Textos

Ausência de Religião
Torna as Pessoas Melhores?

Comunalismo

Será Que Deus Existe?

Hierarquia e Religião

Justiça
Social

Evangelho e Anticapitalismo

Possessão Ideológica

Cristandade Sem
Religião

Igreja Tradicional
Atraso Espiritual e Charlatanismo

A Árvore da Fé Cristã

Evangelho
Segundo Marcos

A Bíblia Sagrada

A Realização e a Supressão da Religião -- Uma Crítica à Crítica


Livros
Eletrônicos


Cristianismo e Anarquismo
Leão Tolstoy

Comunalismo Cristão
Charles E. Raven

Igreja Caseira

Jon Dee

Comunalismo
Kenneth Rexroth

 

 

 

«Jesus os chamou e disse: 'Como vocês sabem, os reis e
os homens importantes da terra dominam sobre o povo. Porém
entre vocês é diferente [...] '»
Marcos 10:42,43. [Roma, ~ 70 A.D.]




Eventos

Poderes, Principados e Igreja: Cristianismo e Anarquismo

21 de junho, 2003, Cidade de Nova Iorque,

Friends Meetinghouse,
15th Street and Rutherford Place
(entre 2ª e 3ª Avenidas)
Contato: conferencenyc@jesusradicals.com

Tanto o mundo como nossas igrejas estão quebrados e feridos por poderes que procuram fragmentar, dividir, dominar, alcançar o que ainda resta de humanidade, e finalmente destruir nossas comunidades. Em sua primeira conferência, «jesusradicals» espera responder ao desafio de permanecer um corpo social diante dos obstáculos sociais que se nos apresentam.

Através das conferências, discussões e conversas à mesa (comendo juntos) exploraremos os recursos disponíveis que possibilitem a construção de um corpo social distinto que convide todos à união, um corpo capaz não apenas de resistir aos poderes, mas também de rivalizá-lo,

Será dedicada uma especial atenção a temas como:

(1) Quais poderes e principados estão subvertendo nossa igreja e escravizando a sociedade?;

(2) Como confrontá-los e quebrar-lhes a força?

Oradores confirmados e discussões:

Inscrição: 9:00-9:30

1ª Discussão (9:30): Bíblia e Anarquismo: Mitos Que nos Ligam ou Nos Separam. Por Andy Baker. Esta sessão tratará sobre poder, nação-estado, e os mitos usados, retirados especialmente da Bíblia, para legitimá-los.

2ª Discussão (11:00): Alternativas Viáveis ao Capitalismo e à Nação-Estado. Por Wayne Price da Federação Nordeste dos Anarco-comunistas [NEFAC-USA]. Esta sessão discutirá a imagem negativa que as pessoas tem sobre anarquismo. Haverá um foco em alternativas viáveis ao capitalismo e ao estado, como cooperativas e mediação.

Almoço: 12:30-2:00 na «Casa de Menno»

3ª discussão (2:00 pm): Recuperar ou Punir?. Fred Boehrer, PhD Syracuse Catholic Worker Syracuse, e Dennis Sullivan, Ph.D., autor e professor de Justiça Criminal em SUNY-Albany, NY). Esta sessão focalizará os esforços na construção de uma sociedade baseada na restauração e não na punição.

4ª Discussão (3:30 pm): Corpo Social Cristão versus Nação-Estado. Pete Mommsen discutirá a visão comunal convergente do anarquismo e do cristianismo, compartilhando trabalho, recursos e companheirismo, sem coerção ou dominação. A conferência focalizará estes temas e a pergunta: «Como realizar essa visão hoje?». Pete abordará autores como Blumhardts, Eberhard Arnold, e Gustav Landauer.

Domingo, 22 de junho de 2003 às 17 horas. Todos estão convidados ao culto com os Camaradas Menonitas de Manhattan na Casa de Reunião, onde Rob Burns, estudante do Seminário Teológico de Westminster, nos ajudará a explorar estes temas durante o culto. Para mais informações e registro visite http://conferencenyc.jesusradicals.com. O Registro é necessário para que possamos prover um almoço adequado para todos.

Na esperança de vê-lo nesse Encontro!

Andy Baker

Livros Eletrônicos

 

 


História


As Guerras Camponesas


«Na Guerra Camponesa de 1523-1525 ( a Revolta Camponesa de Thomas Münzer) os mais radicais eram os anabatistas. Em matéria de religião eram extremamente individualistas, rejeitando qualquer sacerdócio e acreditando que Deus continuava a se comunicar diretamente com os eleitos. Do ponto de vista social, a seita anabatista era composta por camponeses empobrecidos, por aprendizes tecelões, ou seja, pelas camadas mais oprimidas da sociedade alemã. Seu principal líder era Thomas Münzer, que pregava a abolição da propriedade privada. Os camponeses e os aprendizes das cidades revoltaram-se contra o domínio da grande e pequena nobreza, dos sacerdotes e dos cidadãos ricos das cidades.

Os camponeses revoltosos queriam que lhes fossem devolvidas as terras comunais, usurpadas pelos senhores e a diminuição do tributo em espécie e em trabalho. Na Alemanha Central, o movimento tornou-se tipicamente revolucionário, com os camponeses exigindo a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. Em toda a Alemanha eram queimados os conventos e os castelos da nobreza feudal. Em algumas regiões, as cidades auxiliaram o movimento camponês.

A falta de união e organização nas forças camponesas facilitou o seu esmagamento pela grande nobreza, aliada aos cavaleiros, aos burgueses, à igreja luterana e à igreja católica. O próprio Lutero incentivou o esmagamento dos camponeses. Mais de 100 mil foram mortos e Münzer foi decapitado». [História Geral - Antônio Pedro e Florival Cáceres - Ed.Moderna]. 

Mais sobre Thomas Münzer em

http://www.oocities.org/projetoperiferia/comunalismo3.htm

 


Passagens anti-hierarquia (Novo Testamento):

«Ai de vocês, que vivem estudando religião e escondem do povo a verdade...» Lucas 11:52. [Éfeso, ~ 90 A.D.]

«...Todos vocês estão no mesmo nível como irmãos... Não sejam chamados de 'Mestre'... Vocês parecem ser santos,... enquanto estão expulsando as viúvas das casas delas... Vocês vão a qualquer distancia para converter alguém, e depois fazem a mesma pessoa duas vezes mais digna do inferno do que vocês mesmos... Guias cegos!... Fingidos! ... se esquecem das coisas mais importantes – a justiça... Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Vocês são tão cuidadosos em limpar a parte de fora da taça, mas o interior esta imundo  de exploração dos outros e de cobiça.... Limpem primeiro o interior da taça, então ela inteira ficara limpa... Vocês são como belos túmulos – cheios de ossos de homens mortos, de podridão e sujeira... vocês procuram  parecer homens santos, mas por baixo desses mantos de bondade, estão corações manchados de toda espécie de fingimento...». Mateus 23:8, 10, 14, 16, 23 – 28. [Antioquia, ~ 80 A.D.]

«Portanto Jesus os chamou e disse: 'Como vocês sabem, os reis e os homens importantes da terra dominam sobre o povo. Porém entre vocês é diferente... '» Marcos 10:42,43. [Roma, ~ 70 A.D.]

 


Passagens anti-hierarquia (Antigo Testamento):


«‘Escolha um rei para nós; veja que todas as outras nações têm seu rei’, disseram os chefes de Israel. Samuel não ficou contente com esse pedido de um rei, e orou ao Senhor pedindo conselho. ‘Faça o que eles pedem’, respondeu o Senhor, ‘pois é a Mim que rejeitam, e não a você – eles não querem mais que Eu seja o Rei deles.... Faça conforme eles pedem, mas também não deixe de avisar a eles, com toda seriedade o que é ter um rei!’. Assim, Samuel contou ao povo o que o Senhor tinha dito: ‘Se vocês insistem em ter um rei, ele vai convocar os seus filhos, e esses rapazes terão de correr na frente dos carros do rei; alguns serão obrigados a chefiar os soldados do rei na guerra, enquanto outros trabalharão como escravos; serão forçados a cultivar os campos do rei, e fazer as colheitas, sem receber pagamento; terão de fabricar armas para os soldados e equipamento para os carros de combate. Ele vai tomar suas filhas e obrigará essas moças a cozinharem para ele, fabricar pão e perfumes. Tomará de vocês o melhor dos seus campos e das suas plantações de uvas e de oliveiras e dará essas propriedades aos amigos dele. Tomará a décima parte das colheitas de vocês, e dará aos seus amigos prediletos[...]Vocês terão de entregar a ele a décima parte dos seus rebanhos, e serão escravos do rei. Vocês vão chorar lágrimas amargas por causa deste rei que estão exigindo, mas o Senhor não virá ajudar vocês’. Porém o povo não quis atender ao aviso de Samuel. ‘Mesmo assim, ainda queremos um rei’, eles disseram, ‘porque desejamos ser iguais às nações ao nosso redor. Ele nos governará, e nos conduzirá à guerra’. Samuel contou ao Senhor o que o povo havia dito, e o Senhor respondeu novamente: ‘Então faça conforme eles pedem, e dê a eles um rei’ ». I Sm 8:1-22. [ ~ VI A.C.]

«Oh Israel! Vocês produziram a sua própria desgraça!. Só Eu poderia salvá-los! Onde está o seu rei? Por que não pedem ajuda a ele? Onde estão as autoridades do país? Vocês pediram um rei e príncipes! Agora, eles que tratem de salvá-los». Oséas 13:9,10; «... os Sacerdotes formam turmas de assassinos na estrada de Siquém...» Oséas 6:9; «o povo de Israel ficará muito tempo sem um rei ou um príncipe, sem altar, sem templo, sem sacerdotes e sem ídolos» Oséas 3:4; «ouçam isto, sacerdotes e líderes de Israel! Escutem, membros da família real! Vocês estão condenados porque enganaram o povo...» Oséas 5:1;

«... sua religião não passa de um monte de leis feitas por homens, que aprenderam de tanto repetir» Isaías 29:15;

«Vão desaparecer os soldados, os juízes, os profetas verdadeiros e os falsos, e os velhos cidadãos; os oficiais do exército, os comerciantes, os advogados, os mágicos e os feiticeiros. Os reis de Israel serão como crianças - suas leis e suas ordens serão tolices de criança.» Isaías 3:2-4;

«Não há nada que Eu odeie tanto quanto uma religião fingida» Isaías 2:13;

«Acabem com esse barulho de suas canções; eles são um barulho que incomoda meus ouvidos. Não ouvirei suas músicas, por mais belas que sejam. O que Eu quero é a justiça correndo como um rio. Quero ver uma correnteza de justiça e retidão». Amós 5:23, 24. [~ Século VIII A.C.]

 


Passagens anti-capitalismo (Novo Testamento):


«...eram um só na mente e no coração, e ninguém pensava que aquilo que possuía era seu próprio; todo mundo estava repartindo o que tinha...» Atos 4:32;

«Todos os crentes se reuniam constantemente e repartiam tudo uns com os outros, vendendo suas propriedades e dividindo com os que tinham necessidade. Regularmente eles adoravam juntos no templo todos os dias, reuniam-se em grupos pequenos nas casas para a Comunhão, e participavam das suas refeições com grande alegria e gratidão, louvando a Deus. A cidade inteira tinha simpatia por eles, e cada dia o próprio Senhor acrescentava à igreja todos os que estavam sendo salvos». Atos 2.44-47;

«Não se preocupem por terem ou não bastante comida para comer ou roupas para vestir. Porque a vida é muito mais do que apenas comida ou roupa. Olhem para os corvos - eles não plantam, não colhem, nem têm depósitos para guardar seu alimento, e ainda assim passam bem - pois Deus cuida deles. E vocês valem muito mais para Deus que uma ave! Além disso, qual é a vantagem de preocupar-se? Que bem faz? Isso aumentará, em um dia só que seja, a vida de vocês? Claro que não! E se a preocupação não pode nem mesmo fazer coisas tão pequenas, qual é a vantagem de preocupar-se por coisas maiores? Olhem para os lírios! Eles não trabalham nem tecem, e Salomão em toda sua glória não se vestiu tão bem como eles. E se Deus dá esta roupagem para as flores que hoje estão aqui e amanhã desaparecerão, vocês não acham que Ele proverá roupa para vocês, seus incrédulos? E não se preocupem com o que comer e o que beber; não se preocupem com nada, porque Deus proverá tudo para vocês. A humanidade cansa-se por causa da comida de cada dia, mas o Pai celeste conhece as necessidades de todos. Ele sempre dará tudo o que vocês precisam dia a dia, se procurarem em primeiro lugar ser fiéis ao Reino de Deus (...) Vendam o que têm e dêem aos que estão em necessidade. Isto aumentará seus tesouros no céu, onde não há ladrão para roubar, nem traça para destruir. Onde estiver o seu tesouro, ali estará também o seu coração e ainda seus pensamentos.» Lucas 12:23-34, [Éfeso, ~ 90 A.D.]

«Pois escutem! Ouçam os clamores dos trabalhadores que voces enganaram no pagamento. Os clamores deles chegaram até os ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês engordaram seus anos aqui na terra divertindo-se, satisfazendo todos os seus caprichos, e agora seus corações engordados estão prontos para a matança. Vocês condenaram e mataram homens bons que não tinham nenhuma força para se defenderem contra vocês.» Tiago 5:4-6

 


Passagens anti-governo (AT):


«'Escolha um rei para nós; veja que todas as nações têm seu rei', disseram os chefes de Israel. Samuel não ficou contente com esse pedido de um rei... Se vocês insistem em ter um rei, ele vai convocar os seus filhos, e esses rapazes terão de correr na frente dos carros do rei, alguns serão obrigados a chefiar soldados do rei na guerra, enquanto outros trabalharão como escravos; serão forçados a cultivar os campos do rei, e fazer colheitas, sem receber pagamento; terão de fabricar armas para os soldados e equipamento para os carros de combate. Ele vai tomar suas filhas obrigará essas moças a cozinharem para ele, fabricar pão e perfumes. Tomará de vocês o melhor de seus campos e das suas plantações de uvas e de oliveiras e dará essas propriedades aos amigos deles. Tomará a décima parte das colheitas de vocês, e dará aos seus amigos prediletos... Vocês vão chorar lágrimas amargas por causa deste rei que estão exigindo... Porém o povo não quis atender o aviso de Samuel. 'Mesmo assim, ainda queremos um rei', eles disseram, 'porque desejamos ser iguais às nações ao nosso redor...'»  I Samuel 8:5-6, 11-15, 18-19. [~ Século VI A.C.]

«Os primeiros a ser castigados serão os velhos e os príncipes, que exploraram o povo. Encheram os bolsos com o que roubaram de gente pobre e humilde» Isaías 3:14; «A minha justiça será o prumo e a régua com que Eu medirei o muro que vocês construíram: ele parece bom, mas será derrubado por uma chuva de pedras» (Isaías 29:17); «O rei se alegra com a maldade dos habitantes de seu país, e os príncipes riem das mentiras que eles contam» Oséias 7:3; «Os líderes de Judá se tornaram ladrões da pior espécie...» (Oséas 5:10); «...O governador e o juiz exigem gratificações 'por fora'. A pessoa rica paga o que eles pedem e diz a quem devem condenar. A justiça é torcida nos planos que fazem. O melhor destes homens fere como se fosse um espinho. O mais correto é tão torto quanto uma cerca de espinheiros!...» Miquéias 7:3,4 [~ Século VIII A.C.]

 


Passagens anti-bélicas (AT):


«Todas as armas das nações serão transformadas em ferramentas úteis, pás, arados, e enxadas. Nunca mais se falará de guerra, não haverá mais quartéis ou escolas militares» Isaías 2:4;

«... Os homens derreterão suas espadas e farão arados, das suas lanças farão podadeiras. As nações não lutarão mais entre si, porque as guerras acabarão. Haverá paz universal e todas as escolas militares e quartéis serão fechados. Todos viverão tranqüilamente em suas próprias casas, em paz e prosperidade porque não haverá nada a temer.» (Miquéias 4:3,4). [~ Século VIII A.C.*]

* fonte de pesquisa: «Como nos veio a Bíblia», Edgar J. Goodspeed, 1968, Imprensa Metodista

 

Existem anarquistas cristãos?

Sim, existem. A maior parte dos anarquistas se opõem tanto à religião como à idéia de Deus como uma invenção anti-humana e uma justificação para o autoritarismo e escravidão, porém, muitos crentes em religião tem pautado suas idéias em conclusões anarquistas. Como todos anarquistas, esses religiosos anarquistas combinam a oposição ao Estado com uma oposição crítica à propriedade privada e à desigualdade. Em outras palavras, o anarquismo não é necessariamente ateísta. Segundo Jacques Ellul, «de acordo com os pensadores cristãos, o pensamento bíblico conduz diretamente ao anarquismo, a única posição 'política anti-política'» . [citado por Peter Marshall, Demanding the Impossible, p. 75]. Existem variados tipos de anarquismo inspirados por idéias religiosas. Conforme Peter Marshall relata, a «primeira  expressão clara de uma sensibilidade anarquista pode ser encontrada nos taoístas da velha China por volta do sexto século AC» e no «Budismo, particularmente em sua forma Zen, ... teve... um forte espírito libertário.» [Op. Cit., p. 53, p. 65] Alguns combinam idéias anarquistas com influências pagãs e espiritualistas. Contudo, o anarquismo religioso atualmente tomou a forma de anarquismo cristão, no qual vamos nos concentrar aqui.
 
 
  Os cristãos anarquistas levam muito a sério as palavras de Jesus a seus seguidores de que «os reis e os homens importantes da terra dominam sobre o povo. Porém entre vocês é diferente» (Marcos 10:42,43). De forma similar, o dístico de Paulo de que «não há nenhuma autoridade exceto Deus» é obviamente associado à autoridade estatal sobre a sociedade. Isto significa, para um verdadeiro cristão, que o Estado além de usurpar a autoridade de Deus tira de cada indivíduo a chance de se governar a si mesmo e de descobrir que (conforme o título do famoso livro de Tolstoy) o Reino de Deus está dentro dele. 

De forma similar, a pobreza voluntária de Jesus, seus comentários sobre os efeitos corruptores da riqueza e o clamor bíblico de que o mundo foi criado para a humanidade viver em comunhão, tem tudo a ver com a base da crítica socialista à propriedade privada e ao capitalismo. Somando-se a isto, a primitiva igreja cristã (que poderia ser considerada como um movimento de libertação de escravos, embora mais tarde tenha sido cooptada como religião de Estado) baseava-se na comunística divisão dos bens materiais, um tema que continuamente aparece em movimentos radicais cristãos (suspeita-se que a Bíblia teria sido usada para expressar as aspirações radicais libertárias dos oprimidos, e que, com o tempo, foi tomando a forma da terminologia anarquista e marxista). Veja o comentário de John Ball durante a Revolta Camponesa em 1381 na Inglaterra: 

«
When Adam delved and Eve span, 
Who was then a gentleman? [Quando Adão plantava e Eva tecia, quem era o patrão?]

A historia do anarquismo cristão inclui a Heresia do Espírito Livre na Idade Média, quando muitos se levantaram em revolta como os Anabatistas no século XVI. Depois disto, a tradição libertária dentro da cristandade surge novamente nos escritos de Willian Blake no século XVIII e depois na obra do americano Adam Ballou produzida em 1854: Practical Christian Socialism, plena de conclusões anarquistas. Contudo, o anarquismo cristão só se tornou claramente reconhecido no movimento anarquista com a obra do famoso escritor russo Leon Tolstoy. 

Tolstoy levou a sério a mensagem da Bíblia e considerou que o verdadeiro cristão precisa se opor ao Estado. Com esta leitura da Bíblia, Tolstoy chegou a conclusões anarquistas:  «governar significa usar a força, e usar a força significa fazer para os outros o que certamente não gostaríamos que fosse feito para nós. Consequentemente, governar significa fazer aos outros o que não gostaríamos que os outros fizessem para nós, isto é, fazer o mal.» [The Kingdom of God is Within You, p. 242]. Um verdadeiro cristão deve ser avesso a governar os outros. A partir dessa posição anti-estatista ele naturalmente passou a defender uma sociedade auto-organizada: «Porque pensar que pessoas comuns não são capazes de auto-organizar suas vidas, e que governantes o farão não em proveito próprio mas em proveito dos outros?» [The Anarchist Reader, p. 306]. Tolstoy proclamava ação não-violenta contra a opressão, e via a transformação espiritual dos indivíduos como a chave para a criação de uma sociedade anarquista. Conforme Max Nettlau argumentava, a «grande verdade expressa por Tolstoy é que o reconhecimento do poder do bem, da bondade, da solidariedade - e de tudo que se chama amor - está dentro de nós mesmos, e que isto pode e precisa brotar, desenvolver-se e exercitar-se em nossa própria existência.»  [A Short History of Anarchism, pp. 251-2]. Como todos os anarquistas, Tolstoy criticava a propriedade privada e o capitalismo. Da mesma forma que Henry George (cujas idéias, tanto quanto as de Proudhon, tiveram um forte impacto sobre ele) ele se opunha à propriedade da terra, argüindo que «não há nada que justifique a propriedade da terra, e sua conseqüente valorização, as pessoas não foram criadas para viver em espaços restritos mas para ocupar a terra livre tão abundante no mundo». Contudo, «nesta luta [pela propriedade da terra] não são aqueles que trabalham na terra, mas aqueles que participam em um governo violento que saem ganhando.» [Op. Cit., p. 307] Segundo Tolstoy os direitos de propriedade de qualquer meio de produção requer a violência do Estado para protegê-lo (a possessão é «sempre protegida pelos costumes, opinião pública, pelo senso de justiça e reciprocidade, e nunca precisa ser protegida pela violência.» [Ibid.]). Acrescentando, ele argumenta que: 

«Dezenas de milhares de acres de terras cobertas por florestas pertencem a um único proprietário - enquanto que milhares de pessoas... precisam ser contidas pela violência. Criam-se fábricas e ofícios onde muitas gerações de trabalhadores são fraudadas. Uma situação onde centenas de milhares de sacas de grãos, pertencentes a um só dono, aguardam os tempos de fome para serem vendidas pelo triplo do preço.» [Ibid.] 

Tolstoy argumenta que o capitalismo conduz o indivíduo à ruína moral e física, e que capitalistas são «condutores de escravos.» Ele considera impossível para um verdadeiro Cristão ser um capitalista, pois o «patrão é um homem cujo ganho consiste na supressão de valores pertencentes a trabalhadores cuja ocupação principal baseia-se em trabalhos forçados, contra a natureza humana»  portanto, «ele [patrão] arruina vidas humanas em proveito próprio.» [The Kingdom Of God is Within You, p. 338, p. 339] Tolstoy qualifica as cooperativas como «atividade social onde a moral e o auto-respeito faz com que as pessoas queiram ficar bem distantes da violência». [citado por Peter Marshall, Op. Cit., p. 378]. A partir de sua oposição à violência, Tolstoy rejeita tanto o Estado como a propriedade privada e defende táticas pacifistas para dar um fim à violência dentro da sociedade e gerar uma sociedade justa. Nas palavras de Nettlau, ele «defendeu a . . . resistência ao mal; e a essa forma de resistência - pela força ativa - ele acrescentou outro caminho: a resistência pela desobediência, a força passiva.» [Op. Cit., p. 251] Em suas idéias sobre uma sociedade livre, Tolstoy foi claramente influenciado pela vida rural russa e pelas obras de Peter Kropotkin (como Fields, Factories and Workshops), de J. P. Proudhon e do não anarquista Henry George. 

As idéias de Tolstoy tiveram uma forte influência em Gandhi, que inspirou muita gente em seu país ao uso da resistência não-violenta para acabar com o domínio britânico da Índia. Aparentemente, a visão de Gandhi de uma Índia livre enquanto uma federação de comunas é similar à visão anarquista de Tolstoy de uma sociedade livre (embora tenhamos clareza de que Gandhi não foi um anarquista). O Catholic Worker Group nos Estados Unidos foi também fortemente influenciado por Tolstoy (e Proudhon), assim como por Dorothy Day, uma destacada anarquista e pacifista Cristã fundadora do jornal Catholic Worker em 1933. A influência de Tolstoy e do anarquismo religioso em geral pode também ser encontrado nos movimentos ligados à Teologia da Libertação nos países latinos e na América do Sul que combinam idéias cristãs com ativismo social em meio às classes trabalhadoras e marginalizados (embora não haja dúvida que a Teologia da Libertação em geral inspira-se mais em um Estado socialista do que em idéias anarquistas). 

Em países onde a Igreja controla de fato o poder político, como a Irlanda, partes da América do Sul, e Espanha, que exerceu grande influência em todo século XIX e no começo do século XX, os anarquistas foram fortemente anti-religiosos porque a Igreja tinha o poder de reprimir a dissidência e a luta de classes. Tanto que, quase todos anarquistas eram ateístas (e concordavam com Bakunin que se Deus existisse seria necessário, para a liberdade e dignidade humana, aboli-lo), existe uma tradição minoritária dentro do anarquismo que desvincula conclusões anarquistas da religião. Nesta mesma direção, muitos anarquistas sociais consideram o pacifismo tolstoyano como dogmático e extremo, vendo a necessidade (algumas vezes) do uso da violência para resistir a um grande mal. Contudo, muitos anarquistas concordam com os tolstoyanos no que se refere à necessidade de uma transformação dos valores individuais como o aspecto chave para a criação de uma sociedade anarquista, e da importância da não-violência enquanto tática geral (embora, convenhamos, seja raro o anarquista que rejeite totalmente o uso da violência na autodefesa, quando não restar outra alternativa). 

o texto acima extraído do



Sites em Inglês

 

Tradição Hutterita
http://www.hutterianbrethren.com/

Tradição Anabatista
Tradição Quaker
A Quaker Understanding of Jesus Christ

House Church
Back to the Beginning - Beginning

Outras

Ammon Hennacy Legacy

Anarchism and Religionn by Nicolas Walter
Another Godless Anarchist
Dorothy Day Library on the Web


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