Textos
Ausência
de Religião
Torna as Pessoas Melhores?
Comunalismo
Será
Que Deus Existe?
Hierarquia
e Religião
Justiça
Social
Evangelho
e Anticapitalismo
Possessão
Ideológica
Cristandade
Sem
Religião
Igreja
Tradicional
Atraso Espiritual e Charlatanismo
A
Árvore da Fé Cristã
Evangelho
Segundo Marcos
A
Bíblia Sagrada
A
Realização e a Supressão da Religião -- Uma Crítica à Crítica
Livros
Eletrônicos
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«Jesus os chamou e disse: 'Como vocês sabem, os reis e
os homens importantes da terra dominam sobre o povo. Porém
entre vocês é diferente [...] '»
Marcos 10:42,43. [Roma,
~ 70 A.D.]
Eventos
Poderes, Principados e Igreja: Cristianismo e Anarquismo
21 de junho, 2003, Cidade de Nova
Iorque,
Friends Meetinghouse,
15th Street and Rutherford Place
(entre 2ª e 3ª Avenidas)
Contato: conferencenyc@jesusradicals.com
Tanto o mundo como nossas igrejas
estão quebrados e feridos por poderes que procuram fragmentar,
dividir, dominar, alcançar o que ainda resta de humanidade,
e finalmente destruir nossas comunidades. Em sua primeira conferência,
«jesusradicals» espera responder ao desafio de permanecer um corpo
social diante dos obstáculos sociais que se nos apresentam.
Através das conferências,
discussões e conversas à mesa (comendo juntos) exploraremos
os recursos disponíveis que possibilitem a construção
de um corpo social distinto que convide todos à união,
um corpo capaz não apenas de resistir aos poderes, mas
também de rivalizá-lo,
Será dedicada uma especial
atenção a temas como:
(1) Quais poderes e principados estão subvertendo nossa
igreja e escravizando a sociedade?;
(2) Como confrontá-los e quebrar-lhes a força?
Oradores confirmados
e discussões:
Inscrição:
9:00-9:30
1ª Discussão (9:30):
Bíblia e Anarquismo: Mitos Que nos Ligam ou Nos Separam.
Por Andy Baker. Esta sessão tratará sobre poder,
nação-estado, e os mitos usados, retirados especialmente
da Bíblia, para legitimá-los.
2ª Discussão (11:00):
Alternativas Viáveis ao Capitalismo e à Nação-Estado.
Por Wayne Price da Federação Nordeste dos Anarco-comunistas
[NEFAC-USA]. Esta sessão discutirá a imagem negativa
que as pessoas tem sobre anarquismo. Haverá um foco em
alternativas viáveis ao capitalismo e ao estado, como cooperativas
e mediação.
Almoço: 12:30-2:00
na «Casa de Menno»
3ª discussão (2:00 pm):
Recuperar ou Punir?. Fred Boehrer, PhD Syracuse Catholic Worker
Syracuse, e Dennis Sullivan, Ph.D., autor e professor de Justiça
Criminal em SUNY-Albany, NY). Esta sessão focalizará
os esforços na construção de uma sociedade
baseada na restauração e não na punição.
4ª Discussão (3:30 pm):
Corpo Social Cristão versus Nação-Estado.
Pete Mommsen discutirá a visão comunal convergente
do anarquismo e do cristianismo, compartilhando trabalho, recursos
e companheirismo, sem coerção ou dominação.
A conferência focalizará estes temas e a pergunta:
«Como realizar essa visão hoje?». Pete abordará
autores como Blumhardts, Eberhard Arnold, e Gustav Landauer.
Domingo, 22 de junho de 2003 às
17 horas. Todos estão convidados ao culto com os Camaradas
Menonitas de Manhattan na Casa de Reunião, onde Rob Burns,
estudante do Seminário Teológico de Westminster,
nos ajudará a explorar estes temas durante o culto. Para
mais informações e registro visite http://conferencenyc.jesusradicals.com.
O Registro é necessário para que possamos prover
um almoço adequado para todos.
Na esperança de vê-lo
nesse Encontro!
Andy Baker
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Livros Eletrônicos
História
As Guerras Camponesas
«Na
Guerra Camponesa de 1523-1525 ( a Revolta Camponesa de Thomas Münzer)
os mais radicais eram os anabatistas. Em matéria de religião
eram extremamente individualistas, rejeitando qualquer sacerdócio
e acreditando que Deus continuava a se comunicar diretamente com
os eleitos. Do ponto de vista social, a seita anabatista era composta
por camponeses empobrecidos, por aprendizes tecelões, ou
seja, pelas camadas mais oprimidas da sociedade alemã. Seu
principal líder era Thomas Münzer, que pregava a abolição
da propriedade privada. Os camponeses e os aprendizes das cidades
revoltaram-se contra o domínio da grande e pequena nobreza,
dos sacerdotes e dos cidadãos ricos das cidades.
Os
camponeses revoltosos queriam que lhes fossem devolvidas as terras
comunais, usurpadas pelos senhores e a diminuição
do tributo em espécie e em trabalho. Na Alemanha Central,
o movimento tornou-se tipicamente revolucionário, com os
camponeses exigindo a abolição da servidão
e a posse comunitária da terra. Em toda a Alemanha eram queimados
os conventos e os castelos da nobreza feudal. Em algumas regiões,
as cidades auxiliaram o movimento camponês.
A
falta de união e organização nas forças
camponesas facilitou o seu esmagamento pela grande nobreza, aliada
aos cavaleiros, aos burgueses, à igreja luterana e à
igreja católica. O próprio Lutero incentivou o esmagamento
dos camponeses. Mais de 100 mil foram mortos e Münzer foi decapitado».
[História Geral - Antônio Pedro e Florival Cáceres
- Ed.Moderna].
Mais
sobre Thomas Münzer em
http://www.oocities.org/projetoperiferia/comunalismo3.htm
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Passagens
anti-hierarquia (Novo Testamento):
«Ai de vocês, que vivem estudando religião
e escondem do povo a verdade...» Lucas 11:52. [Éfeso,
~ 90 A.D.]
«...Todos
vocês estão no mesmo nível como irmãos...
Não sejam chamados de 'Mestre'... Vocês parecem ser
santos,... enquanto estão expulsando as viúvas das
casas delas... Vocês vão a qualquer distancia para
converter alguém, e depois fazem a mesma pessoa duas vezes
mais digna do inferno do que vocês mesmos... Guias cegos!...
Fingidos! ... se esquecem das coisas mais importantes – a justiça...
Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Vocês são
tão cuidadosos em limpar a parte de fora da taça,
mas o interior esta imundo de exploração dos
outros e de cobiça.... Limpem primeiro o interior da taça,
então ela inteira ficara limpa... Vocês são
como belos túmulos – cheios de ossos de homens mortos, de
podridão e sujeira... vocês procuram parecer
homens santos, mas por baixo desses mantos de bondade, estão
corações manchados de toda espécie de fingimento...».
Mateus 23:8, 10, 14, 16, 23 – 28. [Antioquia, ~ 80 A.D.]
«Portanto
Jesus os chamou e disse: 'Como vocês sabem, os reis e os homens
importantes da terra dominam sobre o povo. Porém entre vocês
é diferente... '» Marcos 10:42,43. [Roma,
~ 70 A.D.]
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Passagens anti-hierarquia (Antigo Testamento):
«‘Escolha um rei para nós; veja que todas as outras
nações têm seu rei’, disseram os chefes de Israel.
Samuel não ficou contente com esse pedido de um rei, e orou
ao Senhor pedindo conselho. ‘Faça o que eles pedem’, respondeu
o Senhor, ‘pois é a Mim que rejeitam, e não a você
– eles não querem mais que Eu seja o Rei deles.... Faça
conforme eles pedem, mas também não deixe de avisar
a eles, com toda seriedade o que é ter um rei!’. Assim, Samuel
contou ao povo o que o Senhor tinha dito: ‘Se vocês insistem
em ter um rei, ele vai convocar os seus filhos, e esses rapazes
terão de correr na frente dos carros do rei; alguns serão
obrigados a chefiar os soldados do rei na guerra, enquanto outros
trabalharão como escravos; serão forçados a
cultivar os campos do rei, e fazer as colheitas, sem receber pagamento;
terão de fabricar armas para os soldados e equipamento para
os carros de combate. Ele vai tomar suas filhas e obrigará
essas moças a cozinharem para ele, fabricar pão e
perfumes. Tomará de vocês o melhor dos seus campos
e das suas plantações de uvas e de oliveiras e dará
essas propriedades aos amigos dele. Tomará a décima
parte das colheitas de vocês, e dará aos seus amigos
prediletos[...]Vocês terão de entregar a ele a décima
parte dos seus rebanhos, e serão escravos do rei. Vocês
vão chorar lágrimas amargas por causa deste rei que
estão exigindo, mas o Senhor não virá ajudar
vocês’. Porém o povo não quis atender ao aviso
de Samuel. ‘Mesmo assim, ainda queremos um rei’, eles disseram,
‘porque desejamos ser iguais às nações ao nosso
redor. Ele nos governará, e nos conduzirá à
guerra’. Samuel contou ao Senhor o que o povo havia dito, e o Senhor
respondeu novamente: ‘Então faça conforme eles pedem,
e dê a eles um rei’ ». I Sm 8:1-22. [ ~ VI A.C.]
«Oh
Israel! Vocês produziram a sua própria desgraça!.
Só Eu poderia salvá-los! Onde está o seu rei?
Por que não pedem ajuda a ele? Onde estão as autoridades
do país? Vocês pediram um rei e príncipes! Agora,
eles que tratem de salvá-los». Oséas 13:9,10;
«... os Sacerdotes formam turmas de assassinos na estrada
de Siquém...» Oséas 6:9; «o
povo de Israel ficará muito tempo sem um rei ou um príncipe,
sem altar, sem templo, sem sacerdotes e sem ídolos»
Oséas 3:4; «ouçam isto, sacerdotes e líderes
de Israel! Escutem, membros da família real! Vocês
estão condenados porque enganaram o povo...» Oséas
5:1;
«...
sua religião não passa de um monte de leis feitas
por homens, que aprenderam de tanto repetir» Isaías
29:15;
«Vão
desaparecer os soldados, os juízes, os profetas verdadeiros
e os falsos, e os velhos cidadãos; os oficiais do exército,
os comerciantes, os advogados, os mágicos e os feiticeiros.
Os reis de Israel serão como crianças - suas leis
e suas ordens serão tolices de criança.» Isaías
3:2-4;
«Não
há nada que Eu odeie tanto quanto uma religião fingida»
Isaías 2:13;
«Acabem
com esse barulho de suas canções; eles são
um barulho que incomoda meus ouvidos. Não ouvirei suas músicas,
por mais belas que sejam. O que Eu quero é a justiça
correndo como um rio. Quero ver uma correnteza de justiça
e retidão». Amós 5:23, 24. [~ Século
VIII A.C.]
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Passagens anti-capitalismo (Novo Testamento):
«...eram um só na mente e no coração,
e ninguém pensava que aquilo que possuía era seu próprio;
todo mundo estava repartindo o que tinha...» Atos 4:32;
«Todos
os crentes se reuniam constantemente e repartiam tudo uns com os
outros, vendendo suas propriedades e dividindo com os que tinham
necessidade. Regularmente eles adoravam juntos no templo todos os
dias, reuniam-se em grupos pequenos nas casas para a Comunhão,
e participavam das suas refeições com grande alegria
e gratidão, louvando a Deus. A cidade inteira tinha simpatia
por eles, e cada dia o próprio Senhor acrescentava à
igreja todos os que estavam sendo salvos». Atos 2.44-47;
«Não
se preocupem por terem ou não bastante comida para comer
ou roupas para vestir. Porque a vida é muito mais do que
apenas comida ou roupa. Olhem para os corvos - eles não plantam,
não colhem, nem têm depósitos para guardar seu
alimento, e ainda assim passam bem - pois Deus cuida deles. E vocês
valem muito mais para Deus que uma ave! Além disso, qual
é a vantagem de preocupar-se? Que bem faz? Isso aumentará,
em um dia só que seja, a vida de vocês? Claro que não!
E se a preocupação não pode nem mesmo fazer
coisas tão pequenas, qual é a vantagem de preocupar-se
por coisas maiores? Olhem para os lírios! Eles não
trabalham nem tecem, e Salomão em toda sua glória
não se vestiu tão bem como eles. E se Deus dá
esta roupagem para as flores que hoje estão aqui e amanhã
desaparecerão, vocês não acham que Ele proverá
roupa para vocês, seus incrédulos? E não se
preocupem com o que comer e o que beber; não se preocupem
com nada, porque Deus proverá tudo para vocês. A humanidade
cansa-se por causa da comida de cada dia, mas o Pai celeste conhece
as necessidades de todos. Ele sempre dará tudo o que vocês
precisam dia a dia, se procurarem em primeiro lugar ser fiéis
ao Reino de Deus (...) Vendam o que têm e dêem aos que
estão em necessidade. Isto aumentará seus tesouros
no céu, onde não há ladrão para roubar,
nem traça para destruir. Onde estiver o seu tesouro, ali
estará também o seu coração e ainda
seus pensamentos.» Lucas 12:23-34, [Éfeso,
~ 90 A.D.]
«Pois
escutem! Ouçam os clamores dos trabalhadores que voces enganaram
no pagamento. Os clamores deles chegaram até os ouvidos do
Senhor dos Exércitos. Vocês engordaram seus anos aqui
na terra divertindo-se, satisfazendo todos os seus caprichos, e
agora seus corações engordados estão prontos
para a matança. Vocês condenaram e mataram homens bons
que não tinham nenhuma força para se defenderem contra
vocês.» Tiago 5:4-6
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Passagens anti-governo (AT):
«'Escolha um rei para nós; veja que todas as nações
têm seu rei', disseram os chefes de Israel. Samuel não
ficou contente com esse pedido de um rei... Se vocês insistem
em ter um rei, ele vai convocar os seus filhos, e esses rapazes
terão de correr na frente dos carros do rei, alguns serão
obrigados a chefiar soldados do rei na guerra, enquanto outros trabalharão
como escravos; serão forçados a cultivar os campos
do rei, e fazer colheitas, sem receber pagamento; terão de
fabricar armas para os soldados e equipamento para os carros de
combate. Ele vai tomar suas filhas obrigará essas moças
a cozinharem para ele, fabricar pão e perfumes. Tomará
de vocês o melhor de seus campos e das suas plantações
de uvas e de oliveiras e dará essas propriedades aos amigos
deles. Tomará a décima parte das colheitas de vocês,
e dará aos seus amigos prediletos... Vocês vão
chorar lágrimas amargas por causa deste rei que estão
exigindo... Porém o povo não quis atender o aviso
de Samuel. 'Mesmo assim, ainda queremos um rei', eles disseram,
'porque desejamos ser iguais às nações ao nosso
redor...'» I Samuel 8:5-6, 11-15, 18-19. [~ Século
VI A.C.]
«Os
primeiros a ser castigados serão os velhos e os príncipes,
que exploraram o povo. Encheram os bolsos com o que roubaram de
gente pobre e humilde» Isaías 3:14; «A minha
justiça será o prumo e a régua com que Eu medirei
o muro que vocês construíram: ele parece bom, mas será
derrubado por uma chuva de pedras» (Isaías 29:17);
«O
rei se alegra com a maldade dos habitantes de seu país, e
os príncipes riem das mentiras que eles contam» Oséias
7:3; «Os
líderes de Judá se tornaram ladrões da pior
espécie...» (Oséas 5:10); «...O
governador e o juiz exigem gratificações 'por fora'.
A pessoa rica paga o que eles pedem e diz a quem devem condenar.
A justiça é torcida nos planos que fazem. O melhor
destes homens fere como se fosse um espinho. O mais correto é
tão torto quanto uma cerca de espinheiros!...» Miquéias
7:3,4 [~
Século VIII A.C.]
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Passagens anti-bélicas (AT):
«Todas as armas das nações serão
transformadas em ferramentas úteis, pás, arados, e
enxadas. Nunca mais se falará de guerra, não haverá
mais quartéis ou escolas militares» Isaías 2:4;
«...
Os homens derreterão suas espadas e farão arados,
das suas lanças farão podadeiras. As nações
não lutarão mais entre si, porque as guerras acabarão.
Haverá paz universal e todas as escolas militares e quartéis
serão fechados. Todos viverão tranqüilamente
em suas próprias casas, em paz e prosperidade porque não
haverá nada a temer.» (Miquéias 4:3,4).
[~
Século VIII A.C.*]
* fonte de pesquisa: «Como nos veio a Bíblia»,
Edgar J. Goodspeed, 1968, Imprensa Metodista
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Existem anarquistas cristãos?
Sim, existem. A maior parte dos anarquistas se opõem
tanto à religião como à idéia de
Deus como uma invenção anti-humana e uma justificação
para o autoritarismo e escravidão, porém, muitos
crentes em religião tem pautado suas idéias em
conclusões anarquistas. Como todos anarquistas, esses
religiosos anarquistas combinam a oposição ao
Estado com uma oposição crítica à
propriedade privada e à desigualdade. Em outras palavras,
o anarquismo não é necessariamente ateísta.
Segundo Jacques Ellul, «de acordo com os pensadores cristãos,
o pensamento bíblico conduz diretamente ao anarquismo,
a única posição 'política anti-política'»
. [citado por Peter Marshall, Demanding the Impossible, p. 75].
Existem variados tipos de anarquismo inspirados por idéias
religiosas. Conforme Peter Marshall relata, a «primeira
expressão clara de uma sensibilidade anarquista pode
ser encontrada nos taoístas da velha China por volta
do sexto século AC» e no «Budismo, particularmente
em sua forma Zen, ... teve... um forte espírito libertário.»
[Op. Cit., p. 53, p. 65] Alguns combinam idéias anarquistas
com influências pagãs e espiritualistas. Contudo,
o anarquismo religioso atualmente tomou a forma de anarquismo
cristão, no qual vamos nos concentrar aqui.
Os cristãos anarquistas levam muito a sério as
palavras de Jesus a seus seguidores de que «os reis
e os homens importantes da terra dominam sobre o povo. Porém
entre vocês é diferente» (Marcos 10:42,43).
De forma similar, o dístico de Paulo de que «não
há nenhuma autoridade exceto Deus» é
obviamente associado à autoridade estatal sobre a sociedade.
Isto significa, para um verdadeiro cristão, que o Estado
além de usurpar a autoridade de Deus tira de cada indivíduo
a chance de se governar a si mesmo e de descobrir que (conforme
o título do famoso livro de Tolstoy) o Reino de Deus
está dentro dele.
De
forma similar, a pobreza voluntária de Jesus, seus comentários
sobre os efeitos corruptores da riqueza e o clamor bíblico
de que o mundo foi criado para a humanidade viver em comunhão,
tem tudo a ver com a base da crítica socialista à
propriedade privada e ao capitalismo. Somando-se a isto, a primitiva
igreja cristã (que poderia ser considerada como um movimento
de libertação de escravos, embora mais tarde tenha
sido cooptada como religião de Estado) baseava-se na
comunística divisão dos bens materiais, um tema
que continuamente aparece em movimentos radicais cristãos
(suspeita-se que a Bíblia teria sido usada para expressar
as aspirações radicais libertárias dos
oprimidos, e que, com o tempo, foi tomando a forma da terminologia
anarquista e marxista). Veja o comentário de John Ball
durante a Revolta Camponesa em 1381 na Inglaterra:
«When
Adam delved and Eve span,
Who was then a gentleman? [Quando Adão plantava e Eva tecia, quem era o patrão?]
A
historia do anarquismo cristão inclui a Heresia do Espírito
Livre na Idade Média, quando muitos se levantaram em
revolta como os Anabatistas
no século XVI. Depois disto, a tradição
libertária dentro da cristandade surge novamente nos
escritos de Willian Blake no século XVIII e depois na
obra do americano Adam Ballou produzida em 1854: Practical Christian
Socialism, plena de conclusões anarquistas. Contudo,
o anarquismo cristão só se tornou claramente reconhecido
no movimento anarquista com a obra do famoso escritor russo
Leon Tolstoy.
Tolstoy
levou a sério a mensagem da Bíblia e considerou
que o verdadeiro cristão precisa se opor ao Estado. Com
esta leitura da Bíblia, Tolstoy chegou a conclusões
anarquistas: «governar significa usar a força,
e usar a força significa fazer para os outros o que certamente
não gostaríamos que fosse feito para nós.
Consequentemente, governar significa fazer aos outros o que
não gostaríamos que os outros fizessem para nós,
isto é, fazer o mal.» [The Kingdom of God is
Within You, p. 242]. Um verdadeiro cristão deve ser avesso
a governar os outros. A partir dessa posição anti-estatista
ele naturalmente passou a defender uma sociedade auto-organizada:
«Porque pensar que pessoas comuns não são
capazes de auto-organizar suas vidas, e que governantes o farão
não em proveito próprio mas em proveito dos outros?»
[The Anarchist Reader, p. 306]. Tolstoy proclamava ação
não-violenta contra a opressão, e via a transformação
espiritual dos indivíduos como a chave para a criação
de uma sociedade anarquista. Conforme Max Nettlau argumentava,
a «grande verdade expressa por Tolstoy é que
o reconhecimento do poder do bem, da bondade, da solidariedade
- e de tudo que se chama amor - está dentro de nós
mesmos, e que isto pode e precisa brotar, desenvolver-se e exercitar-se
em nossa própria existência.» [A
Short History of Anarchism, pp. 251-2]. Como todos os anarquistas,
Tolstoy criticava a propriedade privada e o capitalismo. Da
mesma forma que Henry George (cujas idéias, tanto quanto
as de Proudhon, tiveram um forte impacto sobre ele) ele se opunha
à propriedade da terra, argüindo que «não
há nada que justifique a propriedade da terra, e sua
conseqüente valorização, as pessoas não
foram criadas para viver em espaços restritos mas para
ocupar a terra livre tão abundante no mundo». Contudo,
«nesta luta [pela propriedade da terra] não
são aqueles que trabalham na terra, mas aqueles que participam
em um governo violento que saem ganhando.» [Op. Cit.,
p. 307] Segundo Tolstoy os direitos de propriedade de qualquer
meio de produção requer a violência do Estado
para protegê-lo (a possessão é «sempre
protegida pelos costumes, opinião pública, pelo
senso de justiça e reciprocidade, e nunca precisa ser
protegida pela violência.» [Ibid.]). Acrescentando,
ele argumenta que:
«Dezenas
de milhares de acres de terras cobertas por florestas pertencem
a um único proprietário - enquanto que milhares
de pessoas... precisam ser contidas pela violência. Criam-se
fábricas e ofícios onde muitas gerações
de trabalhadores são fraudadas. Uma situação
onde centenas de milhares de sacas de grãos, pertencentes
a um só dono, aguardam os tempos de fome para serem vendidas
pelo triplo do preço.» [Ibid.]
Tolstoy argumenta que o capitalismo conduz o indivíduo
à ruína moral e física, e que capitalistas
são «condutores de escravos.» Ele
considera impossível para um verdadeiro Cristão
ser um capitalista, pois o «patrão é
um homem cujo ganho consiste na supressão de valores
pertencentes a trabalhadores cuja ocupação principal
baseia-se em trabalhos forçados, contra a natureza humana»
portanto, «ele [patrão] arruina vidas humanas
em proveito próprio.» [The Kingdom Of God is
Within You, p. 338, p. 339] Tolstoy qualifica as cooperativas
como «atividade social onde a moral e o auto-respeito
faz com que as pessoas queiram ficar bem distantes da violência».
[citado por Peter Marshall, Op. Cit., p. 378]. A partir de sua
oposição à violência, Tolstoy rejeita
tanto o Estado como a propriedade privada e defende táticas
pacifistas para dar um fim à violência dentro da
sociedade e gerar uma sociedade justa. Nas palavras de Nettlau,
ele «defendeu a . . . resistência ao mal; e a
essa forma de resistência - pela força ativa -
ele acrescentou outro caminho: a resistência pela desobediência,
a força passiva.» [Op. Cit., p. 251] Em suas
idéias sobre uma sociedade livre, Tolstoy foi claramente
influenciado pela vida rural russa e pelas obras de Peter Kropotkin
(como Fields, Factories and Workshops), de J. P. Proudhon e
do não anarquista Henry George.
As
idéias de Tolstoy tiveram uma forte influência
em Gandhi, que inspirou muita gente em seu país ao uso
da resistência não-violenta para acabar com o domínio
britânico da Índia. Aparentemente, a visão
de Gandhi de uma Índia livre enquanto uma federação
de comunas é similar à visão anarquista
de Tolstoy de uma sociedade livre (embora tenhamos clareza de
que Gandhi não foi um anarquista). O Catholic Worker
Group nos Estados Unidos foi também fortemente influenciado
por Tolstoy (e Proudhon), assim como por Dorothy Day, uma destacada
anarquista e pacifista Cristã fundadora do jornal Catholic
Worker em 1933. A influência de Tolstoy e do anarquismo
religioso em geral pode também ser encontrado nos movimentos
ligados à Teologia da Libertação nos países
latinos e na América do Sul que combinam idéias
cristãs com ativismo social em meio às classes
trabalhadoras e marginalizados (embora não haja dúvida
que a Teologia da Libertação em geral inspira-se
mais em um Estado socialista do que em idéias anarquistas).
Em
países onde a Igreja controla de fato o poder político,
como a Irlanda, partes da América do Sul, e Espanha,
que exerceu grande influência em todo século XIX
e no começo do século XX, os anarquistas foram
fortemente anti-religiosos porque a Igreja tinha o poder de
reprimir a dissidência e a luta de classes. Tanto que,
quase todos anarquistas eram ateístas (e concordavam
com Bakunin que se Deus existisse seria necessário, para
a liberdade e dignidade humana, aboli-lo), existe uma tradição
minoritária dentro do anarquismo que desvincula conclusões
anarquistas da religião. Nesta mesma direção,
muitos anarquistas sociais consideram o pacifismo tolstoyano
como dogmático e extremo, vendo a necessidade (algumas
vezes) do uso da violência para resistir a um grande mal.
Contudo, muitos anarquistas concordam com os tolstoyanos no
que se refere à necessidade de uma transformação
dos valores individuais como o aspecto chave para a criação
de uma sociedade anarquista, e da importância da não-violência
enquanto tática geral (embora, convenhamos, seja raro
o anarquista que rejeite totalmente o uso da violência
na autodefesa, quando não restar outra alternativa).
o texto acima extraído do
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