Voz
1: Uivos para Sade, um filme de Guy-Ernest Debord.
Voz 2: Uivos para Sade é dedicado a Gil J. Wolman. Voz 3: Artigo 115. Se alguém desaparece de sua residência e não se tem notícias dela durante quatro anos, as partes interessadas podem pedir ao tribunal civil para reconhecer oficialmente a ausencia de tal pessoa. Voz 1: O amor é válido apenas em um período pré-revolucionário. Voz 2: Nem todas essas garotas amam você, seu mentiroso! As artes nascem, crescem, e desaparecem porque pessoas insatisfeitas ultrapassam o mundo das expressões oficiais e vão além de seus festivais de pobreza. Voz 4: Diga-me, você dormiu com Françoise? Voz 1: Como na primavera! Coloque folhas novas na história do cinema: 1902: Viagem à Lua. 1920: O Gabinete do Doutor Caligari. 1924: Entr’acte. 1926: Couraçado Potemkin. 1928: O Cão de Andalucía. 1931: Luzes da Cidade. Nascimento de Guy-Ernest Debord. 1951: Treatise on Slime and Eternity. 1952: O Anticonceito. Uivos para Sade. Voz 5: «Quando chegou a hora de dar início à projeção, esperava-se que Guy-Ernest Debord subisse ao palco e fizesse algumas observações introdutórias. Se ele tivesse feito isso, simplesmente diria: ‘O que vamos ver agora não é nenhum filme. O cinema está morto. Não é possível mais fazer nenhum filme. Se vocês desejarem, podemos passar para uma discussão'». Voz 3: Artigo 516. A propriedade pode ser tanto real como pessoal. Voz 2: Para que nunca fique sozinho novamente. Voz 1: Ela é feia e bela — como tudo aquilo que amamos hoje. Voz 2: A arte do futuro não pode ser nada menos que irrupção de situações. Voz 3: Nos bares do Saint-Germain-des-Prés! Voz 1: Você sabe, gosto muito de você. Voz 3: Uma tropa considerável de cerca de trinta letristas, todos usando um uniforme imundo, a única marca registrada realmente original que possuem, vão até Cannes com o intuito de provocar algum escândalo que chame a atenção sobre eles. Voz 1: A felicidade é uma idéia nova na Europa. Voz 5: «Conheço as pessoas apenas pelas suas ações. Em outros aspectos eles são indistinguíveis uns dos outros. Definitivamente, somos diferenciados apenas por aquilo que fazemos». Voz 1: E suas revoltas tornaram-se conformismos. Voz 3: Artigo 488. A maioridade chega aos 21 anos; uma pessoa nesta idade está apta para todos os atos da vida civil. |
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DOIS MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 4: Ela constantemente reaparece em sua memória, repentinamente, como sódio efervescente dentro d'água. Voz 1: Ele estava bem consciente de que nenhuma de suas façanhas permaneceria numa cidade que gira com a Terra, que gira dentro de uma galáxia, que é apenas uma porção insignificante de uma ilha minúscula eternamente distante de nós. Voz 2: Escuridão total, os olhos se fecham diante da enormidade do desastre. |
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UM MINUTO DE SILÊNCIO DURANTE O QUAL A TELA PERMANECE ESCURA. | |
Voz 1: É necessário criar uma ciência da necessidade de situações que incorporará elementos de psicologia, estatística, urbanismo, e ética. Estes elementos devem ser focados em uma meta totalmente nova: a criação consciente de situações. |
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TRINTA SEGUNDOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. | ||
Voz 1: Extrato de jornal em 1950: «Jovem Estrela do Rádio Pula no Isère. Grenoble. Madeleine Reineri, 12 anos, mais conhecida pelo nome de 'Pirueta' e atriz principal do programa de rádio Quinta Feliz nos Alpes-Grenoble, deixou sua pasta na escola e pulou no Rio Isère na tarde dessa sexta-feira». Voz 2: Maninha, não somos uma coisa bonita de se ver. O rio e a miséria continuam. Somos impotentes. |
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UM MINUTO DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 1: A frieza do espaço interestelar, milhares de graus abaixo da temperatura de congelamento, do zero absoluto de Fahrenheit, dos Centígrados ou dos Réaumur: a incipiente insinuação de um amanhecer que se aproxima. A passagem rápida do Jacques Vaché pelo céu em tempo de guerra, com seu opressivo senso de urgência, com sua pressa catastrófica conduzindo-o à auto-destruição; o espírito flagelador do Arthur Cravan que mergulhou no Golfo de México por aquele mesmo tempo. . .. Voz 3: Artigo 1793. Quando um arquiteto ou intermediário contrata com o dono da terra a construção de um edifício sob determinado preço e condições, de forma alguma ele pode exigir qualquer aumento desse valor, seja por causa de aumento do preço da mão-de-obra, materiais ou por causa de qualquer mudança ou adição feita ao plano, a menos que tais mudanças, adições ou aumentos sejam autorizados por escrito e um novo valor de pagamento seja acordado com o dono da terra. Voz 2: A perfeição do suicídio repousa em sua ambiguidade. |
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CINCO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 2: O que significa um e único amor? Voz 3: Eu só responderei na presença de meu advogado. |
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UM MINUTO DE SILÊNCIO DURANTE O QUAL A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 1: A ordem reina mas não governa. |
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DOIS MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 4: Acho que jamais nos veremos novamente. Voz 2: As luzes nas ruas no inverno se apagarão com um beijo. Voz 4: Paris ficou realmente divertida por causa da greve nos transportes. Voz 2: Jack o Estripador nunca foi pego. Voz 4: Telefones, eles são engraçados. Voz 2: Qual um amor-desafio, como dizia a Madame Ségur. Voz 4: Eu lhe contarei algumas histórias bem assustadoras de minha terra, mas elas têm que ser contadas à noite. Voz 2: Meu querido Ivich, infelizmente há menos bairros chineses do que você pensa. Você tem quinze anos. Qualquer dia destes as pessoas deixarão de usar roupas coloridas. Voz 4: Já o conheço. Voz 2: A cada dia que passa o vento continental leva-o para mais longe. A floresta virgem é menos virgem que você. Voz 4: Guy, daqui a um minuto será amanhã. Voz 2: Arma Doida. Você lembra. As coisas eram assim. Ninguém era suficientemente bom para nós. Apesar . . . do granizo nas bandeiras de gelo. Não esqueceremos este maldito planeta. |
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QUATRO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 2: Algum dia eles serão famosos, você verá! Eu nunca aceitarei o fato escandaloso e inacreditável da existencia de algo como a polícia. Muitas catedrais foram erigidas em memória de Sarja Berna. O amor só é válido em um período de pré-revolucionário. Eu fiz este filme quando ainda havia tempo de falar sobre ele. Jean-Isidore, para sair daquela multidão efêmera. Na Praça Gabriel-Pomerand quando envelhecemos. No futuro todas as pequenas brincadeiras serão estudadas nas escolas secundárias e universidades. |
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TRÊS MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 3: Artigo 489. Um adulto que normalmente sofre de imbecilidade, demência ou que tem freqüêntes ataques de ira precisa ser mantido em prisão preventiva mesmo que tenha intervalos de lucidez. Voz 2: Tão próxima, tão delicada, perco-me na ilha vazia da linguagem. Eu te abordo, você está solta como um grito, e é tão natural. Um rio quente. Um mar de óleo. Uma floresta em chamas. Voz 1: Parece um filme. Voz 3: A polícia de Paris está equipada com 30.000 cassetetes. |
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QUATRO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 1: Libertem aqueles rostos que uma vez foram centelhas de desejos, como tinta esparramada em uma parede, como estrelas cadentes. Gin, rum, brandy — abaixo coisas como Forças Armadas. Chega de discurso funerário. Tais pessoas são banais. |
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CINCO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 1: Escapamos por pouco. Voz 2: O mais belo ainda está por vir. A morte seria um bife tártaro; um cabelo molhado na praia fervente de nosso silêncio. Voz 1: Mas ele é judeu! Voz 2: Estávamos prontos para derrubar todas as pontes, mas as pontes nos derrubaram. |
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CINCO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 2: Mademoiselle Reineri, você ainda tem sua maravilhosa face e seu belo corpo, o melhor da terra prometida. Como as luzes do néon, os diálogos repetem suas verdades definitivas. Voz 1: Eu te amo. Voz 4: Deve ser terrível morrer. Voz 1: Até logo. Voz 4: Você bebe demais. Voz 1: O que são amores de infância? Voz 4: Não entendo você. Voz 1: Eu passei por isso. Houve um tempo quando eu sofri muito com isso. Voz 4: Quer uma laranja? Voz 1: As belas errupções das ilhas vulcânicas. Voz 4: No passado. Voz 1: Não tenho nada mais para lhe dizer. Voz 2: Uma vez mais, após todas as respostas intempestivas e o fim da mocidade, já é alta madrugada. |
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VINTE QUATRO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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Voz 2: Como crianças perdidas vivemos nossas aventuras inacabadas. | ||
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VINTE QUATRO MINUTOS DE SILÊNCIO DURANTE OS QUAIS A TELA PERMANECE ESCURA. |
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