CAPÍTULO 2



CONSTRUIREI MINHA IGREJA
 
 

O poder para construir a igreja faz parte do cumprimento de todas as profecias na Bíblia inclusive aquelas que se referem à encarnação, crucificação, ressurreição e ascensão de Cristo:

Quando Jesus chegou a Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: "Quem é que o povo está dizendo que Eu sou?" "Bem", responderam, "alguns dizem que o Senhor é João Batista; outros, que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos outros profetas". Então Ele perguntou-lhes: "E vocês, quem pensam que Eu sou"? Simão respondeu: "O Cristo, o Messias, o Filho do Deus vivo". "Deus abençoou você, Simão, filho de Jonas", disse Jesus, "Porque meu Pai do Céu revelou isto pessoalmente a você -- isto não vem de nenhuma fonte humana. Você é Pedro, uma pedra; e sobre esta rocha edificarei a minha igreja; e todas as forças do inferno não prevalecerão contra ela. E Eu darei a você as chaves do Reino dos Céus; todas as portas que você fechar na terra terão sido fechadas no céu, e todas as portas que você abrir na terra terão sido abertas no céu"! (Mateus 16:13-19).

A Pedro foi dado o privilégio de pregar a primeira mensagem de salvação, de abrir a porta do reino aos judeus, e depois aos gentios. No primeiro dia em que o evangelho foi pregado, tres mil almas se converteram, receberam salvação e entraram no reino de Deus através de Cristo.  Era o começo da era Cristã.

Ao anoitecer, foram acrescentados mais cinco mil novos convertidos ao Cristianismo para andar no caminho do Senhor, adotando aquele novo modo de vida, e o Senhor somava muitas almas diariamente. O que seria feito com todas estas pessoas? A resposta é simples: o Espírito Santo os reuniu em pequenos grupos que se encontraram em casas. Três anos com Jesus em comunidade convenceram os apóstolos da durabilidade da pequena igreja. Jesus moldou o desígnio indelével da primeira igreja no coração dos apóstolos, e então os outros líderes do primeiro século instintivamente os seguiram.

Assim como o sacrifício de animais foi substituído pelo sangue de Jesus, a estrutura centralizada no templo em torno de um religioso graúdo foi substituído pela estrutura descentralizada da pequena igreja, servida por anciões. Como muitos anciãos se encontravam em uma determinada cidade, o Espírito Santo pôde manter controle porque Ele estava na liderança de cada pequena igreja. Dentro deste conjunto encontravam-se os dons que Jesus deu à Igreja, isto é, o apóstolo, o profeta, o evangelista, o pastor e o professor. A igreja daquela cidade eram todas as igrejas. O conjunto da igreja consistia da somatória de todas as pequenas igrejas caseiras da cidade.

A Reforma de Martinho Lutero, embora tenha diagnosticado uma igreja doente, não procedeu à descentralização da igreja. A Primeira Reforma não foi um trabalho completo, pois não nos levou de volta ao desígnio de Deus para a igreja. De duas uma, ou estamos agora no processo de completar a Primeira Reforma ou estamos vendo a Segunda Reforma acontecendo ao longo do mundo pela forma como o Espírito Santo está assumindo o controle da igreja mais uma vez. O Espírito Santo está trabalhando para restabelecer a pequena igreja, e a restauração da igreja em sua totalidade não está longe de acontecer. Você pode imaginar o impacto positivo em uma cidade quando toda a igreja daquela cidade se reúne várias vezes durante o ano? Isto completaria o processo de Reforma.


JESUS O SALVADOR

Um dos intentos do ministério de Jesus na terra foi o de influenciar seus seguidores além da morte e ressurreição dele. Ele era ser um contínuo Salvador, de geração em geração, sem precisar estar aqui em forma corpórea para levar isso a efeito. O plano dele era muito mais que simplesmente tentar influenciar para que algumas nações praticassem a justiça como Deus, o Pai, fez com Israel. Para todos os propósitos práticos o plano original (a velha convenção) foi quebrado de propósito, abrindo caminho para o nova e perfeita convenção personificada em Jesus o Salvador. Por que então Jesus poria toda Sua confiança em doze homens para influenciar o mundo, especialmente depois de saber que todos os apóstolos seriam martirizados e que a carne de cristãos serviria de alimento aos leões em Roma? Isso teria sido mais que suficiente para descarrilar e esmagar qualquer movimento religioso fraudulento. Acredito que parte da resposta é encontrada em um exemplo poderoso proporcionado por Jesus na casa de Mateus:

Quando Jesus descia a estrada, viu um cobrador de impostos, Mateus, sentado num glichê da coletoria. "Venha tornar-se meu discípulo" disse-lhe Jesus, e Mateus saltou do lugar e O acompanhou. Mais tarde, quando Jesus e seus discípulos almoçavam (na casa de Mateus), muitos conhecidos espertalhões estavam lá como convidados! Os fariseus ficaram indignados. "Por que o mestre de vocês se reúne com homens como esses?" "Porque as pessoas que estão bem não precisam de médicos! São os doentes que precisam", foi a resposta de Jesus. Depois Ele acrescentou: "Vão aprender o significado deste versículo da Escritura: 'Não são os sacrifícios e as ofertas de vocês que Me interessam -- mas que tenham compaixão'! Meu trabalho aqui na terra é de insistir com os pecadores e não com aqueles que se acham bons, que voltem para Deus". (Mateus 9: 9-13).

Jesus mostrou clemência engajando-se com os pecadores no próprio campo deles, não se importando com as repercussões que isso poderia causar na hipocrisia farisáica. Livrar as almas da morte eterna é o maior ato de clemência que se possa imaginar. Quando Cristo disse, "vão aprender o significado deste versículo" Ele afirmou que não basta familiaridade com o texto bíblico, temos que aprender a entender o significado dele. Quando Cristo disse, "não são os sacrifícios... que me interessam" ele se referia diretamente aos fariseus; Tratava-se de uma concenação àqueles que colocam a religião em rituais, em vez de atos de clemência para com as almas perdidas. Eu acredito que esta imagem de Cristo compartilhando sua fé com pecadores deixou uma impressão marcante nos discípulos dele. Tornou-os seus soldados. Nada poderia impedi-los progredir contanto que a clemência fizesse parte das vidas deles. O destino fora lançado diante deles e também diante de nós.


JESUS O REFORMADOR

Jesus nos proporcionou um poderoso exemplo de reforma.  Ele nos deu uma pista de que as coisas ficam diferentes quando olhamos para seu nascimento em Belém. Um estábulo e uma manjedoura para o Filho do Deus altíssimo? Humildade e negação pessoal seriam companheiros constantes para ele. Não havia nenhum travesseiro para sua cabeça, nenhum abrigo para descansar, exceto o Monte das Oliveiras. As únicas coisas que o mundo ofereceu ao Filho de Deus foram uma manjedoura, uma cruz e uma tumba emprestada. O véu no templo rasgou-se em dois. Sua função de separação foi completada, terminada, consumada. Cristo veio diretamente para as pessoas, e as pessoas teriam acesso direto a Ele. O templo já não era mais o único lugar onde se poderia encontrar Deus. O Santo dos Santos, como a nação judaica o chamava, já não caberia dentro de quatro paredes. Uma mudança drástica tinha acontecido.

Desde Seu nascimento até Sua crucifixão, o Pai tinha a certeza de que Seu Filho atingiria cada uma das emoções humanas. Desde a humildade de Seu estilo de vida até a sublimidade em levantar pessoas da morte, nenhuma emoção humana escapou-lhe. Nenhum ser humano na terra poderia dizer, "Senhor, você não entende meus problemas nem minha condição". É notável o exemplo que Ele deu ao tentar trabalhar dentro da igreja tradicional. Custou sua vida. Aparentemente, sofrimento e perseguição constituem o subproduto natural do trabalho do reformador. Paulo deixa isso bem claro em Romanos 8:17: "E se somos os seus filhos, então participaremos dos seus tesouros -- pois tudo quanto Deus dá ao seu Filho Jesus agora é noso também. Mas se vamos participar de sua glória, precisamos participar também do seu sofrimento".

O Espírito Santo veio e substituiu o Santo dos Santos. Sua Igreja agora poderia ter acesso a Ele a qualquer momento, dia ou noite.

Eu pedirei ao Pai e Ele dará a vocês outro Consolador, que nunca deixará vocês. É o Espírito Santo, o Espírito que conduz a toda a verdade. O mundo em geral não O pode receber, porque não O procura e não O conhece. Mas vocês, sim, porque Ele mora com todos agora e um dia estará em vocês. (João 14:16-17)


A REAL CAUSA DA PERSEGUIÇÃO

  

Após o batismo por João e sua experiência no deserto, Jesus começou a pregar, "Deixem o pecado e voltem-se para Deus, porque o Reino dos Céus está perto". (Mateus 4:17). Tratava-se da mesma mensagem que Ele ensinou a João Batista. Jesus visitou João muitas vezes no deserto para ensiná-lo. A mensagem de Deus nunca mudou. Seu Evangelho era dirigido tanto ao espiritualmente doente e agonizante, como também ao espiritualmente ignorante. A chamada aos primeiros discípulos veio quando Jesus caminhava à beira do Mar da Galiléia. Pedro e seu irmão, André, estavam lançando suas redes como os pescadores fazem, e o Senhor disse, "Venham comigo e Eu lhes mostrarei como pescar as almas dos homens". Mateus 4:19).

Jesus, o sublime Salvador, via o mundo como uma grande lagoa em cujas águas pescaria as almas humanas. Usando essa mesma analogia de pescadores, achamos que há muitas lagoas dentro da grande lagoa do mundo. Podemos, por exemplo, pescar na lagoa dos judeus, na lagoa do governo romano, na lagoa dos gentios, na lagoa do Islã, na lagoa das religiões orientais, na lagoa do comunismo, na lagoa do ateísmo, etc. Um bispo graúdo e os líderes religiosos advertiram Pedro e os primeiros discípulos para que não pescassem na lagoa deles senão seriam lançados na prisão. Ao longo dos séculos os cristãos foram obedientes às palavras de Deus, atendendo ao pedido de Jesus quando ascendeu ao céu: "Portanto, vão e façam discípulos em todas as nações" (Mateus 28:19), e os guardiães das várias lagoas se tornaram nossos perseguidores.

Embora os líderes religiosos e políticos possam dar razões diferentes para perseguir os cristãos, eu acredito que o real culpado é a inimizade do coração contra Cristo e contra Sua verdade refletida nas vidas do seu povo. Os romanos professavam a tolerância a todas as religiões, quem estivesse dentro do império não teria nada a temer. Esta era a liberalidade que eles ostentavam. Até mesmo aos judeus se permitia viver de acordo com as próprias leis deles. O que foi que aconteceu, perguntar-se-á, que acendeu tal ira contra os cristãos? Teria o Império Romano qualquer coisa a temer neles? Teria qualquer coisa a temer de pessoas cujas vidas eram inocentes, cujas doutrinas eram a pura verdade celeste, e cuja religião conduzia ao bem-estar das pessoas, pública e reservadamente?

O que vou expor a seguir pode ser considerado como uma das causas inevitáveis da perseguição. Olhando os dois lados da questão, Andrew Miller explica:

O cristianismo, distinto de todas as outras religiões que o precederam, foi agressivo em seu caráter. O judaísmo era exclusivo; a religião de uma nação. O cristianismo foi proclamado como a religião do gênero humano, para o mundo inteiro.Tratava-se de algo completamente novo na terra. A religião pagã, que o cristianismo estava rapidamente arruinando e subvertendo, era uma instituição do Estado.

Ela entrelaçava o sistema social e civil de uma forma tão profunda que um ataque à religião entraria em conflito tanto com as normas sociais como as civis.  Foi exatamente o que aconteceu.  Se a Igreja primitiva tivesse se acomodado com o mundo como a Cristandade faz agora, muita perseguição poderia ter sido evitada.

A cristandade primitiva se retirou naturalmente dos pagãos. Tornaram-se pessoas separadas e distintas. Eles não poderiam fazer outra coisa senão condenar e repudiar o politeísmo, como sendo totalmente oposto a um Deus vivente e verdadeiro, e ao evangelho de seu Filho Jesus Cristo. Isto deu aos romanos a idéia de que os cristãos eram hostis à raça humana, pois viam que eles condenaram todas as religiões inclusive a deles. Conseqüentemente passaram a ser chamados de "ateus" por não acreditarem e zombarem das deidades e adorações pagãs.

A simplicidade e a humildade marcavam a adoração dos cristãos. Eles viviam juntos pacificamente desde o amanhecer ao anoitecer, evitando a ofensa. Eles cantavam hinos para Cristo e para Deus, eles "repartiam o pão" em memória do amor revelado por haver morrido por eles, eles se edificavam mutuamente e se empenhavam numa vida de santidade. Mas eles não tinham nenhum templo luxuoso, nenhuma estátua, nenhuma ordem de padres e nenhuma vítima para oferecer em sacrifício. O contraste entre a adoração deles e a de todos os outros no império se tornaram o maior manifesto. Aquela adoração cristã, em sua singela simplicidade, sem a ajuda de templos e clérigos, ritos e cerimônias, não é melhor compreendida agora pela cristandade professa do que foi então pela Roma pagã. Ainda, é verdade, "que Deus é Espírito, e nós precisamos ter a ajuda dEle para adorar como devemos" (João 4:24).

Pelo progresso do cristianismo, o interesse temporal de um grande número de pessoas seria seriamente afetado. Trata-se de um amargo catalisador para a perseguição. Uma multidão incontável de clérigos, fabricantes de imagens, negociantes, adivinhadores, cartomantes e artesãos de objetos religiosos tinham uma estreita e lucrativa relação com a adoração de tantas deidades. Todos eles, vendo seu negócio em perigo, juntaram todas suas forças contra os cristãos, buscando, por todos os meios, sustar o avanço da fé cristã. Eles inventaram e disseminaram vis calúnias contra todos os cristãos. As autoridades do clero e os astutos curandeiros facilmente persuadiram a opinião pública de que todas as calamidades, guerras, tempestades e doenças que afligem a humanidade foram lançadas sobre eles pela ira dos deuses, por causa dos cristãos que abalaram sua autoridade e eram tolerados em toda parte. Um momento de reflexão convencerá todos os leitores desta verdade, mas pela fé poderiam ver a mão do Senhor e ouvir Sua voz em tudo.

Mas, cuidado! Pois vocês serão presos, processados, e chicoteados nas sinagogas. Não imaginem que Eu vim trazer paz à terra! Pelo contrário, vim trazer uma espada. (Mateus 10:17 & 34).

Isso se refere à grande oposição que a igreja primitiva teria pela frente. No próximo capítulo veremos as razões do seu rápido progresso.




Millers Church History, p 129.

Capítulo 3



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