Desobediência
Civil:
Fundamentos da Ação Direta
Voltairine Cleyre (1866-1912), anarquista americana, escritora
feminista, teórica e ativista no tempo da revolta de Haymarket,
foi quem em resposta ao Senador norte-americano Joseph R. de Hawley
-- que ofereceu mil dólares de recompensa ao anarquista
que lhe desse um tiro -- escreveu:
«Negócio
fechado. Pague apenas sua passagem até minha casa, o
tiro vai de graça, mas já que faz tanta questão
em pagar $1000, então, depois de dar-lhe o tiro, usarei
o dinheiro na propagação da idéia de uma
sociedade livre onde não haja assassinos, presidentes,
mendigos, nem senadores».
AÇÃO
DIRETA
Por
Voltairine de Cleyre
Do
ponto de vista daquele que se julga capaz de discernir uma rota
constante para o progresso humano, e segue por ela, e desenha
tal rota no mapa de sua mente, certamente resolverá indicá-la
aos outros; fazê-los ver as coisas como ele vê; convencê-los com
argumentos claros e simples que expressem seus pensamentos --
diante disso é um sinal de pesar e de confusão de espírito o fato
da frase «Ação Direta» adquirir de repente na mente das pessoas
em geral um significado circunscrito, que não tem, e que certamente
nunca teve, nem mesmo no pensamento de seus adeptos.
Porém, essa é mais uma ironia que o Progresso lança naqueles que
se julgam capazes de fixar metas e lutar por alcançá-las.
Inúmeras vezes, nomes, frases, lemas, divisas, palavras de ordem,
são viradas ao avesso, colocadas de cabeça para baixo. Como uma
percepção tardia do que deveria ser feito tornam-se tendenciosas.
Pessoas usam e abusam de expressões com sentido dado por eles
mesmos; e ainda, outros tenazmente permanecem firmes, teimam ser
ouvidos, para finalmente concluir que o período de mau-entendido
e de preconceito foi mais um prelúdio de investigação do que de
compreensão.
Certamente este é o caso da presente concepção errônea do termo
Ação Direta que pelo equívoco, ou mesmo pelo deliberado embuste
perpretado por certos jornalistas de Los Angeles, por ocasião
da condenação de McNamara, sismaram em colocar na
cabeça das pessoas que Ação Direta significa,
«atacar violentamente a vida e a propriedade». Esta
atitude ignorante ou desonesta por parte desses profissionais
provocou em muita gente a curiosidade de saber o que realmente
significava Ação Direta.
De fato, aqueles que assim tão vigorosa e desordenadamente a condenam,
se olharem para eles mesmos descobrirão que eles próprior em muitas
ocasiões praticaram a ação direta, e farão isso novamente.
Qualquer um que sempre pensou por si próprio, que usou
seu direito de livre expressão, e corajosamente reafirmou
isto juntamente com outros que compartilham de suas convicções,
foi um praticante da ação direta. Uns trinta anos
atrás eu recordo que o Exército de Salvação
era um vigoroso praticante da ação direta na defesa
da liberdade de seus membros para falar, reunir e discussar. Muitos
foram presos, multados e encarcerados; mas eles continuaram exercendo
seu direito de cantar, pregar e marchar, e de tal forma que seus
perseguidores acabaram finalmente por deixá-los em paz.
Os trabalhadores nas indústrias estão ministrando
a mesma luta agora, e tem, em vários casos, compelido seus
patrões a deixá-los em paz pelas mesmas táticas
diretas.
Toda pessoa que planejou fazer qualquer coisa, e foi e fez, ou
pôs seu plano em execução antes de outros,
e ganhou a cooperação e colaboração
de outras pessoas, sem apelar para autoridades, pedir licença
ou agradá-los, foi um praticante da ação
direta.
Todas as experiências de cooperação são
essencialmente ação direta. Todo indivíduo
que em sua vida teve uma diferença com qualquer outra pessoa,
e diretamente procurou outras pessoas para envolvê-las na
luta, através de um plano pacífico ou não,
colocou a ação direta em prática. Greves
e boicotes são exemplos de tal ação; muitas
pessoas ainda lembram da ação das donas de casa
de New York que boicotaram os açougueiros, o que acabou
provocando a queda do preço da carne; ou do boicote à
manteiga, como uma resposta direta aos fabricantes de manteiga.
Estas ações geralmente não são levadas
a efeito simplesmente por causa de argumentos de um ou de outro,
ou em função de leis, mas é a resposta espontânea
daqueles que estão oprimidos por uma situação.
Em outras palavras, todas as pessoas acreditam, quase sempre,
no princípio da ação direta e a praticam.
Porém, a maioria das pessoas também é ativista
indireto ou político. E eles são ao mesmo tempo
ambas estas coisas. Há, todavia, um número limitado
de pessoas que evitam a ação política sob
quaisquer circunstâncias; mas não há ninguém,
nenhuma pessoa, que jamais praticou alguma forma de ação
direta. A maioria dos intelectuais tendem ao oportunismo e ao
apoio, alguns mais à direita, outros mais à esquerda,
mas sempre prontos para usar quaisquer meios quando chegar o momento.
Quer dizer, há aqueles que crêem que colocar governantes
no poder é essencialmente uma coisa errada e tola; mas
que, diante da tensão de determinadas circunstâncias,
passam a considerar isto como uma coisa sábia a fazer,
e acabam votando em algum indivíduo naquele momento em
particular. Há, também, aqueles que acreditam que,
em geral, o modo mais sábio para as pessoas adquirirem
o que querem está no método indireto da votação.
Uma vez no poder os eleitos farão leis favoráveis;
ainda que, mais adiante, no mesmo documento coloque uma greve
ocasionalmente debaixo de condições excepcionais;
e uma greve, como eu disse, é ação direta.
Eles podem também fazer como os agitadores do Partido Socialista
(que estão declinando, nos últimos tempos, para
uma postura contrária à ação direta)
fizeram no verão passado, quando chamaram a polícia
para dar segurança às suas reuniões.
Quem são esses que, pela essência das suas convicções,
são os praticantes da Ação Direta? Por que
não adotam uma postura conformista? Porque alguns não
acreditam em não-violência? Agora, não cometa
o engano de confundir ação direta com conformismo.
A Ação direta pode ser extremamente violenta, ou
tão calma quanto as suaves águas dos rios de planície.
O que quero dizer é que o real conformismo ocorre sempre
pela ação política, nunca pela ação
direta. Do ponto de vista da ação toda política
é coerção; até mesmo quando o Estado
faz coisas boas o faz através do exercício do poder,
e isto se aplica também a um clube, uma arma, ou uma prisão.
Logo após a chegada dos Quakers em Massachusetts, os Puritanos
os acusaram de «aborrecer todo mundo com seus discursos».
Os Quakers não aceitavam jurar submissão
a governo algum e nem admitiam que sua igreja pagasse impostos.
(Fazendo essas coisas eles eram praticantes da ação
direta, coisa que poderíamos chamar de ação
direta negativa.) Assim, os Puritanos, sendo ativistas políticos,
aprovavam leis para excluir, deportar, multar, encarcerar, mutilar,
e finalmente, até mesmo para enforcar os Quakers. Todavia,
os Quakers continuaram praticando suas idéias (que era
ação direta positiva); há registros na história
que depois de enforcarem quatro Quakers e de arrastarem Margaret
Brewster presa ao para-choques de um carro pelas ruas de Boston,
«os Puritanos desistiram de tentar silenciar os missionários;
a persistência e não-violência quacre acabou
prevalecendo».
Outro exemplo de ação direta no começo da história colonial, desta
vez de nenhuma forma pacífica, foi o evento conhecido como a Rebelião
de Bacon. Todos nossos historiadores certamente defendem a ação
dos rebeldes naquela ocasião, porque os rebeldes estavam certos.
Mesmo no caso da ação direta violenta contra a autoridade legalmente
constituída. Para o bem daqueles que esqueceram dos detalhes,
vamos lembrar brevemente que os plantadores de Virgínia estavam
com medo de um ataque geral pelos índios; e com razão. Adeptos
da ação política, reivindicaram que o governo reconhecesse Bacon
como líder deles, ou permitisse a convocação de
voluntários para a auto-defesa. O governador temeu que uma companhia
de homens armados constituísse uma ameaça para ele; também com
razão. Ele recusou a convocação. Ao que os plantadores
responderam com a ação direta. Eles recrutaram voluntários sem
a autorização governamental, e com sucesso se defenderam dos índios.
O governador declarou Bacon traidor; mas por sua popularidade,
o governador temeu agir contra ele. Finalmente, porém, as coisas
foram tão longe que Jamestown acabou incendiada pelos rebeldes;
e se não fosse pela morte intempestiva de Bacon, muito mais poderia
ter ocorrido. Claro que a reação foi bem terrível, o que normalmente
acontece quando uma rebelião desmorona ou é esmagada. Até mesmo
durante seu breve período de sucesso, os rebeldes sofreram muitos
abusos. Eu estou bem segura que os defensores da ação-política-do-custe-o-que-custar,
depois que a reação retomou o poder, deve ter dito: «Veja quantos
males a ação direta nos traz! Veja como o progresso da colônia
regrediu em vinte e cinco anos»; esquecendo que se os colonos
não recorressem à ação direta, seus couros cabeludos teriam sido
levados pelos índios no ano anterior, embora alguns deles acabassem
enforcados pelo governador no ano seguinte.
Nos
períodos de agitação e excitação
que precedem às revoluções, há todo
tipo de ação direta, da mais pacífica à
mais violenta; quase todos estudantes acham, por conta destes
desempenhos, que é exatamente aí que se situa o
que há de mais interessante da história dos Estados
Unidos e o que mais facilmente grava na memória.
Entre
os movimentos pacíficos, destaca-se os acordos de não-importação,
as ligas das indústrias de tecidos e os «comitês
de correspondência». A ação direta violenta
acabou por se desenvolver em função do inevitável
crescimento da hostilidade; exemplos cássicos foram o caso
da destruição das rendas estampadas e a ação
relativa aos navios carregados de chá, que quando não
eram proibidos de descarregar, os descarregavam em armazens úmidos
ou no chão do porto, como ocorria em Boston.
Em Annapolis
obrigavam os donos dos navios de chá a incendiar suas próprias
embarcações.
Todas
estas ações estão registradas em nossos livros
escolares, não de modo condenatório, não
de modo apologético, são todos casos de ação
direta contra autoridades legalmente constituídas e contra
a propriedade de bens. Menciono estes e outros casos semelhantes
para provar que a ação direta sempre foi usada,
e tem a sanção histórica dos mesmos que hoje
a reprovam.
Todo
mundo sabe que George Washington foi o líder da liga de
não-importação dos plantadores da Virgínia;
se
George Washington fosse escolhido hoje como líder de uma liga
de agricultores da Virgínia para a não-importação; provavelmente
seria levado às barras dos tribunais pela formação de tal liga;
e se ele persistisse, seria multado e processado.
Quando
a grande disputa entre o Norte e o Sul estava em ebulição,
foi novamente a ação direta que precedeu e precipitou
as ações políticas. Sem a ação
direta tais ações políticas jamais entrariam
em cena, e nem mesmo seriam contempladas. As
mentes dormentes precisaram primeiramente serem despertas por
atos diretos de protesto contra as condições existentes.
A história do movimento anti-escravidão e a Guerra Civil é um
dos maiores paradoxos da história, embora a história seja uma
cadeia de paradoxos. Politicamente falando, os Estados que possuiam
maior liberdade política eram aqueles que continham propriedades
escravistas, cada Estado era autônomo diante da interferência
dos Estados Unidos; politicamente falando, os Estados sem propriedades
escravistas apoiavam um forte governo centralizado que, conforme
os Secessionistas disseram, e com razão, tendia ao desenvolvimento
de formas ainda mais tirânicas. O que veio acontecer mais tarde.
No fim da Guerra Civil houve uma invasão ininterrupta do poder
federal em áreas antigamente restritas aos Estados. Os escravos-assalariados,
em suas lutas de hoje, estão em contínuo conflito com esse poder
centralizado contra o qual os proprietários de escravos protestaram
(com liberdade nos lábios, e tirania nos corações). Eticamente
falando, os Estados com propriedades não escravistas, de um modo
geral, representaram maior liberdade humana, ao passo que os Secessionistas
representaram o escravagismo, o preconceito e a intolerancia racial.
Mas apenas em termos gerais; quer dizer, a maioria de nortistas,
desacostumados com a presença real de negros escravos entre eles,
provavelmente julgavam a escravidão um erro; mas nunca tiveram
nenhuma grande ânsia por aboli-la. Apenas e tão somente os Abolicionistas,
e eles eram relativamente poucos, foram eticamente genuínos. Para
eles, a escravidão -- não a secessão ou a união -- era a questão
principal. Na realidade, estavam tão convencidos disso que um
número considerável deles eram favoráveis à dissolução da união,
ao mesmo tempo em que defendiam a iniciativa Nortistas na questão
da dissolução, para que o povo nortista pudesse livrar-se da culpa
de manter negros em cadeias.
Naturalmente, houve todo tipo de gente com todo tipo de temperamento
entre os defensores da abolição da escravidão. Houve Quakers como
Whittier (realmente adepto do sistema paz-custe-o-que-custar da
filosofia Quaker, favorável à abolição desde os
primeiros dias da colonização); houve ativistas políticos moderados
favoráveis à compra de escravos como forma mais barata de libertá-los;
e houve pessoas extremamente violentas que acreditavam e fizeram
todo tipo de coisas violentas.
Sobre o que os políticos fizeram, há um longo registro de «coisas-que-não-se-deve-fazer»,
um registro de trinta anos de compromissos, pechinchas, tentativas
de manter o status quo, acalmar ambos os lados quando as novas
condições exigiam que algo fosse feito, ou fingir fazer algo.
Mas «as estrelas em seu curso lutaram contra Sisera»; o sistema
estava demolindo por dentro, foram os adeptos da ação
direta que ampliaram tais fissuras tornando-as visíveis.
Entre as várias expressões da rebelião direta estavam as «organizações
secretas». A maioria das pessoas que pertenceram a tais grupos
acreditavam em ambos tipos de ação; mas por mais que subscrevessem
teoricamente o direito de maioria de agir e obrigar cumprimento
de leis, eles não chegavam a este ponto na prática. Meu avô foi
membro de uma «organização secreta»; ele ajudou muitos escravos
fugirem para o Canadá. Ele era um homem muito paciente, obediente
à lei em muitos aspectos, entretanto freqüentemente achava que
ele a respeitava por ser uma coisa distante; ele sempre conduziu
uma vida pioneira, e a lei geralmente estava longe dele, enquanto
que a ação direta sempre foi um imperativo. Seja como for, por
mais que respeitasse as leis, ele nunca teve nenhum respeito por
leis escravagistas, não importava se tais leis foram aprovadas
por uma maioria de dez contra um; ele conscientemente quebrava
cada uma que atrapalhasse sua caminhada.
Houve tempos em que as operações «secretas» exigiram a violência,
e fizeram uso dela. Lembro-me de uma velha amiga descrevendo como
ela e sua mãe ficaram acordadas durante toda a noite escondendo
um escravo fugido no porão da casa onde moravam; embora fossem
descendentes e simpatizantes de Quakers, havia uma espingarda
na mesa. Felizmente não precisaram fazer uso dela naquela noite.
Enquanto a lei do escravo fugitivo era aprovada com a ajuda de
ativistas políticos do Norte no intuito de oferecer um novo calmante
aos proprietários de escravos, os ativistas diretos resgatavam
fugitivos recapturados. Havia vários grupos: «Resgate de
Shadrach», «Resgate de Jerry», mais tarde vieram outros conduzidos
pelo famoso Gerrit Smith; que teve mais sucesso do que fracasso
em suas tentativas. Enquanto os politicos continuavam vagando
e tentando abrandar as coisas, os Abolicionistas eram denunciados
e depreciados por pacificadores ultra-extremistas, quase da mesma
forma como Wm. D. Haywood e Frank Bohn são denunciados hoje pelos
seus próprios correligionários.
Outro dia li um comunicado no Chicago Daily Socialist do
secretário local do Partido Socialista de Louisville, dirigido
ao secretário nacional, pedindo algum outro orador seguro e sensato
no lugar de Bohn, anunciado para falar. Explicando o motivo, o
Sr. Dobbs mencionou a conferência de Bohn: Se os McNamaras tivessem,
«êxito defendendo os interesses do proletariado, eles estariam
certos, da mesma maneira que John Brown estaria certo, se tivesse
êxito libertando os escravos. A ignorância foi o único crime de
John Brown, e a ignorância é o único crime dos McNamaras».
O comentário do Sr. Dobbs continua: «Defendemos enfaticamente
o que aqui declaramos. A tentativa de traçar um paralelo entre
a -- mesmo errônea -- revolta de John Brown, e os métodos secretos
e assassinos dos McNamaras, é não apenas indicativo de raciocínio
superficial, como também algo altamente danoso pelas conclusões
lógicas que podem ser tiradas de tais declarações».
Evidentemente Mr.Dobbs sabe muito pouco sobre a vida e o trabalho
de John Brown. John Brown foi um homem adepto da violência; ele
desprezaria qualquer pessoa tentasse fazê-lo agir de uma maneira
diferente. Quando alguém acredita na violência, a única
coisa que o interessa é encontrar a maneira mais efetiva de aplicá-la,
que só pode ser determinada pelo conhecimento das condições e
meios que possui. John Brown nunca temeu métodos conspirativos.
Aqueles que leram a autobiografia de Frederick Douglas e as Reminiscências
de Lucy Colman, lembram que um dos planos conduzidos por John
Brown era organizar uma rede de acampamentos armados nas montanhas
de West Virginia, Carolina do Norte, e Tennessee, enviar emissários
secretos entre os escravos para incitá-los a fugir para
estes acampamentos, e com o tempo criar as condições para despertar
uma futura revolta entre o negros. Se este plano falhou foi devido
à fraqueza do desejo por liberdade entre os escravos, mais do
que qualquer outra coisa.
Mais tarde, quando os políticos em suas infinitas divergências
inventaram uma nova proposição de como-não-fazer-nada, conhecida
como Kansas-Nebraska Act que deixou a questão da escravidão ser
determinada pelos colonos, os ativistas diretos de ambos os lados
enviaram falsos colonos aos territórios, que começaram a lutar
entre si. Os homens pró-escravidão que chegaram primeiro fizeram
uma constituição que reconhecia a escravidão e uma lei que castigava
com morte qualquer um que ajudasse um escravo a escapar; mas os
Free Soilers, que estavam um pouco mais longe, por serem oriundos
de Estados mais distantes, fizeram uma segunda constituição, e
recusaram reconhecer as leis do outro partido. E John Brown lá
estava, envolvido com todo tipo de violência, conspirativa ou
aberta; ele foi «um ladrão de cavalos e assassino», aos olhos
de ativistas decentes, pacíficos, políticos. Ninguém duvida que
ele roubou cavalos, nem enviava comunicados sobre sua intenção
de roubá-los. Ele também matou homens favoráveis à escravidão.
Ele atacou e escapou muitas vezes antes de ser finalmente detido
em Harper's Ferry. Se ele não usava dinamite, era porque dinamite
ainda não estava em voga como uma arma prática. Ele fez mais ataques
intencionais em sua vida do que os dois condenados irmãos Secretários
Dobbs poderiam fazer com seus «métodos assassinos». E história
compreende John Brown. A humanidade sabe que ele foi um homem
violento, com sangue humano nas mãos, que foi culpado de alta
traição, e enforcado por causa disso, contudo foi uma grande,
forte, e desinteressada alma, incapaz de suportar o crime assustador
que manteve 4.000.000 de pessoas como bestas estúpidas, e acreditava
que fazer guerra contra isto era algo sagrado, um dever determinado
por Deus, (John Brown era um homem muito religioso -- um presbiteriano).
É devido e por causa da ação direta dos precursores da mudança
social, sejam eles de natureza pacífica ou bélica, que a Consciência
Humana, a consciência da massa, desperta para a necessidade de
mudança. Seria muito estúpido dizer que não se pode esperar nenhum
resultado positivo da ação política; às vezes coisas boas ocorrem
por esse modo. Mas nunca até que a rebelião individual, seguida
pela rebelião da massa, forçe isto. A ação direta sempre é o clarim,
o ponto de partida, pelo qual a grande soma de indiferentes se
dá conta de que a opressão chegou a um nível intolerável.
Nós temos agora e opressão na terra -- e não apenas na terra,
mas ao longo de qualquer região do mundo que desfrute as
muitas promíscuas bênçãos da Civilização. E da mesma maneira que
na questão da escravidão dos negros, outras formas de escravidão
tem gerado ação direta e ação política. Um certo percentual de
nossa população (provavelmente um percentual bem menor que aqueles
que os políticos atingem com seus comícios) está produzindo a
riqueza material na qual todo o resto de nós vive; da mesma forma
aqueles 4.000.000 de negros escravizados sustentaram toda uma
multidão de parasitas sobre seus ombros. Eles eram camponeses
e operários.
Pelas imprevistas e imprevisíveis operações de instituições que
nenhum de nós criou, mas que já existiam quando chegamos aqui,
nós trabalhadores, que compomos a parte mais absolutamente necessária
de toda estrutura social, e que sem nossos serviços ninguém pode
comer, morar, ou vestir, somos exatamente os que menos tem oportunidade
para comer, morar, ou vestir -- sem falar de outros benefícios
sociais que supostamente nos oferecem, como educação e satisfação
artística.
Nós trabalhadores temos, de uma ou de outra forma, juntado mutuamente
nossas forças tentando melhorar nossas condições de vida; principalmente
pela ação direta, e secundariamente pela ação política. Nós formamos
Granjas, Alianças Camponesas [N.T.: no original Knights of Labor],
Associações Cooperativas, Experiências de Colonização, Associações
de Trabalhadores, Sindicatos, e a IWW (Industrial Workers of the
World). Todos organizados com a finalidade de arrancar dos senhores
da área econômica um pagamento um pouco melhor, condições um pouco
melhores, horas um pouco mais curtas; ou por outro lado resistir
contra uma redução no pagamento, contra condições piores, contra
horas mais longas de trabalho. Nenhuma dessas tentativas procurava
uma solução final à guerra social. Nenhum delas, com excessão
da IWW, reconheceu que há uma guerra social em curso, inevitável
enquanto perdurar as presentes condições legais-sociais. Nós trabalhadores
aceitamos as instituições da propriedade da forma como encontramos.
Elas foram compostas por homens comuns, com desejos de homens
comuns, e resolveram fazer coisas que lhes parecia possível e
bem razoáveis. Eles não estavam comprometidos com qualquer política
em particular quando se organizaram, mas se associaram para a
ação direta por iniciativa própria, tanto na forma positiva como
na forma defensiva.
Sem dúvida houve e há em todas estas organizações, membros que
olharam além das demandas imediatas; que olharam as coisas do
ponto de vista do desenvolvimento contínuo das forças agora em
operação para provocar rapidamente as condições diante das quais
é impossível que a vida continue a mesma, e contra a qual protestem,
e protestem violentamente; não há outra alternativa senão
essa; ou isso ou a morte inevitavel; mas não há nada na natureza
da vida que se renda sem luta, assim, não há porque morrer sem
lutar. Vinte e dois anos atrás eu conheci o pessoal da Aliança
Camponesa que dizia coisas assim, Associações de Trabalhadores
que diziam o mesmo, Sindicalistas que diziam o mesmo. Eles pretendiam
objetivos maiores que esses e criaram organizações para alcançá-los;
mas eles tiveram que aceitar os membros como eles eram, e tentaram
na medida do possível fazê-los compreender como as coisas funcionavam.
Que eles poderiam ter preços melhores, salários melhores, condições
menos perigosas, menos tirânicas, horas mais curtas de trabalho.
Na fase do desenvolvimento quando estes movimentos foram iniciados,
os trabalhadores do campo não viram a relação da
luta deles com a luta dos trabalhadores nas fábricas ou nos transportes;
nem estes últimos, por sua vez, perceberam qualquer relação
deles com o movimento dos camponeses. Essas coisas bem poucos
conseguiram compreender. Eles ainda têm que aprender que há uma
luta comum contra aqueles que se apropriaram da terra, do dinheiro,
e das máquinas.
Desgraçadamente as grandes organizações camponesas se fragmentaram
em uma estúpida luta pelo poder político. Elas tiveram bastante
êxito conquistando o poder em certos Estados; mas os tribunais
pronunciaram suas leis inconstitucionais, e esse foi o cemitério
de todas suas conquistas políticas. Seu programa original era
construir seus próprios silos, e armazenar seus produtos, preservando-os
do mercado até que pudessem escapar do especulador. Também, organizar
bolsas de mão-de-obra, emitir notas de crédito em produtos depositados
para troca. Se tivessem aderido a este programa de ajuda mútua
dirigida, poderiam, até certo ponto, durante um tempo pelo menos,
dispor de uma ilustração de como o gênero humano poderia livrar-se
do parasitismo dos banqueiros e dos intermediários. Claro que
tudo isso seria subvertido no final -- a menos que revolucionassem
as mentes dos homens, por exemplo, forçando a subversão do monopólio
legal da terra e do dinheiro -- mas pelo menos serviria a um grande
propósito educacional. Sobre como «sacrificar pouco para ganhar
muito» em vez de desintegrar-se em futilidades.
As Alianças Camponesas acabaram relegadas a uma relativa insignificancia,
não por causa de seu fracasso no uso da ação direta, nem por causa
do seu envolvimento com políticos, que era pequeno, mas principalmente
porque era uma massa heterogênea de trabalhadores que não conseguiram
associar efetivamente seus esforços.
Enquanto as Alianças Camponesas afundavam, os Sindicatos cresciam
fortes, e continuaram lentamente seu crescimento, e tenazmente
aumentavam em poder. É verdade que às vezes esse fluxo oscilava;
que vez por outra houve recuo; que grandes organizações centralizadas
foram formadas e novamente dispersadas. Mas em geral os sindicatos
constituíram um crescente poderio. E isso ocorreu porque, diante
de sua pobreza, foi o meio pelo qual uma certa seção de trabalhadores
pôde juntar forças para enfrentar diretamente seus patrões, e
conseguir para si alguma porção daquilo que queriam -- se não
ditavam as condições teriam pelo menos que tentar conseguir isso.
A greve era a arma natural que possuiam, uma arma que eles mesmos
forjaram. Em noventa por cento dos casos é o sopro direto da greve
que faz o patrão tremer de medo. (Claro que há ocasiões quando
ele anseia por uma, mas isso é incomum). A razão deste medo da
greve não é tanto porque ele acha que não pode fazer nada contra
ela, mas apenas e simplesmente porque ele não quer uma interrupção
em seus negócios. O patrão ordinário não teme coisas como «voto
consciente da classe trabalhadora»; há inúmeros locais onde você
pode falar o dia todo sobre Socialismo ou sobre qualquer outro
programa político; mas se você começa a falar sobre Sindicalismo
pode esperar ser expulso em seguida ou na melhor das hipóteses
ser convidado a calar a boca. Por que? Não porque o chefe seja
tão sábio a ponto de saber que a ação política é um pântano onde
o trabalhador se enlameia, ou porque ele percebe que aquele Socialismo
político rapidamente está se tornando um movimento de classe-média;
não. Ele acha que o Socialismo é uma coisa muito ruim; mas que
é também uma bela porta de saída! Mas ele sabe que se os trabalhadores
de sua fábrica forem sindicalizados, ele terá dificuldades imediatas.
As mãos desses trabalhadores serão rebeldes, ele será forçado
a gastar dinheiro para melhorar as condições de trabalho, ele
terá que manter trabalhadores que detesta, e no caso de greve
ele pode esperar danos aos seus equipamentos e edifícios.
É dito com freqüencia, e repetidamente como os papagaios fazem,
que os patrões são uma «classe-consciente», que eles estão unidos
em torno de seus interesses de classe, e que estão dispostos a
sofrer qualquer tipo de perda pessoal em defesa desses interesses.
Nada disso é verdade. A maioria dos empresários é exatamente como
a maioria dos trabalhadores; eles se preocupam o tempo todo mais
com suas perdas ou ganho individuais do que com os ganhos ou perdas
de sua classe. E é sua própria perda individual que o patrão vê,
quando ameaçado por um sindicato.
Agora todo mundo sabe que uma greve de qualquer tamanho significa
violência. Não importa a preferencia ética pela paz que alguém
possa ter, ele sabe que não estará calmo. Se for uma greve de
telégrafos, significa arames cortados e postes derrubados, e infiltrar
falsos fura-greves para destruir os instrumentos. Se for uma greve
de metalúrgicos, significa dar porrada em fura-greves, quebrar
janelas, descalibrar bitolas, e arruinar peças caras juntamente
com toneladas e toneladas de material. Se for uma greve de mineiros,
significa destruir trilhos e pontes, e explodir fábricas. Se for
uma greve de trabalhadores de uma tecelagem ou artigos de vestuário,
significa a ocorrência de incendios «acidentais», pedradas em
janelas aparentemente inacessíveis, ou possivelmente uma tijolada
na cabeça do dono da fabrica. Se for uma greve de montadora de
automóveis, significa remover esteiras ou obstruí-las com resíduos
sólidos ou líquidos, com peças pesadas ou robôs, significa carros
esmagados ou incinerarados e interruptores sabotados. Se for uma
greve de um sistema federado, significa máquinas «mortas», máquinas
desreguladas, fretes descarrilados, e trens bloqueados. Se é uma
greve na área da construção civil, significa dinamitar estruturas.
E sempre, em toda parte, em todo o tempo, lutas de seguranças
e fura-greves contra grevistas e simpatizantes de grevistas, entre
Gente e Polícia.
No lado dos patrões, significa holofotes, cercas elétricas, vigilantes,
cárcere privado, detetives e agentes provocadores, seqüestro violento
e deportação, e todo dispositivo que eles podem conceber para
a proteção direta, além de ultimatos da polícia, milícias, polícia
distrital, estatal, e tropas federais.
Todo o mundo conhece estas coisas; todo mundo sorri quando os
funcionários do sindicato apelam aos trabalhadores para
que sejam pacíficos e obedientes à lei, porque todo mundo sabe
que estão mentindo. Eles sabem que a violência será usada, secreta
e abertamente; e eles sabem que será usada porque os grevistas
não podem agir de outro modo, sem imediatamente serem derrotados.
Nem por isso eles podem ser acusados de perder a razão por usarem
esses recursos violentos. As pessoas entendem em geral que eles
fazem estas coisas pela lógica cruel de uma situação que eles
não criaram, mas que os força a estes ataques pelo sucesso de
sua luta pela vida ou para evitar descer ao poço sem fundo da
pobreza, para evitar que a Morte os encontre nos ambulatórios
dos asilos, na sargeta, ou na lama. Esta é a alternativa terrível
que os trabalhadores estão enfrentando; e é isto que faz com que
pessoas integralmente propensas à cordialidade -- homens que desviam
do caminho para ajudar um cão ferido, ou trazem um gatinho
perdido para casa e o alimenta, ou pisam com cuidado para evitar
esmagar um pintinho -- recorrem à violência contra membros de
sua própria raça. Eles sabem, porque os fatos lhes ensinaram,
que este é o único caminho para a vitória, se eles querem mesmo
vencer. A coisa mais absurda e totalmente irrelevante que alguém
pode dizer ou fazer quando se aproxima na intenção de apoiar ou
ajudar um grevista que está lidando com uma situação imediata,
é propor «nas eleições a gente dá o troco!» quando a próxima eleição
está a uma distância de seis meses, um ano, ou dois anos.
Infelizmente a pessoa que conhece melhor como usar a violência
na guerra sindical não pode tomar a palavra e dizer: «Em tal dia,
em tal lugar, tal e qual ação específica será feita, o que resultará
em que tal e qual concessão será conquistada, ou tal e qual patrão
capitulará». Fazer isso tiraria sua liberdade e seu poder para
a luta. Então aqueles que melhor conhecem a arte da greve têm
que permancer em silêncio em seu cantinho, e deixar a parte do
discurso com os tagarelas. É a ação concreta, não o discurso,
que dá clareza ao ponto de vista das pessoas.
Nas últimas semanas houve uma enchurrada de tagarelices. Oradores
e escritores -- honestamente convencidos (eu acho) de que a ação
política e apenas a ação política pode dar a vitória aos trabalhadores
-- tem denunciado o que eles chamam de «ação direta» (a que eles
realmente querem dizer é violência conspirativa [ou terrorismo])
como a autora de danos incalculáveis. Oscar Ameringer, por exemplo,
disse recentemente em uma reunião em Chicago que o bombardeio
de Haymarket conduziu o patamar da luta pelas 8 horas para vinte
e cinco anos atrás, argumentando que quem teve sucesso foi a bomba
não o movimento. É um grande engano. Ninguém pode medir exatamente
em anos ou meses o efeito de um estímulo ou de uma reação. Ninguém
pode provar que o movimento pelas oito-horas sairia vitorioso
vinte e cinco anos atrás. Nós sabemos que a jornada de oito-horas
foi legalmente estabelecida em Illinois em 1871 pela ação política,
e permaneceu como lei morta. Que a ação direta dos trabalhadores
ganharia essa parada, isso não pode ser provado; mas pode ser
demonstrado que fatores bem mais potentes que a bomba de Haymarket
atuaram contra a vitória dos trabalhadores nessa batalha pela
jornada de oito horas. Por outro lado, se a influencia reativa
da bomba foi realmente tão poderosa, deveríamos naturalmente esperar
que as condições de trabalho e de organização sindical seriam
piores em Chicago do que nas cidades onde nada disso aconteceu.
Pelo contrário, por mais ruins que sejam, as condições gerais
de trabalho são melhores em Chicago que nas demais cidades grandes,
e o poder dos sindicatos desenvolveu-se mais lá do que em qualquer
outra cidade americana com excessão de São Francisco. Assim se
temos que tirar qualquer conclusão sobre a influência da bomba
de Haymarket, é bom lembrar destes fatos. Pessoalmente eu não
acho que sua influência no movimento operário, como tal, foi assim
tão grande.
O mesmo ocorre com o presente frenesi sobre a violência. Nenhum
fundamento foi alterado. Dois homens foram presos pelo que fizeram
(vinte e quatro anos atrás eles seriam enforcados pelo que não
fizeram); alguns poucos ainda podem ser presos. Mas as forças
da vida continuarão se revoltando contra as cadeias econômicas
que as prendem. Essa revolta não cessará nunca, não importa se
homens de papel votem ou deixem de votar, enquanto essas cadeias
não forem arrebentadas.
Como as cadeias serão quebradas?
Os ativistas políticos nos dizem que as cadeias econômicas só
serão quebradas pela ação dos partidos de trabalhadores no poder
mediante eleições; o voto colocará os meios de produção e de vida
nas mãos do proletariado; que também assumirá o comando das florestas,
das minas, das fazendas, das bacias hidrográficas, das fábricas,
dos silos; da mesma forma, terá sob seu controle o poder militar
para defender seus interesses, todo esse domínio será e
estará a serviço do povo.
E depois?
Depois, haverá paz, criatividade, obediência à lei, paciencia,
e sobriedade (como Madero disse aos peões mexicanos após vendê-los
a Wall Street)! Até mesmo se alguns de vocês forem privados de
direitos civis ou de privilégios, não é necessário revoltar-se
nem mesmo contra essas coisas, pode deixar que «o partido tomará
as devidas providências».
Bem, eu já declarei que, ocasionalmente, algumas coisas boas podem
resultar da ação política -- e não necessariamente da ação de
partidos proletarios. Mas estou plenamente convencida de que cada
benefício alcançado é mais do que anulado pelo malefício que traz
a tiracolo; também estou plenamente convencida de que, ocasionalmente,
cada malefício resultante da ação direta é mais do que
anulado pelo benefício que traz a tiracolo.
Quase todas as leis que foram moldadas originalmente com a intenção
de beneficiar os trabalhadores, viraram armas armas nas mãos dos
seus inimigos, ou se tornaram letra morta a menos que os trabalhadores
pelas suas organizações obriguem diretamente sua observância.
De forma que no final das contas, e de todas as maneiras, é na
ação direta que devemos depositar nossa confiança. Como exemplo
da ineficácia de uma lei, basta observar a lei antitruste que
supostamente beneficiava o povo em geral e o proletariado em particular.
Cerca de duas semanas depois que a lei entrou em vigor, 250 líderes
sindicais foram citados para responder processo acusados de truste.
Esse foi o efeito da lei aos grevistas de Illinois.
Mas os malefícios provocados pela confiança na ação indireta são
bem maiores do que se pode imaginar. O principal malefício é que
destrói a iniciativa, extingue o espírito rebelde de cada um,
ensina pessoas a confiar em outra pessoa para fazer para eles
o que eles deveriam fazer por si próprios; finalmente torna
orgânica a idéia anômala de que aglomerar uma multidão inerte
até que uma maioria seja obtida fará com que -- por uma estranha
magia daquela maioria -- aquela inercia seja transformada em energia.
Quer dizer, pessoas que perderam o hábito de lutar por si mesmas
enquanto indivíduos, pessoas que se submetem a toda injustiça
esperando que uma maioria seja formada, são metamorfoseadas em
humanos de alto poder explosivo por um mero processo de empacotamento!
Eu concordo totalmente que as fontes da vida, e toda a riqueza
natural da terra, e as ferramentas necessários à produção cooperativa,
tem que estar livremente acessíveis a todos. Tenho certeza de
que o sindicalismo precisa alargar e aprofundar seus propósitos,
ou será extinto; estou segura de que a lógica da situação os forçará
a ver isto gradualmente. Eles têm que aprender que o problema
dos trabalhadores nunca pode ser resolvido espancando fura-greves,
sua própria política de limitar seus sócios cobrando altas taxas
e outras restrições ajuda criar fura-greves. Eles têm que aprender
que o curso do crescimento não está tanto em salários mais altos,
mas em jornadas mais curtas de trabalho que os permitirão a aumentar
a quantidade de membros, a chamar qualquer pessoa disposta a entrar
no sindicato. Eles têm que aprender que se eles querem mesmo ganhar
batalhas, todos os trabalhadores aliados têm que agir em conjunto,
e agir depressa (sem avisar aos patrões), e resguardar sua liberdade
de entrar em greve quantas vezes for necessário. E finalmente
eles têm que aprender (quando hover uma organização completa)
que jamais ganharão nada permanente a menos que lutem, não por
conquistas parciais, mas por conquistas totais -- não por um salário,
não por benefícios secundários, mas pela conquista de todas as
riquezas naturais do planeta. E procedam à expropriação direta
de tudo!
Eles têm que aprender que seu poder não está na força do seu voto,
mas na sua habilidade de parar a produção. É um grande engano
supor que os assalariados constituem a maioria dos eleitores.
Os assalariados estão hoje aqui e amanhã acolá, e isso impede
um número grande deles de votar; uma grande porcentagem deles
neste país são estrangeiros sem direito a voto. A prova mais patente,
e os líderes Socialistas sabem disso, é que os sindicatos estão
comprometendo cada ponto de seu programa visando angariar apoio
da classe empresarial, e do pequeno investidor. Os documentos
de seus programas proclamam que seus acordos foram assegurados
por compradores de títulos de Wall Street, e que eles igualmente
estariam prontos a comprar títulos de socialistas de Los Angeles
da mesma forma que compram de administradores capitalistas; e
que a atual administração de Milwaukee foi benéfíca ao
pequeno investidor; seus periódicos asseguram aos seus leitores
naquela cidade que nós não precisamos ir até grandes lojas de
departamentos para comprar -- basta comprar de Fulano de Tal na
Avenida Milwaukee, que ficaremos totalmente satisfeitos como se
estivéssemos comprando em uma «grande instituição empresarial».
Em suma, eles estão fazendo um desesperado esforço para ganhar
o apoio e prolongar a existencia daquela classe-média que a economia
socialista diz estar em frangalhos, porque sabem que não podem
alcançar maioria sem eles.
O máximo que um partido de trabalhadores pode conseguir, supondo
que seus políticos permaneçam honestos, seria formar uma forte
facção no parlamento -- somando votos de vários lados -- para
obter certos paliativos políticos ou econômicos.
Mas aquilo que a classe trabalhadora pode fazer, na medida em
que toma a forma de uma sólida organização, é mostrar à classe
proprietária, por uma parada súbita de todo trabalho, que toda
estrutura social está sobre seus ombros; e que as propriedades
e riquezas da classe empresarial são absolutamente inúteis para
eles sem a atividade dos trabalhadores; tal protesto, tal golpe,
direto no coração do sistema da propriedade, ocorrerá
periodicamente, continuamente, até que a coisa inteira seja abolida
-- e tendo mostrado sua eficácia, procederá a expropriação.
«E quanto ao poder militar?», diz o ativista político;
«temos que conquistar poder político, ou o exército será
usado contra nós!»
Contra uma real Greve Geral, o exército não pode fazer nada. Oh,
ou melhor, se você tiver um Socialista como Briand no poder, ele
pode declarar os trabalhadores «funcionários públicos» e mandar
o exército contra eles! Mas contra o sólido muro de uma massa
de trabalhadores parados, nem Briand poderia derrubá-lo.
Enquanto isso, até este despertar internacional, a guerra entre
as classes continuará seguindo seu curso, apesar de toda essa
manifesta histeria de pessoas bem-intencionadas mas que não compreendem
a vida e suas necessidades; apesar do patente temor dos líderes
acovardados; apesar de toda vingança reacionária que pode ser
perpretada; apesar de todo capital que os políticos recebem da
situação. A luta de classes continuará seu curso porque a Vida
anseia por viver, mesmo com a Propriedade negando sua liberdade
para viver; a Vida não se submeterá.
Nem deve se submeter.
Seguirá seu curso até aquele dia quando uma Humanidade que se
auto libertou puder cantar o Hino ao Homem de Swinburne.
«Glória
ao Homem nas alturas, |
Ao
Homem, Senhor das coisas». |
v
v v
voltar: http://www.oocities.org/projetoperiferia/Numero7.htm
Traduzido pelo Coletivo
Periferia
http://www.oocities.org/projetoperiferia
railtong@g.com