Textos de Zezito Rodrigues - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2004 - Todos os direitos pertencem ao Autor. |
Poesia |
ZEZITO RODRIGUES |
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SECA 23.06.2000 Todos os anos, de Maio a Setembro Um silêncio de morte se faz no sertão. Cobre-se de cinza o horizonte, Ao longe azulam-se os montes, O negro véu da seca veste a caatinga sedenta. Magricelas, os casebres espiam os transeuntes. Como um rio de leito seco, a estrada Conduz os pensamentos e decora A paisagem na vastidão da poeira. Mirrando de sede as plantas Ressequidas e esqueléticas, Abrem flores coloridas - Carnudas, oferecem seu sexo, Seduzindo besouros e pássaros Libidinosamente imploram Seus beijos. Anseiam garantir sua vida Que esmirra e lhe foge ao peito. Plantados à beira da estrada Sorrisos totemizados em outdoor Vendem promessas de futuros mirabolantes Que o passado já viu e não gostou - As mesmas caras políticas de antes - O mesmo gosto de ilusão de após. Todos os anos, de Maio a Setembro, (porque em Outubro se faz chuva e eleição) O sertão se lembra de morrer, O futuro se esquece de existir, A vida pede pra esquecer, E partir. Aves de arribação, caminhos do sul Caminhos do pó, céu azul Feridas no peito, lágrimas nos olhos E a profecia: ". . . ao pó retornarás!". |