A Escalada do Capitalismo e Resistencia - de: Hot Tide, Boletim de Discussao No. #1

traduccion: "Alvimar Bessa" <projetoperiferia@ig.com.br> 

 
Diante das novas formas de globalizacao, alguns
tem argumentado que precisamos retornar ao estado
nacional ou 'a cultura como espacos privilegiados
de luta, ja' outros sustentam que as lutas tem que
ser travadas necessariamente no campo individual.
Muitos marxistas, por sua vez, defendem a
teoria de que o universo proletario, muitas vezes
compreendido como uma entidade homogenea, precisa
unir-se para enfrentar o capitalismo. Na pratica,
os marxistas usualmente procuram organizar o
proletariado na escala da nacionalidade. O
presente momento do processo capitalista mostra os
limites dessa pratica e a necessidade de pensar
criticamente a questao da escala e as formas
diferentes de se opor ao capitalismo. Hoje, mais
que nunca, precisamos prestar atencao nos dois
extremos da escala: a universal (o capitalismo
global e a cultura capitalista global) e a
particular (como o capitalismo opera em uma
situação geogr¨¢fica particular, em uma cultura ou
como ele afeta particularmente os individuos e os
grupos). Contudo, precisamos evitar a dicotomia
contida na ideia de que o capitalismo e' universal
e homogeneo e de que a cultura ¨¦' particular e
heterogenea. O projeto que Hot Tide esta'
desenvolvendo repensa as contradicoes
entre anarquismo (especialmente individualista e
insurreicional) e comunismo anti-estado e
marxismo autonomo. Isto ¨¦ tanto uma questão
te¨®rica (como o capitalismo opera em em diferentes
escalas espaciais? Como se manifesta de formas
diferentes em volta do globo? Quais formas de
resistencia e de positiva auto-valorizacao sao
necessarias no presente momento?) como uma questão
organizativa (Quão dispersas estao as pessoas --
multidões -- com suas diversas formas de atacar
efetivamente o capitalismo, e como fazer isso sem
atritos e sem sufocar suas diferenças?) e as duas
não podem caminhar separadamente. Produziremos uma
s¨¦rie de artigos de forma a estimular tanto a
discussao entre Hot Tide e Killing King Abacus.
Pr¨®ximos pontos a serem discutidos:
 
1. A fase mais recente da globalização ¨¦ uma nova
organização espacial do capitalismo. Aparentemente
essa nova fase da globalização implicaria na
emergencia do capitalismo puro, na destruição do
estado nação (e' estranho que alguns anarquistas
tenham recentemente caido em tal retorica) ou no
simplismo da homogenização do globo. O fato e' que
o capitalismo funciona de muitas maneiras de forma
a gerar diferenças em volta do globo, ele não
produz apenas homogenização. Ao mesmo tempo em que
o capitalismo trabalha para abrir barreiras ao
comercio e ao capital, por exemplo, ele tamb¨¦m
fecha determinados fluxos em novas bases. No que
diz respeito ¨¤s regras do estado elas estão em
constante mudança, não existe nenhuma forma de
capitalismo puro que pretenda enxugar
completamente o estado. Os capitalistas usam o
poder do estado para reorganizar as relações de
poder. Os estados tomam parte na construção dos
novos ou reinventados n¨®s de poder das mesma forma
que o Banco Mundial, o FMI, NATO, e OMC. E'
atrav¨¦s dos estados que tais instituições ganham
legitimidade. Ao mesmo tempo em que os estados
perdem o controle do fluxo comercial e do capital,
aumenta o controle de muitos estados sobre as
vidas e as ações de suas populações.
A verdade ¨¦ que o estado e o capital tem extendido
seus tent¨¢culos sobre todos os aspectos de nossas
vidas. Ao mesmo tempo, o capitalismo ajuda a
produzir desiguais condições geogr¨¢ficas atrav¨¦s
do globo: alguns estados tornam-se mais fortes
enquanto se reequipam, ao passo que outros
tornam-se fracos. Todavia, ¨¦ tamb¨¦m verdade que o
globo como um todo est¨¢ sendo envolvido debaixo de
uma ¨²nica logica de poder e de valor, e os estados
são forçados a operar dentro dessa l¨®gica.
 
2. Precisamos reconceituar nossa resistencia
ao capitalismo. O tempo de pensar em termos de
"massa" se perdeu no passado (se ¨¦ que existiu
alguma vez); precisamos ser capazes de
conceituar resistencia sem eliminar nossas
diferenças, ou negar comunhão na luta (existe
apenas um capitalismo). Não existe nenhuma massa
homogenea, mas uma multidão de participantes na
luta contra o capitalismo. Parece haver
contradição entre os desejos de um individuo e
certamente e' dificil aderir 'a luta de uma
multidao, mas sua importancia ¨¦ fundamental.
Nesses momentos de luta e' necessario dar espaço
para nossas diferenças enquanto atacamos as muitas
cabeças da hidra do capitalismo. A n¨ªvel de
organização isto significa que nunca devemos
tentar construir uma ¨²nica, solit¨¢ria organização;
a autonomia da auto-organização precisa ser sempre
preservada. Fora isso, as organizações precisam
ter um prop¨®sito particular para que continuem
caminhando juntas, e uma vez que esse prop¨®sito
particular tenha sido atingido elas podem se
dispersar. Organizações permanentes tendem a
tornar-se autorit¨¢rias e desperdiçar a maior parte
da energia de seus participantes tentando
"construir a organização" ou dar-lhe direção.
 
3. O momento ¨¦ agora, e o alvo esta' delineado. A
recente cadeia de protestos anti-capitalistas,
embora aos trancos e barrancos, continua
avançando, tem fornecido uma poderosa nova forma ¨¤
luta anti-capitalista. Isto tem sido especialmente
verdadeiro em sua habilidade em ligar diversas
lutas sem eliminar suas particularidades. O brilho
dessas lutas tem sido sua organização em torno de
certas datas em que uma instituição capitalista
global se re¨²ne. Quanto maiores as manifestações
maiores serão os alvos a serem atingidos, o tempo
passou e o capitalismo em seus muitos aspectos
permanece na mira. Isso encoraja o ataque e nesse
dia cada um escolhe seu alvo predileto. Ataques
dirigidos a diversos alvos em um s¨® dia em que a
instituição capitalista se re¨²ne, faz ligação
entre as v¨¢rias lutas, liga varias lutas sem que
seja necess¨¢rio que marchem sob o mesmo tambor ou
que a diversidade das lutas seja suprimida at¨¦ que
"a organização" diga a ¨¦poca (depois da
revolução?). A simultaneidade destas lutas liga-as
em nossa imaginação; isto nos permite compreender
que temos um inimigo em comum. Não ¨¦ necess¨¢rio ir
a Seattle, Washington, ou Praga (embora seja ¨®timo
fazer isso), escolha seu alvo em sua ¨¢rea, para o
N30 ou S11, encontre um lugar espec¨ªfico para
dizer a todos que sua meta ¨¦ o fim do sistema
capitalista.