Para além da corrupção

Roberto Mangabeira Unger


O Brasil é hoje um país cheio de energia, mas sem governo sério ou estratégia conseqüente. A anti-estratégia compartilhada pelo governo atual e pelo governo anterior resume-se a inspirar confiança aos mercados financeiros, mesmo à custa de estrangular nossa produção e de empobrecer nosso trabalhador. No auge de ciclo de liqüidez na economia mundial, essa não-estratégia rende estagnação. Quando o ciclo apontar para baixo, ela renderá retrocesso e ruína.

Há vazio crescente na política brasileira, de idéias e de pessoas. Escândalos preenchem esse vazio. Se essa experiência desmoralizadora for corretamente entendida, pode fortalecer-nos no cumprimento da tarefa maior de oferecer alternativa ao país. Para que tenha essa utilidade, porém, precisa ser interpretada à luz de três constatações.

A primeira constatação é que a corrupção mora no centro, não na periferia de nosso sistema político. A imprensa e o Congresso ocupam-se com o negocismo corriqueiro facilitado pela partilha política de cargos públicos. É variante miúda de algo mais básico e mais grave: governantes achacam grandes empresários e grandes empresários compram governantes. Todos os maiores negócios realizados no país dependem do beneplácito do governo. Ora sob o disfarce do interesse público, ora sem ele, o governo exige contribuições partidárias para deixar que tais negócios se consumam. Os grandes empresários pagam, reclamando, à boca pequena, de estarem sendo achacados. Enganam-se: a metade deles quebraria sob regime de concorrência aberta e de direito para valer: a metade cujo talento se resume a comprar e a vender consciências e a usar acessos e informações privilegiados. Não são empreendedores; são agenciadores. Foi assim no governo anterior. É assim, mais ainda, no governo atual.
A segunda constatação é que a causa imediata dessa putrefação está no financiamento eleitoral. Se se assegurasse o financiamento público das campanhas eleitorais e se se obrigasse todo candidato a falar na televisão diante de fundo branco, sem truque milionário de marqueteiro, a política brasileira não se transformaria, de noite para o dia, em limpa. Contaria, contudo, com antídoto de emergência contra veneno que paralisa nossa democracia. Tanto o governo atual quanto o governo anterior elegeram-se prometendo reformar o financiamento eleitoral. Foi uma das primeiras promessas que ambos traíram. Enfraqueceram-se porque se acomodaram à corrupção sistêmica, tentando aproveitá-la como instrumento de poder.

A terceira constatação é que, suprimida a causa mais premente da corrupção, o critério para reorganizar nossa vida pública é criar uma democracia mais mudancista e experimentalista do que aquelas que existem no Atlântico norte, democracia própria para um povo como o nosso, que tem tudo por fazer. Não uma democracia fria e arrumadinha, pautada pelo tipo de "reforma política", boa para a Dinamarca, que se discute entre nós. Isso, porém, já não é preliminar; é incidente e conseqüência da luta para reorientar o rumo do país. Para avançar, não precisamos reordenar, antes, toda a vida política da nação. Só precisamos acender as luzes, revelar as dimensões da podridão e preencher o vazio que avança sobre o Brasil não com moralismo estéril, mas com alternativa factível, inteligência clara e vontade forte.

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FILÓSOFO BRASILEIRO É MAIS CONHECIDO NO EXTERIOR

"Durante muito tempo os intelectuais do Primeiro Mundo diagnosticaram os males do Terceiro e prescreveram tratamentos para ele – o que ainda é a forma dominante de escrever sobre o assunto. Aqui ocorre algo novo: uma inteligência filosófica do Terceiro Mundo vira a mesa para se tornar crítico e profeta do Primeiro Mundo" – Perry Anderson, historiador marxista.

"O projeto de Roberto Mangabeira Unger de desenvolver uma "teoria social construtiva" é de tirar o fôlego" – Zhiyuan Cui, cientista político e professor no MIT.

DA REDAÇÃO [Folha de São Paulo – 22 de outubro de 2000]

Roberto Mangabeira Unger é hoje o intelectual brasileiro mais conhecido no exterior. Pensadores de renome internacional, como Perry Anderson, Cornel West e Richard Rorty já foram seus parceiros ou comentaram sua obra. [inclusive o pensador alemão Jürgen Habermas]

O chinês Zhiyuan Cui, professor no MIT (Massachusetts Institute of Technology), diz que Mangabeira Unger é "o mais radical pensador social da atualidade".

[Seus trabalhos foram descritos pelo Prof. Geoffrey Hawthorn da Universidade de Cambridge (a mesma em que lecionou Isac Newton, Inglaterra) como "a teoria social mais poderosa da segunda metade do século XX".] *[nota da Ed. ToopBooks]

Um de seus livros, "Passion: An Essay on Personality", de 1984, chegou a ser transformado em documentário para a TV alemã.

Sua obra foi publicada nos Estados Unidos, na Europa e na China. Mas poucos livros foram editados no Brasil, como "A Alternativa Transformadora", "Conhecimento e Política" e "Direito na Sociedade Moderna", além de "O Próximo Passo", escrito em parceria com Ciro Gomes.

Leciona há 28 [desde 1971, hoje, portanto, 33 anos] anos na Universidade Harvard, a mais prestigiosa dos Estados Unidos, na qual obteve duas proezas: foi o mais jovem professor contratado, aos 22 anos, e o mais jovem tornado titular, aos 25.

Mangabeira nasceu no Rio em 1947. Aos dois anos foi com a família para os EUA e só voltou ao país em 1959. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1969. Perseguido pelo regime militar, regressou aos EUA, onde começou a lecionar em 1971.

Foi candidato a deputado federal pelo PDT-RJ [do nacionalista Leonel Brizola] em 1990. Obteve menos de 10 mil votos e não foi eleito.

[no sítio http://www.law.harvard.edu/faculty/unger/ podem ser baixados gratuitamente artigos, entrevistas e vários livros de Mangabeira Unger veja também o blog do Mangabeira: http://www.mangabeira.blig.com.br]


Alternativa 2006 = Mangabeira (PDT)

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