Última atualização: 11 de janeiro de 2002

INTERNACIONAL
 

MOVIMENTO DE SOLIDARIEDADE 
DE TRABALHADORES

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Novembro 2001

- Cartazes -

Solidariedade Operária 67
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Plataforma
parte 1.4
parte 2.4
parte 3.4
parte 4.4
 

PLATAFORMA ORGANIZACIONAL
(parte 1.4)

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Dielo Truda (Causa Operária) - 1926
Primeira edição, França 1926.

A Plataforma Organizacional, redigida em Paris, em junho de 1926, é uma proposição feita pelos anarquistas russos exilados, reagrupados sob o nome de Dielo Truda, com o objetivo de organizar os anarquistas do mundo inteiro em torno do projeto revolucionário.

Este texto foi diretamente inspirado e baseado nas lições que eles tiraram dos eventos revolucionários de que foram testemunhas e autores. Divide-se em quatro partes:

· Introdução
· Parte Geral
· Parte Construtiva
· Parte Organizativa

INTRODUÇÃO

  É muito significativo que, apesar da força e do caráter indiscutivelmente positivo das idéias libertárias, da nitidez e da integridade das posições anarquistas diante da revolução social; enfim, do heroísmo e dos inúmeros sacrifícios realizados pelos anarquistas na luta pelo comunismo libertário, o movimento anarquista continue fraco, e com freqüência tem figurado, na história das luta da classe operária, como um evento menor, um episódio, e não como um fator importante. 

  Essa contradição, entre o fundamento positivo e incontestável das idéias libertárias e o estado miserável em que vegeta o movimento anarquista, explica-se por uma série de causas, das quais a mais importante, a principal, é a ausência de princípios e práticas organizacionais no movimento anarquista. 

  Em todos os países, o movimento anarquista é representado por algumas organizações locais, que defendem teorias e práticas contraditórias. Não têm qualquer perspectiva de futuro nem de continuidade da ação militante, habitualmente desaparecem sem deixar o menor traço de sua passagem. 

  A situação do anarquismo revolucionário é tal que, se a tomarmos em seu conjunto, só pode ser qualificada como uma "desorganização geral crônica". 

  Como a febre amarela, a doença da desorganização apossou-se do organismo do movimento anarquista e o vem minando há dezenas de anos.

  Sem dúvida, essa desorganização deriva de alguns defeitos da teoria: notadamente, numa falsa interpretação do princípio da individualidade no anarquismo; este princípio tem sido com muita freqüência confundido com a total ausência de responsabilidade. Os amantes da auto-afirmação, que visam unicamente o prazer pessoal, agarram-se obstinadamente a esse estado caótico do movimento anarquista referindo-se, para defendê-lo, aos princípios imutáveis do anarquismo e seus mestres. 

  Ora, os princípios imutáveis e os mestres demonstram justamente o contrário. 

  A dispersão e o desmembramento: eis a ruína. A união estreita é sinal de vida e de desenvolvimento. Esta lei da luta social aplica-se tanto às classes quanto aos partidos. 

  O anarquismo não é uma bela utopia, tampouco uma abstração filosófica, é um movimento social das massas trabalhadoras. Por este motivo, deve juntar suas forças numa organização geral continuamente ativa, como é exigido pela realidade e a estratégia da luta de classes. 

  "Estamos convencidos", disse Kropotkin, "de que a formação de uma organização anarquista na Rússia, longe de ser prejudicial para a tarefa revolucionária, é, pelo contrário, desejável e útil no mais alto grau." [prefácio ao texto "A Comuna de Paris", de Bakunin, edição de 1892]. 

  Bakunin nunca se opôs à idéia de uma organização anarquista geral. Pelo contrário, suas aspirações quanto à organização, assim como sua atividade na primeira internacional, nos dão todo o direito de vê-lo precisamente como um partidário ativo de uma tal organização. 

  Em geral, a maioria dos militantes ativos do anarquismo combateu toda ação dispersa, e sonhou com um movimento anarquista firmemente ligado pela unidade do objetivo e dos meios. 

  Durante a revolução russa de 1917, a necessidade de uma organização geral se fez sentir ainda mais intensa e urgentemente. No decorrer dessa revolução, o movimento libertário manifestou o mais alto grau de desmembramento e de confusão. A ausência de uma organização geral fez com que muitos militantes anarquistas atuassem nas fileiras dos bolcheviques. Essa ausência é também a causa de muitos outros militantes, hoje em dia, manterem-se passivos, impedindo todo o uso de suas forças, cuja importância é bastante considerável. 

  É vital nossa necessidade de uma organização que, reunindo a maioria dos participantes do movimento anarquista, estabelecerá no anarquismo uma linha geral tática e política que servirá como guia para todo o movimento. 

  Já é tempo de o anarquismo sair do pântano da desorganização, colocar um ponto final nas infindáveis vacilações sobre as questões teóricas e táticas mais importantes, de caminhar resolutamente para o objetivo claramente identificado e realizar uma prática coletivamente organizada. 

  Não basta, porém, constatar a necessidade vital dessa organização. É necessário, também, estabelecer o método de sua criação. 

  Rejeitamos, como prática e teoricamente absurda, a idéia de criar uma organização conforme a receita da "Síntese", isto é: reunindo os representantes das diferentes tendências do anarquismo. Tal organização, tendo incorporado elementos práticos e teóricos heterogêneos, seria apenas um agregado mecânico de indivíduos, cada qual tendo um conceito diferente de todas as questões do movimento anarquista, um agregado que inevitavelmente se desintegraria ao entrar em contato com a realidade. 

  O método anarco-sindicalista não resolve o problema de organização do anarquismo, porque não dá prioridade a esse problema, interessando-se unicamente em sua penetração e reforço nos meios operários. 

  Contudo, quando não existe uma organização anarquista geral, não se pode fazer grande coisa nesses meios, mesmo tendo alguma inserção neles. 

  O único método que soluciona o problema da organização geral, no nosso ponto de vista, é reunir militantes ativos do anarquismo numa base de posições precisas: teóricas, táticas e organizacionais, ou seja: uma base mais ou menos acabada de um programa homogêneo. 

  A elaboração de tal programa é uma das principais tarefas que a luta social dos últimos anos impôs aos anarquistas. É para a realização desta tarefa que o grupo de anarquistas russos no exílio dedica uma parte importante de seus esforços. 

  A "Plataforma Organizacional" publicada abaixo representa, em linhas gerais, o esboço de tal programa. Deve ser um primeiro passo na reunião das forças libertárias numa única coletividade revolucionária ativa capaz de lutar: a União Geral dos Anarquistas. 

  Não nos iludimos, há lacunas na presente Plataforma. Sem dúvida, ela tem limitações como toda e qualquer prática nova de alguma importância. É possível que algumas posições essenciais tenham sido omitidas e outras insuficientemente tratadas ou, então, muito detalhadas ou repetitivas. Tudo isso é possível, mas não é o mais importante. O que importa é lançar os fundamentos de uma organização geral. Este é o objetivo que alcançamos, em certa medida, através dessa Plataforma. São tarefas da coletividade, da União Geral dos Anarquistas: aumentá-la, aprofundá-la e, mais tarde, fazer dela um programa definitivo para todo o movimento anarquista. 

  Noutro plano, também, não nos iludimos. É previsível que vários representantes do auto-denominado individualismo e do anarquismo caótico nos atacarão, espumando de ódio e nos acusando de trair os princípios anarquistas. 

  Mas nós sabemos que os elementos individualistas e caóticos confundem "princípios anarquistas" com "fodam-se todos". A negligência e a total falta de responsabilidade em nosso movimento têm causado feridas quase incuráveis. É contra isso que estamos lutando, com toda nossa energia e paixão. Eis o motivo de ignorarmos calmamente os ataques vindos desse campo. 
 

  Baseamos nossa esperança em outros militantes: naqueles que se mantém fiéis ao anarquismo, que tendo vivido e sofrido a tragédia do movimento anarquista, procuram dolorosamente uma solução.
 

  Ademais, temos grandes esperanças na juventude libertária que, nascida no sopro da revolução russa e situada, desde o começo, no círculo das realidades concretas, exigirá certamente a realização dos princípios organizacionais e construtivos do anarquismo. 
 

  Convidamos todas as organizações anarquistas russas, dispersas em vários países do mundo, e também os militantes isolados do anarquismo, a se unirem sobre a base de uma Plataforma comum de organização. 
 

  Que esta Plataforma sirva de palavra de ordem revolucionária e ponto de união para todos os militantes do movimento anarquista russo! Que sirva para lançar os fundamentos da União Geral dos Anarquistas! 

Viva a Revolução Social dos Trabalhadores do Mundo! 

DIELO TRUDA, Paris 20/06/1926. 


PARTE GERAL

1. LUTA DE CLASSES, SEU PAPEL E SIGNIFICADO

  Não existe humanidade unida. Existe a humanidade dividida em classes: escravos e senhores. 
 

  Como todas as que a precederam, a sociedade capitalista e burguesa de nossos tempos não é unida. Ela está dividida em dois campos distintos, diferenciados socialmente por suas respectivas situações e funções: o proletariado (no sentido mais extenso da palavra) e a burguesia. 
 

  O destino do proletariado é, e tem sido há séculos, carregar o fardo do trabalho físico e penoso, cujos frutos são colhidos por uma outra classe que possui a propriedade, a autoridade e os produtos da cultura (ciência, educação, arte, etc.): a burguesia. A escravização social e a exploração das massas trabalhadoras formam a base sobre a qual a sociedade moderna se apóia e sem a qual não poderia existir. 
 

  Este fato gera uma luta de classes secular, que assume um caráter aberto e violento ou uma aparência de progresso lento e imperceptível, mas orientada sempre, essencialmente, para a transformação da sociedade atual numa sociedade que satisfará às aspirações, necessidades, e ao conceito de justiça dos trabalhadores. 
 

  Toda a história da humanidade representa, no domínio social, uma cadeia ininterrupta de lutas que as massas trabalhadoras travam por seus direitos, por sua liberdade e por uma vida melhor. Esta luta de classes sempre foi o principal fator determinante da forma e da estrutura das sociedades. 
 

  O regime social e político de todos os países é, antes de tudo, produto da luta de classes. A estrutura de uma sociedade nos mostra a fase em que se encontra a luta de classes. A dimensão geral, universal e o sentido da luta de classes na vida das sociedades de classes é tal que a mínima alteração no curso da luta de classes, na relação de forças entre as classes em luta contínua, engendra mudanças no tecido e na estrutura da sociedade como um todo. 
 

2. A NECESSIDADE DE UMA VIOLENTA REVOLUÇÃO SOCIAL

 O princípio de opressão e exploração das massas pela violência constitui a base da sociedade moderna. Todas as manifestações de sua existência: a economia, a política, as relações sociais. . . baseiam-se na violência de classe, cujos instrumentos são: a autoridade, a polícia, o exército, os tribunais. Tudo nesta sociedade, desde a empresa tomada isoladamente até o conjunto dos aparatos estatais são baluartes na defesa e manutenção do capitalismo. Além de serem pontos de observação permanente dos trabalhadores, servem para ter sempre ao alcance da mão as forças destinadas a reprimir os trabalhadores que ameaçam os fundamentos ou mesmo a tranqüilidade da sociedade atual. 
 

  Ao mesmo tempo, o sistema capitalista mantém deliberadamente as massas trabalhadoras num estado de ignorância e estagnação mental, impedindo pela força a elevação de seu nível intelectual e moral, para mais facilmente ludibriá-las. 

    O progresso da sociedade moderna, a evolução técnica do capital e o aperfeiçoamento de seu regime político, fortalecem o poder da classe dominante e dificultam ainda mais a luta contra ela, adiando o momento decisivo da emancipação dos trabalhadores. 
 

  A análise da sociedade moderna nos leva à conclusão de que a revolução social violenta é a única via para transformar a sociedade capitalista numa sociedade de trabalhadores livres. 

3. O ANARQUISMO E O COMUNISMO LIBERTÁRIO

  A luta de classes criada pela escravidão dos trabalhadores e suas aspirações de liberdade fez nascer, entre os oprimidos, a idéia do anarquismo: a idéia da negação do sistema social baseado nos princípios de classes e do Estado, e sua substituição por uma sociedade livre e sem estado, autogerida pelos trabalhadores. 
 

  Portanto, o anarquismo não deriva das reflexões abstratas de um intelectual ou filósofo, mas da luta direta dos trabalhadores contra o capital, das aspirações e necessidades dos trabalhadores, de seus desejos de liberdade e igualdade, os quais se tornam particularmente vivos no melhor período heróico da vida e da luta das massas trabalhadoras. 
 

  Eminentes anarquistas, Bakunin, Kropotkin e outros apenas fizeram uso de sua capacidade intelectual e conhecimentos quando especificaram e divulgaram a idéia de anarquismo, não a inventaram, mas a descobriram nas massas. 
 

  O anarquismo não é o resultado de obras pessoais nem objeto de pesquisas individuais. 

  Similarmente, o anarquismo não é produto de aspirações humanitárias. A humanidade "unida" não existe. Qualquer tentativa de fazer do anarquismo um atributo da humanidade atual, de atribuir-lhe um caráter genericamente humanitário seria uma mentira histórica e social que conduziria inevitavelmente à justificação da ordem atual e de uma nova forma de exploração. 
 

  O anarquismo em termos gerais é humanitário apenas no sentido de que os ideais das massas trabalhadoras tendem a aperfeiçoar as vidas de todos os homens, e pelo fato de que o destino da humanidade de hoje ou de amanhã é inseparável do destino do trabalho explorado. Se as massas trabalhadoras vencerem, toda a humanidade renascerá. Se não, violência, exploração, escravização e opressão reinarão como nunca antes no mundo... 
 

  O nascimento, o desenvolvimento e a realização das idéias anarquistas tem suas origens na vida e na luta das massas trabalhadoras, e estão inseparavelmente ligadas à sua sorte. 
 

  O anarquismo quer transformar a sociedade capitalista numa sociedade nova em que os trabalhadores tenham garantido o produto de sua atividade, a liberdade, a independência, e a igualdade social e política. Esta nova sociedade será o comunismo libertário. É no comunismo libertário que terão plena expansão a solidariedade social e a livre individualidade, onde essas duas idéias se desenvolverão em perfeita harmonia. 
 

  O comunismo libertário avalia que a única coisa que realmente gera valor na sociedade é o trabalho físico e intelectual. Consequentemente, só os trabalhadores têm o direito de administrar a vida social e econômica. É por isso que ele não justifica nem admite a existência de classes não trabalhadoras. 
 

  Enquanto tiver que coexistir com tais classes, o comunismo libertário não reconhecerá qualquer obrigação em relação a elas, exceto se as classes não trabalhadoras se decidirem a produzir e quiserem viver na sociedade comunista, sob as mesmas condições de todos os outros, os membros livres da sociedade, gozando dos mesmos direitos e obrigações de todos os membros produtivos. 
 

  O comunismo libertário quer suprimir toda exploração e violência, seja contra o indivíduo ou as massas trabalhadoras. Para tanto, estabelece uma base econômica e social que unifica, num conjunto harmonioso, toda a vida econômica e social do país, assegurando a todo indivíduo uma situação igual a dos outros e dando a cada um o máximo bem-estar. Esta base é a apropriação, sob a forma de socialização, de todos os meios e instrumentos de produção (indústria, transporte, terra, matérias-primas, etc.) e a construção de organismos econômicos sob os princípios da igualdade e autogestão dos trabalhadores. 
 

  Nos limites desta sociedade autogerida pelos trabalhadores, o comunismo libertário estabelece o princípio da igualdade de valor e dos direitos de cada indivíduo (não a individualidade "em geral", nem a individualidade "mística" ou o conceito de individualidade, mas o indivíduo concreto). 
 
 
 

. . . continua aqui
 
 




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