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A Razão

 

.........Usamos "razão" para nos referirmos a "motivos" de alguém, e também para nos referirmos a "causas" de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de "razão", mas em sentido diferente. A palavra razão possui sentidos diferentes: certeza, lucidez, motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na filosofia.
.........Por identificar razão e certeza, a filosofia afirma que a verdade é racional; por identificar razão e lucidez, a filosofia chama nossa razão de luz e luz natural; por identificar razão e motivo, por considerar que sempre agimos e falamos movidos por motivos, a filosofia afirma que somos seres racionais e que nossa vontade é racional; por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relações causais, a filosofia afirma que a realidade é racional.
.........É muito conhecida a célebre frase de Pascal, filósofo francês do século XVII: "O coração tem razões que a razão desconhece". Nessa frase, as palavras razões e razão não têm o mesmo significado, indicando coisas diversas. Razões são os motivos do coração, enquanto razão é algo diferente de coração; este é o nome que damos para as emoções e paixões, enquanto "razão" é o nome que damos à consciência intelectual e moral.
.........A consciência é a razão. Coração e razão, paixão e consciência intelectual ou moral são diferentes. Se alguém "perde a razão" é porque está sendo arrastado pelas "razões do coração". Se alguém "recupera a razão" é porque o conhecimento intelectual e a consciência moral se tomaram mais fortes do que as paixões. A razão, enquanto consciência moral, é a vontade racional livre que não se deixa dominar pelos impulsos passionais, mas realiza as ações morais como atos de virtude e de dever, ditados pela inteligência ou pelo intelecto.
.........Além da frase de Pascal, também ouvimos outras que elogiam as ciências, dizendo que elas manifestam o "progresso da razão". Aqui, a razão é colocada como capacidade puramente intelectual para conseguir o conhecimento verdadeiro da Natureza, da sociedade, da História, e isto é considerado algo bom, positivo, um "progresso".
.........Por ser considerado um "progresso", o conhecimento científico é visto como se realizando no tempo e como dotado de continuidade, de tal modo que a razão é concebida como temporal também, isto é, como capaz de aumentar seus conteúdos e suas capacidades através dos tempos.
.........Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro: "Fulano trouxe um trabalho irracional; era um caos, uma confusão. Incompreensível. Jáo trabalho de beltrano era uma beleza: claro, compreen-sível, racional". Aqui, a razão, ou racional, significa clareza das idéias, ordem, resultado de esforço intelectual ou da inteligência, seguindo normas e regras de pensamento e de linguagem.
.........Todos esses sentidos constituem a nossa idéia de razão. Nós a consideramos a consciência moral que observa as paixões, orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a ação. Nós a vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Nós a concebemos segundo o ideal da clareza, da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das palavras.
.........Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos sequalidade primordial das próprias coisas, existindo na própria realidade. Para esses filósofos, nossa razão pode conhecer a realidade (Natureza, sociedade, História) porque ela é racional em si mesma.
.........Fala-se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e em razão subjetiva (a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional. Para muitos filósofos, a filosofia é o momento do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidades.

 

( Fonte: Veja o Link Bibliografia )