DIÁRIO DA SELVA I (A DROGA)

 

A Costa do Ouro, vem nos jornais

É actualmente a Costa a Coca

Desculpem-me as bestas se esta troca

Causando lhe está danos morais

 

E a costa da liamba, porque não

Porque não a costa a maconha

E a costa da nossa desvergonha

Ou de toda a nossa podridão

 

A mesma ganância na essência

Do ouro de Midas e de Creso

E do valor humano igual desprezo

À costa da nossa decadência

 

A costa moderna do Valor

Que a besta não usa nem conhece

É a vida humana que apodrece

Porque o Valor da morte é superior

 

A Costa dos Escravos, acho bem

O nome não ter que teve outrora

Quantas costas de escravos há agora

Como pode aqui saber alguém

 

A droga está na guerra e nos desportos

Na escola, na família, está na vida

A bem do seu Valor tiranicida

Quantos sonhos de vida não são mortos

 

O chamado progresso social

 É este aviltamento e lodo insano

Este turbilhão de insulto humano

Onde só a Morte é racional

 

Nesta afronta imunda à sanidade

Sempre alguém se arrasta nas cadeias

Nos cantos de vilas e aldeias

E pelas esquinas da cidade

 

De noite e de dia há sempre alguém

Que o lucro do Mercado assassinou

Para que outro tenha o que ele deixou

Que é a vida que tinha e já não tem

 

Se outro crime o Mundo não tivesse

Para desonra humana era bastante

Este aviltamento reptante

Dum Sistema que a droga nos fornece

 

Dispôs-se que o drogado é um doente

Na solércia astuta do Mercado

Pois se acaso fosse um viciado

Não era lucrativo nem decente

 

Rouba o pai, rouba a mãe, rouba quem tem

O vício não perdoa é exigente

E um abutre qualquer, se ele é doente

Trata-lhe da saúde e vive bem

 

Foi atirado à lama pela vida

Está contra ele o mundo inteiro

Enquanto vivo for dará dinheiro

A morte que resolva e que decida

 

O produto moderno mais corrente

É o crime na rota do Mercado

Meio mundo vive hoje empregado

A traficar droga, armas e gente

 

O lucro é a meta do Valor

Um deus inamovível e feroz

Que corre noite e dia atrás de nós

Pronto a devorar seja quem for

 

Lisboa, Outubro de 2008

Leonel Santos