QUEM É TUA COBERTURA? (CAPÍTULO 3)

UMA ABORDAGEM AO CONCEITO DE LIDERANÇA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE NA PRESTAÇÃO DE CONTAS

 

Por FRANK A. VIOLA

Traduzido para o Português por Railton de Sousa Guedes

Copyrights 2005 (Present Testimony Ministry)


 

1. Prólogo, Prefácio, Introdução, Modelos de Liderança

2. Objeções Tradicionais

3. Autoridade e Submissão

4. Cobertura Denominacional

5. Autoridade Apostólica I, II, III

6. Resumo, Conclusão e Bibliografia





AUTORIDADE E SUBMISSÃO

 

Embora a Escritura tenha algo a dizer acerca da autoridade e da submissão, a verdade é que não há qualquer respaldo bíblico ao moderno ensino da “cobertura”.  É notável como a Bíblia gasta bem mais tinta ensinando sobre amor mútuo do que sobre liderança e autoridade.

A experiência me mostrou que quando os aspectos fundamentais do amor e do serviço são plenamente praticados na igreja, a autoridade e a submissão se expressam naturalmente. (A este respeito, aquele que enfatiza indevidamente estes temas está significativamente mais interessado em exercer autoridade do que servir seus irmãos!).

Embora temas como autoridade e submissão estejam presentes na Bíblia, relacionam-se com a disseminação e o exercício do ministério, de forma a agradar a Cristo – a cabeça de toda autoridade.

Ao discutirmos estes temas empregaremos o vocabulário da Escritura. Usar termos não bíblicos como “cobertura” somente obscurece o assunto.   Faz com que nossa conversação seja vaga – e nossos pensamentos confusos. Na medida em que utilizamos o vocabulário do NT, seremos verdadeiramente capazes de atravessar o cipoal da tradição humana que envolveu em névoa as temáticas da autoridade e da submissão.

O Rastro Trágico dos Movimentos Anteriores

Vou dizer sem rodeios, o que alguns chamam hoje “autoridade espiritual” é em sua maior um verdadeiro disparate!  O movimento discipulado/pastoreio dos anos setenta é um exemplo clássico das indizíveis tragédias que podem ocorrer quando se faz aplicações falaciosas e insensatas da autoridade. Este movimento estava corrompido com todo tipo de mistura espiritual, e se degradou em formas extremas de controle e manipulação.

O pior erro deste movimento escorou-se na falsa idéia de que submissão equivale a obediência incondicional. Igualmente errôneo foi o ensino de que Deus reveste certas pessoas com uma autoridade inquestionável sobre os demais.

Sem dúvida, os líderes que deram origem a este movimento eram homens talentosos com nobres motivos. Mas eles não imaginaram o rumo que seus movimentos tomariam no futuro, e a maioria deles certamente pediria desculpas por ter participado disso. Assim, incontáveis vidas acabaram destruídas.

Em muitos setores do movimento, o abuso espiritual se racionalizou numa forma de clichê repetidamente mencionado de que Deus opera para o bem apesar dos atores indicados. Acreditava-se que Deus responsabiliza cada um dos “pastores” pelas decisões equivocadas.  As “ovelhas” não teriam qualquer responsabilidade desde que obedecessem (cegamente) seus pastores.

Tragicamente, o movimento desenvolveu novas formas de controle de forma a adaptar-se à casta clerical. Estes novos desdobramentos sufocaram o sacerdócio dos crentes e  mostraram a mesma forma de domínio das almas característica das seitas.  Os chamados “pastores” se transformaram em substitutos de Deus para outros cristãos, tomando o controle sobre os detalhes mais íntimos de suas vidas. Tudo isso se fez em nome da “responsabilidade bíblica em prestar contas”.

No período subseqüente, o movimento deixou um rastro de cristãos abatidos e devastados. Tais crentes até hoje continuam desconfiando de qualquer aparência de liderança. (Alguns sofreram destinos mais cruéis).  Como resultado, os que foram enxotados pelos clérigos desenvolveram uma aversão total por palavras como “autoridade”, “submissão”, e “responsabilidade de prestar contas”.  Todavia seguem lutando para se desvencilhar das imagens distorcidas de Deus que foram gravadas em suas mentes depois de haverem passado por esta experiência “pastoral”.

O tema da autoridade, por conseguinte, representa para muitos uma história bem pesada e dolorosa.  Tanto que basta mencionar a terminologia da liderança que se ascendem luzes de alerta e se eleva a bandeira vermelha da perseguição.

Trinta anos depois, o tema da autoridade espiritual continua incandescente e emocionalmente explosivo. Apesar da maneira cautelosa com que abordamos o tema neste capítulo, estamos  pisando nas bordas de um perigoso campo minado.

Temos que ter em mente que os ensinos errôneos nunca brotam do simples manejo das palavras bíblicas.  Eles provêm da pouca consideração que em geral se dá ao sentido verdadeiro de suas fontes originais.  Palavras como “autoridade” e “sujeição” foram por tanto tempo degradadas que é necessário “redimi-las” das falsas conotações a elas agregadas.

A salvaguarda contra o falso ensino não consiste em evitar estes termos bíblicos, mas em combater sua conotação errônea e reabilita-los de acordo com seu significado original.  Em outras palavras, devemos aprender não apenas a falar onde a Bíblia fala, mas também falar como a Bíblia fala.

A Noção de Sujeição do NT

A palavra grega muitas vezes traduzida no NT como “submeter” é o vocábulo hupotaso. Uma melhor tradução deste termo seria “sujeição voluntária”. No NT, comumente, a sujeição é uma atitude voluntária não coercitiva, um ato de cooperação e de permissão para que outros nos admoestem e aconselhem.

A sujeição bíblica nada tem a ver com controle ou poder hierárquico.  É simplesmente uma atitude de dar ouvidos aos sinais de alerta, como se vê nas crianças, dando nosso consentimento aos demais na medida em que eles refletem a mente de Cristo.

A sujeição bíblica existe e é preciosa. Mas deve começar com o que Deus deseja e com o que o NT declara:  Ou seja, que nós, individual e coletivamente, estamos sujeitos a Cristo Jesus; que nos sujeitamos uns aos outros, no local onde nos reunimos, e que nos sujeitamos àqueles obreiros provados e dignos de confiança que servem ao Corpo de Cristo de uma maneira sacrificada.

Quero acentuar “provados e dignos de confiança” porque abundam os falsos apóstolos e profetas. É responsabilidade da irmandade local examinar aqueles que afirmam ser obreiros de Deus (1 Tes. 1:5; 2 Tes. 3:10; Ap. 2:2).  Por esta razão, a Bíblia exorta essa sujeição aos líderes espirituais por causa de seu nobre caráter e serviço espiritual (1 Cor. 16:10-11, 15-18; Fil. 2:29-30; 1 Tes. 5:12-13; 1 Tim. 5:17; Heb. 13:17).

Talvez o texto mais luminoso a considerar em toda esta discussão seja Efésios 5:21, que diz: Sujeitem-se UNOS AOS OUTROS no temor de Cristo.

O apóstolo Pedro ecoa o mesmo pensamento quando diz: Sejam todos humildes UNS PARA COM OS OUTROS. (1 Ped. 5:5).

A Bíblia não ensina uma “cobertura protetora”.  Pelo contrário, ensina a sujeição mútua.  A sujeição mútua se baseia na noção do NT de que a todos os crentes receberam dons. Como tais todos podem expressar a Cristo. Portanto, devemos estar sujeitos uns aos outros.

A sujeição mutua está cimentada de igual forma na revelação do Corpo de Cristo. Ou seja, a autoridade divina foi conferida a todo o Corpo e não apenas a uma seção particular dele. (Mat. 18:15-20; 16:16-19; Efésios 1:19-23).  Na eclesiologia de Deus, a ekklesia é uma sociedade teocrática e participativa na qual a autoridade Divina está disseminada entre todos os que possuem o Espírito.

Deus não delegou Sua autoridade a apenas um indivíduo ou segmento da igreja.  Pelo contrário, Sua autoridade reside na comunidade como um todo.  Quando os membros da comunidade crente desempenham seus respectivos ministérios, a autoridade espiritual permeia através dos dons que receberam do Espírito.

No fundo, a sujeição mútua demanda que nos demos conta de que somos membros de algo maior do que cada um de nós – um Corpo.  Também exige que reconheçamos que por nós mesmos, individualmente, somos inadequados para cumprir o propósito mais elevado de Deus.

A sujeição mútua descansa na afirmação humilde, mas realista, de que necessitamos a complementação dos demais irmãos. Admite que não podemos ser bons cristãos por nossas próprias forças. Desta maneira, a sujeição mútua é indispensável para estruturar uma vida cristã normal.

Entender sujeição mútua significa o seguinte: Estar aberto ao Senhor para que te corrija por meio de qualquer outro crente, que, por sua vez, está aberto para ser repreendido e castigado (pelo Senhor) não importa quem porte o chicote. Expressa que permitas aos demais que falem à tua vida.

A Idéia da Autoridade de Deus

A outra face da moeda da sujeição é a autoridade.  A autoridade é o privilégio dado por Deus para realizar uma ação particular.  O vocábulo do NT que mais se aproxima da palavra “autoridade” é exousia.  Exousia deriva da palavra exestin, que significa uma ação possível e legítima que pode ser levada a cabo sem obstáculo.

A autoridade (exousia) relaciona-se com manifestação e comunicação de poder.  Mais especificamente, a autoridade é o direito de realizar uma ação particular. A Escritura ensina que Deus é a fonte única de toda autoridade (Rom. 13.1), e esta autoridade foi conferida a Seu Filho (Mat. 28:18; João 3:30-36; 17:2).

Apenas Jesus Cristo tem autoridade.  O Senhor Jesus disse claramente, “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. Ao mesmo tempo, Deus delegou Sua autoridade aos homens e mulheres deste mundo para propósitos específicos.

Por exemplo, na ordem natural, Deus instituiu diversas esferas onde Sua autoridade deve ser exercida (Efésios 5:22-6:18; Col. 3:18-25).  Estabeleceu certas “autoridades oficiais” com o propósito da preservação da ordem sob o sol.  Aos oficiais governamentais, como reis, magistrados e juízes, foi dada esta autoridade (João 19:10, 11; Rom. 13:1 ss.; 1 Tim. 2:2; 1 Ped. 2:13-14).

A autoridade oficial é autoridade conferida a um oficio estático. Funciona independente das ações da pessoa que a ocupa.  A autoridade oficial é autoridade posicional e fixa. Enquanto a pessoa ocupar o cargo, tem autoridade.

Quando alguém exerce as funções de autoridade, o recipiente chega a ser “uma autoridade” por seu próprio direito. É por esta razão que se exorta aos cristãos que se sujeitem aos líderes governamentais – não importando seu caráter (Rom. 13:1ss.; 1 Ped. 2:13-19).

Nosso Senhor Jesus, assim como Paulo, mostraram espírito de sujeição quando compareceram ante a autoridade oficial (Mat. 26:63-64; Atos 23:2-5).  De maneira similar, devemos sempre nos sujeitar a esta autoridade. A ausência de lei e o desprezo pela autoridade são sinais de uma natureza pecadora (2 Ped. 2:10; Judas 8).  Ao mesmo tempo, a sujeição e a obediência são duas coisas bem diferentes, e é um erro fatal confundi-las.

Sujeição Versus Obediência

Em que difere a sujeição da obediência?  A sujeição é uma atitude. A obediência é uma ação.  A sujeição é absoluta. A obediência é relativa.  A sujeição é incondicional. A obediência é condicional. A sujeição é um assunto interior. A obediência é um assunto exterior.

Deus nos convoca a ter um espírito de humilde sujeição diante daqueles que Ele colocou em autoridade sobre nós  na ordem natural.  Contudo, não podemos obedece-los se nos mandam fazer o que viola Sua vontade, porque a autoridade de Deus é maior que qualquer autoridade terrena.

Não obstante, você pode desobedecer enquanto se submete.  Pode desobedecer a uma autoridade terrena mantendo um espírito de humilde sujeição. Pode desobedecer e ao mesmo tempo manter uma atitude de respeito e reverencia, distinto do espírito de rebelião, injuria e subversão (1 Tim. 2:1-2; 2 Ped. 2:10; Judas 8).

A desobediência das parteiras hebréias (Exo. 1:17), os três jovens hebreus (Dan. 3:17-18), Daniel (Dan. 6:8-10), e os apóstolos (Atos 4:18-20; 5:27-29) exemplificam o principio de estar sujeito a uma autoridade oficial ao mesmo tempo em que desobedece quando esta se choca com a vontade de Deus.

Se Deus estabelece autoridade oficial para operar na ordem natural, Ele não instituiu este tipo de autoridade na igreja. É por essa razão que os líderes eclesiásticos silenciam diante dos argumentos de Paulo na esfera da autoridade em Efésios 5-6 e Colossenses 3. Deus dá autoridade (exousia) aos crentes para exercer certos direitos. Entre eles está a autoridade (exousia) de serem feitos filhos de Deus (João 1:12), possuir propriedades (Atos 5:4), decidir casar-se ou não (1 Cor. 7:37), decidir o que comer ou beber (1 Cor. 8:9), curar enfermidades (Mar. 3:15), expulsar demônios (Mat. 10:1; Mar. 6:7; Luc. 9:1; 10:19), edificar a igreja (2 Cor. 10:8; 13:10), receber bênçãos especiais associadas a certos ministérios (1 Cor. 9:4-18; 2 Tes. 3:8-9), ter autoridade sobre as nações e comer da árvore da vida no reino futuro (Ap. 2:26; 22:14).

Mas em nenhuma parte a Bíblia ensina que Deus deu autoridade (exousia) aos crentes sobre outros crentes!  Recordemos a palavra de nosso Senhor em Mateus 20:25-26 e Lucas 22:25-26 onde condena as formas de autoridade tipo exousia entre Seus seguidores.  Este fato deve ser motivo para uma séria reflexão.

Portanto, sugerir que os líderes na igreja devem exercer o mesmo tipo de autoridade que os dignitários representa  logicamente um salto e uma excessiva generalização.  Uma vez mais, o NT nunca vincula a exousia aos líderes da igreja, nem estabelece que alguns crentes tenham exousia sobre outros crentes.

Sem dúvida, o AT descreve os profetas, sacerdotes, reis e juízes, como autoridades oficiais. Isto se deve ao fato destes “ofícios” serem sombras da autoridade ministerial do próprio Jesus Cristo. Cristo é o verdadeiro Profeta, Sacerdote, Rei e Juiz. Mas no NT nunca encontramos qualquer passagem que descreva ou represente algum líder enquanto autoridade oficial. Isto inclui os guardiões locais, assim como aos obreiros de fora.

Para ser franco, a noção de que os cristãos têm autoridade sobre outros cristãos é um exemplo de exegese forçada e, como tal, é biblicamente insustentável.  Quando os líderes da igreja exercem o mesmo tipo de autoridade que desempenham os oficiais governamentais, tornam-se usurpadores!

Certamente, a autoridade funciona na igreja, mas esta autoridade que funciona na ekklesia é notavelmente diferente da que se exerce na ordem natural.  Isto faz sentido na medida em que a igreja não é uma organização humana, mas um organismo espiritual.  A autoridade que opera na igreja não é oficial.  É orgânica.

Autoridade Divina Versus Autoridade Oficial

Quê é autoridade orgânica? É a autoridade baseada na vida espiritual.  A autoridade orgânica é autoridade comunicada.  Ou seja, quando uma pessoa comunica a vida de Deus através da palavra ou obra, tem a ajuda e o respaldo do próprio Senhor.

Todos os cristãos em virtude do fato de possuírem a vida do Espírito, possuem uma medida de autoridade orgânica. É por esta razão que o NT nos ordena a que nos submetamos uns aos outros no temor de Cristo. Mas os mais maduros na vida espiritual tendem a expressar o pensamento de Deus de uma maneira mais firme que os carnais e imaturos (Heb. 5:14).

A autoridade orgânica tem sua fonte na direção imediata de Cristo e não em um ofício estático.  A autoridade orgânica não é intrínseca a uma pessoa ou a uma posição.  Não reside no próprio homem ou no cargo que ocupa (como ocorre com a autoridade oficial).

Pelo contrário, a autoridade orgânica está fora do indivíduo. Isto é assim porque esta pertence a Cristo.  Somente quando Cristo dirige a uma pessoa a palavra ou a ação é que essa pessoa exerce autoridade. Em outras palavras, uma pessoa tem direito de ser ouvida e obedecida apenas quando reflete a mente do Senhor. A autoridade orgânica, por conseguinte, é comunicada e derivada.

A natureza comunicativa da autoridade orgânica pode ser compreendida no bojo da metáfora do Corpo que Paulo traça para a igreja.  Quando a Cabeça (que é a fonte de toda autoridade) pede à mão que se mova, a mão possui a autoridade da Cabeça. A mão, não obstante, não tem autoridade própria. Sua autoridade surge apenas quando atua de acordo com a comunicação da Cabeça. A mão é uma autoridade na medida em que representa a vontade da Cabeça.

Note que o movimento da cabeça física em relação ao corpo físico é orgânico. Está baseado no humano como um organismo vivente que possui vida natural. O mesmo princípio é verdadeiro no que toca à Cabeça espiritual e ao Corpo espiritual. Os crentes exercem autoridade espiritual somente quando suas palavras e atos representam a Cristo.

Por conseguinte, a autoridade orgânica é flexível e fluída, e nunca estática.  A autoridade orgânica é transmitida e baseia-se na maturidade espiritual e no serviço.  Portanto, não é algo irrevogável.

Isto explica por que Pedro e Tiago, assim como Paulo e Barnabé, flutuavam com relação à medida da influência espiritual que exerciam (Atos 1:15; 2:14; 12:17,25; 13:2,7, 13ss.; 15:2,7,13,22). Uma vez que a autoridade divina não é oficial, mas derivada, os crentes não assumem, herdam, conferem, nem substituem a autoridade de Deus.  Unicamente a representam. Esta é uma diferença categórica. A falha em compreendê-la conduz à confusão e ao abuso no povo de Deus.

Quando discutimos a autoridade espiritual, a ênfase sempre deve estar na função e no serviço e não numa noção mística de “espiritualidade”. Exigir autoridade com base na própria espiritualidade é praticamente o mesmo que se proclamar autoridade oficial, pois reivindicar "espiritualidade" constitui um ofício velado.

Se alguém é verdadeiramente espiritual, sua espiritualidade se manifestará na forma como vive, serve e escuta o Senhor.  A espiritualidade pode discernir-se apenas a partir deste último e não pelos reclamos promocionais da pessoa que a assume.  Desta maneira, manter o enfoque no serviço e na função ajuda a proteger as igrejas que seguem o modelo do NT para que não descambem no culto à personalidade.

Uma Comparação Proveitosa

Separemos algumas das distinções entre autoridade oficial e autoridade orgânica.

As autoridades oficiais devem ser obedecidas sempre e quando o que declarem não viole a vontade de uma autoridade superior. (Atos 5:29).  O NT aconselha aos filhos que obedeçam a seus pais (Efésios 6:11; Col. 3:20), aos cidadãos que obedeçam as autoridades governamentais (Tito 3:1), e aos empregados que obedeçam a seus empregadores. (Efésios 6:5; Col. 3:22).

Por contraste, aos que exercem autoridade orgânica nunca é exigido obediência.  Antes, eles buscarão persuadir aos demais para que obedeçam a vontade de Deus.  Por esta razão, Hebreus 13:17 nos convoca a que permitamos que nossos líderes nos persuadam (peitho).

1- As cartas de Paulo lançam mais luz sobre este tema. Todas elas abundam com súplicas e petições, e estão carregadas com uma linguagem persuasiva. (Sobre isto detalharemos mais adiante).

2- As autoridades oficiais são totalmente responsáveis na medida em que conduzem a práticas errôneas aqueles que estão sob sua responsabilidade.  Em Números 18 aprendemos que o peso da iniqüidade caiu sobre os ombros dos sacerdotes. Eles eram as autoridades oficiais em Israel. Ao contrário das autoridades oficiais, a autoridade orgânica nunca anula a responsabilidade dos demais.  Na igreja, os crentes são totalmente responsáveis pelas suas próprias ações – mesmo quando decidem obedecer ao conselho de outro. É por esta razão que a Escritura repetidamente menciona a prova dos frutos.  Igualmente ensina que o engano traz consigo o juízo divino (Mat. 7:15-27; 16:11-12; 24:4-5; 1 Cor. 14:29; Gál. 1:6-9;  2:4; Fil. 3:2-19; 1 Tes. 5:21; 1 Tim. 2:14; 1 João 3:4-10; 4:1-6).  O NT nunca ensina que o cristão que obedece outra pessoa não é responsável por suas ações.

3- As autoridades oficiais podem ser menos maduras, menos espirituais e menos justas do que aqueles sobre os quais tem autoridade.  Mas a autoridade orgânica está diretamente vinculada à maturidade espiritual, e não pode separar-se dela.

Sempre dizemos a nossos filhos, “obedeçam aos mais velhos” porque os mais velhos (na vida natural) tendem a ser mais maduros em seu conselho. Por esta razão, merecem nosso respeito e sujeição (1 Ped. 5:5a).  Sucede o mesmo no reino espiritual.

Os que mais se desenvolvem na vida espiritual possuem uma medida maior de autoridade orgânica. (Uma pessoa não pode exercer autoridade espiritual a menos que ela mesma esteja sob a autoridade de Deus).  Um claro sinal de grandeza e maturidade espiritual é um espírito de serviço e de mansidão.  Consideremos os seguintes textos que nos exortam a estimar os que mostram ambas características:

E agora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sabeis que a casa de Estéfanas são as primícias da Acáia e que se consagraram ao serviço dos santos): que também VOS SUJEITEIS A ESSES TAIS, COMO TAMBÉM A TODO AQUELE QUE É COOPERADOR E OBREIRO. Alegro-me com a vinda de Estéfanas, e de Fortunato, e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte faltava. Porque trouxeram refrigério ao meu espírito e ao vosso. RECONHECEI, POIS, A HOMENS COMO ESTES.  (1 Cor. 16:15-18 BA).

Recebei-o, pois, no Senhor com toda a alegria, E HONRAI SEMPRE A HOMENS COMO ESSE; VISTO QUE, POR CAUSA DA OBRA DE CRISTO, CHEGOU ELE ÀS PORTAS DA MORTE E SE DISPÔS A DAR A PRÓPRIA VIDA, PARA SUPRIR A VOSSA CARÊNCIA DE SOCORRO PARA COMIGO. (Filipenses 2:29-30).

Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; E QUE OS TENHAIS COM AMOR EM MÁXIMA CONSIDERAÇÃO, POR CAUSA DO TRABALHO QUE REALIZAM... (1 Tes. 5:12-13).

Os anciãos que dirigem bem DEVEM SER TIDOS COMO DIGNOS DE DOBRADA HONRA, ESPECIALMENTE OS QUE TRABALHAM ARDUAMENTE NA PALABRA E NO ENSINO... Não admitas acusação contra um ancião a não ser que haja duas ou três testemunhas. (1 Tim. 5:17, 19).

Lembrai-vos dos vossos guias, OS QUAIS VOS PREGARAM A PALAVRA DE DEUS; E, CONSIDERANDO ATENTAMENTE A FINALIDADE DE SUA VIDA, IMITAI A SUA FÉ.  (Heb. 13:7).

Deixe-vos persuadir pelos que os dirigem, E SUBMETEI-VOS A ELES; PORQUE ELLOS VELAM POR VOSSAS ALMAS, COMO QUEM TEM DEVE PRESTAR CONTAS. Para que façam isso com alegria, e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros (Heb. 13:17).

Rogo igualmente aos jovens. SEDE SUBMISSOS AOS MAIS VELHOS... (1 Pedro 5:5).

O NT exorta claramente a igreja para que dê a devida importância aos que trabalham incansavelmente no serviço espiritual.  Tal estima é espontânea e instintiva.  Jamais se  deve absolutizar ou formalizar.

O critério do NT para rol dos modelos é sempre funcional, e não formal.  Embora devamos valorizar o serviço dos que dedicam suas vidas a nosso serviço, é um grave erro diferencia-los formalmente do resto da comunidade dos crentes.  (É aqui onde falha o ensino da “cobertura”!).

Com efeito, a honra que um crente recebe da igreja sempre é merecida; nunca pode ser exigida ou imposta.  Os que são verdadeiramente espirituais não exigem autoridade espiritual sobre os demais, nem se jactam de seu labor e maturidade espiritual.  De fato, as pessoas que fazem tais exigências revelam sua imaturidade.  A pessoa que declara que é “o homem de Deus ungido com força e poder para os dias de hoje” – ou elogios similares – prova uma coisa: que não tem autoridade!

Muito pelo contrário, os que recebem estima na igreja são os que tem provado serem servos dignos de confiança – não na mera retórica, mas na realidade (2 Cor. 8:22; 1 Tes. 1:5; 2 Tes. 3:10).  O reconhecimento e a confiança que o Corpo tem neles é o único sinal seguro da própria autoridade espiritual.

4- As autoridades oficiais possuem autoridade até serem removidas de seu ofício delegado. Enquanto estiverem no cargo, sua autoridade funciona, indiferente de terem tomado decisões sábias ou injustas.  Por exemplo, enquanto o rei Saul se sentou no trono de Israel, reteve sua autoridade mesmo depois que o Espírito de Deus haver se afastado dele (1 Sam. 16:14;24:4-6)!

A autoridade orgânica por outro lado, opera somente quando Cristo é expresso.  Deste modo, se um crente exorta a igreja para que esta faça algo que não reflita a autoridade da Cabeça (mesmo que isso não viole uma lei prescrita por Deus), não há autoridade que o respalde.  Somente Jesus Cristo tem autoridade, e somente o que flui de Sua vida tem autoridade.

5- As autoridades oficiais sempre estão estabelecidas em forma de hierarquia.  A autoridade orgânica nunca está relacionada com a hierarquia (Mat. 20:25-28; Luc. 22:25-27).  De fato, a autoridade orgânica é sempre distorcida e abusada quando associada com a hierarquia.  Como vimos aqui, o imaginário hierárquico está ausente da Escritura, porque virtualmente sempre provoca danos ao povo de Deus.

Em suma, a autoridade orgânica não flui de cima abaixo.  Tampouco funciona de maneira hierárquica como uma cadeia de comando.  Ao mesmo tempo, a autoridade orgânica tampouco funciona de baixo para cima. Ou seja, não flui da igreja para a pessoa.  Se porventura uma igreja decide dar autoridade a uma pessoa para uma tarefa específica, tal pessoa não terá autoridade se não refletir a mente de Cristo.

A autoridade orgânica funciona de dentro para fora.  Quando Cristo conduz alguém ou uma igreja a falar ou agir, eles estão respaldados pela autoridade da Cabeça!  Esta é a única autoridade que existe no universo.  Jesus Cristo, representado pelo Espírito que mora no interior dos Seus, é o exclusivo manancial, o fundamento e a fonte de toda autoridade.  E não há cobertura sobre Sua Cabeça!

O resultado final é que os problemas de liderança na moderna igreja se derivam de uma aplicação vergonhosamente superficial das estruturas de autoridade oficial em cima das relações espirituais.  Esta aplicação errônea está baseada em uma mentalidade de autoridade estilo camisa de força. Mas é um erro atroz transplantar o modelo da autoridade oficial à assembléia cristã – ou a qualquer outra esfera de relação orgânica (como o matrimônio).

A Sujeição Mútua é Sempre Marcada pelo Amor

Cada vez que um crente expressa autoridade orgânica na igreja, fazemos bem a reconhecendo.  Rebelar-se contra esta autoridade é rebelar-se contra Cristo, porque não há autoridade sem Jesus Cristo como Seu autor.  Por conseguinte, rechaçar as palavras de alguém quando estas expressam o pensamento de Deus é rechaçar Sua autoridade.

A sujeição que está cimentada em nossa submissão a Deus é marcada pelo amor.  O amor sempre está aberto para aprender e escutar o que os demais têm a dizer. Ao mesmo tempo, o amor está disposto a admoestar os que fraquejam.

O amor rechaça a espiritualidade free-lancing, faça você mesmo, estrela solitária, mas valoriza a interdependência do Corpo. O amor reconhece que por sermos membros uns dos outros e por possuirmos a mesma linhagem, nossas ações tem um profundo efeito sobre os demais.  O amor reprova o cristianismo individualista e privado, mas afira a necessidade que tem dos outros membros de Cristo.

O amor às vezes é doce, amável e agradável. Todavia, quando enfrenta os horrores do pecado, pode ser penetrante, combatível e inflexível.  O amor é paciente, respeitoso e gentil. Nunca é estridente, degradante ou ditatorial.  O amor repudia os reclamos ostentosos e impositivos da autoridade. Em troca, é profundamente marcado pela humildade e mansidão.

O amor não é flácido ou sentimental, mas profundamente perceptivo e perspicaz.  O amor sempre oferece seus recursos para ajudar aos demais, nunca manipula ou impõe sua própria vontade.   O amor nunca força, exige ou obriga.

O amor nos impele a aceitar a responsabilidade de sermos “guardas de nosso irmão”, mas nos proíbe nos convertermos em intrometidos impertinentes em suas vidas.  Com efeito, somos chamados a representar a vontade do Espírito Santo mutuamente. Todavia, nunca somos chamados a substituir Sua Pessoa ou refazer Sua obra!

A sujeição mútua não é uma licença para investigar os assuntos íntimos de nossos irmãos para “assegurar-se” de que estão caminhando retamente!  A Bíblia jamais nos dá liberdade para examinar nosso irmão acerca de seus investimentos financeiros, a forma como faz amor com sua companheira, ou outras áreas de intimidade.

Esta classe de investigação desnecessária é feita com o intuito de “prestar contas”, com o mesmo espírito das seitas autoritárias. Esta maneira de pensar inevitavelmente mergulhará qualquer comunidade de crentes em uma onda e pressão e inconformidade. (Mas se um crente deseja voluntariamente confiar a alguém seus assuntos pessoais, isso é outra coisa. Pois se trata de uma decisão, não de uma obrigação).

Nunca devemos perder de vista o fato de que a Bíblia concede um alto valor à liberdade cristã individual, e à privacidade (Rom. 14:1-12; Gál. 5:1; Col. 2:16; Tiago 4:11-12).  Por conseguinte, o respeito por estas virtudes deve ser alto entre os crentes.  A menos que exista uma boa razão para suspeitar que um irmão ou irmã esteja em sério pecado, é profundamente anticristão bedelhar e intrometer-se em seus assuntos familiares.

O NT nos adverte que não devemos nos “intrometer em tudo”. . . “falando coisas indevidas” (1 Tim. 5:13; 1 Ped. 4:15).  Pela mesma razão, se um crente está espiritualmente em perigo – lutando com algum “pecado grave”, o amor exige que busque e receba ajuda da igreja.

Em suma, na medida em que a sujeição mútua sempre se expressa em amor, esta gera uma cultura de segurança e de salvaguarda espiritual. Sujeição mutua não é controle, mas mútua ajuda.  Nunca deve congelar-se em um sistema estático ou formal.  Não é oficial, legal nem mecânica. Mas funcional, espontânea e orgânica. Cada vez que se transforma em uma instituição humana torna-se perigosa – não importa o nome que adquira! Como Cristãos, temos um instinto espiritual que permite nos submetermos à autoridade espiritual. Quando nos sujeitamos a ela, a igreja sempre se beneficia.

Cada vez que convidamos outros a entrarem em nossa vida, deixamos aberta a porta para que o Senhor nos anime, motive e proteja.  É por esta razão que o livro dos Provérbios repetidamente acentua que na “multidão de conselheiros há segurança” (Prov. 11:14; 15:22; 24:6).  O amor, pois, é o guarda-chuva Divino que nos proporciona proteção espiritual. Graças a Deus que não é tão estreito como os corações de alguns que se abrigam nele.  No final das contas, apenas o amor tem uma “cobertura” de poder (Prov. 10:12; 17:9; 1 Ped. 4:8).

O Custo da Mútua Sujeição

A mútua sujeição é radicalmente diferente da subordinação unilateral das estruturas autoritárias. Ao mesmo tempo, não deve ser confundida com o igualitarismo altamente individualista, moralmente relativo e tolerante típico do pensamento pós-moderno.

A mútua sujeição tem seu preço.  Enfrentemo-lo. Nossos egos não gostam de se sujeitar a nada!  Como criaturas caídas, queremos fazer o que a nossos próprios olhos é correto – sem a interferência dos demais.

A inclinação de rechaçar a autoridade orgânica está profundamente arraigada em nossa natureza adâmica (Rom. 3:10-18).  Receber correção, admoestação e censura de outros mortais constitui uma cruz difícil de levar (Prov. 15:10; 17: 10; 27:5-6; 28:23). É por esta razão que a submissão mútua serve como antídoto a nossa carne rebelde e cultura caótica.

Exercer autoridade espiritual é igualmente doloroso. A menos que alguém seja um “exímio controlador”, a tarefa de admoestar aos demais é difícil e perigosa. A Escritura nos diz que um irmão ofendido é mais difícil de ganhar do que uma cidade murada (Prov. 18:19)!  De forma que a dificuldade de corrigir outros, juntamente com o temor do confronto, torna bem penoso para nossa carne obedecer ao Senhor em áreas onde devemos expressar Sua autoridade.

É bem mais fácil deixar tudo para lá. É bem mais simples orar pelos nossos irmãos equivocados. É bem mais difícil confronta-los amorosamente.

Tudo isso nos leva ao fato assombroso de que o amor deve governar nossa relação com os demais, porque se amarmos os irmãos, nos sujeitaremos a seu conselho e admoestação. Assim, o amor nos constrange a nos aproximar de nossos irmãos débeis com um espírito de mansidão quando necessitam nosso auxilio. (Gál. 6:1; Tiago 5:19-20).  No fundo, o caminho do amor é sempre o caminho da cruz.

A Importância de Ver Deus na Comunidade

Na medida em que a sujeição mútua está permeada de amor, ela tem suas raízes na própria Natureza Divina.  Deus, por natureza, é Comunidade.  O Deus único compõe uma Comunidade de três Pessoas que eternamente compartilha suas vidas mutuamente. (Esta verdade é historicamente conhecida como Trindade).

Dentro da Deidade, o Pai se revela no Filho. Que por sua vez dá a Si mesmo sem reservas ao Pai. O Espírito, como Mediador, derrama em ambos seu mútuo amor. Dentro desta dança Divina de amor, não existe hierarquia.  Há apenas comunhão, sujeição e amor mútuo. (João 14:28 e 1 Cor. 11:3 não contradiz este principio, porque tem em vista a sujeição voluntária do Filho ao Pai como a parte que lhe corresponde nesta relação de mútua sujeição).

O compartilhamento mútuo que ocorre constantemente na Deidade é a pedra angular do amor. De fato, é a própria razão pela qual João pode dizer que “Deus é amor” ( 1 João 4:8).  Se Deus não fosse Comunidade, não poderia haver ninguém a quem amar antes da criação, porque o ato de amar requer a presença de duas ou mais pessoas.

A igreja é a comunidade do Rei. Como tal é chamada a refletir a relação recíproca de amor produzida no seio da Deidade. Não há hierarquia na Deidade. Tampouco há na ekklesia.  Dentro de seus muros há somente sujeição mutua governada por um mutuo amor. Isto é assim porque a igreja vive pela vida Divina – a mesma vida que existe na Deidade (João 6:57; 17: 20-26; 2 Pe. 1:4).

O NT é bem explicito quando usa o tema da família para aplica-lo à igreja.  A igreja é uma grande família. Uma comunidade que cara a cara compartilha suas cargas mutuamente confessa mutuamente seus pecados e conversa mutuamente sobre suas decisões pendentes. Dentro do entorno familiar da igreja, a mutua sujeição cria unidade. Constrói o amor. Provê estabilidade. Fomenta o crescimento e dá um significado mais rico à vida cristã.

Em outras palavras, a vida crista não é outra coisa senão uma relação permanente vivida cara a cara na comunidade. É impossível de ser vivida em qualquer outro ambiente. A ekklesia – a comunidade do Rei – é o habitat natural do cristão.

Por contraste, nas hierarquias, a sujeição e a responsabilidade na prestação de contas são elementos punitivos e legalistas. Que produzem temor, domínio e controle – tudo isto era alheio à igreja primitiva. Desta maneira, a sujeição mutua é um antídoto à linha dura nicolaíta (clericalismo).

A mútua sujeição enfatiza poder a favor de e poder entre, em vez de poder sobre. Estimula o fortalecimento de todos em vez do fortalecimento de alguns.  Destaca o valor das relações em vez dos programas, do vínculo em vez da separação, da conexão em vez do isolamento.

O organismo em vez da organização, a participação em vez da passividade, a integração em vez da fragmentação, a solidariedade em vez do individualismo, o espírito de serviço em vez da dominação, a interdependência em vez da independência, e a riqueza interior em vez da insegurança.

Nossa cultura, por sua vez, estimula a autoconfiança, o individualismo e a independência, mas tais coisas são incompatíveis com a ecologia da igreja do NT.  Na medida em que Deus é Comunidade, Seus filhos foram desenhados para ser comunidade. Nossa nova natureza (por meio da regeneração) nos chama a isto.

Nós, cristãos, não somos seres isolados. Da mesma forma que o Deus Triúno, fomos criados na forma de uma espécie comunitária (Ef. 4:24; Col. 3:10). Que desenvolve significativas relações com os demais. A doutrina moderna da “cobertura” obscurece esta luminosa visão, mas o princípio da mútua sujeição a destaca marcadamente.

Em poucas palavras, a natureza Triúna de Deus é fonte e modelo para toda comunidade humana. E é dentro desta relação amorosa da Deidade que o principio da sujeição mutua encontra seu verdadeiro valor.

A sujeição mutua, por conseguinte, não é um conceito humano. Surge da natureza comunitária e interativa do Deus eterno.  E é esta mesma natureza que a ekklesia é chamada a levar.  Desta maneira, a sujeição mutua nos capacita a contemplar o rosto de Cristo na trama e urdidura da vida da própria igreja.

Tomando emprestado as palavras de John Howard Yoder, o conceito de autoridade e submissão apresentado neste capítulo pode ser resumido na seguinte frase: “Proporciona mais autoridade à igreja do que Roma confia mais no Espírito do que o Pentecostalismo, tem mais respeito pelo indivíduo do que o humanismo, faz dos estandartes morais algo mais obrigatório do que o puritanismo, e é mais aberta a qualquer determinada situação do que a ‘Nova Moralidade’”.




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