ARGÉLIA

A DITADURA DEMOCRÁTICA

Naquela terra doce e bestial

Reinava a democracia

O povo trabalhava, é natural

E o resto, passeava e comia

 

Rezava-se ao Alá que é um senhor

Que ajuda o que passeava a passear

E também com carinho e com amor

Ajuda o que trabalha a não parar

 

Este Alá é o mesmo que o "Há cá"

Que ajuda o que não pode a não poder

Mas é da democracia, para já

Aquilo que hoje tenho para dizer

 

Esse maná, que aqui no Ocidente

Abunda e tem caído em doses tais

Que qualquer democrata não desmente

Que só no outro mundo existe mais

 

Mas seja como for, a tal gentinha

Lá ia vivendo e rindo o dia-a-dia

Tinha corrupção sempre fresquinha

Que é o motor de tal democracia

 

E se às vezes uma Câmara do Alá

Lhe arrasava a barraca onde vivia

Como faz a Câmara do "Há cá"

A malta protestava mas comia

 

Embora não chegasse o ordenado

E a fome fosse dura e atrevida

Ninguém vivia ali desanimado

Tinha a democracia garantida

 

Em nenhuma selva de certeza

A vida era mais doce e encantada

O que tinha mais poder e mais esperteza

É que era sempre o chefe da manada

 

Mas como o democrata é cem por cento

Avesso em questões de ditadura

Convocou eleições p`ro Parlamento

Não se fosse estragar tanta fartura

 

Porém, o povo ingrato e atrasado

Quando chegou ao dia de eleições

Não quis votar nos bons, este "Malvado"

E acabou por ir votar pelos ladrões

 

Só que a democracia sendo boa

Nunca seria parva com certeza

Nem reinava portanto ali à toa

E no jogo que fez, pôs-se à defesa

 

Então o democrata de serviço

Que por acaso era um militar

Vendo contra ele o seu feitiço

Mandou chamar a tropa e pôs-se à´dar

 

E foi assim que a Argélia democrata

Se conseguiu livrar dos tais fanáticos

Hoje ali se prende, rouba e mata

Mas apenas em moldes democráticos

 

O pai e a mãe do FUNDAMENTALISMO

É o democrata astuto e corrompido

É ele que lança os povos no abismo

Depois dos Ter roubado e Ter traído

 

Leonel Santos(*) (Lx. 27-07-92)

 

(*) Leonel Santos: Nascido no lugar de Pinheirinhos do concelho de Sesimbra a 22 de Novembro de 1935 L.S. é operário, exerce a profissão de canteiro e trabalhou em várias pedreiras e oficinas de Sesimbra, Cascais e Lisboa, entre outras.

Interressado pela cultura proletária lêu, estudou e acompanhou esse movimento principalmente após Abril de 1974, tendo escrito vários poemas e publicado o livro "Nós Povo" em 1975, (Editora Vento Leste), baseado essencialmente nas suas experiências pessoais e colectivas.


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