A ÚLTIMA GRILHETA

 

P`ra que são as eleições?

Ouço a malta perguntar...

P`ra escolher os ladrões

Que depois nos vem roubar

 

Nos tempos de Salazar

A malta não escolhia

Mas com a democracia

Passou a malta a mandar

Ninguém se pode queixar

Assim nestas condições

Aumentam-se dez tostões

Segundo a velha manobra

Para escolher quem nos rouba

É que são as eleições

 

Se acaso não está contente

E acha que foi roubado

Não fique prejudicado

Vote noutro presidente

Para o roubar novamente

Somente tem de optar

Nem vale a pena teimar

Outra sorte não lhe resta

Mas para que é que isto presta

Ouço a malta perguntar

 

Um melhora os hospitais

Outro aumenta os ordenados

Outro vai pelos mercados

Diz que baixa os preços mais

Outro com saltos mortais

Diz que dá habitações

E triplica as pensões...

É a hora da fartura

Falta só chegar a altura

De escolher os ladrões

 

Há bandeiras e balões

Passam carros à'pitar

P'ra crise não se agravar

Vão-se gastando milhões

Beijam-se as populações

E aconselha-se a votar

Todos querem lá ficar

Com pena de quem trabalha

Fala assim esta canalha

Que depois nos vem roubar

 

CAMINHA COM TEUS PÉS TRABALHADOR

Não te deixes levar por quem te mente

Mil vezes a ser só votador

Mil vezes não seres independente

O voto é o canto enganador

Que a última sereia canta à gente

A derradeira amarra do senhor

P'ra que o mundo não possa ser diferente

Leonel Santos (*)

Lisboa, Dezembro 1993

(*) Leonel Santos: Nascido no lugar de Pinheirinhos do concelho de Sesimbra a 22 de Novembro de 1935 L.S. é operário, exerce a profissão de canteiro e trabalhou em várias pedreiras e oficinas de Sesimbra, Cascais e Lisboa, entre outras.

Interressado pela cultura proletária lêu, estudou e acompanhou esse movimento principalmente após Abril de 1974, tendo escrito vários poemas e publicado o livro "Nós Povo" em 1975, (Editora Vento Leste), baseado essencialmente nas suas experiências pessoais e colectivas.


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