma velocidade na audiência, segundo o Ibope, e a segunda
criava estratégias de marketing sem precedentes no mercado, a
Brasil continuava sua vida como uma rádio de rock apática e
abandonada cujos únicos sopros de vidas que se ouviam eram os
programas de Kid Vinil, Vitão Bonesso e outros poucos
especialistas em rock que ainda sobraram dessa crise.
Agora com a saída de Pastor, que segundo a direção da
fundação não cumpriu as metas de transformar a rádio de rock
numa rádio "adulta" que trouxesse um público mais
adulto - leia-se com mais poder aquisitivo - e supostamente mais
atraente para os anunciantes e agências de publicidade, esperam
os donos da rádio que seus sucessores atinjam essa meta.
É claro que se o objetivo for unicamente esse, a direção da
Brasil 2000 vai tomar na cabeça de novo e não vai sair da
crise. Parece que os comandantes da fundação não querem
enxergar o óbvio. Quem for comandar a programação da Brasil
2000 tem de se preocupar com a qualidade do que irá ao ar, com a
interação com o ouvinte e não com os parâmetros comercias.
Isso é preocupação de quem tem a função de
"vender" os espaços publicitários da emissora.
É como certa vez disse veterano Walter Silva, o Pica Pau: "
As rádios são umas porcarias porque é o diretor comercial que
manda na programação. Quem tem que cuidar disso é o diretor
artístico, de programação, etc. Ele tem de se preocupar em
criar e botar no ar bons programas para que o pessoal do
departamento comercial vá vender depois. Mas eles querem fazer o
oposto e por isso não dá certo".
Eu acrescentaria que eles (proprietários de rádio) se preocupam
muito com a audiência registrada do Ibope, que possui um sistema
ineficiente e ultrapassado para medir audiência em rádio e que
não corresponde à realidade. Não é à toa que grandes
emissoras começam a contestar a pesquisa deste instituto.
Acrescenta-se aí a preguiça da maioria das agências de
publicidade e má vontade dos grandes anunciantes. Eles só
enxergam a quantidade de ouvintes e não a qualidade deles.
Mas pode ser que dê tudo certo porque Kid Vinil é m dos
radialistas mais experientes do FM, é músico e jornalista. Logo
ele tem sensibilidade e conhecimento musical de sobra. É de se
supor que ele vá mais se preocupar com a qualidade da
programação musical do que qualquer outra coisa. Se ele for
mantido, caberá à Fundação montar um departamento comercial
afinado com a emissora, competente e que "venda" a
filosofia de programação da Brasil 2000 e não só
"espaços comerciais" baseados e números de
"audiência".
Boa sorte para o Kid vinil, sua equipe e para nós, sofridos
ouvintes.