Santa Teresinha, por hábito familiar ou pelo simples prazer de se comunicar, escreveu muitas cartas. Seu vasto epistolário compreende 269 cartas, escritas nos mais diferentes momentos de sua vida. Algumas, evidentemente, se perderam. Leônia, sua irmã, arrependeu-se amargamente de ter lançado fora alguns bilhetes que considerou sem importância.
As Cartas teresianas esperaram cinqüenta anos para serem publicadas, assim mesmo devido à insistência do Pe. André Combes, que não descansou enquanto Irmã Genoveva não lhe entregou todas as cartas para serem divulgadas. Para este estudioso, não havia motivo para se esconder esse tesouro que, escondido há anos, seria um excelente complemento ao famoso "História de uma Alma".
Em suas cartas, desde a infância, Teresinha expõe sua alma. Brilha pela transparência e pela franqueza. Aborda assuntos práticos, consola, exorta e ensina. Nelas encontramos subsídios para melhor adentrarmos nos mistérios da "Pequena Via", a espinha dorsal da espiritualidade teresiana.
Há um avanço nas cartas de Santa Teresinha, o que era de se esperar. Com o tempo, ela se preocupa menos em fornecer informações sobre si mesma e vai testemunhando aos seus correspondentes sobre seus passos na subida da Montanha do Amor. É admirável esse processo de amadurecimento.
Escritas com simplicidade, algumas cartas são até pitorescas. Teresa brinca, usa imagens criativas e chega a colocar uma pitada de ironia em alguma delas. Reparte seus sonhos, seus altos ideais de santidade. Contudo, Teresinha está empenhada unicamente em relatar sua experiência da misericórdia de Deus, presente nos momentos de tristeza ou alegria. Nenhuma carta expressa pessimismo ou insegurança. A Santa Doutora, a cada linha, manifesta sua alma férrea, disposta a tudo sofrer por amor.
Quem são seus correspondentes? O pai, as irmãs, parentes, sacerdotes. São particularmente famosas as cartas que escreveu aos dois missionários Pe. Roulland e Pe. Bellière, seus irmãos espirituais.
Pe. Maurício Bellière, desde 1895, tornou-se irmão espiritual de Santa Teresinha. No dia 15 de outubro de 1895 ele escreveu a Madre Inês de Jesus, pedindo-lhe uma irmã espiritual. A Priora entregou-o aos cuidados de Irmã Teresa. Em 1897, Bellière partiu para a Argélia, a fim de fazer o noviciado na Congregação dos Padres Brancos. Foi ordenado sacerdote em 1901 e retornou à França em 1906, por motivo de enfermidade. Recebeu onze preciosas cartas de nossa Santinha.
Pe. Adolfo Roulland, poucos dias antes de ser odenado sacerdote, pediu a Madre Maria de Gonzaga uma irmã espiritual, isto é, uma religiosa que rezasse por ele, a fim de perserverar em sua vocação. A priora indicou-lhe Irmã Teresa do Menino Jesus. Após sua ordenação, ele celebrou algumas missas no Carmelo de Lisieux, quando pôde conversar com sua madrinha, em julho de 1896. No dia 2 de agosto desse mesmo ano, o neo-sacerdote embarcou para a China. Sua correspondência com nossa Doutora é um verdadeiro tratado de espiritualidade. Ela escreveu-lhe seis longas cartas, nas quais manifesta seu ardor missionário e apresenta a seu afilhado os pilares da "Pequena Via".
Sem nenhum critério, selecionamos algumas cartas para divulgá-las na internet. A tradução de algumas delas foi feita por Margarida de Moura Siqueira, profunda conhecedora da língua francesa, estudiosa e amiga de Santa Teresinha, autora do livro "De Amores e Cantares". Essa tradução foi providenciada antes que fosse publicada a "Obra Completa" de Santa Teresinha, pelas Edições Loyola, em português.
Esperamos que o amigo internauta, após ler as cartas que se seguem, aguce o apetite para ler e meditar as outras cartas, que celebram 50 anos de sua publicação.
Minha cara Luisinha,
Eu não a conheço mas mesmo assim eu a amo muito Paulina me disse para lhe escrever mas ela me segura nos joelhos pois não sei segurar sozinha uma caneta, ela quer que eu lhe diga que sou uma pequena preguiçosa, mas não é verdade porque trabalho o dia inteiro a fazer maldades com minhas pobres irmãzinhas enfim sou uma capetinha que ri o tempo todo. Adeus minha Luisinha e lhe mando um grande beijo abrace por mim a Visitação isto é a minha irmã Maria Aolysia (Aloysia) e minha irmã Luísa de Gonzaga (Gonzaga) pois não conheço mais ninguém.
Thérèse
12-17 de abril de 1877
Minhas caras priminhas (Jeanne e Marie Guérin)
Já que Celine escreve a vocês eu também quero escrever para lhes dizer que as amo de todo o meu coração Eu queria ver vocês e abraçá-las. Adeus minhas caras priminhas Maria não quer mais pegar na minha mão e eu não sei escrever sozinha.
Thérèse
Com 14 anos
Para Irmã Inês de Jesus
14 de novembro de 1887
Paulina querida, realmente não posso deixar de lhe agradecer tudo o que você faz por mim. Oh! Reze muito ao bom Deus por mim! Pois Monsenhor (Révérony) não quer, a última maneira que me resta é ir falar com o Papa, mas é preciso que isto seja possível, é necessário que o Pequeno Jesus prepare tudo para que sua bolinha possa rolar só para onde ele quer. Se você soubesse como o que me disse na sua carta de Loreto me deu prazer e consolou! Oh, Paulina, continue a me proteger. Estou tão longe de você... Não posso lhe dizer tudo o que penso! É impossível... O pequeno Brinquedo de Jesus. Thérèsita.
A Monsenhor Hugonin
3 ou 8 de dezembro de 1887 (com 14 anos)
Monsenhor,
Venho pedir a V. Excia. ter a bondade de me dar a resposta que desejo há tanto tempo. Monsenhor, espero tudo de vossa bondade paternal; sim, creio que é por vós que Jesus vai querer realizar sua promessa.
Ó, Monsenhor, dizem que as provações são um sinal de vocação; sim verdadeiramente, sabeis que o bom Deus não mas tem poupado, mas sentia que sofria por Jesus, e não cessei um só instante de esperar. O pequeno Jesus me fez sentir tanto que me queria no Natal que não posso resistir à graça que Ele me faz. É verdade que sou bem jovem; porém, Monsenhor, o bom Deus me chama e Papai deseja muito isto. Ó Monsenhor! O Natal se aproxima, mas espero sua resposta com uma grande confiança. Não me esquecerei jamais que é a V. Excia. a quem deverei o cumprimento da vontade de Deus. Abençoai por favor vossa criança, Monsenhor. Sou a mais pequenina filha de Vossa Excelência, muito reconhecida,
Para Celina
8 de maio de 1888
Mando-lhe, Minha Celininha, duas toalhinhas para coser a máquina. Sei que você está muito atarefada, mas não vai recusar este serviço à sua pequena Teresa. Creio que dois pontos dariam certo, há uma cuja bainha é pequena demais, queira afastar o segundo ponto. Gostaria de tê-las amanhã depois do jantar o mais tardar, pois é Quinta-feira da Ascensão.
Faz quatro anos hoje que fiz minha Primeira comunhão, já pensou?... Quantas graças o bom Deus me deu desde então!
Minha Celina querida, há momentos em que me pergunto se é verdade que estou no Carmelo, as vezes não posso acreditar nisto. Ora! O que fiz eu ao Bom Deus para que ele me cubra de tantas graças?
Amanhã, completa um mês que estou longe de você, mas parece-me que não estamos separadas, que importa o lugar em que estamos... ainda que o oceano nos separasse permaneceríamos unidas, pois nossos desejos são os mesmos e nossos corações batem juntos... Tenho a certeza de que você me compreende... (Que importa, afinal, que a vida seja risonha ou triste, não deixaremos de chegar ao término da nossa viagem na terra). Um dia de carmelita passado sem sofrimento é um dia perdido; é a mesma coisa para você, pois é carmelita de coração.
(...) Abrace Léonie por mim.
Sua pequena Teresa do Menino Jesus.
Para Irmã Maria do Sagrado Coração de Jesus
12 - 20 de maio de 1888
A Solitária do Coração de Jesus deu um prazer bem doce a sua pequena filha, leu em seu coração!... Então, Jesus fala quando se está em retiro?...Estou de tal maneira impregnada do perfume da sua palavrinha e pela maneira tão encantadora como me foi apresentada que não pude deixar de responder esta mesma noite, logo a campainha vai tocar, está to
Interrompi minha palavrinha bem no momento em que queria dizer muito...
A vida é cheia de sacrifícios, é verdade! mas quanta felicidade! não é melhor que a nossa vida que é uma noite passada num mau albergue se passe num hotel totalmente ruim do que num outro que o seria só pela metade.
Se a senhora soubesse como eu a AMO. Quando a encontro, parece-me que é um anjo... A senhora é uma ÁGUIA chamada a plantar nas alturas e a fixar o sol, reze para o pequeno caniço tão fraco que está no fundo do vale, o menor sopro o faz dobrarse. Oh! reze por ele no dia de sua profissão!
Peça para que sua filhinha permaneça sempre um pequeno grão de areia bem obscuro, bem escondido a todos os olhos, que somente Jesus possa vê-lo; que ele se torne cada vez menor, que seja reduzido a nada...
Perdoe-me todas as penas que lhe causei, se a senhora soubesse quanto me arrependo por ter-lhe dito que me chamava demasiadas vezes...
Oh! depois da sua profissão, nunca mais lhe causarei desgosto... Adeus... Perdoe-me...
Reze por sua, sua filha.
Deixei secar preciosamente sua pequena violeta.
Ao Sr Martin, Maio ou junho de 1888
J.M.J.T.
O carteiro do Menino Jesus é bem bom, envio-te minha temura e meus beijos. Tomarei o vinho que ele me dá com felicidade, pensando que vem da adega do Menino Jesus.
Meu Paizinho querido, és tu o carteiro de Jesus, eu o sei bem. Oh! Obrigada... como és bom para mim!
Sim, continuarei sempre tua Rainhazinha e tratarei de fazer tua glória tomando-me uma grande santa.
Teresa do Menino Jesus, o Diamante brilhante e a pequena pérola muito fina te abraçam muito.
Nesse instante acabam de me mostrar alguns passarinhos, oh! Meu Paizinho querido, como és bom. Há três deles, um para o diamante, um para a pérola fina e uma para a Rainhazinha do Papai, ela cuidará de fazer o possível para parecer um pouco com seu Rei.
A Celina
Segunda-feira 23 de junho de 1888 (fragmentos)
J.M.J.T
Só Jesus +
Sua Teresa compreendeu toda sua alma, ela leu muito mais longe do que você lhe escreveu. Compreendi a tristeza do Domingo, senti tudo... Ao ler, parecia-me que a mesma alma nos animava, há entre nossas almas alguma coisa tão sensível, que se parece tanto. Estivemos sempre juntas; nossas alegrias, nossas penas, tudo esteve em comum. Ah! sinto que isto continua no Carmelo, nunca, não nunca ficaremos separadas. Sabe, só o lírio amarelo poderia ter-nos afastado um pouco, digo-lhe porque tenho certeza que um lírio branco será sempre a sua parte, sendo que o escolheu e que ele a escolheu primeiro... Você entende de lírios...
Perguntava a mim mesma, algumas vezes porque Jesus me tomou primeiro; agora entendi... Sabe, sua alma é um lírio-perpétua, Jesus pode fazer dele tudo o que quiser, pouco importa que esteja num lugar ou no outro, sempre será perpétua; a tempestade não pode fazer cair o amarelo dos estames sobre o branco cálice perfumado, foi Jesus quem o fez assim, é livre e ninguém tem direito de perguntar-lhe porque dá sua graça a uma determinada alma em vez de outra. Ao lado deste Lírio, Jesus colocou outro, companheiro fiel, cresceram juntos, mas um era perpétua; o outro não o era, foi preciso Jesus tomar seu lírio antes que a flor se abrisse a fim de que os dois fossem para Ele... Um era fraco e o outro, forte. Jesus tomou o fraco e deixou o outro para que se revestisse de novo brilho... Jesus pede TUDO a seus dois lírios, só quer deixar-lhes a sua túnica branca, TUDO, a perpétua entendeu a sua irmãzinha?
A vida é com freqüência pesada, que amargor!... mas que doçura! Sim ela custa, é penoso começar um dia de labor, o fraco botão percebeu-o, como o belo lírio; se ainda se pudesse sentir Jesus, oh! A gente faria bem tudo por Ele, mas n9o, Ele parece estar a mil léguas, estamos sozinhas conosco mesmas, oh! A cansativa companhia quando Jesus não, está aqui. Mas o que faz esse doce amigo, então Ele não vê nossa angústia, o peso que nos oprime? Onde está, por que enfim vem nos consolar, já que só Ele temos como amigo?
(...) Elevemo-nos acima do que se passa, mantenhamo-nos à distância da terra, quanto mais alto o ar, mais puro. Jesus se esconde, mas nós O adivinhamos próximo; ao vertermos lágrimas, enxugamos as Dele, e a Sta. Virgem sorri, pobre Mãe, ela sentiu tanta dor por nossa causa, é justo que a consolemos um pouco chorando e sofrendo com ela ... (...)
Jesus lhe pede TUDO, TUDO, TUDO, tanto quanto Ele pode pedir aos maiores santos.
Sua pobre pequena irmã Teresa do Menino Jesus
p. c. ind (pequena carmelita indigna)
Ao Sr. Martin
J.M.J.T Em 31 de julho de 1888. Carmelo (fragmentos)
Meu Rei querido,
Se soubesses como tua carpa, teu monstro nos deu prazer! O jantar atrasou meia hora, foi Maria do Sagrado Coração que fez o molho, estava delicioso, tinha o aroma da cozinha do mundo. Era melhor que banquetes,... e que companhia, tu te lembras, meu Paizinho?... Mas não é sempre que isto dá apetite; pelo menos a mim, porque nunca comi tanto desde que estou no Carmelo. Sinto que estou completamente em casa; se a Senhorita Paulina estivesse aqui, diria: encontrei meu caminho!
(...) Penso em tudo o que dizias freqüentemente: Vaidade das vaidades, tudo não passa de vaidade, vaidade da vida que passa, etc. Quanto mais vivo, mais acho que é verdade que tudo é vaidade sobre a terra...
(...) A cada dia te amo mais, paizinho querido, não sei como isto acontece, mas é a verdade, pergunto-me como será no final da minha vida...
Estou confiante em meu titulo de Rainha da França e de Navarra, espero merecê-lo sempre. Jesus o Rei do Céu, tomando-me para Ele, não me tirou do meu santo Rei da terra, oh! não! Se meu Paizinho realmente o quiser, e não me acho digna o bastante disto, eu continuarei: A Rainha do Papai...(..) Adeus, e até logo, meu Rei querido. Tua pequena Rainha,
Teresa do Menino Jesus
Pe. Pichon
23 de outubro de 1887
Meu reverendo Padre.
Eu pensei, já que o Senhor se ocupava de minhas irmãs, que gostaria muito de tomar conta também da última. Gostaria de poder-me fazer apresentar ao Senhor, mas, como não sou como minhas irmãs, não sei dizer muito bem em uma carta tudo o que sinto. Creio, meu Padre, que apesar de tudo o Senhor vai me desvendar. Quando vier a Lisieux, espero que possa vê-lo no Carmelo para abrir-lhe meu coração.
Meu Padre, o Bom Deus acaba de me conceder uma grande graça; há muito tempo desejo entrar no Carmelo, creio que o momento chegou, Papai quer muito que eu entre no Natal.
Oh, meu Padre, como Jesus é bom por levar-me tão cedo! Não sei como agradecer-lhe.
Meu tio me achava muito jovem, mas ontem disse que desejava fazer a vontade do Bom Deus. Meu Padre, venho pedir-lhe muito para rezar por sua última menina. Volto ao Carmelo, minhas irmãs me disseram que eu podia escrever-lhe para dizer bem simplesmente o que se passavam em meu coração. Veja, meu Padre, que o fiz esperando que o Senhor não se recusaria em tornar-me como sua filhinha.
Abençoe sua segunda pequena Ovelha.
Thérèse
Ao abade Révérony.
Lisieux, 16 de dezembro de 1887
Senhor Vigário Geral,
Acabo de escrever ao Monsenhor, Papai e meu Tio me permitiram. Espero sempre com confiança o sim do Menino Jesus. Senhor Padre, só faltam oito dias de agora até o Natal! Mas, quanto mais o tempo passa, mais eu espero, talvez seja a temeridade mas, apesar disto me parece bem que é Jesus que fala em mim.
Todas as distrações da viagem de Roma não puderam varrer um só instante do meu espírito o desejo ardente de me unir a Jesus. Ah! porque me chamar tão fortemente, se é para me fazer, se é para me fazer desfalecer longe dele?
Senhor Padre, espero que o senhor tenha advogado a minha causa junto ao Monsenhor como o senhor me tinha prometido. Se Jesus me consolou em minhas provações é por seu intermédio, e se eu entrar para o Carmelo no Natal sei que é ao Senhor que deverei. Porém, não sou ingrata e toda a minha vida me lembrei disto.
Peço-lhe humildemente, Senhor Vigário Geral, querer por favor me abençoar.
Sua muito respeitosa e reconhecida
pequena serva
Thérèse Martim
A Monsenhor Hugonin
Início de janeiro 1888.
Monsenhor,
Demorei muito a agradecer Monsenhor V. Excia. Revma. pelas belas prendas que desejou me enviar. Todas as belezas deste mundo não teriam me dado tanto prazer. O Menino Jesus então não me enganou! Disse-me sim em seu berço.
Monsenhor não creio que (texto inacabado)
13-30 de janeiro 1888
Ao cônego Delatroëtte
Senhor Cura
Agradeço-lhe muito pela bela imagem que o senhor teve a bondade de me enviar pela Irmã Inês, eu a guardarei precisamente como uma primeira lembrança que será sempre cara.
Queira, Senhor Cura, abençoar de longe a menor de suas filhas; ela trabalha neste momento a preparar sua alma para a vida no Carmelo. Sei que é uma graça imensa ser chamada tão jovem, mas não serei ingrata e o bom Deus me dará, espero, e meio de lhe ser fiel, como desejo de todo o coração.
Peço-lhe humildemente, Senhor Cura, não esquecer em sua preces
Sua criança bem pequenina
Thérèse
(P.S) Eis uma pequena palavra do Monsenhor Révérony que pedi a Celina par lhe passar.
Ao Pe. Adolfo Roulland.
J.M.J.T.
23 de junho de 1896
Carmelo de Lisieux.
Jesus +
Meu Reverendo Padre,
Achei que seria agradável a nossa Boa Madre eu oferecer-lhe no dia 21 de junho, por ocasião de tua festa, um corporal e um purificatório com uma pala a fim de que ela tenha o prazer de enviá-lo ao senhor para dia 29. É à Venerável Madre que devo a felicidade íntima de estar unida ao senhor pelos laços apostólicos da oração e da mortificação, suplico-lhe, também, meu Reverendo Padre, ajudar-me no Santo Altar a pagar-lhe minha divida de reconhecimento.
Sinto-me bem indigna de estar associada especialmente a um dos missionários de nosso Adorável Jesus, mas que a obediência me confia esta doce tarefa, estou segura de que meu Celeste Esposo suprirá meus fracos méritos ( sobre os quais não me apoio de forma alguma) e que Ele atenderá os desejos de minha alma tornando fecundo o seu apostolado. Ficarei realmente feliz em trabalhar com o senhor pela salvação da almas; é com esse objetivo que me fiz carmelita; não podendo ser missionária através da ação, quis sê-lo por amor e penitência como Santa Teresa minha Madre... E lhe suplico meu Reverendo Padre, peça por mim a Jesus, no dia em que ele se dignar descer pela primeira vez do Céu por tuas voz, peça-lhe abrasar-me com o fogo de seu Amor a fim de que eu possa, a seguir, ajudar o senhor a acender esse fogo nos corações.
Há muito tempo, desejava conhecer um Apóstolo que quisesse muito pronunciar meu nome no Santo Altar no dia de sua primeira Missa... Eu desejava preparar, eu mesma, as roupas brancas sagradas e a branca hóstia destinadas a envolver o Rei do Céu... Esse Deus de Bondade quis realizar meu sonho e me mostrar uma vez mais o quanto lhe agrada satisfazer os desejos das almas que não amam senão a Ele, somente a Ele.
Se eu não temesse ser indiscreta, lhe pediria ainda, meu Reverendo Padre, ter a cada dia no Santo Altar, uma lembrança para mim... Assim que o oceano separá-lo da França, o senhor de lembrará da pala que pintei com tanta felicidade, que sobre a montanha do Carmelo uma alma pede sem cessar ao Divino Prisioneiro do Amor pelo sucesso de sua gloriosa conquista.
Desejo, meu Reverendo Padre, que nossa união apostólica não seja conhecida senão por Jesus, e reivindico uma de suas primeiras bênçãos para aquela que ficará feliz em dizer-se eternamente
Sua indigna pequena Irmã em Jesus-Hóstia.
Thérèse do Menino Jesus da Sta. Face.
Relig. carmel. ind.
Ao Pe.Roulland.
J.M.J.T
Carmelo de Lisieux, 30 de junho de 1896
Jesus+
Meu Irmão,
O senhor me permite, não lhe dar outro nome, já que Jesus se dignou nos unir pelos laços do apostolado?
É me bastante doce pensar que por toda a eternidade Nosso Senhor formou esta união que deve lhe fazer salvar almas e que Ele me criou para ser sua irmã...
Ontem recebemos suas cartas; é com alegria que Nossa Boa Madre o introduziu na clausura. Ela me permite guardar a fotografia de meu irmão, é um privilégio bem especial, uma carmelita não ter retratos nem de seus parentes mais próximas, mas Nossa Mãe bem sabe que o seu, longe de me lembrar o mundo e as aflições da terra, elevará minha alma a regiões mais altas, para com que ela se esqueça pela glória de Deus e pela salvação das almas. Assim, meu Irmão, enquanto eu atravessar o mar em sua companhia, o senhor estará perto de mim, bem escondido em nossa pobre cela...
Tudo o que me cerca traz até mim sua lembrança, afixei o mapa de Su-tchuem na parede do ofício em que trabalho e o retrato que o senhor me deu repousa sempre em meu coração, no livro dos Evangelhos que não me deixa jamais. Colocando-o ao acaso, eis, sobre que passagem caiu: "Aquele que tiver deixado tudo para me seguir, receberá o cêntuplo neste mundo e vida eterna no século vindouro". Estas palavras de Jesus já se realizaram para o Senhor, pois o senhor me diz: "Parto feliz". Compreendo que esta alegria deve ser bem espiritual; é impossível deixar seu pai, sua mãe e sua pátria, sem experimentar todas as dilacerações da separação... Oh, meu Irmão! Sofro como o Senhor, como o senhor ofereço seu grande sacrifício e suplico a Jesus espalhar suas abundantes consolações sobre seus Pais, esperando a união celeste onde os veremos rejubilar com sua glória que, rezando para sempre suas lágrimas, as cobrirá de alegria durante a bem aventurada eternidade...
Esta noite durante minha oração meditei passagens de Isaías que me pareceram tão bem apropriadas ao Senhor, que não posso me impedir de copiá-las:
"Arranjem um lugar durante mais espaçoso para levantar as suas tendas. Vocês se espalharão à direita e à esquerda, sua posteridade terá as nações como herança(Is 54, 2-3) ela habitará as cidades desertas... Elevem seus olhos, e olhem à sua volta; todos aqueles que os virem reunidas virão em sua direção, seus filhos virão de longe (Is 60, 4-5) e suas filhas virão se encontrar de todos os lados. Então vocês verão esta multiplicação extraordinária, seu coração admirados se dilatarão assim que a multidão da beira-mar e tudo o que há de grande por entre as nações vier até vocês.
Não está aí o cêntuplo prometido? E você não pode por sua vez gritar: "O espírito do Senhor repousou em mim, ele me encheu de sua unção. Enviou-me para anunciar sua palavra, para curar o que estão decoração partido, para devolver a liberdade aos que estão acorrentados e consolar os que choram... Eu me rejubilarei (Is 61, 10-11) no Senhor, porque me revestiu com roupas da salvação e enfeitado com ornamentos da justiça. Como a terra faz germinar a semente assim o Senhor Deus fará germinar para mim sua justiça e sua glória no meio das nações... Meu povo será um povo de justos, (Is 60,21), eles serão os rebentos que plantei... Irei às mais longínquas ilhas, (Is 66, 19-20) em direção àqueles que jamais ouviram falar do senhor. Anunciarei se a glória às nações e as oferecerei como um presente a meu Deus."
Se eu quisesse copiar todas as passagens que me tocaram mais, me faltaria muito tempo. Termino, mas antes ainda tenho um pedido a fazer-lhe. Assim que tiver um instante livre, gostaria muito que me escrevesse quais as principais datas de sua vida, eu poderia assim me unir graças que ele lhe fez.
Adeus, meu Irmão... a distância não poderá jamais separar nossas almas, a própria morte tornará nossa união mais intima. Se eu for logo para o Céu, pedirei a Jesus a permissão para visitá-lo em Su-tchuen e continuaremos juntos nosso apostolado. Esperando estarei sempre unidas pela oração e peço a Nosso Senhor me deixar alegrar-me quando o senhor estiver sofrendo. Gostaria mesmo que meu Irmão tivesse as consolações e eu as provações, será isto talvez egoísmo?... Claro que não, pois minha única arma é o amor e o sofrimento e que seu gládio seja a palavra e os trabalhos apostólicos.
Ainda uma vez, adeus, meu Irmão, digne-se abençoar aquela a quem Jesus deu como irmã.
Thérèse do Menino Jesus e da Santa Face.
relig. Carm. Ind.
Ao Padre Maurice Bellière.
J.M.J.T
Carmelo de Lisieux, 21 de outubro de 1896
Jesus +
Senhor Padre,
Nossa Reverenda Madre encontrando-se doente, confiou-me a missão de responder a sua carta, sinto que o senhor fique provado de suas santas palavras que esta Boa Mãe lhe teria dirigido, mas estou feliz por ser sua intérprete e por lhe dizer novamente ao mostrar o trabalho que Nosso Senhor acaba de operar em sua alma, ela continuará a rezar para Ele realize no Senhor sua obra divina.
É, acho inútil dizer-lhe, Senhor Padre, o quanto participo da felicidade de Nossa Madre. Sua carta de julho me afligiu demais; atribuindo a meu pouco fervor os combates que lhe foram confiados, eu não parava de implorar para o Senhor a assistência maternal da doce Rainha dos Apóstolos, também minha consolação foi bem grande ao receber como ramalhete de festa a certeza de que minhas preces tinham sido atendidas...
Agora, que a tempestade passou, agradeço ao Bom Deus tê-la feito atravessar, porque temos em nossos santos livros estas belas palavras: "Bem-aventurado o homem que sofreu a tentação", e ainda: "Aquele que não foi tentado, o que sabe ele?" De fato, assim que Jesus chama uma alma a dirigir, a salvar multidões de outras almas, é muito necessário que a faça experimentar as tentações e as provações da vida. Uma vez que Ele lhe concedeu a graça de sair vitorioso da luta, eu espero, Senhor Abade, que Nosso doce Jesus realize seus grandes desejos. Peço-lhe que seja não somente um bom missionário mas um santo totalmente abrasado pelo amor de Deus e das almas; suplico-lhe também este amor a fim de que possa ajudar em sua obra apostólica. O Senho sabe, uma Carmelita que não fosse apóstola se distanciaria da finalidade de sua vocação e cessaria de ser filha da seráfica Santa Teresa que desejaria dar mil vidas para salvar uma única alma.
Não duvido, Senhor Padre, que o Senhor queria unir suas preces às minhas a fim de que Nosso Senhor cure Nossa Venerada Madre.
Nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria serei sempre feliz em chamar-me:
Sua indigna pequena irmã
Thérèse do Menino Jesus da Sta Face.
relig. Carm. Ind.
Ao Pe. Roulland.
J.M.J.T
Carmelo de Lisieux 1º de novembro de 1896
Jesus +
Meu Irmão,
Sua interessante missiva, que chegou sob os cuidados de todos os Santos, causa-me uma grande alegria. Agradeço-lhe por me tratar como uma verdadeira irmã; com a graça de Jesus espero me tornar digna desse título que me é tão caro.
Agradeço-lhe também por nos Ter enviado "A alma de um missionário", esse livro que me interessou vivamente me permitiu segui-lo durante essa viagem longínqua. A vida do Pe. Nempon é perfeitamente intitulada, é realmente a alma de missionário que ela revela ou antes, a alma de todos os apóstolos realmente dignos desse nome.
O Senhor pede (na carta escrita em Marseille) para rogar a Nosso Senhor afastar de ti a cruz de Ter nomeado diretor de um seminário ou mesmo a de voltar para a França. Compreendo que esta perspectiva não lhe seja agradável; de todo o meu coração peço que Ele se digne deixar completar o apostolado tal como sua alma o sonhou sempre. Entretanto, acrescento como o Senhor "Que a vontade do Bom Deus seja feita. Somente aí é que se encontra o repouso, fora dessa amável vontade não faríamos nada, nem por Jesus, nem pelas almas.
Não posso dizer-lhe, meu Irmão, como sou feliz por vê-lo tão completamente abandonado entre as mãos de seus superiores, parece-me que é uma prova certa de que um dia meus desejos serão realizados, isto é, que o Senhor será um grande Santo.
Permita-me confiar-lhe um grande segredo que acaba de me ser revelado pela folha em que estão escritas as datas memoráveis de sua vida.
Dia 8 de setembro de 1890 sua vocação de missionário era salva por Maria, a Rainha dos apóstolos e dos mártires; nesse mesmo dia uma pequena carmelita se tornava esposa do Rei dos Céus. Dizendo ao mundo um eterno adeus, seu único objetivo era salvar as almas, sobretudo as dos apóstolos. A Jesus, seu Esposo divino, ela pediu particularmente uma alma apostólica, não podendo ser padre, queria que em seu lugar um padre recebesse as graças do Senhor, que ele tivesse as mesmas aspirações, os mesmos desejos que ela...
Meu Irmão, senhor conhece a indigna carmelita que fez esta súplica. Não pense como eu que nossa união confirmada no dia de ordenação sacerdotal, começou no dia 8 de setembro?... Acreditava não encontrar senão no Céu o apóstolo, o irmão que tinha pedido a Jesus, mas este Bem Amado Senhor, levantando o véu misterioso que esconde os segredos da eternidade, dignou-se dar-me desde o exílio a consolação de conhecer o irmão de minha alma, de trabalhar com ele pela saúde dos pobres infiéis.
Oh! Como meu reconhecimento é grande uma vez que considero as delicadezas de Jesus!... Quanta coisa nos reserva no Céu, desde esse tempo aqui embaixo seu amor nos dispensa tão deliciosas surpresas?
Mais que nunca, compreendo que os menores acontecimentos de nossa vida são conduzidos por Deus, é Ele que nos faz desejar e que satisfaz nossos desejos...Assim que nossa boa Madre me propôs tornar-me sua auxiliar, confesso-lhe, meu Irmão, hesitei3: Considerando as virtudes das santas carmelitas que me cercam, parecia que nossa Madre teria melhor servido seus interesses espirituais escolhendo para o Senhor uma outra irmã, só o pensamento de que Jesus não teria olhar para minhas obras imperfeitas mas para minha vontade, me fez aceitar a honra de dividir com o senhor seus trabalhos apostólicos. Eu não sabia então que Nosso Senhor, Ele Próprio, me tinha escolhido, ele que se serve de instrumentos os mais fracos para operar maravilhas!... Eu não sabia que há seis anos eu tinha um irmão que se preparava para se tronar Missionário; agora que é verdadeiramente seu Apóstolo, Jesus me revela este mistério a fim de sem dúvida aumentar ainda em meu coração o desejo de amá-lo e de fazê-lo amando.
Sabe, meu Irmão, que se o Senhor continua a atender a minha súplica, obterá um favor que sua humildade lhe impede de solicitar? Esse favor incomparável o Senhor o adivinha, é o martírio...
Sim, tenho a esperança disto, após longos anos passados nos trabalhos apostólicos, após ter dado a Jesus amor por amor, vida por vida, Senhor lhe dará também sangue por sangue...
Escrevendo estas linhas, vem-me ao espírito que elas lhe chegarão às mãos no mês de janeiro, mês durante o qual se trocam felizes votos. Creio que os de sua pequena irmã serão os únicos de gênero..., a bem dizer, o mundo consideraria loucura desejos como estes, mas para nós, o mundo não vive mais e "nossa conversa já está no Céu", nosso único desejo é parecer com nosso Adorável Mestre que o mundo não quis reconhecer porque se anulo, tornando a forma e a natureza de escravo. Oh! Meu Irmão! Como o Senhor é feliz por seguir de tão perto o exemplo de Jesus... Imaginando que o Senhor se revestiu do habito chinês, pense naturalmente no Salvador se revestindo de nossa pobre humanidade e se tornando semelhante a um de nós a fim de resgatar nossas almas para a eternidade.
O Senhor vai me achar talvez muito criança, mas não importa, confesso-lhe que cometi um pecado de inveja ao ler que seus cabelos iam se cortados e substituídos por uma trança chinesa. Não foi esta última que cobicei mas tão simplesmente uma pequena mecha dos cabelos que se tornaram inúteis. O Senhor me perguntará rindo o que farei deles? Pois bem, é simples, eles serão relíquias quando o Senhor estiver no Céu, com a palma do martírio na mão. O senhor acha, tem dúvida, que tomo tempo demais com isto, mas sei que é o único meio de atingir meu objetivo, porque sua pequena irmã (que é conhecida como tal apenas por Jesus) será certamente esquecida na distribuição de suas relíquias. Estou bem certa de que o Senhor ri de mim, mas não me importo. Se consentir em pagar a pequena recreação que dou com: "Os cabelos de um futuro Mártir" ficarei bem recompensada.
No dia 25 de dezembro não deixarei de enviar meu anjo para que ele deposite minhas intenções junto à hóstia que será consagrada pelo Senhor. É do mais profundo do meu coração que lhe agradeço por oferecer a Nossa Madre e a mim sua missa da aurora; enquanto estiver no Altar, cantaremos as matinas de Natal que precedem imediatamente a missa de meia-noite.
Meu Irmão, o Senhor não se enganou dizendo que sem dúvida minhas intenções seriam "agradecer a Jesus pelo dia de graças entre todos". Não foi de modo algum naquele dia que recebi a graça da vocação religiosa. Nosso Senhor querendo somente para Ele meu primeiro olhar, dignou-se me pedir meu coração desde o berço, se é que posso me expressar assim.
Noite de Natal foi, é verdade, decisiva para minha vocação, mas para nomeá-la mais claramente devo chamá-la: a noite de minha conversão. Nessa noite bendita em que está escrito que ela ilumina as delicias do próprio Deus, Jesus se fazia criança por amor a mim dignou-se me fazer sair das fraldas da infância e das imperfeições, Ele me transformou de tal forma que não mais me reconhecia a mim mesma. Sem esta mudança deveria ter permanecido ainda muitos anos no mundo. Santa Teresa, que dizia a suas filhas: "Quero que vocês não sejam mulheres em nada que em tudo vocês se igualem a homens fortes. 8" Santa Teresa não teria querido me reconhecer como filha se o Senhor não tivesse armado, ele mesmo para a guerra.
Prometo ao Senhor, meu Irmão, recomendar a Jesus de forma bem particular, a jovem de quem o Senhor me falou e que encontra obstáculos a sua vocação, eu me compadeço sinceramente de sua dor, sabendo por experiência quanto é amargo não poder responder sinceramente ao apelo de Deus. Desejo-lhe que não precisa de ir como eu até Roma... Sem dúvida o Senhor ignora que sua irmã teve a audácia de falar ao Papa?9... É verdade entretanto, e se eu não tivesse tido essa audácia, talvez ainda estivesse no mundo.
Jesus disse que "o reino dos Céus sofre violência e que os violentos somente eles o arrebatam", aconteceu o mesmo comigo com o reino do Carmelo. Antes de ser a prisioneira de Jesus, faltou-me viajar bem longe para arrebatar a prisão que eu preferia a todos os palácios da terra, da mesma forma não tinha nenhuma vontade de fazer uma viagem para meu prazer pessoal, e assim que meu incomparável pai me propôs conduzir-me a Jerusalém se eu quisesse atrasar minha entrada por dois ou três meses, eu não hesitei (apesar da atração natural que me levava a visitar os lugares santificados pela vida do Salvador), em escolher o repouso à sombra daquele que tinha desejado. Eu compreendia que na verdade um único dia passado na casa do Senhor vale mais que mil por todos outros lugares.
Talvez, meu Irmão, o Senhor deseja saber que obstáculo eu encontrava para a realização de minha vocação; este obstáculo não era outro senão a minha juventude, nosso bom Padre Superior recusou-se formalmente em me receber antes de 21 anos, dizendo que uma criança de 15 anos não era capaz de saber em que me provando ele realizou a vontade do bom Deus que desejava me fazer conquistar a fortaleza do Carmelo à ponta da espada, talvez também Jesus permitiria ao demônio travar uma vocação que não devia, acredito, se do gosto desse vilão privado de amor como o chamava nossa Sta Madre; felizmente todas as suas astúcias se voltaram para tua vergonha, serviram apenas para transformar a vitória de uma criança mais gritante. Se eu quisesse escrever-lhe todos os detalhes do combate que tive de sustentar, me seria necessário muito tempo, de tinta e de papel; cantados por uma pena hábil esses detalhes teriam, creio, para o Senhor o interesse mas não é a minha que sabe dar encantos a um longo texto, então lhe peço perdão por tê-lo já aborrecido.
Prometa-me, meu Irmão, continuar cada manhã dizendo no Santo Altar: "Meu Deus, abrasai minha irmã com o vosso amor," soa-lhe profundamente reconhecida por isto e não tenho dó de assegurar-lhe que suas condições são e serão sempre aceitas. Tudo que eu peço a Jesus para mim, eu o peço também pelo Senhor; assim que eu oferecer meu fraco amor ao Bem-Amado, eu me permito oferecer o seu ao mesmo tempo. Como Josué, o Senhor combate na planície, eu sou sua pequena Moisés, e sem assar meu coração se elevou ao Céu para obterá vitória. Oh! meu Irmão o Senhor seria digno de lástima se o próprio não sustentasse os braços de seu Moisés!... Mas com o socorro da oração que todos os dias o senhor dirige por mim ao Divino Prisioneiro de amor, espero que o Senhor não terá jamais lastimado, e que após esta vida durante a qual teremos juntos semeado com lágrimas, nós encontramos felizes trazendo faixas em nossas mãos.
Gostei demais do pequeno sermão que o Senhor dirigiu a Nossa Boa Madre para exortá-lo a permanecer ainda na terra; não é longo mas, como o Senhor diz, não há nada a replicar, vejo que o Senhor sentirá pena em convencer seus ouvintes quando pregar, e espero que uma abundante colheita de almas será feita e oferecida ao Senhor. Percebo que estou no fim do meu papel, o que me força a parar minhas garatajas. Quero entretanto lhe dizer que todos os seus aniversários serão fielmente festejados por mim. O dia 3 de julho me será particularmente caro pois o Senhor recebeu Jesus pela 1ª vez e nesta mesma data, recebi Jesus por tua mão e assisti a sua primeira missa no Carmelo.
Abençoe, meu Irmão, sua indigna irmã,
Teresa do Menino Jesus,
relig. Carm. Ind.
(Recomendo em suas orações um jovem seminarista que gostaria de ser missionário, sua vocação acaba de ser abalada pelo ano militar)