Ensino
Um Rebaixar ou um Erguer?

Amado Bhagwan,
Você nos diz muitas vezes que não deveríamos julgar a nós mesmos ou a outras pessoas. Eu sou professor e por causa do meu trabalho tenho que julgar os estudantes. Agora estou preocupado com a forma de atuar em meu trabalho. Você pode me dar alguma ajuda?

      O fato de eu dizer que você não deveria julgar, não significa que não possa dizer a um aluno, sendo você o professor, que a resposta dele não está correta. Isso não é julgar a pessoa. isso é julgar o ato, e eu não estou dizendo que não deva julgar o ato - isso é algo totalmente diferente. Por exemplo, alguém é ladrão - você pode julgar que é errado roubar, mas não julgue a pessoa porque esta é um fenômeno muito vasto e o ato é uma coisa pequena. O ato é um fragmento tão diminuto, que este fragmento não deveria originar um julgamento sobre a pessoa toda. Um ladrão pode ter muitos valores bonitos; ele pode ser verdadeiro, pode ser sincero, pode ser uma pessoa muito amorosa.

      Mas na maioria das vezes o que ocorre é justamente o oposto. As pessoas passam a julgar pessoas ao invés de ações; ações devem ser corrigidas, especialmente em uma profissão como a de ensinar. Você deve corrigir, você não pode permitir que os alunos continuem cometendo erros - isso será muito cruel, isso não será compassivo.

      Mas não os corrija de acordo com a tradição, com as convenções, de acordo com a assim-chamada moralidade, de acordo com seus preconceitos. Sempre que estiver corrigindo alguém, seja muito meditativo, seja muito silencioso, olhe a coisa inteira sob todas as perspectivas. Talvez eles estejam fazendo a coisa correta, e a sua prevenção será absolutamente incorreta.

      Assim, quando digo: "Não julgue", quero simplesmente dizer que nenhuma ação lhe dá o direito de condenar uma pessoa. Se a ação não for correta, ajude a pessoa - descubra porque a ação está errada. Mas não há qualquer julgamento nisso - não tire a dignidade da pessoa, não a humilhe, não a faça sentir-se culpada. E é isso que quero dizer com não julgar. Mas quanto a corrigir - sem preconceitos. silenciosamente, com consciência, se você perceber que alguma coisa está errada, e que esta coisa destruirá a inteligência desta pessoa, que a levará por caminhos errados em sua vida, então ajude-a. O trabalho de professor não é apenas ensinar coisas fúteis - geografia, história e todo tipo de tolice. Sua função básica é levar o aluno a uma consciência melhor, a uma consciência mais alta. Esse deveria ser o seu amor e a sua compaixão, e esse deveria ser o único valor pelo qual você julga qualquer ação como certa ou errada.

      Mas nunca, em momento algum, deixe que a pessoa sinta que está sendo condenada. Pelo contrário, deixe-a sentir que está sendo amada é por amor que você tentou corrigi-la.

      Um sujeito deitado numa cama de hospital está acordando depois de uma anestesia, quando percebe o médico sentado a seu lado. "Tenho boas e más notícias para você", diz o médico, "qual prefere ouvir primeiro?"

      "Ahhh", geme o sujeito, "conte-me a má."
      "Bem", diz o médico, "tivemos que amputar ambas as suas pernas, acima do joelho."
      "Ahhh", geme o sujeito, "isso é terrível."
      Depois de se recuperar do choque ele pergunta ao médico pela boa notícia.
      "Bem", diz o médico, "o cara na cama ao lado gostaria de comprar seus chinelos!"

      Simplesmente não seja sério! Não pense que por ser professor, você tem um trabalho muito sério. Olhe a vida com olhos mais brincalhões, a vida é realmente engraçada. Não há nada a ser julgado - todos estão dando o melhor de si. Se você se sente perturbado por alguém, o problema é seu, não dele.

      Primeiro corrija a si mesmo.

The Invitation - sessão 23
9 de setembro de 1987

Do original: "The New Child"    -  Editora Boschini
Edição em português: "A Nova Criança"  -  Editora Gente.

Os direitos autorais são de propriedade de: Osho International Foundation

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