DIÁRIO
DA SELVA II (O PADRE)
Quem
é essa abantesma que apressada
Caminha
entre os andantes, rua fora
De
fraldas ao vento, onde mora
Uma
imagem no tempo ultrapassada
Com
saia comprida e mal cuidada
De
um negro profundo, cor de amora
E
que promete o Céu a toda a hora
Mas
apenas tira e não dá nada
A
sua negrura decadente
E
o seu andar desconcertado
O
seu olhar desconfiado
Em
nada condiz com o ambiente
Olha
para o chão, não fita a gente
Que
passa de um e outro lado
Como
um bicho qualquer semi-espantado
Para
quem este sitio é bem diferente
Tem
um ar sombrio, comprometido
De
quem algo deve à sociedade
E
carrega aos ombros na verdade
Um
passado muito enegrecido
De
tanto ter pilhado e ter zurzido
A
miseranda e pobre Humanidade
Não
respira bem pela cidade
E
caminha por isso constrangido
A
sua missão e prosseguir
A
missão dos seus antepassados
Mas
os tempos agora estão mudados
E
o tempo que foi não volta a vir
Já
ninguém agora vai cair
No
inferno por causa dos pecados
E
os bens do Céu estão esgotados
Por
o deus Valor os destruir
Com
a bancarrota da Igreja
O
padre se agarra a toda a presa
Às
crianças, à fome ou a pobreza
E
a todos os lucros que fareja
Buscando
as benesses que deseja
Que
pague o Estado essa despesa
Porque
ninguém casa, ninguém reza
Nem
deposita notas na bandeja
Solidariedades,
lares, benfeitorias
Para
criancinhas, velhos ou drogados
Os
padres nem dormem descansados
Vendo
os pobres assim de mãos vazias
E
mandam rezar avé-marias
Para
que eles sejam ajudados
E
dêm aos santos, que coitados
Nem
comem já todos os dias
Um
camelo me diga, ou um jumento
Porque
é que um padre vai benzer
A
pasta de um estudante, que à'prender
Andou
ilustrando o pensamento
Como
pode haver descaramento
Para
coisa tal acontecer
E
como pode alguém obedecer
A
tanta estupidez e fingimento
Pode
o padre viver eternamente
Que
o seu crime nuca se mais apagará
Foi
ele quem trouxe para cá
A
santíssima lei de queimar gente
E
como pode agora no presente
Criticar
alguém do mal que há
Quando
no Mundo onde ele está
Ele
mandou queimar tanto inocente
O
símbolo negro da sua missão
É
exibir a morte pregada numa cruz
Sem
uma criança, sem um raio de luz
Como o fez a Santa Inquisição
Só
depois da morte os deuses dão
Comer
ao faminto e roupa aos nus
Porque
a Vida ao nada se reduz
E
o Céu começa no caixão
Nunca
se deve usar preservativo
Nem
usar anticoncepcionais
Quanto
mais miséria tanto mais
O
oficio do padre é lucrativo
O
infantário, a creche, outro motivo
Que
reuna ajudas estatais
Que
o padre dá os bens morais
Para
o bebé poder manter-se vivo
Quem
é essa abantesma que na América
Austrália,
Brasil e mais locais
Prègando
andou valores morais
Como
por aqui na terra Ibérica
E
com essa treta cadavérica
Violou
crianças virginais
Como
outra besta fez jamais
Na
era pré ou pós homérica.
Lisboa,
Outubro de 2008
Leonel
Santos