A palavra do Valor

 

Se o Valor se alou a rei supremo

E o Crime vale mais do que o Direito

Sobe a lei do Valor ao topo extremo

E a Justiça e a Lei não surte efeito

 

A guerra mercantil e prepotente

Com novas armas e novas invenções

É a voz do rei a mandar a gente

A razão da morte a contar cifrões

 

A droga valendo mais que a vida

É a razão da sua própria chaga

Porque o Valor da droga é a medida

Da própria vida que o Valor esmaga

 

O sexo-Valor monopoliza

E arrasta crianças e mulheres

E o Valor do crime animaliza

Para além das bestas os restantes seres

 

A praga solidária que se nutre

Dos destroços da vida e da pobreza

Indo além do voraz abutre

Canta hinos de louvor à presa

 

O terrorismo existe, e por ventura

O sistema sem terror existiria

Quando o ferrete da escravatura

É senha nobre da economia?

 

No comércio da guerra e dos heróis

Há turbilhões de sangue e visões sinistras

Que o cinema lava e vende depois

Em doses nobres e pedagogistas

 

E o Valor prossegue a sua rota vil

Negando a Humanidade e fazendo a Lei

A vida trás o selo mercantil

E a Justiça faz de bobo do rei

 

A Civilização essa maravilha

Que sábios e deuses souberam criar

Quando mais velha mais se ilustra e brilha

E mais depressa consegue matar

 

Lisboa, Junho 2004

Leonel Santos