Pelo Comitê Zapatista da
Zona Leste de São Paulo
SEGUNDO depoimento de alguns participantes, o II Encontro começou de fato a
partir do dia nove de dezembro, quando, fartos da
retórica vazia da filha do Miterrand, do Edu Velasquez,
e do Sr. Magno e Cia Ltda., os participantes resolveram
assumir o Encontro e realizá-lo em outro lugar perto
dali.
Contudo, os problemas relativos ao II Encontro começaram
na própria convocatoria onde nem sequer o local onde
seria realizado foi discutido (1) democraticamente . Os
"Encontros Preparatórios", na verdade, não
preparavam nada, tudo era imposto goela (2) abaixo, e quem se
manifestasse em protesto era qualificado de
"sectário" (?).
O CENTRALISMO DA MESA
No primeiro dia, diante de uma plenária (cerca de 500
pessoas) o coordenador escolhido pelos organizadores
pediu aos presentes que quisessem se inscrever para falar
para que colocassem seus crachás sobre a mesa. Muitos se
dirigiram à frente com seus crachás. A surpresa geral
foi quando a coordenação da mesa, segundo seus
próprios critérios, selecionou 20 crachás, a maioria
de conhecidos cabos eleitorais do PT, o que provocou
revolta nos presentes. Indignados pela sucessão
contínua de fatos como esse, foi proposta alteração na
metodologia que estava sendo aplicada, o que resultou em
três longos dias de discussões sem fim com membros do
Partido dos Trabalhadores os quais, pretendiam, como
sempre, assumir a direção política do Encontro.
"Eles
não vão voltar NO MEU ÔNIBUS,
vão ter que voltar a pé! Esses
anarquistas não acreditam no PT, então
porque que vêm no nosso ônibus?" Neli.
Uma das (des)organizadoras do Encontro
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Com a atitude centralista e
autoritária adotada pelos organizadores, aqueles que
foram à Belém com os únicos intuitos aceitáveis:
debater a problemática que afeta os povos do mundo e
propor soluções, decidiram não continuar naquele
local, onde só era discutido o que convinha ao PT e da
maneira que impunham de cima prá baixo.
Tudo teria sido completamente inaproveitável, não fosse
o instinto de liberdade humana presente na maior parte
das pessoas que estavam ali, que fez com que muitos não
se submetessem aos métodos de (des)organização dos
partidários (políticos eleitorais profissionais) e
decidissem continuar as discussões a parte. Aí sim, o
Encontro aconteceu! Discussões produtivas se estendiam
madrugada afora! Após horas e horas em reuniões, o
estresse já se expressava no rosto de tod@s ali
presentes, porém o cansaço e o calor sob o grande
quiosque não impediram nada. Além do que foi discutido
e das resoluções tiradas nesse Encontro, foi também de
grande importância o intercambio e a amizade iniciada
ali entre os grupos e pessoas.
"Não
podemos deixar o espaço
livre para todos porque um pistoleiro
pode entrar aqui e realizar um atentado."
Co(des)ordenador
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Além da experiência em organização,
podemos também comprovar o que Bakunin já dizia há
muitos anos: "... os partidos não desempenham
nenhum papel no processo revolucionário..." ou como
se dizia na Primeira Internacional: "a emancipação
d@s trabalhador@s será obra d@s própri@s
trabalhador@s".
INCIDENTE
No ultimo dia,
um grupo de estudantes quis entrar pacificamente para ver
o Encontro (foi bem divulgado pela TV local). Como nenhum
deles portava o crachá distribuído pelos organizadores,
sofreram agressão policial, tanto que um dos estudantes
foi violentamente espancado.
TRANSPORTE
Porque não divulgaram os locais de saída dos ônibus da
mesma forma que divulgaram o Encontro?
Fomos informados pelo Sr. Magno que para irmos a Belém
teríamos que pagar R$ 180,00 (cêrca de US 90) por
pessoa. Quem, de fato, pagou esses ônibus? Por que tanto
gasto desnecessário com divulgação, enquanto @
trabalhad@r interessad@ em participar teria que pagar?
Muit@s ativistas desistiram de ir a Belém por que não
tinham o dinheiro da passagem. Ora, quem participa dos
movimentos populares são desempregad@s, sem teto, sem
terra, pais e mães de família, pessoas de baixa renda,
enfim, excluídos. Primeiro, colocam os ônibus a
disposição a R$ 180,00 por pessoa. Não divulgam o
local de saída desses ônibus nas convocatórias. Como
se não bastasse, fomos informados que a maioria desses
ônibus acabou levando pessoas gratuitamente, e que um
desses ônibus saiu com gente, inclusive burguesia, que
não pagou nada, e com 10 lugares vazios!
Alguém nos pediu para perguntar se a TAM tem algum
convênio com o PT.
GASTOS DESNECESSÁRIOS
Se a imprensa de Belém divulgou massivamente a
realização do Encontro, inclusive convidando a
população para participar, por que essa distribuição
de folhetos, cartazes, brochuras de impressão de luxo,
material de custo elevado, informando sobre o Encontro.
Porque tanta ênfase em divulgação e tanto desinteresse
em transportar trabalhadores para Belém?
PERGUNTAS aos Zapatistas do México
Porque vieram apenas dois delegados do exército
zapatista, justamente os que entendiam pouco espanhol e
menos ainda português?
Edu Velásquez tem algum vínculo com partidos eleitorais
no México?
REDE ANARCO-FEMINISTA OBERIN ONIJÁ INTERVÉM
NO ENCONTRO
Em determinado momento durante o Encontro, foi
proposto que a Rede participasse da Mesa, o que foi
aceito. Contudo a manifestação da Rede se deu através
de uma encenação onde as componentes se vestiram como
mulheres do Oriente. Em seguida, desnudaram-se, mostrando
seus corpos pintados e cantaram uma música em Iorubá
(lingua afro). Depois uma companheira reivindicou que as
mulheres tivessem de volta seus corpos. Numa alusão às
centenas de milhares de mulheres, principalmente no Norte
da África, que são obrigadas a mutilar o clítores para
serem aceitas na sociedade. A Rede também levantou uma
crítica contundente aos partidos de esquerda e alguns
movimentos sociais onde muito se fala em libertação das
mulheres mas que na prática a discriminação se dá
dentro desses próprios partidos e associações.
"Sou professor!
Ganho um salário de miséria. Sou casado, tenho
filhos! Vim aqui achando que sairia alguma
proposta Revolucinária e dou de cara com esta
bosta bosta feita pelo PT!" Participante
do Encontro
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CONCLUSÃO
Encerrado o II Encontro, fica no ar as seguintes
questões:
Quem estaria interessado, e o que acontece quando alguém
se envolve, na participação de um evento como o de
Belém? A nosso ver, dentro da ótica zapatista
"tudo para todos, nada para nós mesmos", os
maiores interessados seriam os excluídos e aqueles que
buscam soluções para os problemas sociais e econômicos
fora da política burguesa da esfera
político-partidária.
O
interessado naturalmente procura os meios próprios de
informação junto aos companheiros de movimento.
Dentro dessa visão, produzir cartazes de luxo que em
poucos minutos vai para o chão ou para o lixo, se torna
um desperdício, aliás, muito comum nas organizações
partidárias. Com o que foi gasto poderia se criar grande
quantidade de material de conscientização política
(comunicados zapatistas, p.e.) que circularia de mão em
mão entre trabalhador@s e estudantes.
"Primeiro
se anuncia que quem quiser ir ao
Encontro em Belém tem que pagar R$ 180,00,
depois, descobre-se que a passagem é gratuíta,
mas nem todos sabem de onde os ônibus vão
sair." Estudante paulista
que não pode ir à Belém
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Teria
os organizadores algum interesse em que uns participassem
e outros não? Acreditamos que sim. Principalmente quando
sabemos que as pessoas que fazem parte de qualquer
movimento social popular, em sua maioria, não dispõem
de verba para bancar uma viagem tão distante.
Acreditamos que a presença (indesejável para eles) de
excluídos com coerência e ética revolucionária
contraria os objetivos e interesses daqueles cuja
prática egoística revela o lema: para nós tudo,
para todos nada.
POLEMICO
II ENCONTRO PELA HUMANIDADE E CONTRA O
NEOLIBERALISMO BELEM/BRASIL
Entre os dias 6 e 11 de
dizembro, teve lugar em Belém/PA (Brasil), o II
Encontro pela Humanidade e contra o
Neoliberalismo.
Esta edição do Encontro, ao contrário dos 2
anteriores (Chiapas, Estado Espanhol) foi ter
sido organizada pela camara municipal desta
cidade brasilera, governada pelo Partido dos
Trabalhadores.
Por extensão, esse fato se refletiu em uma maior
burocratização e desumanização do encontro.
Iste se converteu em um circo de partidos
politicos em disputa por ver quem conseguia sacar
mais bandeiras, com um grande aparato de meios
(funcionários e infraestrutura) tão ostentoso
quanto desnecessário, inclusive com a presença
constante da policia municipal...
Dentro deste clima, os movimentos sociais de base
ficaram totalmente relegados a simples
espectadores.
No segundo dia se propôs uma mudança na
metodologia dos debates, por parte de um amplo
setor descontente com a ínfima possibilidade de
participação. Esta proposta/protesto foi
passada por cima em um vergonhoso ato de
manipulação democrática. Este fato provocou a
definitiva ruptura do Encontro, que se dividiu en
2 encontros paralelos.
A nota final foi marcada pela policia municipal,
plantada nas portas do recinto para evitar que as
pessoas sem credenciais entrasse ao concerto de
clausura. Dois participantes que havian esquecido
suas credenciais foram expulsos a empurrões
entre muit@s assistentes que, fart@s do que
estava acontecendo, se dirigiram ao palco para
explicar todos estes ocorridos, o que produziu
por parte dos militantes do Partido dos
Trabalhadores e membros da segurança, o
definitivo encerramento do encontro. Contra-Infos 14/12/99
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CONVITE
O Comitê Zapatista da Zona Leste de São Paulo convida
tod@s interessad@s a participarem das discussões para os
encaminhamentos relativos à caminhada para o México, a
preparação para o III Encontro no Canadá, e a
criação aqui em São Paulo do Comitê de Apoio às
Comunidades Zapatistas.
Maiores
informações escreva para Travessa do Anfiguri, 47, São Miguel Pta., cep
08010-971 São Paulo-SP, ou railtong@g.com
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