(Isto é, mais ou
menos a transcrição resumida - de uma notícia de jornal T&Q de 20 e poucos
de Abril de 1997, se não me engano.
Gostaria de lhe pedir
se me podia dizer qualquer coisa sobre estes acontecimentos...)
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«Uns
dias antes do 25 de Abril, o subdirector-geral da PIDE/DGS, Agostinho
Barbieri Cardoso, informou o inspector Abílio Augusto Pires que, ao contrário do que
era costume e apesar de ter sido ele a preparar os dossiers. não o acompanharia a
Bruxelas a uma das reuniões de rotina da NATO. No seu lugar iria José Manuel Cunha Paço
(o jornal transcreve com um erro, é PASSO e não PAÇO) , outro dos quadros policiais que
habitualmente tratava dos assuntos relacionados com o chamado "gabinete NATO".
"Prefiro que você fique por cá, cheira-me que eles estão quase a sair da
toca", terá justificado Barbieri Cardoso. Segundo Abílio Pires. a polícia dispunha
de informações "muito completas" sobre o movimento dos capitães: Não não
sabíamos o dia em que eles viriam para a rua...".
Ao fim da tarde de 24 de Abril, a
visita de um capitão que traziam debaixo d'olho ao Centro de Instrução de Artilharia de
Costa (CIAC), em Cascais, foi a "peça" que a PIDE/DGS necessitava
para completar o puzzle. Ainda para mais,
quando perceberam que aquele oficial tinha ido à Cidadela de Cascais recolher
rádio-transmissores, instrumentos essenciais na mais que previsível movimentação
militar... "É amanhã!", exclamou-se na Rua António Maria Cardoso, sede da
polícia política.
Dadas as excelentes relações entre o coronel Viana de Lemos, secretário de Estado do Exército, e o inspector Álvaro Pereira de Carvalho foi decidido que este último o contactaria, alertando-o para a iminência da tentativa de golpe e para a necessidade de serem tomadas medidas para evitar o êxito dos militares insurrectos. O encontro entre ambos deu-se no restaurante Gambrinus, em Lisboa, mas o governante não pareceu lá muito preocupado com o alerta.
Deixe-os vir, que o meu cunhado dá-lhes um arraial de porrada que eles não sabem de que terra são", contrapunha o Viana de Lemos, aparentemente despreocupado e referindo-se ao coronel Romeiras que, horas mais tarde, na Rua do Arsenal veria as suas próprias tropas virarem as costas.
Na noite de 24 para
25 de Abril, o ambiente Rua António Maria Cardoso não era dos melhores. A iminência da
saída para a rua das tropa rebeldes e um certo sentimento de impotência que se vivia
contribuíam para isso.»
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Comentário de Abílio
Augusto Pires
Devo dizer que não me agrada abordar com grande minúcia este assunto. Tenho que falar de
Coelho Dias e a minha ética não me permite que o faça com à vontade visto
que já faleceu e não pode defender-se.
A
notícia está mais ou menos correcta. É verdade que estive indigitado para acompanhar
Barbieri Cardoso à reunião da NATO e preparei os dossiers.
Também
é verdade que fui substituído nos termos e pelas razões aduzidas. Foi uma decisão que
acatei disciplinadamente e até de bom grado. Para mim era mais uma prova da enorme
confiança que Barbieri Cardoso depositava em mim. Eu estivera, de resto, na base do
aborto do 16 de Março pela simples razão de que estava ainda no meu gabinete quando as
tropas das Caldas da Rainha saíram para Lisboa. Tomei as medidas que achei convenientes e
mandei chamar o pessoal que estava em casa.
É
verdade igualmente que o Director de Serviços Pereira de Carvalho jantou no Gambrinus com
o Secretário de Estado do Exército, que se referiu ao Coronel Romeiras nos termos
referidos pela notícia. Não foi a única vez que o fez.
O que não está certo
certamente por lapso do jornalista é a data do mal-estar na DGS.
Tentarei explicar: - Na noite de 24 para 25 de Abril o ambiente na sede da DGS era de
expectativa em relação à reacção de tropas leais ao governo, em especial Cavalaria 7,
comandada pelo Coronel Romeiras. Expectativa e, admito-o, uma certa ansiedade por parte de
alguns funcionários. Não mais do que isso. O mal-estar ocorreu na noite de 25 para 26 de
Abril, já com o Spínola no poder. E isto porque o Inspector Superior do Ultramar
Rogério Coelho Dias, companheiro de Spínola no Colégio Militar, começou abruptamente a
dar ordens a toda a gente como se já fosse o dono de tudo. E fui eu próprio quem reagiu,
tanto assim que por volta da uma da manhã do dia 26, saí da repartição e só, no meu
carro, fui para casa. Não voltei à DGS, com receio de alguma nova reacção quiçá mais
grave.
Foi por
isso que na tarde de 26 de Abril me apresentei em Caxias e não na rua António Maria
Cardoso.
Copyright © 1999 Abílio Augusto Pires