Prioridade das prioridades

Hélio Fernandes, Jornal Tribuna da Imprensa, 13/11/2003

Circulação de dinheiro para todos e não de títulos do Tesouro para enriquecer ainda mais o s já podres e poderosos Bancos

A satisfação deveria vir dos dois lados, dos banqueiros "emprestadores" e dos empresários, recebedores. A obrigatoriedade dos bancos é emprestar, é dos empréstimos que eles obtêm seus lucros, nos últimos dez anos já altíssimos. A alegria total seria se fossem dadas condições civilizadas aos produtores rurais ou industriais que conseguem produzir, colher, vender e lucrar, única e exclusivamente com a produção, e não com a especulação pura e simples de poucos que ficam desviando dinheiro atrás de mesas.

O governo anunciou que está emprestando para a produção agrícola, com juros de 8,75% ao ano, ao ano. Se os bancos destinam uma parte enorme dos seus recursos para "emprestar" (que blasfêmia, eles apenas dão a isca para abocanhar bem mais do que emprestam) ao governo, por que modificariam sua forma de agir, perderiam os lucros criminosos que arrancam do cidadão-contribuinte-eleitor?

Os banqueiros multinacionais gritam bem alto, por eles e pela mídia (Veja) muito bem recompensada: "Apenas compramos os títulos que o governo vende, não assaltamos o Tesouro Nacional". Nisso estão com a razão. Sem razão está o governo (o de Lula seguindo fielmente o que foi traçado pelo antecessor FHC), que em vez de títulos alta e criminosamente remunerados deveria lançar dinheiro vivo no mercado. Já receberam 45% por esse "empréstimo", agora recebem 19%, uma barbaridade. Mais ainda do que recebiam em setembro de 2002.

O País tem fome de dinheiro, precisa de dinheiro, sofre com a falta de dinheiro. Todos os setores produtivos e respeitáveis do Brasil lutam desesperadamente por financiamento. E isso se faz com dinheiro e não com títulos. Estes títulos enriquecem d-e-s-m-e-s-u-r-a-d-a-m-e-n-t-e os bancos e arruínam quem quer produzir.

Em vez de jogar títulos no mercado, PAGANDO agora 19% a "empresários" que não trabalham, ficam ávida e confortavelmente atrás de suas escrivaninhas envernizadas, o governo deveria modificar inteiramente sua política monetária.

O racional, o fundamental, o natural seria acabar com esses títulos e emitir moeda, para financiar os setores que produzem, que criam empregos, que desenvolvem, que com trabalho, esforço e convicção recolhem lucros, enriquecem, reinvestem, ganham mais. Mas de forma legítima.

Nada contra isso. O mundo tem um Deus, que é a produção. E o seu profeta que é o lucro. Mas lucro social, lucro do trabalho, lucro que pode ser exibido (e até ostentado, quem quiser aparecer que apareça), mas sem precisar se esconder atrás de roubos vergonhosos.

Por esse dinheiro emitido em espécie, emprestado para a produção, recolhido em benefícios para toda a coletividade, o governo cobraria 8,75% ao ano, como está emprestando para a agricultura. (E não só para a agricultura). O financiamento para atividades legítimas produz resultados para toda a coletividade.

Em vez de PAGAR 19% (para quê?), o governo recolheria não só esses 8,75%, mas o aplauso de toda a sociedade. A economia seria de mais de 35%, que poderosa alavanca para o D-E-S-E-N-V-O-L-V-I-M-E-N-T-O.

Esta Tribuna já deu e repetiu na Primeira o que os jornalões omitiram deliberadamente: "200 economistas lançam Manifesto exigindo política de juro baixo". Registre-se: não é a queda de meio ou 1 por cento numa sonolenta, monótona e monitorizada reunião do Conselho Monetário. É uma política de juro baixo, que só deve parar quando estiverem num patamar decente e digno. Digamos: 5 ou 6 por cento. OU MENOS.

E nem adianta refutarem, dizendo: "Emissão de moeda é inflacionária". Inflacionária é a burrice. Inflacionária é a exploração mal disfarçada. Inflacionária é a paralisação da sociedade para que os bancos cumpram suas funções destruidoras-enriquecedoras.

E quando não havia essa incompreensível "dívida", coisa de mais ou menos 10 anos? FHC assumiu com essa "dívida" em 60 bilhões, deixou em 800 bilhões. E se tivessem emitido esses 800 bilhões em dinheiro, quanto teriam deixado de pagar aos banqueiros?

Emprestando para a produção a 6% ao ano, quanto teriam recebido? E com isso teriam ajudado à produção, financiado o esporte, a cultura, a saúde, a educação. Ainda está em tempo.

PS - Em 1916, Primeira Guerra Mundial, encurralado pelos alemães, Clemenceau, primeiro-ministro da França, pedia aos americanos: "Óleo, óleo, imediatamente".

PS 2 - Agora, encurralado pelos americanos, o Brasil grita: "Dinheiro, dinheiro, precisamos de dinheiro e não de títulos". Mas o FMI, inflexível, quer títulos, que para ele valem muito mais do que dinheiro.