Textos Selecionados do Jornal Sexto Sentido n º 5
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AUTOCONHECIMENTO
O QUARTO CAMINHO
O quarto caminho é um sistema cosmológico e psicológico elaborado por dois
pensadores russos no início do século 20: G. Gurdjieff e P. Ouspensky, cujas
raízes procedem das antigas tradições e ensinamentos orientais. Os principais
elementos da escola do quarto caminho é a consciência e a auto-lembrança. É um
caminho de auto-desenvolvimento, uma maneira de aprender sobre nós mesmos e de
mudarmos a nós mesmos. E, esperançosamente, um caminho para Deus ou o que quer
que seja após esta vida. O nome "quarto" caminho implica que existem três outros
caminhos: o "primeiro caminho" refere-se aos sistemas ou métodos que são
principalmente físicos, o caminho do domínio do corpo físico; é o chamado
"caminho do faquir". O "segundo caminho" para aqueles que são principalmente
emocionais, é a via da devoção, do sacrifício religioso e da fé; é o "caminho do
monge". O "terceiro caminho" para àqueles que são intelectuais, é a via do
conhecimento; o "caminho do iogue". O quarto caminho é uma combinação de todos
estes caminhos, são para os que querem permanecer no mundo, sem pertencer ao
mundo, para os que buscam um estado de consciência mais elevado. Gurgjieff,
assim como o Buda, afirma que a maioria das pessoas estão "adormecidas", vivendo
uma vida de reação automática a estímulos externos. O caminho para a libertação,
para o "despertar", não está nas noções convencionais de vida virtuosa, mas num
programa intencional de autotransformação.
A LEMBRANÇA DE SI MESMO
A auto-lembrança é um estado de consciência no qual estamos atentos ao que
estamos fazendo. Usualmente esquecemos de nós mesmos. Ficamos absorvidos pelo
que estamos fazendo. Por exemplo, entramos no nosso carro e damos a partida,
então, esquecemos de nós mesmos, (talvez relembrando algum acontecimento
passado). Somente quando já estamos em casa é que nos lembramos de nós mesmos
novamente. Você "descobre" então que esteve "dormindo" enquanto dirigia para
casa. A auto- lembrança não é uma atitude intelectual, mas uma maneira de ser
nós mesmos, de observação de nós mesmos. A auto-lembrança é frequentemente
acompanhada de um sentimento de estranheza, como se estivessemos vendo as coisas
pela primeira vez. A auto-lembrança é importante no quarto caminho porque é um
modo de romper o cíclo mecânico no qual vivemos. Uma das máximas da auto-
lembrança é: "Onde quer que se esteja, o que quer que se faça, lembrar-se da
própria presença e reparar sempre no que se faz". A consciência objetiva é a
meta, a culminância da auto-lembrança. Um dos principais objetivos do "trabalho"
é a mudança do nosso "nível de ser" através do autoconhecimento. Sem
autoconheciemnto não podemos ter metas sobre nós mesmos em relação a mudança de
nosso ser. O verdadeiro autoconhecimento é diferente das idéias e quadros
imaginários que fazemos a respeito de nós mesmos e só pode surgir através de
muita auto-observação pessoal. Isso significa que temos que ver como falamos,
agimos, quando temos emoções negativas, quando e com que estamos nos
identificando, quando mentimos e também, conhecer nossas formas particulares de
imaginação. Resumindo: temos que observar as coisas que nos mantêm "adormecidos"
e nos impedem de "acordar". Despertar do sono é o mais alto objetivo do
"trabalho" no quarto caminho. Só o homem desperto é senhor de si mesmo.
* * *
M E D I T A Ç Ã O
Tudo que somos é resultado do que temos pensado:
está fundado em nossos pensamentos, é composto
de nossos pensamentos. Se um homem fala ou age
com um pensamento ruim, a dor o segue, como a roda
segue a pata do boi que a puxa... Se um homem
fala ou age com um pensamento puro, a felicidade
o segue, como uma sombra que nunca o abandona.
Gautama Buda
* * *A MEDITAÇÃO É CHEGAR EM CASA
Há dois planos em você: o plano da mente e o plano da não-mente.
Ou, deixe-me dizer de outro jeito: o plano em que você está na periferia de seu
ser e o plano em que você está no centro do seu ser. Todo círculo possui um
centro - saiba você disso ou não. Sem o centro você não poderia existir; o seu
ser tem um núcleo. Nesse centro você já é um Buda, alguém que já chegou em casa.
Na periferia, você está no mundo - na mente, nos sonhos, nos desejos, nas
ansiedades, em mil e um jogos. Centro e periferia; você é ambos. Pouco a pouco
você se tornará capaz de mover-se da periferia para o centro e do centro para a
periferia com muita facilidade. Exatamente como você entra e sai de casa. Você
poderá entrar e sair de casa quando lhe aprouver.
Do mesmo modo um homem de consciência e compreensão se move da periferia para o
centro e do centro para a periferia. Ele nunca se fixa em lugar algum. Do
mercado para o mosteiro, do sansar para o sânias, da extroversão para a
introversão - ele está se movendo continuamente, porque essas duas coisas são as
suas asas, não estão em choque uma com a outra. Podem ser equilibradas em
direções opostas - tem de ser; se ambas as asas estiverem do mesmo lado, o
pássaro não poderá voar para o céu. Elas têm de estar equilibradas em direções
opostas, mas ainda assim pertencem ao mesmo pássaro, servem ao mesmo pássaro.
Seu exterior e seu interior são as suas asas. Mas cuidado...a mente tende a
fixar-se. Há pessoas que se fixam no mundo exterior; não querem sair dele, dizem
que não têm tempo para a meditação e que, mesmo que tivessem tempo, não saberiam
como meditar e nem acreditam que possam meditar. Elas dizem: somos mundanas,
somos extrovertidas - como podemos ir para dentro? elas escolheram apenas uma
asa. E, é claro que, com apenas uma asa, não poderão voar, fatalmente resultará
em frustração. Por outro lado, há pessoas que se cansam do mundo e fogem dele,
vão para os mosteiros, para os Himalaias, tornam-se monges, saniasins; começam a
viver sozinhas, a ter uma vida de introspecção. Elas fecham seus olhos, fecham
todas as suas portas e janelas, então ficam entediadas. Elas novamente
escolheram uma outra asa. Mas novamente uma só asa. Este é um caminho para uma
vida desequilibrada. Elas incorreram no mesmo erro dos que são mundanos, só que
no pólo oposto.
Não sou a favor disso ou daquilo. Gostaria que você se tornasse tão capaz
que pudesse viver o dia-a-dia e ainda assim ser meditativo. Gostaria que você se
relacionasse com as pessoas, amasse, tivesse milhões de relacionamentos - porque
eles enriquecem - e, ainda assim, continuasse a ser capaz de fechar suas portas
e, algumas vezes, tirar uma folga de todos os relacionamentos, de modo que você
possa relacionar-se com seu próprio ser também. Relacione-se com os outros, mas
relacione-se consigo também. Ame os outros, mas ame a si mesmo também. Saia! - o
mundo é belo, cheio de aventuras, é um desafio, ele o enriquece. Não perca esta
oportunidade! Sempre que o mundo bater à sua porta e chamá-lo, saia! saia sem
medo, não há nada a perder, há tudo a ganhar. mas não se perca, não permaneça lá
e se perca. Algumas vezes, volte para casa. Algumas vezes, esqueça o mundo -
estes são os momentos para a meditação. Diariamente, se quiser tornar-se
equilibrado, você deve equilibrar o interior e o exterior. Ambos devem ter o
mesmo peso, para que dentro de você nunca haja desequilíbrio. É isso que os
mestres-Zen querem dizer quando recomendam: "caminhe no rio, mas não deixem a
água tocar em seus pés". Esteja no mundo, mas não deixe o mundo estar em você.
Quando voltar para casa, volte para casa - como se todo o mundo tivesse
desaparecido.
Osho
* * *MORTE: A MAIOR DAS ILUSÕES
Durante séculos nos tem sido ensinado
que a morte é o fim da vida, que a morte é inimiga da vida. Como sabemos que a
morte é inevitável, ficamos assustados, vivemos tensos. Apelamos para as
religiões, e aí, encontramos uma grande confusão. As religiões ocidentais nada
sabem sobre a morte, como também nada sabem sobre a vida, daí o medo de ambas.
Quem teme a morte também teme a vida. As pseudo - religiões são baseadas numa
atitude antivida. Elas são favoráveis à renúncia da vida. Dizem que a vida
surgiu do pecado original, que todos nascemos no pecado e temos que renunciar ao
viver em prol de um futuro fictício. Como queremos viver, nos sentimos culpados
e o medo toma conta de nossas atitudes, de tudo que fazemos, envenenando toda a
nossa vida. O medo da morte é o pai de todos os medos. Se nos livrarmos do medo
da morte, todos os outros medos sumirão. O medo da morte deu origem as
religiões. Sem a realidade da morte não haveria religiões no mundo. A morte é
que nos faz procurar por algo que a transcenda. Se não compreendermos e não
aceitarmos a morte, permaneceremos incompletos, desequilibrados, tensos e jamais
poderemos relaxar porque a morte não está separada da vida. Vida e morte são
dois lados de uma mesma moeda. Não conhecemos a vida, consequentemente, não
sabemos o que é a morte, não sabemos o que significa morrer.
A MORTE É APENAS UM INCIDENTE NA VIDA
Tudo que nasce, morre. É uma lei da natureza. Isto inclui todos os seres vivos,
os astros e as estrelas e tudo mais que existe. O corpo humano, assim como uma
máquina, se desgasta com o tempo e morre. O corpo humano deixa de respirar, o
coração pára de bater e o sangue cessa de circular e todo o corpo entra em
decomposição. Isso é tudo que sabemos sobre a morte. Os sábios e as religiões do
oriente, desde a antiguidade nos falam que não somos nossos corpos, nem nossas
mentes. Somos espíritos imutáveis, eternos. Nosso ser, nossa essência é imortal.
Os sábios e as religiões orientais são unânimes em afirmar que nada morre,
somente as formas mudam. A vida transmigra de uma forma para outra. A morte é
apenas aparente, um incidente, apenas uma porta, uma entrada para outra vida. Do
nosso lado parece que a pessoa está morrendo; do outro lado ela está apenas
nascendo.A REALIDADE DA REENCARNAÇÃO
" Nós não somos nossos corpos físicos. Nós não somos nossas
mentes. Corpo e mente são instrumentos necessários para existirmos no mundo
físico. No momento da morte o corpo físico e o corpo espiritual começam a se
separar. Comumente, eles estão tão envolvidos um com o outro que não dá para
perceber a separação. Mas na hora da morte os dois corpos iniciam um processo de
não-identificação um com o outro. Agora seus caminhos serão diferentes: O corpo
físico vai para os elementos físicos e o corpo espiritual prossegue em sua
peregrinação para um novo nascimento, uma nova forma, um novo útero. Quando
morremos, é apenas um capítulo da vida - que as pessoas pensam tratar-se da vida
inteira - que se encerra. É apenas um dos muitos capítulos de um livro chamado
vida. Vira-se a página e começa um novo capítulo".A ATITUDE COM RELAÇÃO À MORTE INFLUENCIA TODA NOSSA VIDA
O mundo ocidental foi condicionado pela idéia de que há apenas uma vida.
A crença cristã, a judaica , a maometana - todas enraizadas na concepção judaica
de que só há uma vida - legaram ao ocidente a tremenda loucura pela velocidade.
Tudo tem que ser feito com tal pressa que não se pode desfrutar do ato de fazer
e não se pode fazê-lo em sua inteira perfeição. Tudo é feito de qualquer jeito e
corre-se para uma outra atividade qualquer. Os ocidentais têm vivido sob o
domínio de uma concepção muito errada. Esta concepção errada cria tanta tensão
entre as pessoas que elas nunca conseguem estar à vontade em lugar algum: estão
sempre indo e vindo, sempre preocupadas por não saberem quando o fim vai chegar.
Antes do fim, elas querem fazer tudo, daí a pressa, e o resultado é que não
conseguem fazer nada graciosamente, com beleza e perfeição. A vida dessas
pessoas está tão ensombreada pela morte que elas não conseguem viver
alegremente. Tudo que traz alegria parece ser uma perda de tempo. Não podem
simplesmente se sentar em silêncio por uma hora, porque suas mentes lhes
dirão:"porque você está perdendo tempo? Você podia estar fazendo isso ou
aquilo!" Na concepção ocidental a morte é o fim da vida. Na concepção oriental,
a morte é apenas um incidente ao longo do processo da vida: haverá muitas e
muitas mortes. Cada morte é um climax da sua vida, antes de uma nova vida
começar - uma outra forma, uma outra consciência. Você não está se acabando,
está apenas mudando de casa. Os orientais chamam este ciclo de nascimentos e
mortes de: "a roda".SOMOS ENTES ESPIRITUAIS TENDO UMA EXPERIÊNCIA HUMANA
A própria existência, que não tem começo nem fim, tem procurado alcançar a
auto-consciência através do processo evolucionário da vida, ao longo de bilhões
de anos de evolução. O ser humano foi o veículo escolhido, talhado, para que a
existência possa tornar-se consciente. Dentre todos os seres e coisas
existentes, o homem foi o escolhido para tornar-se consciente de si mesmo. A
meta da auto-consciência seria impossivel numa só vida, numa só existência de
setenta, oitenta anos. A existência levou milhões de anos para chegar até o
homem e, até agora, apenas uns poucos atingiram a meta. Pessoas como Buda,
Jesus, Krishna, Osho e outros iluminados.
A menos que você conheça a verdade de seu ser, você nunca sentirá a imensa
benção da vida. Você nunca será capaz de transbordar de contentamento apenas
pelo simples fato de existir. Se você não puder experienciar a verdade, você não
será capaz de se conectar com este vasto cosmo - que é seu lar. Ele o trouxe ao
mundo e tem sobre você a tremenda expectativa de que você crescerá até o ápice
de sua consciência, porque através de você a existência pode tornar-se
consciente. Não há outra maneira. A eternidade é nosso destino.
* * *A EDUCAÇÃO CORRETA
O que é a educação e qual a sua finalidade?
esta é, com efeito, uma questão muito importante não só para os estudantes, mas
também para os pais, para os professores, para todo aquele que ama esta terra.
Não seria função da educação preparar o estudante para compreender o inteiro
"processo" da vida? Pois a vida não é meramente um emprego, uma ocupação. Se
apenas nos prepararmos para ganhar o sustento, perderemos o significado
essencial da vida; e compreender a vida, importa muito mais do que simplesmente
nos prepararmos para exames e nos tornamos proeficientes em matemática, física,
etc. Assim, quer sejamos mestres, quer estudantes, não é importante perguntarmos
a nós mesmos porque estamos educando e sendo educados? Não é uma coisa
extraordinária a vida? A fauna e a flora exuberantes, o pobre e o rico, a
constante batalha entre grupos, raças e nações, as coisas sutís e ocultas da
mente; as invejas, ambições, as paixões, temores e ansiedades. Tudo isso e muito
mais ainda, é a vida. Mas, em geral, nos preparamos só para compreender um
"cantinho" dela. Passamos em exames, achamos um emprego, casamo-nos, geramos
filhos, vamo-nos tornando cada vez mais semelhantes à máquinas. Permanecemos
medrosos, ansiosos e assustados diante da vida. Assim, a função da educação é
ajudar a compreender o inteiro processo da vida.
O que acontece quando um jovem se torna adulto? Com toda probabilidade se casará,
torna-se-á pai ou mãe, estará então, "amarrado" a um emprego ou a cozinha, a
murchar, a definhar. É só isso a vida? A educação, por certo, nenhuma
significação tem, se não vos ajuda a compreender a vastidão da vida, com todas
suas sutilezas, sua extraordinária beleza, seus pesares e alegrias. Podemos
conquistar graus e conseguir uma boa colocação; mas, e daí? Qual o sentido de
tudo isso se, nesse "processo," nossa mente se torna embotada, estúpida?
* * *TAO-TE-CHING
"Tudo que guardei, foi-se. Perdi.
Tudo que dei, é meu. Está comigo"
G. GurdjieffA RELATIVIDADE DE TUDO
O sucesso e a desgraça são sempre acompanhados pelo medo.
as honrarias e tribulações podem ser consideradas como condições pessoais da
mesma espécie. Quando obtemos o sucesso, nos sobrevem o medo de perdê-lo. A
desgraça é estar numa posição inferior depois de ter sentido o gosto da vitória.
Este é o sentido da afirmação de que o sucesso e a desgraça são sempre
acompanhados pelo medo.
O que me torna passivel de grandes tribulações é possuir um
corpo que considero meu. Se não possuísse tal corpo, que infelicidade poderia
atingir-me? A idéia do "meu" é a origem de todas as calamidades. O que são
nossas posses senão coisas que guardamos por medo de precisarmos delas amanhã? E
o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade? O sentido de posse, é
animal. Revela seres que ainda estão muito apegados aos padrões de coexistência
da vida primitiva, onde a posse de um naco de carne ou de um cacho de bananas,
poderia significar a sobrevivência.
O que distingue o homem do animal é a sua capacidade de desapego,
a sua capacidade de dar-se. Nós só temos aquilo que compartilhamos. Quanto mais
você dá, mais você tem. Quanto menos você dá, menos você tem. Quanto mais você
partilhar, mais estará brotando do seu interior, que é infinito. Guardar
envenena o coração. Tudo que se acumula é venenoso. Compartilhar é uma das
maiores virtudes.
Lao Tsu
* * *FALANDO AO CORAÇÃO
"A menos que você conheça a verdade de seu ser,
você nunca sentirá a imensa benção da vida.
Você nunca será capaz de transbordar de
contentamento apenas pelo simples fato de existir".
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