CAPÍTULO 3

 

Cristo: Supremo Arquiteto

 

 

A visível presença e caráter de Jesus rapidamente desfez aquela imagem de um Deus distante, reservado. Amor, compaixão, poder sobrenatural, discernimento, sabedoria e razão nos debates tornaram-se coisas corriqueiras e normais entre os discípulos. A obra de Jesus não era apenas construir Sua igreja, mas de espelhar em Sua pessoa o caráter do Pai.  Filipe disse,

  

"Senhor, mostre-nos o Pai, e ficaremos satisfeitos". Jesus respondeu: "Você nem sabe ainda quem sou Eu, Filipe, mesmo depois de todo esse tempo que tenho estado com vocês? Qualquer um que Me viu, vio o Pai! Portanto, como você está pedindo para ver meu Pai? Você não crê que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que eu digo não são propriamente minhas, mas do Pai que vive em Mim. E Ele faz a sua obra por meu intermédio. Basta vocês crerem nisto -- que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. Creiam nisto ao menos por causa dos poderosos milagres que Me viram fazer. Digo a vocês verdadeiramente que: qualquer um que crer em Mim, fará os mesmos milagres que Eu tenho feito, e ainda maiores, porque Eu vou para a presença do Pai. Vocês podem pedir a Ele qualquer coisa, em meu nome, e Eu o farei, e assim o Pai será glorificado através do Filho. Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e Eu o farei!" (João 14:8-14). 

 

Na ocasião, o que Jesus disse era difícil para eles acreditarem. Isto é, que o Pai estava em Jesus, e que eles fariam igualamente maiores coisas e que qualquer coisa que eles pedissem em nome de Jesus seria concedido. É registrada a satisfação do Pai por seu Filho no trecho anterior, quando Jesus declarou,

 

"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode chegar até o Pai, a não ser por Mim. Se vocês soubessem quem Eu sou, então saberiam quem é o meu Pai!" (João  14:6-7).

 

Este fato tinha que ser resolvido nos cora corações e mentes dos discípulos, ou Jesus seria nada mais que um amigo excitante ou outro rabino, em vez de ser Deus com autoridade construir sua Igreja. Olhemos para as cinco colunas essenciais do edifício da igreja construída por Jesus.

 

l. Pequena Estrutura

 

Grupos pequenos são um princípio fundamental no desígnio do padrão de Deus para com seu povo. Por que? Porque funciona! Jesus escolheu apenas doze homens de toda Israel como seus discípulos. A qualidade do tempo gasto com seus discípulos era imperativo para influenciar e mudar o carater deles e prepará-los para os combates que viriam. Eles não foram treinados em teologia, e se dependesse de nós, provavelmente não os aprovaríamos, nem se tornariam apóstolos. Mas eles se fortaleceram e foram ungidos como apóstolos, um poderoso exemplo para todos os convertidos da igreja primitiva. Olhe para você agora, quando começar a seguir a Cristo, não será mais o mesmo ao término de sua viagem terrestre! Aquele pequeno grupo de homens constituiu a primeira igreja do Novo Testamento. Este foi o tamanho normal da igreja primitiva que se reunia nas casas durante os primeiros trezentos anos de sua história. Infelizmente, a igreja moderna perdeu este fato de que a igreja deveria consistir de pequenas igrejas caseiras.

 

Jesus foi o primeiro apóstolo, como Paulo reconheceu em Hebreus 3:1. Devido à hostilidade dos líderes religiosos por causa daquilo que ensinava, Ele deixou Jerusalém na primeira viagem missionária do Novo Testamento para as cidades ao redor do Mar de Galiléia. Cada momento se tornou uma sala de aula para o aprendizado dos discípulos, onde Ele falava aos corações na forma de parábolas.

 

No Velho Testamento Deus escolheu limitar as tribos de Israel a doze. No Novo Testamento Ele escolheu limitar seus discípulos a doze. Havia outros que quiseram unir-se com Ele e os discípulos, mas o Jesus recusou tais ofertas, recomendando que voltassem às aldeias onde viviam e relatassem o que tinham visto. A intimidade nas relações só pode existir em pequenos grupos. Jesus sabia que tentar discipular intimamente muitos de uma só vez era impossível. Aquele princípio servia aos apóstolos. Verdadeiramente, Jesus pode ser chamado de Senhor da pequena igreja pequena. A igreja de seus desígnios esparramou o Evangelho a todas as nações conhecidas da terra apenas cem anos depois da ressurreição dele! Os modernos evangelistas de nossos dias dizem que apenas 3% daqueles que lotam os estádios, continuam servindo ao Senhor.

 

2. Liderança Humilde

 

Desde o começo Jesus procurou manter seus discípulos longe daquele sistema de liderança da casta sacerdotal típica do Testamento Velho. Vejamos o que ensina com relação aos líderes religiosos:

 

Nunca deixem que alguém chame vocês assim [Mestre]. Porque somente Deus é o Mestre e todos vocês estão no mesmo nível, como irmãos. Não se dirijam a ninguém aqui na terra chamando de 'Pai', porque somente Deus no céu deve ser chamado assim. E não sejam chamados de 'Mestre', porque somente um é o mestre de vocês, isto é, o Messias. Quando mais humilde for o serviço de vocês aos outros, maiores vocês serão. Para ser o maior de todos, é preciso ser servo. Mas aqueles que se acham grandes, sofrerão desapontamentos e humilhação; e aqueles que se humilham serão engrandecidos. (Mateus 23:8-12, ênfase minha)

 

Se você pensa e medita nas escrituras, já deve há muito tempo ter notado o quanto temos errado na igreja moderna quando exaltamos os clérigos. Jesus proibe seus futuros apóstolos de serem chamados de rabinos (reverendos), padres (mais velhos) ou professores (pastores). Nós somos todos humildes irmãos sob um só Mestre, Cristo. O que Jesus diz aqui é que se nos permitirmos exaltar a nós mesmos, a humildade na liderança é diminuida ou inteiramente descartada. Muitos de nós conhecemos igrejas onde o pastor caiu em pecado e a igreja sofreu por isso. Algumas igrejas até mesmo deixaram de existir. Que direito temos nós para elevar os homens tão alto para que isto aconteça? Se uma pessoa no banco da igreja entrasse em pecado isso não destruiria a igreja. Se a igreja é construída em um homem ela precisa cair. Quando o clérigo ou qualquer um outro cai, o próximo passo é o arrependimento e a restauração conforme esboçado em Gálatas 6:1. Cristo é nosso Rei, nosso supremo Pastor, e apenas Ele deve ser assim exaltado.

 

O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, proporcionou a Jesus outra oportunidade para ensinar sobre a nova ordem de coisas; isto é, a humildade na liderança.

 

Mas Jesus os reuniu e disse: "Entre os não-crentes, os reis são tiranos, e cada oficial inferior domina sobre aqueles que estão abaixo dele. Mas entre vocês é bem diferente. Todo aquele que quiser ser um líder, deve ser servo. E se vocês quiserem chegar bem alto, devem servir como um escravo. A atitude de vocês deve ser igual à minha, porque Eu, o Messias, não vim para ser servido, mas para servir, e dar a minha vida por muitos". (Mateus 20:25-28).

 

Na presente estrutura da igreja tradicional, com a divisão clérigo-leigo, é quase impossível ao clero não exercer domínio sobre o leigo. A ordem deve ser mantida em grande escala. Assim a liderança da igreja espera que todo mundo, de um modo agradável, mantenha-se quieto sentado no banco, pague seus dízimos e preserve o status quo. Esta servitude* ensinada por Jesus foi tão bem assimilada pelos apóstolos que Pedro, falando aos anciãos, reforçou-a da seguinte forma.

 

E agora, uma palavra a vocês, os anciãos da igreja. Eu também sou um ancião; com os meus próprios olhos vi Cristo morrer na cruz; e eu também participarei da sua glória e da sua honra quando ele voltar. Colegas anciãos, este é o meu apelo a vocês: Alimentem o rebanho de Deus; cuidem dele com boa disposição e não de má vontade; não pelo que vocês ganharão com isso, mas porque estão ansiosos de servir ao Senhor: Não sejam tiranos, mas guiem o rebanho com o seu bom exemplo. E quando vier o Supremo Pastor, a recompensa de vocês será uma participação perpétua em sua glória e sua honra (1 Pedro 5:1-4, minha ênfase).

 

Estes versículos reivindicam que o rebanho pertence a Deus e que o Supremo Pastor é Cristo. O ancião é o pastor. De uma ou de outra forma, todo cristão tem o coração de um pastor. O treino em um semiário, a habilidade de falar em público, a oratória convincente, o talento administrativo, nada disso faz um pastor. Com constancia, o ancião encoraja as pessoas para que sigam Jesus e cuida delas. Tal liderança faz com que você se discipline. Ele pode perceber se algo não vai bem. Ele sabe onde as ovelhas estão e é um grande observador do rebanho. Ele serve o conjunto e seu pagamento é a honra. Se eventualmente exaltar a si próprio, certamente será humilhado.

 

A descrição do trabalho do ancião aponta para o pastoreio do rebanho do Senhor, ou seja, espreitar os lobos e qualquer coisa diferente da tradição e da doutrina dos apóstolos. Qualquer coisa diferente de servir e de permanecer no rumo correto, como o Senhor usa o rebanho em sua totalidade para falar e edificar uns aos outros. Um pastor não gasta todo seu tempo alimentando suas ovelhas. Ele as leva ao pasto e elas se alimentam por si mesmas!

 

3.    Vínculo

 

O melhor exemplo de união vem da relação de uma mãe para com seu bebê. Começa quando o bebê está crescendo durante nove meses no útero dela. Vem a dor e a alegria do nascimento, e depois a amamentação e a alimentação continuam desenvolvendo os laço entre a criança e a mãe. Mas há um outro exemplo ainda maior de união, entre Deus e o gênero humano. Ele criou e preparou um mundo para nosso deleite antes de sermos criados. Ele nos criou do pó, contudo na própria imagem dele para que Ele pudesse ter uma íntima e perpétua relação conosco. Ele nos deixou a Bíblia, que aponta em direção a uma vida alegre e plena. A nós foi dado até mesmo o direito de escolher segui-lo ou não. Seu amor para conosco ficou provado quando Ele livremente deu a vida dele no Calvário para que nós pudessemos ser perdoados de nossos pecados, que teriam nos condenado à eternidade sem Deus.

 

Pelos seus apóstolos, herdamos uma estrutura de igreja divinamente projetada para resistir os males de Satanás, uma igreja que cresceria e se multiplicaria até mesmo secretamente se necessário. O amor de Cristo para conosco ainda está sendo consumado, depois de sua ressurreição Ele voltou ao céu para construir um lugar que será desfrutado por nós por toda a eternidade. Tudo isto foi feito para que ocorresse um elo e uma relação apropriada entre o Criador e suas criaturas.

 

A evolução da igreja nestes últimos mil e setecentos anos, na realidade, diminuiu nossa união pessoal com Deus. Hoje estamos unidos a um pastor, a um padre ou a um rabino. Eles se tornaram os únicos a nos alimentar ou a cuidar de nós, em vez de sermos alimentados e cuidados diretamente por Deus. Nossa ligação para com eles tornou-se tão grande que muitas congregações se dividiram em torno deles. Em alguns casos metade da congregação seguirá um pastor problemático e nem mesmo se preocupa com o restante do rebanho que deixaram para trás. A Bíblia nos fala que Ele é um Deus ciumento. Você acha que Deus está contente com um clérigo ou um papa que interfere ou diminui a relação que Ele projetou existir entre Ele e cada crente? O calvário custou inimaginavelmente caro, com um grande investimento se Sua parte. Nós nunca saberemos o que realmente o Calvário Lhe custou, apenas quando chegarmos ao céu poderemos compreender tudo que Ele deixou para vir à terra para nossa completa redenção.  

 

O crente recebe individual e diretamente o alimento do Senhor pela meditação e pela oração, pela leitura da Bíblia e pela permanencia diária em Sua presença. O Senhor não quer ninguém interferindo no vínculo proporcionado por esse cuidado e essa alimentação que Ele, individualmente, proporciona. O vínculo que Ele deseja que tenhamos com os outros irmãos vem do compartilhar aquilo que recebemos do Senhor. Um bom exemplo disto é encontrado em Hebreus 10:24-25: 

 

Em reconhecimento por tudo quanto Ele fez por nós, suplantemos uns aos outros em ser prestativos, em ser bondosos uns para com os outros, e em fazer o bem. Não descuidemos os nossos deveres na igreja, nem as suas reuniões, como algumas pessoas fazem, mas animemo-nos e nos admoestemos uns aos outros, especialmente agora que o dia da sua volta está se aproximando. (ênfase minha).

 

Leva tempo e esforço para orar, ler a Bíblia e meditar em Deus, mas apenas deste modo interior é que Deus pode falar diretamente conosco, assim podemos tanto "compartilhar coisas" como "animar-nos uns aos outros". Muitos cristãos não prestam devoções diárias sem que alguém tome essa iniciativa. O que é uma vergonha, pois eles poderiam por si próprios ouvir diretamente o que Deus tem a dizer! A pequena igreja é o lugar perfeito para compartilhar as dádivas de Deus. Sempre surge alguém precisando destas coisas, isso ocorre com todos nós.

 

4.    Amor Mútuo

 

Os Israelitas sob a Lei passaram da adoração ritual do Velho Testamento ao amor do Novo Testamento como a base de uma nova relação com Deus. O amor é a base do evangelho, e este evangelho foi ampliado para incluir toda a humanidade, não apenas os judeus. Durante os últimos momentos que Jesus esteve com seus discípulos, Ele emitiu um novo mandamento: "Por isso Eu estou dando a vocês agora um novo mandamento -- amem-se tanto uns aos outros quanto Eu amo a vocês. Esse profundo amor que vocês tiverem uns pelos outros provará ao mundo que vocês são meus discípulos". (João 13: 34-35). 

 

Hospitalidade é um dom natural, e está disponível tanto ao cristão como ao não-cristão. Há várias razões para ser hospitaleiro. Normalmente é para impressionar alguém por alguma razão. Hospitalidade é um dos modos mais fáceis para expressar o dom do amor, como Alexander Strauch explica em seu livro The Hospitality Commands.

 

O ensino cristão acerca do amor é sem paralelo na história da religião.  Um dos fatores chave que ajudou na rápida expansão da cristandade primitiva foi o amor praticado entre os primeiros cristãos.  Tertuliano, um escritor e apologista do Século III, descreve-nos que os pagãos de seus dias tinham conhecimento do extraordinário amor dos cristãos.  Os pagãos foram forçados a dizer, "Vejam como eles se amam mutuamente e quão prontos estão a morrer uns pelos outros".

 

A hospitalidade, é um instrumento divino para expressar amor.  Imagine por um momento que você é um hóspede convidado a jantar com Jesus na casa de Maria, Marta e Lázaro.  Pense na excitação de jantar com Ele, e esperar o que Ele tem a dizer a todos depois na sala de estar. Fixe-se nesse quadro excitante por um momento. O que você vê não é outra coisa senão um grupo em uma igreja caseira com a participação de Jesus. Deus não poderia ter escolhido lugar melhor para começar uma igreja do que uma casa. O anfitrião da casa reflete o dom de servir de uma forma sobrenaturalmente evidente. Quando se trata de anfitriões cristãos comprometidos, Cristo tem acesso imediato aos demais pelo amor deles.

 

Não há nada neste mundo como auto-sacrifício genuíno e o amor cristão para animar, inspirar, confortar, e edificar os outros. Mas como, em condições práticas, no dia-a-dia, mostrar o mais genuíno amor e comunhão cristãs? Uma resposta direta e clara é a hospitalidade. As principais exortações do Novo Testamento para praticar hospitalidade aparecem todas dentro do contexto do amor fraterno:

 

·A passagem de Hebreus 13 começa assim, "Continuem a amar-se uns aos outros com amor fraternal verdadeiro". O escritor imediatamente prossegue sua exortação sobre o amor fraternal pedindo para não negligenciar a hospitalidade. (Hebreus 13: 1,2).

 

·Peter charges his readers to "o mais importante de tudo é continuarem a mostrar um profundo amor uns pelos outros". A próxima frase é, "abram de bom grado os seus lares para aqueles que necessitarem de uma refeição ou de um lugar para passar a noite" (1 Pedro 4:8 & 9).

 

·A exortação de Paulo pela adoção da hospitalidade é aplicável tanto no amplo contexto do amor fraterno como nas relações Cristãs. (Romanos 12:13).

 

·A hospitalidade de Gaio para desconhecidos, foi informada pelos irmãos itinerantes da igreja e descrita como "teu amor". (3 João 5-8).

 

Eu não acretito que a maioria dos cristãos hoje compreenda a hospitalidade como algo essencial, como algo que inflama as chamas do amor e fortaleça a família cristã. A hospitalidade revela amor de uma forma singularmente pessoal e sacrificatória. Pelo ministério da hospitalidade, compartilhamos aquilo que temos de mais precioso. Compartilhamos nossa família, casa, finanças, comida, privacidade e tempo. Na realidade, compartilhamos nossas próprias vidas. Assim, a hospitalidade sempre implica em um alto custo. Provemos amizade, aceitação, companheirismo, refrigério, conforto e amor em uma das mais ricas e mais profundas formas possíveis à compreensão humana. A menos que abramos a porta de nossas casas uns aos outros, a realidade da igreja local como local de confraternização íntima da família de irmãos e irmãs amorosos é apenas uma teoria. [i]

 

Será que a igreja moderna é um estacionamento de amor? Temo que este seja o caso. Quando morei em Pompano Beach, na Flórida, eu era um ancião entre mil e seiscentos membros da igreja. Para mim era impossível amar mil e seiscentas pessoas com algum grau de afeto. A relação com outros cristãos era apenas de respeito social por pertencer à mesma grande família. Eu pertenci a uma igreja de cinqüenta membros e isso ainda era gente demais para eu amar realmente. Jesus sabe nossas limitações humanas; sabe que nós podemos apenas investir o amor ágape em um pequeno grupo de pessoas.

 

Este tipo de amor é uma disciplina cujo aprendizado vem de passar juntos um tempo de qualidade. O mandamento de Jesus, "amem-se uns aos outros tanto quanto Eu amo a vocês", é freqüentemente difícil de realizar vindo de um pano de fundo de igreja tradicional. Compartilhamos nossa privacidade e nossas preferências de acordo com o grau de intimidade que damos a nossas relações cristãs. Há uma clara compreensão por todos os membros da igreja caseira que este tipo de amor é uma meta realizável. Não acredito que este mandamento possa ser obedecido sem estabelecer metas definidas para alcançá-lo. Encontrar-se uma vez por semana em um prédio estabelecido não é suficiente. A Igreja caseira é o ambiente perfeito para expressar amor. Recordo que uma vez, depois de assistir a um culto de igreja tradicional, o pastor disse-me, "eu amo você, João", e eu sabia que ele era sincero. Sendo um pastor relativamente novo, ele ainda não havia ainda me convidado a visitá-lo em sua casa, para revelar-me afeição ou contribuir de forma a que eu pudesse confirmar em meu coração e responder, "Sim, eu sei que você me ama". Como se pode verificar, amor é um verbo de ação, apoiado em prova e evidência de sua realização. O amor deve ser testado, se é para Deus, família ou amigos. Deus permite que algumas coisas aconteçam em nossas vidas para testar nosso amor para com Ele. É óbvio que Ele conhece o grau de amor que temos por Ele, mas o teste é para que saibamos até onde vai esse nosso amor.

 

Na atmosfera da hospitalidade encontramos um chão fértil onde o amor fraterno encontra expressão satisfazendo as necessidades espirituais e físicas das pessoas. Ó apóstolo João nos adverte que a ação, não as palavras, confirmam o amor de Deus em nossos corações.

 

Nós sabemos o que é o amor verdadeiro pelo exemplo de Cristo, ao morrer por nós. E portando nós devemos sacrificar as nossas vidas pelos nossos irmãos em Cristo. Mas se alguém que se considerar cristão possui dinheiro suficiente para viver bem, e vend oum irmão em necessidade e não o ajudar -- como é que o amor de Deus pode estar nele? Filhinhos, deixemos de dizer apenas que amamos as pessoas; vamos amá-las realmente e mostrar isto pelas nossas ações. (1 João 3:16-18). 

 

5.   Refeições Comuns
A Última Ceia Foi um Encontro na Igreja Caseira

 

Pode ser surpreendente para muitos, mas a igreja primitiva, inspirada no exemplo da Última Ceia do Senhor, passou a dar início às reuniões caseiras com uma refeição comum. A refeição consumava a comunhão, era um penhor de submissão à Nova Convenção. Em sua totalidade, esta refeição era chamada a ceia do Senhor. A refeição e a comunhão nunca estavam separadas até que foram construídos edifícios, já no terceiro século. O custo da eliminação da refeição principal é incalculável. O sentimento de pertencer intimamente à família cristã desapareceu com o fim da refeição.

 

Durante a refeição, as discussões giravam em torno de diversos assuntos como problemas pessoais, vitórias e compromissos divinos recebidos por compartilhar o evangelho. Eles também falavam sobre as famílias deles, vizinhos e amigos que precisaram de oração continuada. Ajudar os cristãos pobres e levar o evangelho a incrédulos também eram tópicos de conversação. Trocavam informação sobre as partes da igreja que estava sofrendo perseguição, e em que regiões estavam trabalhando os apóstolos. O ancião teria a certeza de que todo mundo estava envolvido no discipulado, de uma forma semelhante ao exemplo do Senhor com seus discípulos. A igreja estava crescendo tão rápido que até mesmo onde seria a próxima igreja caseira entrava na discussão. O evangelista agendava suas pregações nas várias partes da cidade, assim a igreja poderia estar lá para ajudá-lo.

 

Até que chegava o momento em que a morte, sepultamento e ressurreição do Senhor eram celebrados. O pão era feito sem fermento, quebrado em dois e santificado. Era um pão inteiro que mostra a unidade e singularidade do corpo. Enquanto comiam eles começavam a se lembrar do Senhor e a compartilhar os eventos que testemunharam ou foram passados para eles. Pode ter havido tempos em que isto levava tanto tempo que tomava toda uma reunião. O cálice era uma afirmação da nova convenção, que o sangue de Cristo era suficiente para perdoar o pecado de uma vez por todas. Paulo faz um comentário de um modo bem interessante sobre esta nova convenção: “Chamando esta convenção de "nova", Jesus tornou a primeira obsoleta; e o que está obsoleto e envelhecido logo desaparece” (Hebreus 8:13).

 

Ele veio como Supremo Sacerdote deste sistema melhor que nós agora temos. Ele entrou naquele tabernáculo do céu, maior e perfeito, que nem é feito por homens nem faz parte deste mundo. E, uma vez por todas, levou sangue para dentro daquele compartimento mais interno, o Santo dos Santos, e o salpicou sobre o pripiciatório; mas não era sangue de bodes nem de bezerros. Não, Ele levou o seu próprio sangue e, com esse sangue, por Si mesmo, Ele garantiu a nossa salvação eterna. E se, sob o sistema antigo, o sangue dos touros e bodes e as cinzas das novilhas podiam purificar do pecado os corpos dos homens, calculem como o sangue de Cristo, com muito maior certeza, transformará as nossas vidas e os nossos corações. O sacrifício dEle nos liberta da preocupação de ter de obedecer aos regulamentos antigos e nos faz desejar servir ao Deus vivente; pois, com a ajuda do eterno Espírito Santo, Cristo de bom grado entregou-Se a Deus para morrer pelos nossos pecados -- Ele, que era perfeito, sem uma única falta ou pecado. Cristo veio com este novo acordo para que todos os que são convidados possam vir e possuir para sempre todas as maravilhas que Deus lhes prometeu. Porque Cristo morreu para livrá-los do castigo dos pecados que eles tinham cometido enquanto ainda estavam debaixo daquele sistema antigo  (Hebreus 9:11-15).

 

Os próprios elementos que alimentam ou dos quais a tradição se alimenta, não podem ser mais importantes do que o próprio evento. Muitos cristãos sentem-se incomodados em receber a comunhão fora do próprio edifício de suas igrejas. Eu me lembro de alguns anos atrás em meus dias de igreja tradicional, quando um ministro presbiteriano muito famoso visitou nossa igreja e não tomou comunhão conosco por causa do método que nós usamos. Isso foi vergonhoso.

 

Eles recordavam a vitória representada pela tumba vazia, recordavam nosso Salvador preparando um lugar para nós no céu, o que torna a Ceia do Senhor completa. Depois cantavam um hino e saíam pelo mundo afora para enfrentar vitoriosamente a vida até se encontraram novamente.

 

 



[i] The Hospitality Commands, p 16, 17 & 32.

*[N.T. no original 'servanthood']