Sábado, 16 de abril de 2000
ALI LAMPREIA BABA E OS 40 LADRÕES

Ministro de FHC é aplaudido pelos Barões Internacionais do Roubo ao defender trabalho infantil no Brasil em Seminário da Organização Mundial do Comércio.

[Bruce Silverglade administrador do Center for Science in the Public Interest infiltrou-se em um seminário de "alto nível" com o tema "Pós Seattle: Restaurando a credibilidade da OMC."]

Entre os palestrantes destacaram-se Clayton Yeutter (representante da Secretaria da Agricultura), Robert Litan (representante da Associação de Diretorias do Escritório de Administração da Casa Branca), LawrenceEagleburger (representante da Secretaria de Estado), e Luiz Filipe Lampreia,(Ministro do Exterior do Brasil). Fiquei um tanto quanto desapontado por ser o único que representava a simesmo, vindo de uma organização não lucrativa preocupada com o impacto do OMC no pão de cada dia das pessoas. Mas tive a sorte de perceber que alguémesqueceu de fechar a porta.
... E, rápidamente, passei pro lado de dentro, sem maiores problemas.
O seminário parecia ser uma sessão de estratégias contra aqueles que se opõem ao atual sistema. Aparentemente, ninguém sabia quem eu era (talvezminha gravata verde e terno preto me ajudaram a driblar o grupo de velhossenhores que recebia os convidados) e permaneci calado até o fim do encontro.
A abertura foi feita por um cavalheiro chamado Lord Patterson, o então Secretário de Estado para o Comércio e Indústria do governo MargaretTatcher. Ele iniciou os trabalhos dizendo que a prioridade número um erarestaurar a confiança na OMC antes de embarcar nos novos rouds das negociações comerciais. Que caras de páu... Pensei comigo mesmo.
Em seguida ele passou a defender que as entidades não lucrativas (non-profit) não tinham nenhum direito de criticar a OMC como não democrática porque esses grupos não representam o público geral. (Nestemomento, pensei com meus botões a respeito de quais grupos ele estavafalando porque existem inúmeras organizações seriamente preocupadas com oimpacto do OMC no ambiente e na segurança do consumidor, como Sierra Club e Public Citizem, associações estas que possuem centenas de milhares demembros). A seguir, prosseguiu dizendo que não deveriam fazer mais nenhumencontro em solo norte americano porque alí, nos Estados Unidos, é muitofácil aos grupos de oposição se organizarem e que a segurança não podia ser garantida.
... Ele acrescentou que o discurso do Presidente Clinton durante o encontro do OMC em Seattle, ocasião em que o presidente amarelou diante dos gritos dos manifestantes, foi "desastroso" além de ser uma desgraça o fato dos delegados do encontro da OMC em Seattle terem que comer sanduíches e não poderem ter acesso à uma mesa farta durante os tres dias que duraram osprotestos sociais. O "Lord" encerrou seu discurso recordando os bons temposem que "tomava chá com Maggie", e afirmou que a direção do Secretariado doOMC não poderia ser preenchida por pessoas vindas de países desenvolvidos apenas pela cor de sua pele. Após algumas palavras com o dirigente doencontro, Lord Patterson concluiu "Oh, espero não ter ofendido ninguém."
... A platéia predominantemente americana do encontro e outras pessoas presentes levaram a sério o pronunciamento do "Lord". O primeiro comentário feito por um americano, teve uma pitada de cinismo ao perguntar: "o que podemos fazer para tirar a legitimidade das ONGs?" O autor da pergunta afirmou que esses grupos normalmente são sustentados por diversas fundações de caridade e se essas fundações não forem convencidas a cortar os fundos, alguma coisa teria que ser feita no sentido de cessar suas operações. Mr. Litan, um alto funcionário da Casa Branca, fez uma intervenção. Ele [respondeu] sugerindo dar às ONGs outras coisas para fazer
para desviar sua atenção, como, por exemplo, funções similares às da Organização Internacional do Trabalho. (International Labor Organization - grupo tutelado pelas Nações Unidas). O representante oficial do Comércio dos Estados Unidos não disse nada.
... Ainda na tentativa de restaurar a confiança pública na OMC, Yeutter (representante da Secretaria da Agricultura) concordou com a sugestão de seu colega britânico de que o próximo encontro do OMC fosse realizado em algum lugar que não fosse os Estados Unidos e onde a segurança pudesse ser
garantida. Ele sugeriu que futuramente o OMC desse apenas uma pequena nota pública relatando onde o encontro seria realizado para manter os manifestantes longe. Em seguida prosseguiu afirmando que as exigências dos manifestantes por maior transparência nos procedimentos da OMC eram
infundadas porque os manifestantes na realidade não pretendiam participar dos trabalhos da OMC -- todos eles querem mesmo é aparecer nos noticiários de TV e arrecadar dinheiro para suas organizações.
... O dia terminou com a usual recepção em Washington...
Por sua vez, o ministro do exterior do Brasil comentou que se o próximo encontro do OMC fosse mesmo realizado em outro lugar, ele preferia que fosse em algum lugar no meio do deserto... Em seguida fez um apaixonado discurso
defendendo o trabalho infantil, justificando que numa determinada região do Brasil, mais de 5.000 crianças "ajudam suas famílias com uma quota de dinheiro extra". No que recebeu uma salva de palmas.

"Restoring the OMC's momentum
Progressive"
Review,ssmith@igc.org,inet
 

 
voltAr


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