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Em: 15-OUT-1999

Nino "dorme bem e está extremamente tranquilo"

Ex-presidente permanece na sua casa em Gaia, de onde sai para jogar ténis no Boavista

Rosário Abreu e Lima


Arquivo DN-Hernâni Pereira
GAIENSE. A Câmara de Gaia ofereceu um jantar ao seu munícipe em Maio de 98, reunindo alguns amigos de Nino

Tudo indica que Nino Vieira continua em Portugal na sua residência em Vila Nova de Gaia. Nos últimos dias o ex-presidente da Guiné-Bissau foi visto em passeio na Baixa do Porto e ainda na quarta-feira jogou ténis no Boavista.

"Há já algumas semanas que o vejo nos courts. Vai sempre à hora do almoço acompanhado por quatro guarda-costas. Ainda ontem (quarta-feira) esteve lá", disse ao DN Maria Gomes, uma advogada frequentadora do complexo boavisteiro. A segurança a Nino, segundo soubemos, é prestada também pelo Estado português, situação que não deverá ser alheia ao "acordo político" entre os governos de Lisboa e Bissau, firmado aquando do golpe militar que destituiu o ex-presidente e lhe permitiu, em Agosto, o asilo político em Portugal.

A permanência de Nino Vieira no País terá sido interrompida apenas por motivos de doença, quando se deslocou a Paris para se submeter a alguns tratamentos médicos, de onde regressou há cerca de um mês.

Ontem, à porta da casa de Gaia o cenário era idêntico, segundo vizinhos, ao de sempre: "Os seguranças andam de um lado para o outro e é só." O empresário Manuel Macedo, amigo recente do ex-presidente guineense e promotor das relações com a Indonésia, mas que nos últimos tempos se tornou próximo, afirma que "Nino está na sua casa de Gaia e está extremamente tranquilo".

E se Nino se abstém, por enquanto, de prestar declarações, Macedo faz as expensas da casa. O pedido de extradição feito pelo procurador-geral da República (PGR) da Guiné, Amine Saad, ao homólogo português provoca risos no empresário: "Não há qualquer extradição, uma vez que esse senhor não tem absolutamente nada por onde possa argumentar com legitimidade e legalidade."

Acontece que para Macedo "a Guiné é neste momento uma ditadura comunista e as provas que esse PGR diz ter foram compradas a indivíduos que estavam presos a troco da respectiva liberdade". Mais. Tudo não passa de "uma represália", já que Amine Saad "cometeu há muitos anos crimes contra a presidência que lhe valeram um processo crime movido por Nino e que só à custa da interferência de altas individualidades o presidente lhe perdoou". Manuel Macedo vai mais longe nas acusações ao PGR guineense acusando-o de sofrer de "um terrível complexo de inferioridade" que o leva a julgar "poder-se comparar ao PGR português. Só que afinal ele não passa de um porteiro da Procuradoria...".

Epítetos a que também não escapa a maioria do actual Governo da Guiné que, em conjunto com a Justiça local, "são uma associação de loucos. O PGR é um doido varrido!". O que implica, no entender de Manuel Macedo, a ausência de credibilidade internacional: "Basta ver que o ministro da Justiça mal sabe ler e escrever..." Por outro lado, o empresário sustenta que "se o PGR realmente tivesse matéria já tinha actuado sobre os assassinos que devassam o país e não mantinha na cadeia milhares sem culpa formada".

Mas há mais a favor de Nino. Este porta-voz improvisado assegura que o ex-presidente se mostrou preocupado em estar presente quando Amine Saad anunciou que viria a Portugal. "Desde Setembro que esse PGR dizia que vinha agora e logo. Nino fez sempre questão de cá estar, excepto quando foi a Paris tratar-se."

Por isso, assegura, "Nino dorme bem e até já joga ténis". A preocupação do ex-presidente "é que a democracia volte à Guiné para que também ele regresse de modo a continuar a obra que iniciou há 40 anos".

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