A QUESTÃO DA REPERTORIZAÇÃO. Quantidade ou qualidade?
Elias Carlos Zoby
Homeopata veterinário
eczoby@carrier.com.br
Muito já foi escrito sobre o assunto e não
clamo originalidade para nada do que vai abaixo. Apenas uma
digressão sobre o assunto.
Desde os tempos de Bönninghausen o conflito entre semelhança
quantitativa e qualitativa se faz presente de uma forma ou de
outra nas discussões de repertório.
Afinal, é mais provável de atuar favoravelmente o medicamento
que cubra, digamos, todas as 10 rubricas escolhidas de um caso ou
outro que cubra apenas 9, ou 8, ou 7...?
Alguns formulariam a questão de outra forma, trocando a palavra
'rubricas' por 'sintomas' e nesse caso me parece que tem maiores
chances o medicamento que cubra os 10 sintomas. É dado por
óbvio que foram sintomas e rubricas bem escolhidos,
característicos, bem feitos no repertório etc., não se discute
aqui as possíveis causas de erro na escolha.
Se parece mais provável ser o simillimum aquele que cubra maior
número de sintomas característicos o mesmo não se pode dizer
daquele que preencha o maior número de rubricas. Este pode, ou
não, ser o mais semelhante. Pelas rubricas apenas não é
possível predizer.
- Confundiu? Como assim? Qual é a difereença?
No repertório há pouquíssimos sintomas, principalmente no que
se refere aos subjetivos (mentais e sensações), um desses raros
é "Dwells - thinking of everything that others have
done to displease her. Lying awake thinking of it, in the morning
she has forgotten about it". Aqui há uma descrição
da ação ou fenômeno (pensar no que têm-lhe feito de
desagradável), circunstância em que ocorre (deitada na hora de
dormir), horário (noite, total ou parcial), melhoria (manhã). A
maioria das rubricas não é assim, desmembram cada uma das
partes e as colocam como sub rubricas no modêlo kentiano, ou
independentes no segundo modêlo de Bönninghausen. Ainda que
Ambra grisea seja "Forçado a viver pensando nas mais
desagradáveis coisas; insone em consequência"; Benzoicum
acidum tenha "Alternância de profundo sono com prolongados
períodos de insônia. No período de insônia, ele vive
pensando, durante a noite, sobre todos os desagradáveis assuntos
que ele pode pensar. Esse estado alterna com noites de estúpido
sono por semanas, e isso flutua de acordo com a flutuação do
estado da urina"; Lycopodium seja "dominada por muito
desagradáveis recordações, sobre as quais ela torna-se
aborrecida; mesmo à noite ao despertar"; e Coffea cruda
esteja "Tão cheia de idéias que ela deita noites acordada
fazendo planos, pensando em mil coisas; totalmente incapaz de
banir os pensamentos que inundam a mente; ouve os relógios nos
distantes campanários, como op, chin e nux-v" e vários
medicamentos tenham essas rubricas separadamente, só Ammonium
carbonicum diz "Penso em tudo que os outros têm feito para
desagradar-me; deito acordada a noite toda a fazer planos para
falar-lhes sobre isso, mas esqueço-o pela manhã".
O fenômeno peculiar de ficar deitada a noite toda a pensar no
que os outros lhe têm feito de desagradável, fazendo planos de
reclamar e esquecendo tudo pela manhã só foi produzido por um
medicamento. É disso que eu falo quando me refiro à diferença
entre rubrica e sintoma, bem como à semelhança quantitativa e
qualitativa.
O repertório encurta o caminho na busca do medicamento que tem
aquele conjunto de circustâncias e fenômenos semelhantemente
pela comparação dos medicamentos que têm-lhos mesmo
separadamente. É quantitativo.
Ou seja, sabendo que, por ex., am-c, ambr, chin, coff, lyc,
nux-v e op produzem tais coisas, deve-se ir às
patogenesias em busca daquele dentre eles que tenha produzido o
conjunto com temáticas e modalidades semelhantes. A matéria
médica é, portanto, qualitativa. Pode-se fazê-la também
quantitativa, desde que sejam usadas todas as MM puras e
clínicas, coisa praticamente inviável na atualidade.
Não basta para a comparação dos sintomas do paciente usar
qualquer MM, muito menos clínica, pois cada paciente é único,
inédito e as MM clínicas dão só parte da experiência do
autor. É necessário usar as MM que tenham a mais completa
compilação de patogenesias.
Muitas vezes não é possível encontrar um medicamento que tenha
produzido todo o conjunto num mesmo indivíduo. Um teve a
temática, outro teve as modalidades sob outros fenômenos... A
solução do impasse será debatida em outro artigo.