Zoroastro
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Buda
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Cristo
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BUDA


OS LIVROS RELIGIOSOS DO BUDISMO


O Budismo, informa Puini, possui o cânon sagrado mais extenso e mais rico do que qualquer outra das religiões, que têm um código escrito.

No Prajnâpâramitâ assevera-se que Çâkyamuni pronunciou 84.000 instruções e no Ratnakûta se diz que desde o principio a Doutrina era composta de 100.000 capítulos.

No Abidharma Kôsha Vyakiã se narra que todos os livros da religião búdica são em número de 6.000.

Decoravam os ensinos e os transmitiam de memória. O cânon somente foi formado cêrca de 400 anos após a morte de Buda. A memória é um arquivo precioso entre os hindus.

Todos os documentos que se referem ao Budismo são originários de dois grandes centros indianos, o do norte com sede em Nepal e o do sul com sede na ilha de Ceilão. Os escritos sagrados dessas duas origens diferem entre si: 1) pela língua, sendo os escritos setentrionais (norte) redigidos em sânscrito e os meridionais (sul) em pâli, dialeto que está para com o sanscrito como o português para com o latim; 2) pela forma, porque os documentos em pâli são mais completos e melhor ordenados, enquanto que os documentos em sânscrito, embora formem um verdadeiro cânon, não só tem pouca ordem como, também, possuem alguns elementos heterogêneos; 3) pela difusão, porque enquanto os documentos setentrionais se espalharam além do Himalaia, no Tibet, na China, no Japão e no Anam, os documentos setentrionais se espalharam além do Himalaia, no Tibet, na China, no Japão e no Anam, os documentos meridionais difundiram-se no Ceilão, na parte meridional da Indochina (Birmânia e Sião).

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Os escritos do cânon pâli de que Turchi faz um excelente apanhado, chamam-se Tripítaka (são escritos Tripítaka) ou as «três cestas», porque se dividem em três secções: o Vinaya-pitaka, o Sutta-pitaka e o Alihimmapitaka. A cesta de Vinaya ou da «disciplina», contém as regras da vida monástica e se divide como segue:

1) Pârâjika, espécie de código criminal que cataloga as culpas que provocam a expulsão de um monge da comunidade religiosa.

2) Pâcittya, complemento do precedente, em que estão expostos os motivos das sanções e das regras expostas na Pârâjika.

Estes dois livros são conhecidos sob o nome de Vibnhanga e podem ser considerados como o comentário da primeira regra budista em oito capítulos, chamada Pâtimoka, em torno da qual está entrelaçada toda a cesta Vinaya.

3) Mahâvagga, a «grande secção», contém normas gerais para admissão na comunidade: o ritual, as vestes, os atos canônicos, etc.

4) Cullavagga, a «pequena secção», que contém processos disciplinários, obrigações da vida diária e a narrativa dos concílios de Râjagaha e Visâli.

5) Parivâra é como um apêndice, que resume os quatro livros precedentes e constitui quase um catecismo ritual em forma de perguntas. A cesta do Sutta (Sútra em sânscrito) contém os discursos do mestre, mistos de poesia e de prosa, subdivididos em várias coleções que são:

I - Dêgha-nikâya ou «coleção longa»;

II - Majjhima-nikâya ou &laquuo;coleção média»;

III - Samyutta-nikâya ou «coleção mista»;

IV - Anguttar-nikâya ou «coleção numérica».

A estas acrescentou-se, posteriormente, uma quinta, em que são recolhidos os escritos que não cabiam em outro lugar, ou seja:

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V - Khudka-nikâya ou «coleção menor», que compreende quinze subdivisões menores das quais lembramos apenas:

a) o Sutta-nipâta, notável porque reflete os tempos mais antigos, a mentalidade e a vida dos primeiros heremitas do Budismo;

b) o Jâtaka «renascimento», com partes métricas, que contém 547 narrativas dos nascimentos anteriores de Buda. A esta se pode acrescentar:

c) o Carijâ-pitaka, narrativa em versos dos nascimentos anteriores de Buda;

d) o Dhammapada, elegante coleção de 423 estâncias das sentenças de Buda, que se constituem um verdadeiro tesouro;

e) Thera e Theri-gâthâ, dupla coleção de versos compostos por monges e monjas mais antigos, veneráveis, onde se encontram belos trechos de poesias, ao lado de profundas sentenças morais, conforme a metafísica budista.

As duas cestas Vinaya e Sutta são as mais antigas e pretendem conter, em parte, o pensamento genuíno do mestre e as práticas mais vetustas e preciosas da sua congregação. A ela acrescentou-se a cesta Alhidhamma que contém em sete tratados a metafísica do Budismo.

A descrição dos elementos do cânon sânscrito é muito mais difícil por ter passado por várias modificações nos países onde ele foi difundido. Seguem apenas os dados principais:

a) no Nepal, em lugar da divisão clássica das três cestas, há uma coleção de nove dharma ou «leis», dentre as quais as mais notáveis são:

1) O Saddharmapudarîka ou «loto da boa lei», livro de edificação, contendo parábolas que ilustram a vida religiosa;

2) O Lalita-Vistara ou «desenvolvimento dos divertimentos», espécie de «evangelho da infância», de Buda, onde estão narrados, aplicando-lhe na idade infantil, mitos naturais com toda a sua puerilidade, elegantíssima do ponto de vista literário.

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A estes textos é preciso acrescentar outros, compilações, especialmente:

3) O Mahâvastu e o Divyâvadâna que formam parte da coleção dos avadânas, isto é, «narrativas» de ações meritórias, cumpridas por Buda ou por outros santos ou santas da congregação. Estas duas compilações são no fundo parte do Vinaya-pitaka.

b) No Tibet se encontra todavia uma rica literatura sagrada, dividida em duas coleções, o Kanjur que é a Escritura ou seja a palavra de Buda e o Tanjur que é a Tradição ou seja, os documentos preparados pelos mais autorizados representantes do Budismo. O Kanjur se divide em sete secções, a primeira das quais (Dulva) que corresponde ao Vinaya e a última (Rgyud) que é um manual de magia. As cinco intermédias são sútra ou coleções de sentenças subdivididas em vários volumes.

c) Na China conservou-se a tradição das três cestas, divididas segundo as duas grandes divisões do Grande e do Pequeno Veículo; a despeito das alterações, reproduzem um esquema que se aproxima do cânon pâli.

Os indianistas ainda discutem qual dos dois cânones deve ter preferência. Praticamente o cânon pâli é o mais accessível, o mais completo e o melhor preparado, e permite assim um estudo sistemático da religião. É claro que nem tudo nêle contido deve ser considerado ensino de Buda. Muita coisa se refere à especulação das comunidades budistas, em torno do núcleo primitivo, oferecido pelo mestre. É preciso notar que o canon foi fixado lentamente por obra dos monges. O corpo de doutrina tem várias classificações: sûtra, gâthâ, jâtaka, etc., que permanecem nos dois cânones.


OS NOMES DE BUDA

Buddho é a forma pâli. Buddha é a forma sânscrita. Êle, recebeu os nomes de Gótama (Gautama em sânscrito), derivado provavelmente de sua irmã chamada Gotarni, que o criou como filho, em razão da morte de sua mãe, Siddhalta (Siddhârta em sânscrito), «aquêle que consegue o seu escopo» «próspero em

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tudo»; é o nome de batismo, diríamos nós, e, como tal, restou entre os membros da sua família.

Outros apelativos com os quais, mais tarde, ou nas inscrições, ou ainda no cânon, ele foi designado, são: Samana Gótama (sânscrito Çramana Gautama), «o Asceta Gotamide», Sâkhyamuni «o Sábio de Sâkhya» (inscrição do século III), «o Anacoreta da família dos Sâkhyas», ou Sâkhyasimha «o Leão da família dos Sâkhyas»); Tathâgata «Aquêle que está em possessão da verdade», o «Claro vidente, o Grande, o Perfeito», epíteto êste que ele frequentemente usava para designar-se a si mesmo - Bhagavâ (sânscrito Bhagavat) «Eminente Senhor, Venerável»; «Sattha» o «Mestre». A última denominação usada pelos seus mais longínquos discípulos, com a qual ele passou para a história, foi a de Buddha ou Sambuddha, «o Iluminado, o Despertado, o Sábio».

Em rigor dever-se-ia escrever Buddho, forma pâli, no sentir de Neumann, porque a terminação do nominativo singular masculino do pâli, língua sagrada do Budismo, é sempre representada por -- o -- nunca pela vogal -- a. «Diz-se Buddho e assim está escrito em todos os manuscritos do pâli e assim pronunciam todos os budistas».


A FAMILIA DE BUDA

A data mais provável do nascimento de Buda é o ano 560 a.C. Há, porém, estudiosos que divergem. É assim que Lassen dá o ano de 543 como certo. Buhler e Max MüIler supõem ser 477, Winternitz 480, Gopala Aiyer 487, Kern 388, etc.

Buda nasceu próximo de KapilavattIu. (sânscrito Kapilavastu), capital do domínio dos Sâhkyas, destruida segundo a tradição no início do século V a.C., cujas ruínas jazem sepultadas ao norte da região de Basti, nos confins do Nepal com a India inglêsa; talvez seja a hodierna Pijrâvâ ou Tilaura Kot. Seu pai chamava-se Çuddhodana e sua mãe Mâyâdevi ou Mãyâ. A mãe, morreu sete dias depois do nascimento do filho, e o menino foi criado por Mahâpajâpati (sânscrito Mahâprajâpati), irmã de Mâyâ, outra esposa de Çudhodana, que mais tarde lhe gerou um outro filho e uma filha.

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Parece que Buda casou-se três vêzes. Suas esposas foram Gopî (ou Gopikâ ou ainda Gopâ), Yaçodhara e Bhaddakacchâ. Da última, aos 29 anos, nasceu-lhe um filho chamado Râhula, razão por que foi ela designada RâhulaMâtâ, «a mãe de Râhula». Há quem afirme que Yaçodhara foi a mãe de Râhula e também que a terceira esposa chamava-se Margajâ.


BUDA E A ARQUEOLOGIA

Tarefa árdua é reconstruir, nos seus elementos reais e genuinos, a biografia dos fundadores das grandes religiões, porque as suas figuras tendem a despojarem-se daqueles resíduos históricos que fragmentariamente sobrevivem nas tradições mais antigas, saídas dos círculos dos imediatos discípulos e a assumir um caráter sempre mais legendário e divino, à medida que os tempos passam e se alarga o número dos fiéis. É o que se pode dizer de Buda.

O indianista Senart tentou demonstrar que a vida de Buda é um mito do naturalismo solar que significa o caminho do sol, da aurora ao poente.

As descobertas arqueológicas vêm demonstrar que Buda não é um mito, mas teve existência real.

Entre as várias descobertas, convêm assinalar o fato de haver W. C. Peppé, em 1898, descoberto num stúpa (túmulo funerário), próximo de Piprâvâ, uma urna contendo relíquias de ossos cremados de Buda e a seguinte inscrição decifrada por Pischel e
confirmada por Bühler, como sendo o mais antigo documento sakyo: iyam salianidhane Budhasa Bhagavato sâkiyanam sukiti Bhatinam sabhaginikanam saputadalanam. «Esta é a urna funerária do sublime acordado, doação dos sâkyas, dos irmãos com as irmãs, com filhos e as mulheres».

Isto estava de pleno acordo com aquilo que os textos tinham transmitido, isto é, que após a morte de Buda os seus restos mortais tinham sido repartidos entre os príncipes e nobres presentes na última cerimônia. Entre êsses encontram-se justamente os sâkhyas de Kapilavastu, os poucos que escaparam do morticínio realizado por Vidúdubha, rei de Kosala.

 

VIDA DE BUDA

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Além dos dados já apresentados, Buda, sentindo o desejo pela solidão, abandonou a família e dedicou-se à vida ascética, durante a qual conseguiu estabelecer a fórmula da libertação. Empenhou-se em torná-la conhecida como um dom magnífico e encontrou discípulos, homens e mulheres, que a seguiram voluntariamente sob certa disciplina. Morreu após um ministério ininterrupto, lá pelo ano 480 a.C., tendo ele 80 anos de idade. O seu corpo foi cremado aos primeiros raios do sol, fora das muralhas da cidade de Kusinara e as suas cinzas foram divididas em oito partes para serem distribuidas.

Não houve um só Buda; parece que houve mais três antes dele. Ele é o quarto Buda e é chamado Gótama isto é, o «Buda Histórico», Buda chamado «o grande médico das almas».


BUDA E AS LENDAS

Muitas e extensas são as lendas em tôrno da vida de Buda. Damos aqui somente o resumo das principais.

Ele nasceu em forma miraculosa por concepção e parto virgem, nos jardins de Lumbini a pouca distância de Kapilavastu. Sua mãe Mâyâ morreu sete dias após ter dado à luz. Prodígios vários acompanharam sua infância. Assim é que, apenas nascido, ele anda e dos seus passos desabrocham flores de loto; quando entra no templo caem as estátuas dos ídolos; ainda criança, sabia expor os sessenta e quatro modos de escritura, ignorados pelos mestres.

A sua juventude transcorre em prazeres, quando um dia, ficou profundamente abalado com três encontros: um velho decrépito, um febrento, um cortejo fúnebre, isto é, velhice, doença e morte, o termo fatal de toda a existência humana. Buda caiu em profunda meditação, quando a resposta muda e eloquente lhe foi dada pelo encontro com um asceta que caminhava tranquilo, pedindo esmola. Foi para ele uma voz irresistível. No avanço da noite, lançou um último olhar às dançarinas adormentadas e decompostas, sem saudar a esposa querida por temer não resistir

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a separação e fugir, não obstante a vigilância recomendada pelo seu pai: era aquela uma noite de plenilúnio.

Durante sete anos permaneceu nas selvas a meditar sobre a dor da vida e sobre os meios da libertação, sob a orientação de dois brahmanes, Arâda (Alâra em pâli) e Uddaka, que depois abandonou por não se sentir satisfeito, tendo posto em prática nesse meio tempo as severas medidas ascéticas que as escolas em voga sugeriam, porém, tudo isso, em vão. Quando um dia, abandonado pelos cinco outros heremitas, que o tinham acompanhado no bosque de Uruvela, tentado debalde por parte de Mâra, o malígno, que lhe apresenta sob as formas mais agradáveis, os prazeres da vida, ele no silêncio da noite, debaixo da árvore que o protege na meditação, diante das águas que correm tranquilas, recebe num instante a iluminação sagrada (bôdhi) e compreende, então, finalmente, a verdade da dor e as outras que explicam a sua origem e conduzem à sua extinção. A partir dessa noite ele foi o Buda «o acordado» ou o desperto.

Passou ainda, um mês a meditar na doutrina instituida, a desenvolvê-la na sua mente, a resistir a tentação de Mâra que temia a sua propaganda. Finalmente resolveu comunicar aos homens a libertação, tendo realizado em Benares o seu célebre discurso, que tem sido chamado «O Sermão do Monte» do Budismo.

Buda peregrinou, fazendo prosélitos, tendo atingido um número elevado. Entre os primeiros convertidos notam-se os quinze ascetas, que o haviam abandonado na floresta, Sâriputa e Mogallâna, dois jovens brahmanes, Ananda, o discípulo amado, que o assistiu nas últimas horas, Upali, o barbeiro dos Sâkhyas e o canonista-teólogo da comunidade, Râhula, o filho de Buda, Bambisara rei de Magadha, a região natal do Sublime, Pasenadi, rei de Kosala, Devatta, seu sobrinho que mais tarde se separou por inveja e ambição. Êste é o Judas do Budismo.

Os seus discursos foram proferidos, de preferência, próximos de Savatthi no parque de Jetavana; na colina de Gijjha Kûta e no bosque de bambu, Veluvana.

Na sua avançada idade, por ter comido carne de porco salgada ou fungos venenosos, adoeceu e quis recolher-se no bos-

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que, perto da cidade de Kusinara, onde deu as suas últimas instruções e depois recolheu-se e entrou êxtase que lhe serviu de caminho para o nirvâna. Prodígios da natureza, terremoto e trovão comemoraram a sua partida, enquanto que Brahma e Indra proclamavam que o Sublime tinha entrado na glória.

Os restos do cadáver cremado foram distribuidos em oito partes àqueles que participaram dos funerais.


A DOR E O CURSO DA VIDA DE BUDA

A impressão profunda do sofrimento humano levou Buda a abandonar a casa paterna com o intuito de resolver o problema da dor e da morte. Na ocasião em que o pai lhe suplicava que não o abandonasse e não abandonasse o reino, a espôsa e o filho pequenino, ele disse estas palavras que merecem reflexão:

«Quatro coisas eu desejo, Senhor: se tu m'as podes conceder, eu não te deixarei, eu renuncio a partida. Desejo que a velhice nunca me surpreenda, que a minha beleza e juventude não tenham fim; que a saúde nunca me abandone, nem jamais a morte me surpreenda; que sempre a felicidade esteja ao meu lado e nunca a dor».

O pai, como era bem de ver, não pôde satisfazer as condições que o filho impunha e êste, afastando-se, seguiu o seu ideal, procurando resolver o problema da dor ou do sofrimento humano.


A CULTURA DE BUDA

Buda «o mais sábio dos homens», no dizer de Bournouf, é uma figura extraordinária. Sua vida é «tecida de lendas», como vimos. Porém, purificada do exagero, pela crítica sensata, ele atrai a todos os estudiosos pela sua atitude, pela sua mente e pelos seus ensinos ou doutrina. Buda é chamado o Platão do oriente. As notícias biográficas de Gótamo são concordes em afirmar que ele, homem de gênio, estudou todas as filosofias, todas as escolas e todas as religiões e quis passar pela experiência dessas filosofias e dessas religiões. Depois de um longo período penoso, emancipou-se do ensino de outros e independente ele se pôs a pesquisar a verdade. Foi discípulo dos dois maiores filósofos

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da época, de Aráda e de Udraka. Pela sua intuição maravilhosa e finíssima, ele compreendeu a vida em toda a sua variedade e extensão, vida sua e dos seus, vida humana, animal e universal. Ao ensinar porém, não se preocupava com locubrações filosóficas, ele era prático.

Ignora-se a língua que Gótamo usou para pregar os seus sermões. Como passasse de cidade em cidade e de província em província, é de crer que se servisse dos vários dialetos. O que ele desejava era ser compreendido pelo povo e com certeza não se serviu de uma língua que não fosse compreendida pela massa. É preciso considerar que fazia parte da educação de um príncipe aprender as diversas línguas faladas na India e sendo Buda um princípe, é claro que conhecia os vários dialetos e transmitia por êles o seu ensino.


O BUDISMO É RELIGIÃO OU FILOSOFIA

Várias são as opiniões no tocante ao Budismo. Uns afirmam que é uma religião, outros que é uma filosofia, outros que é uma filosofia e uma religião, e outros ainda que não é nem filosofia, nem religião. Cada um, conforme o seu ponto de vista, tem uma parcela de razão. Não é tarefa fácil afirmar que o Budismo é só uma religião ou só uma filosofia. Ao estudar o Budismo é necessário ter a mente hindu, sem o que não se poderá compreender como ele é. Ao abrir, por exemplo, o Rig-Veda ou um Brahmana ou ainda uma Upanishada, encontramos misturados religião, filosofia, ciência, literatura. Não sabemos se definimos o autor de um hino védico, como um poeta, um teólogo, um pensador ou um retórico. Nós classificamos o saber em vários campos, os hindus o consideram um todo. Possuimos uma mentalidade diferente ao julgarmos êsses estudos e fazemos, em regra, distinção entre filosofia e religião. Depende também do estudioso separar uma da outra e considerar a esfera e o fim de uma e de outra. Ninguém de certo contesta que elas têm profunda afinidade. Sabe-se que pesquisando as origens de ambas, encontram-se muitas coisas em comuns e que se auxiliam mútuamente nos problemas de Deus, do universo, dos sêres e do homem. Há quem afirme, com sobeja razão, que o Cristianismo é também

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filosofia, além de ser essencialmente religião. Certamente o Cristianismo é a «ciência, a filosofia, a sabedoria de Deus».

Buda não foi original segundo alguns, mas ele somente mudou em religião aquilo que seus mestres, antes dêle, haviam ensinado como filosofia.

Certo sábio declara que o Budismo, melhor do que uma religião ou uma filosofia, é fé, fé na palavra, na autoridade do Mestre, fé nas dores da existência e da libertação, fé na obrigação que têm os homens de fazer todo o esforço para conseguir o duplo nirvâna. Morrer para a dor nesta vida, morrer para a morte incessante nos ciclos das existências. Para os hindus Budismo é religião.


EVOLUÇÃO DO BUDISMO

Em regra, não se deveria dizer Budismo, mas Budismos, no plural, tanto a antiga e genuina doutrina do Mestre modificou-se através do séculos, atendendo a mentalidade dos diferentes povos que a receberam como norma religiosa. O Budismo do Ceilão é muito diferente do Budismo do Tibet e o do Tibet por sua vez do Budismo do Ceilão. Assim, fala-se num Budismo chinês e num Budismo japonês. Na realidade os 450 milhões de budistas não crêem na mesma coisa e se o Iluminado tornasse a nascer não reconheceria entre os 450 milhões nem sequer um só, digno de chamar-se seu discípulo. Com certa diferença, o mesmo se poderia dizer de Cristo, tanto os cristãos modificaram o seu Evangelho no ensino e na prática.

O Budismo pode ser distinguido nos três períodos seguintes:

1) Período representado pelo Budismo primitivo, como é pregado por Sákhyamuni;

2) Período representado pelo Budismo, quando começou a elaborar doutrinas filosóficas, que o fêz aproximar-se do Brahmanismo;

3) Período representado pelo Budismo, que além do simbolismo brahmânico, compreende muitas crenças e superstições, que estavam em vigor nos países onde ele foi introduzido.

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OS CONCÍLIOS DO BUDISMO

Como o cristianismo, o Budismo tem suas várias escolas de interpretação, não faltando hereges e heresias.

Após o falecimento de Sâkhyamuni, seus discípulos reuniram-se em Rajâgaha para colher e fixar os sermões do Mestre. Foi este o primeiro dos chamados Concílios. Os sermões foram fixados, mas não por escrito. Fixado o cânon oralmente, foi ampliado 100 anos mais tarde no Concílio de Vesâli e definitivamente ultimado no terceiro Concílio sob o Imperador Açoka, que reinou de 264 a 277 a.C., chamado o Constantino do Budismo. O cânon foi vasado na língua pâli, algumas décadas antes da era vulgar, isto aproximadamente 400 anos após a morte de Buda.


O CAMINHO DA VIDA DE BUDA

Depois de haver declarado ser preciso evitar os dois extremos -- o caminho do gozo e o caminho da mortificação, Buda afirma aos discípulos ter descoberto o caminho do centro, o qual abre os olhos, abre a inteligência, conduz à paz, ao conhecimento, à lúcida visão intuitiva, ao nirvâna. Este é o caminho que consiste em oito virtudes:

1 - reto ver,
2 - reto pensamento,
3 - reta palavra,
4 - reta ação,
5 - reto modo de viver,
6 - reto esfôrço,
7 - reta lembrança,
8 - reta contemplação.

Largas considerações seriam necessárias para explanar essas sentenças condensadas.

Os mandamentos éticos de Buda são cinco:

1 - Não matar nenhum ser,

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2 - Não roubar,
3 - Não cometer adultério,
4 - Não dizer falso,
5 - Não beber bebidas alcoólicas.

 

O ÂTMAN


O universo é chamado o macrocosmo e o homem, o eu, o microcosmo. Há muita relação entre os dois mundos.

Existe uma hierarquia entre as forças vitais, disse o deus Indra a Pratardana. Ora, mesmo privado da palavra, vive o mudo, privado da vista, vive o cego, privado do ouvido, vive o surdo, privado do intelecto, vive o néscio, privado de braços e pernas, vive o mutilado, porém o Prâna, o espírito vital, é quem dá aos olhos a faculdade de ver, aos ouvidos a faculdade de ouvir, etc. Desaparecendo o Prâna desaparece do corpo todo o fenômeno da vitalidade. Reconhecido, pois, em nós, este espírito vital, superior aos sentidos e ao próprio intelecto, reconhecida essa força básica do nosso ser, último resultado da análise do nosso eu, compreende-se porque se chama Âtman «o eu mesmo», porque é elevado ao supremo princípio das coisas. Se a vista, a audição, o gosto, o cheiro, o tato existem como sentidos cósmicos, o Âtman, o recôndito sustento de todos os fenômenos vitais do meu ser existirá sem dúvida também fora de mim, será a arcana mundial que penetra e anima o todo. No fundo de todas as causas existe o Âtman e fora do Âtman, desta única realidade, existe o fenômeno transitório e mutável, a ilusão. O Âtman não se define. O Âtman que está no universo, fora de mim. O Budismo ensina: ama a teu próximo, porque o teu próximo é o Âtman, porque tu mesmo és o teu próximo.


O KARMAN

Gótamo afirma que o homem é um ser livre e taxa de herético quem afirma o contrário. O homem é o artífice de si mesmo; é o salvador de si próprio. É interessante a doutrina do Karman. O Budismo é contra o materialismo. Há uma coisa que não desaparece: é a ação. Os efeitos das nossas boas ou más

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ações subsistem depois da morte, são a única realidade inerente a minha pessoa na eternidade. Não posso dizer, raciocina o budista, que o ôlho é meu, porque envelhece, posso perdê-lo, morre; o pensamento não me pertence, porque muda, posso perdê-lo, morre; nada posso chamar meu, porém a ação, sim, esta é minha. A ação, êste último resíduo da análise praticada no meu ser, no mundo todo que me cerca, me salva do materialismo, constitui o elo de conjunção entre o visual e o invisível, é o sustentáculo da Metafísica. Consigo aferrar-me a uma realidade, posso finalmente dizer que «eu sou enquanto opero, enquanto quero». Êste operar, êste querer é livre, porque é justamente meu, constitui o meu ser. A liberdade de querer constitui uma axioma budista. Sâkyyainuni disse: «Eu ensino que existe uma obra, uma ação, um querer».

O processo do universo é uma constante transformação dos mesmos elementos, dá origem a novas formas sempre na base da mesma substância. Daí o fato da morte não ser destruição, porém, somente, transformação, renovação, evolução. Cita-se êste pensamento: «Tudo o que nasce morre... tudo aquilo que morre nasce». Nascimento e morte são dois termos correlatos, um pressupõe o outro. Ora, a força que mantém um ato, o processo mundial, é o Karman, isto é, a ação cujas raízes profundas se encontram na arcaria natural, sêde de viver. A ação produz necessàriamente um produto que lhe corresponde, é em outros termos, diz Formichi, causa de um efeito bem determinado. A lei da casualidade domina não somente o mundo físico, mas também o mundo moral.


A TRANSMIGRAÇÃO DA ALMA

O dogma da transmigração da alma, segundo alguns estudiosos, vem de muito longe, da pré-história, do homem selvagem e foi-se formando pouco a pouco.

No mais antigo monumento literário da india, o Rig-Veda, 1.500 a.C., na opinião de Belloni-Filippi e outros, não se encontra traços da metempsicose (sanmsâra). Aí se fala de celestes gozos, ultra terrenos, prometidos aos bons e de profundos lugares de trevas destinados aos maus. Uma vez decidida a sorte de uns e de outros, falta qualquer referência à volta do outro a êste

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mundo. Há no entanto quem pense que no Rig-Veda, 10. 16-3, baseado no sanscritólogo S. Levi, se encontra vestígios dessa doutrina. Eis o trecho: «que l'oeil aille au soleil; au vent, le souffle; au ciel va-t'en; à Ia terre, selon le loi; au bien aux, va-t'en, si c'est ton bien; dans le plantes installe-toi avec tes membres».

Na opinião de Formichi, na literatura brahamânica já se encontram essas idéias mais claras. Porém, onde essa doutrina encontra larga messe é nas Upanishadas do VI séculos a.C.

No Budismo não é lícito falar em transmigração da alma ou de metempsicose, porém só em reencarnação. O que o Budismo admite continuar a subsistir depois da morte do indivíduo é somente o efeito das suas ações (Karman), o qual constringe as disposições ou tendências do indivíduo a encarnar-se sem que nada migre do corpo deposto no novo que se assume. Sucede mais ou menos aquilo que se dá quando uma lâmpada acende outra. No diálogo entre o rei Milinda e o sábio Nâgasena, deparamos com o trecho seguinte:

«disse o rei -- Bhande Nâgasena, como pode o renascimento acontecer sem que nada transmigre? Dá-me um exemplo.

Suponde, Magestade, que alguém acenda uma luz de uma outra luz; ora, a primeira lâmpada é porventura passada na segunda?

Não, na verdade, Bhante.

E precisamente da mesma forma o renascimento sucede sem que alguma coisa transmigre».


A SÊDE DE VIVER

Há certos pensamentos, tão interessantes, que encerram um mundo de idéias: «vida é dor, diz Buda, renúncia é libertação». Porém de onde se origina essa dor tão real? Origina-se da sêde de vida e de felicidade. Quem mata o corpo sem juntamente suprimir o trsna, o desejo de viver e ser feliz, não destroi a dor. «Em substância, diz Deussen, é a mesma coisa o que Budha chama trsna e considera como causa da dor é aquilo que Jesus chama epithymia, mau desejo, e considera a causa do pecado. . .»

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Marcos 4:19. Ambos os termos têm, no fundo, o mesmo sentido, sêde de viver, o que constitui fonte na qual derivamos dôres da existência e os pecados.


O NIRVÂNA

Nirvâna eis um termo complexo e de não fácil estudo. Deveria ser tratado em um artigo à parte tal é a sua importância. O Budismo em suas várias etapas de evolução, interpreta de modo diferente esta palavra. O que interessa aqui, por ora, é saber o que Buda queria dizer com o termo nirvâna. Há quem diga que a palavra é composta de ni e vana, desejo, total emancipação dos desejos, total cessação de existências. Outro, com maior razão, afirma que é composta de nir partícula negativa e va vento, sôpro, movimento. O termo nirvâna, pois, significa não movimento, cessação de movimento, da vida.

Grande número de estudiosos sustenta que nirvâna significa o nada, extinção. Sâkhyamuni porém considera herético quem afirma que depois da morte tudo acaba. «Disse Jambukhâdoka a Sâripputta: Nirvâna, nirvâna, dizes tu, ó Sâripputta. Que coisa é então o nirvâna? O extinguir-se da paixão, o extinguirse do pecado, o extinguir-se da perturbação, isto se diz nirvâna». O nirvâna é sinônimo da imortalidade, é a coroa de uma vida santa. «Como a medicina é contra a morte, assim o nirvâna é contra a morte».

Diz Anna Maria Recupito: «O nirvâna começa onde termina êste mundo terreno».


A SÚPLICA NO BUDISMO

No budismo antigo a súplica não existia na forma de adoração. Ele nega a existência de Deus e dos deuses. Também não poderia pedir uma bênção ou graça, porque graça e favores são a negação do Karman, a negação da lei férrea da casualidade, que é o dogma de ciência e de fé. No Universo não há lugar para graças e favores; no universo toda a causa produz o seu efeito, cada semente o seu fruto, cada ação recebe bom ou mau castigo. O homem de alguma forma é o artífice de si mesmo: o seu bem ou o seu mal depende dêle. Buda ensina que a oração é a boa

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conduta. Amar o ser puro eis o que seja orar, para ele. Orar, para Buda, não é pedir, mas é oferecer-se, é fazer o bem em toda a extensão. Só com o correr dos tempos houve modificação. Chegou-se a considerar Buda um deus e surgiram orações várias.


DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE BUDA E CRISTO

Têm-se feito vários estudos para demonstrar a afinidade entre o Budismo e o Cristianismo. Pergunta-se qual é a fonte originária que pode explicar essas idéias comuns. Nem o Budismo influiu na Cristianismo, nem o Cristianismo no Budismo, pensam vários estudiosos.

Um indianista afirma que os Evangelhos são independentes dos textos budistas. Há certas verdades em filosofia e em religião que são comuns, porque são universais.

Há diferenças notáveis entre o Cristianismo e o Budismo, como também há entre êles grandes semelhanças.

Apresentamos apenas alguns exemplos, porque o campo é vasto.

A doutrina de Buda é difícil, é doutrina só para os sábios: «A minha doutrina, diz ele, é profunda, difícil, árdua, para ser compreendida: sublime e digna de somente ser conhecida pelo sábio». Embora seja fato que Buda se dirige a todas as pessoas sem distinção, apresenta entretanto conceitos que deixam à margem as crianças, as mulheres, as quais, afirma ele , «não podem obter o céu», e considera os humildes, os ignorantes, as massas, como «Vil vulgo».

Jesus, ao contrário, se dirige às crianças nêsse convite que emociona: «Deixai vir a mim os pequeninos.» Dirige-se ainda a todos nestes termos: «Vinde a mim todos...» Mateus 11:28. «Sim, vinde a mim, as mulheres, os miseráveis, os pobres e os pobres de espírito».

O Budismo ensina que o homem se salva por si mesmo, pelos seus próprios esforços. O Cristianismo ensina que o homem é salvo por Cristo, mediante a fé.

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O Budismo é a religião da dor.

O Cristianismo é a religião do amor.

Ambas são religiões da salvação, porém há grande diferença entre uma e outra na maneira de alcançá-la.

Por outro lado há, entre elas, grandes semelhanças, as quais impressionam a muita gente.

O nascimento de Buda foi miraculoso, como foi miraculoso o nascimento de Cristo.

Buda foi tentado pelo demônio Mâra, Cristo foi tentado pelo Diabo no deserto.

Buda foi chamado a «luz». Jesus afirmou: «Eu sou a luz do mundo».

Buda disse a seus discípulos: «Vós sois a luz». Jesus, por sua vez afirmou aos discípulos: «Vós sois a luz do mundo».

Buda mandou pregar a sua lei a todos os homens: «A minha lei, disse ele, é uma lei de graça para todos, pois a lei que ensino é absolutamente pura, ela não faz distinção entre patrícios e plebeus, entre ricos e pobres».

Cristo afirmou aos discípulos: «Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura», Marcos 16:15.

Buda na hora de morrer disse aos discípulos: «Eu estarei sempre no meio de vós, como no meio de todos aquêles que praticam a doutrina que ensinei».

Cristo afirmou aos seus seguidores: «Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos».

Buda ao morrer, disse: «Dá-me um pouco dágua, tenho, sêde e quero beber».

Cristo na cruz, afirmou: «Tenho sêde».

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Há semelhança entre o sermão de Buda em Benares e o Sermão de Cristo, no Monte. Buda fala por síntese, Jesus fala por análise; Buda fala à inteligência, Cristo fala ao coração.

Se é fato que Buda é «o mais sábio dos homens», Cristo é o mais divino dos homens.

Ao estudar essas religiões é preciso ter a mente aberta e tomar em consideração as diferenças e as semelhanças e pesquisar e ver onde essas verdades eternas se encontram.

A verdade não teme confronto e Cristo, de uma feita, disse: «Eu sou a verdade».


Fim do estudo sobre Buda.

Estudo sobre Cristo em http://www.oocities.org/projetoperiferia5/cristo.htm


Zoroastro
http://www.oocities.org/projetoperiferia5/zoroastro.htm
Buda
http://www.oocities.org/projetoperiferia5/buda.htm
Cristo
http://www.oocities.org/projetoperiferia5/cristo.htm

Edição Eletrônica pelo Coletivo Periferia
http://www.oocities.org/projetoperiferia
Projeto Periferia, Travessa do Anfiguri 47, CEP 08050-579, S. Miguel Pta. S.Paulo-SP, Brasil
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