INTERNACIONAL MOVIMENTO
DE SOLIDARIEDADE
- Notícias - Novembro 2001 - Cartazes - Workers Solidarity
67
|
parte 1.4 parte 2.4 parte 3.4 parte 4.4 PLATAFORMA ORGANIZACIONAL
Dielo Truda (Causa Operária)
- 1926
4. A NEGAÇÃO DA DEMOCRACIA Democracia é uma das formas da sociedade
capitalista.
A democracia se baseia na manutenção
das duas classes antagônicas da sociedade moderna: a do trabalho
e a do capital, e sua colaboração fundada sobre a propriedade
privada capitalista. A expressão dessa colaboração
é o parlamento e o governo nacional representativo.
Formalmente, a democracia proclama a liberdade
de opinião, de imprensa, de associação, enquanto não
ameacem os interesses da classe dominante, ou seja, a burguesia.
A democracia mantém intacto o princípio
da propriedade privada capitalista. Portanto, dá a burguesia o direito
de controlar toda a economia do país, toda a imprensa, educação,
ciência, arte, o que de fato, torna a burguesia dona absoluta do
país. Possuindo o monopólio da vida econômica, a burguesia
pode estabelecer seu poder ilimitado também na esfera política.
Efetivamente, o governo representativo e o parlamento nada mais são,
nas democracias, do que os órgãos executivos da burguesia.
Consequentemente, a democracia é apenas
um dos aspectos da ditadura burguesa, camuflada pelas fórmulas ilusórias
das liberdades políticas e garantias democráticas fictícias.
5. A NEGAÇÃO DA AUTORIDADE
Os ideólogos da burguesia definem o Estado como o órgão
que regula as complexas relações políticas e sociais
entre os homens na sociedade moderna, protegendo a lei e a ordem. Os anarquistas
estão em perfeito acordo com esta definição, mas a
completam, afirmando que as bases dessa lei e dessa ordem é a escravidão
da maioria da população por uma minoria insignificante, e
que para tal serve o Estado.
O Estado é, simultaneamente, a violência
organizada da burguesia contra os trabalhadores e o sistema de seus órgãos
executivos.
Os socialistas de esquerda e, em particular, os
bolcheviques, também consideram a autoridade e o Estado burguês
como lacaios do capital. Mas sustentam que a autoridade e o Estado podem
se tornar, nas mãos dos partidos socialistas, um meio poderoso na
luta pela emancipação do proletariado. Por este motivo, esses
partidos são a favor de uma autoridade socialista e um Estado proletário.
Alguns querem conquistar o poder pacificamente, através do parlamento
(os social-democratas); outros, por meios revolucionários (os bolcheviques,
os socialistas-revolucionários de esquerda).
O anarquismo considera-os, ambos, fundamentalmente
equivocados, nocivos para a tarefa de emancipação do trabalho.
A autoridade está sempre ligada à
exploração e à submissão das massas populares.
Ela nasce da exploração ou surge no interesse da exploração.
A autoridade sem violência e sem exploração perde toda
a razão de ser.
O Estado e a autoridade retiram das massas toda
iniciativa, matam o espírito criador e a livre atividade, cultivam
a psicologia da submissão: a expectativa, a esperança de
ascender na hierarquia social, a estúpida confiança nos dirigentes,
e a ilusão de ser parte da autoridade...
Ora, a emancipação dos trabalhadores
só é possível mediante o processo de luta revolucionária
direta das massas trabalhadoras e suas organizações de classe
contra o sistema capitalista.
A conquista do poder pelos partidos sociais-democratas,
por meios pacíficos e sob as condições da ordem atual,
não fará avançar um só passo a tarefa de emancipação
do trabalho, pelo simples motivo de que o poder real, consequentemente
a autoridade real, permanecerá com a burguesia que controla a economia
e a política do país. O papel da autoridade socialista se
reduzirá a fazer reformas, a melhorar o regime. (Exemplos: Ramsay
MacDonald, os partidos sociais-democratas da Alemanha, Suécia, Bélgica,
que assumiram o poder na sociedade capitalista.)
Tomar o poder mediante a violência e organizar
o autodenominado "Estado proletário" também de nada adianta
para uma autêntica emancipação do trabalho. O Estado,
construído supostamente para a defesa da revolução,
termina fatalmente distorcido por suas necessidades e características
peculiares, torna-se o objetivo em si mesmo, produz castas específicas
e privilegiadas sobre as quais se apóia. Deste modo, submete as
massas pela força e consequentemente restabelece as bases da autoridade
capitalista e do Estado capitalista: a opressão e a exploração
das massas pela violência. (Exemplo: "o Estado operário e
camponês" dos bolcheviques.)
6. O PAPEL DAS MASSAS E O DOS ANARQUISTAS NA LUTA E NA REVOLUÇÃO SOCIAL As principais forças da revolução
social são a classe operária urbana, as massas camponesas
e um setor dos trabalhadores intelectuais.
Nota: enquanto classe explorada e oprimida, da
mesma forma que os proletários urbanos e rurais, os trabalhadores
intelectuais são relativamente mais desunidos do que os operários
e camponeses, graças aos privilégios econômicos concedidos
pela burguesia a alguns de seus elementos. Eis por que, no começo
da revolução social, apenas a parcela mais desfavorecida
dos intelectuais participou ativamente.
A concepção anarquista do papel das
massas na revolução social e na construção
do socialismo difere, de maneira típica, daquela dos partidos estatistas.
Enquanto o bolchevismo e as tendências que lhe são afins consideram
que as massas trabalhadoras possuem apenas instintos revolucionários
destrutivos, sendo incapazes de uma atividade revolucionária criativa
e construtiva – razão pela qual essa atividade deve se concentrar
nas mãos dos homens que formam o governo do Estado e o Comitê
Central do partido – os anarquistas, pelo contrário, não
apenas acreditam que as massas têm imensas possibilidades criativas
e construtivas, como também trabalham pela supressão dos
obstáculos que impedem a manifestação dessas possibilidades.
Os anarquistas consideram o Estado como seu principal
obstáculo, usurpando os direitos das massas e apropriando-se de
todas as funções da vida econômica e social. O Estado
deve perecer, não "um dia", na sociedade futura, mas agora. Ele
deve ser destruído no primeiro dia da vitória dos trabalhadores,
e não deve ser reconstituído de forma alguma. Ele será
substituído por um sistema federalista de organizações
de produção e consumo dos trabalhadores federativamente unidos
e auto-administrados. Este sistema exclui tanto a organização
da autoridade como a ditadura de um partido, não importa qual seja
ele.
A revolução Russa de 1917 revela
precisamente essa orientação do processo de emancipação
social, na criação de um sistema de conselhos operários
e camponeses e comitês de fábrica. Seu lamentável erro
foi não ter liquidado, no momento oportuno, a organização
do poder estatal: no começo do governo provisório, antes,
e o poder bolchevique, depois. Os bolcheviques, aproveitando-se da confiança
dos operários e camponeses, reorganizaram o estado burguês
de acordo com as circunstâncias do momento e, em seguida, com a ajuda
do estado, mataram a atividade criativa das massas, sufocando os sovietes
livres e os comitês de fábrica, que representaram o primeiro
passo na construção de uma sociedade não estatal,
socialista.
A ação dos anarquistas pode ser dividida
em dois períodos: um antes e outro durante a revolução.
Em ambos, os anarquistas só poderão cumprir seu papel como
uma força organizada tendo uma concepção clara dos
objetivos da luta e dos meios que levam à realização
desses objetivos.
A tarefa fundamental da União Geral dos
Anarquistas, no período pré-revolucionário, deve ser
a preparação dos operários e camponeses para a revolução
social.
Negando a democracia formal (burguesa), a autoridade
e o Estado, proclamando a completa emancipação do trabalho,
o anarquismo destaca ao máximo os princípios rigorosos da
luta de classes. Isto desperta e desenvolve nas massas uma consciência
de classe e a intransigência revolucionária da classe.
É precisamente através da intransigência
de classe, do antidemocratismo, dos ideais do comunismo anarquista que
a educação libertária das massas deve ser feita. Mas
a educação somente não basta. É necessária,
também, uma certa organização anarquista das massas.
Para realizar isso, é preciso atuar em duas direções:
de um lado, selecionar e agrupar as forças revolucionárias
de operários e camponeses numa base teórica comunista libertária
(organizações específicas comunistas libertárias);
do outro, reagrupar operários e camponeses revolucionários
numa base econômica de produção e consumo (organização
produtiva dos operários e camponeses revolucionários, cooperativas
de operários e camponeses livres etc.). Os operários e camponeses,
organizados numa base de produção e consumo, influenciados
pelas posições anarquistas revolucionárias, serão
o primeiro ponto de apoio da revolução social.
Quanto mais se tornarem conscientes e organizados
à maneira anarquista, desde já, mais os operários
e camponeses manifestarão a vontade intransigente e a criatividade
libertária no momento da revolução.
Quanto à classe operária na Rússia:
é claro que oito anos de ditadura bolchevique, aprisionando as necessidades
naturais das massas e sua atividade livre, demonstram, melhor do que qualquer
coisa, a verdadeira natureza de todo poder. Mas a classe operária
russa desenvolveu enormes possibilidades para a formação
de um movimento anarquista de massas. Os militantes anarquistas organizados
devem ir imediatamente, com todas forças de que dispõem,
ao encontro dessas necessidades e possibilidades, para que não degenerem
em reformismo (menchevismo).
Com a mesma urgência, os anarquistas devem
aplicar todas as suas forças na organização dos camponeses
pobres, esmagados pelo poder estatal, buscando uma saída e desenvolvendo
seu imenso potencial revolucionário.
O papel dos anarquistas, no período revolucionário,
não pode se limitar à propagação de palavras
de ordem e de idéias libertárias. A vida aparece como a arena
não só da propagação desta ou daquela concepção,
mas, também, no mesmo grau, a arena da luta, da estratégia
e das aspirações dessas concepções à
direção econômica e social.
Mais do que qualquer outra concepção,
o anarquismo deve se tornar a concepção dirigente da revolução
social, porque apenas com a base teórica do anarquismo a revolução
social poderá conduzir à completa emancipação
do trabalho.
A posição dirigente das idéias
anarquistas na revolução significa uma orientação
anarquista dos eventos. Contudo, não se deve confundir essa força
motriz teórica com a liderança política dos partidos
estatistas que levam finalmente ao Poder do Estado.
O anarquismo não aspira nem à conquista
do poder político, nem à ditadura. Sua principal aspiração
é ajudar as massas a trilhar a autêntica via da revolução
social e da construção socialista. Mas não basta que
sigam a via da revolução social. Também é necessário
manter esta orientação da revolução e seus
objetivos: substituição da sociedade capitalista pela dos
trabalhadores livres. Como a experiência da revolução
Russa em 1917 nos mostrou, esta última tarefa está longe
de ser fácil, sobretudo por causa dos inúmeros partidos que
tentam orientar o movimento numa direção oposta à
da revolução social.
Ainda que as massas se expressem profundamente nos movimentos sociais, pelas tendências e princípios anarquistas, essas tendências e princípios permanecem dispersos, se não forem coordenados, e consequentemente não conduzem à organização da potência motriz das idéias libertárias que é necessária para manter, na revolução social, a orientação e os objetivos anarquistas. Esta força motriz teórica pode ser expressa apenas por um coletivo especialmente criado pelas massas para tal fim. Os elementos anarquistas organizados constituem exatamente esse coletivo. Os deveres teóricos e práticos, no momento da revolução, são consideráveis. Ele deve tomar iniciativas e deflagrar uma participação total em todos os domínios da revolução social: na orientação e no caráter geral da revolução; nas tarefas positivas da revolução na nova produção, na guerra civil e na defesa da revolução, no consumo, na questão agrária etc. Sobre todas essas questões e numerosas outras, as massas exigem dos anarquistas uma resposta clara e precisa. E, a partir do momento em que os anarquistas proclamam uma concepção da revolução e da estrutura da sociedade, eles são obrigados a dar respostas claras para todas essas questões, a ligar as respostas a uma concepção geral do comunismo libertário e, por fim, dedicar-se totalmente à sua efetiva realização. Desta forma, a União Geral dos Anarquistas e o movimento anarquista assumem completamente sua função teórica motriz na revolução social. . . . continua
aqui
|