QUEM É TUA COBERTURA? (CAPÍTULO 5a)

UMA ABORDAGEM AO CONCEITO DE LIDERANÇA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE NA PRESTAÇÃO DE CONTAS

 

Por FRANK A. VIOLA

Traduzido para o Português por Railton de Sousa Guedes

Copyrights 2005 (Present Testimony Ministry)


 

1. Prólogo, Prefácio, Introdução, Modelos de Liderança

2. Objeções Tradicionais

3. Autoridade e Submissão

4. Cobertura Denominacional

5. Autoridade Apostólica I, II, III

6. Resumo, Conclusão e Bibliografia



CAPÍTULO 5

A AUTORIDADE APOSTÓLICA

     Considerando que uma discussão completa do ministério apostólico está além do alcance deste livro o tratamento que dou ao tema da anatomia da autoridade apostólica me leva a afirmar que os apóstolos ainda existem hoje em dia. Sem dúvida, os doze apóstolos têm um lugar único na obra de Deus. (Luc. 22:30; Ap. 21:14). (Os doze incluem a Matias, que substituiu Judas Iscariotes –Atos 1:26).

     No entanto , a Escritura menciona outros apóstolos aparte dos doze.  Paulo e Barnabé (Atos 14:4,14; 1 Cor. 9:1-6), Tiago, o irmão do Senhor (Gál. 1:19), Timóteo e Silas (1 Tes. 1:1; 2:6) são somente alguns dos apóstolos que aparecem nas páginas do NT.

     O ministério apostólico, portanto, continuou depois da morte dos doze apóstolos originais.  Este ministério não desapareceu depois do primeiro século, nem foi transmitido formalmente através de uma hierarquia institucional. 

     Embora os apóstolos contemporâneos não estejam produzindo Escritura, eles estão comissionados divinamente para edificar o Corpo de Cristo (1 Cor. 12:28-29; Efé. 4:11). A obra principal de um apóstolo é levantar igrejas. Isto não significa que uma igreja não pode nascer sem a mão de um apóstolo. As igrejas de Antioquia da Síria, Cesárea, Tiro e Tolemaida não parecem ter sido fundadas por algum. 

     Mas todas estas igrejas receberam ajuda de um obreiro apostólico depois de seu nascimento. De fato, cada igreja que se menciona no NT foi plantada ou grandemente ajudada por um obreiro apostólico.

     Os obreiros apostólicos não estabelecem missões, denominações, grupos de célula, organizações para-eclesiásticas ou “igrejas” institucionais.  Eles plantam somente ekklesias que estão cimentadas e sustentadas por Jesus Cristo -- o Arquiteto Principal da igreja (1 Cor. 3:6-15). 

     Os obreiros apostólicos são irmãos que possuem dons e que estão comissionados especialmente por Deus para realizar este trabalho (Rom. 1:1; 1 Tim. 2:7; 2 Tim. 1:11). Estes são aprovados e enviados à obra pelos crentes, quem lhes conhecem intimamente. Considere Atos 13:1-4:

Havia na igreja que está em Antioquia, PROFETAS E MESTRES:  Bernabé, Simeão (o chamado Negro), Lúcio (de Cirene), Manaém (irmão de criação do rei Herodes, o tetrarca), e Saulo.  Estando estes ministrando ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: SEPAREM Bernabé e Saulo para A OBRA para qual os chamei.  Então, tendo jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e Os DEIXARAM MARCHAR. Assim, ENVIADOS PELO SANTO ESPÍRITO, eles desceram para a Selêucia, e dali navegaram para Chipre.

     A comissão de um obreiro apostólico é pessoal, mas o ser enviado é corporativo.  Um obreiro apostólico é, em geral, um mestre, profeta ou evangelista que foi chamado diretamente por Deus a uma obra regional. Também é enviado publicamente por um grupo de crentes locais.

     É esta comissão interna e separação externa que constitui um obreiro apostólico.  Os obreiros também podem ser enviados por um obreiro de mais idade que os aconselha –1 Cor. 4:17; 2 Cor. 8:16-23; 12:18; Efé. 6:21-22; Filemon 4:7-8; 1 Tes. 3:1-2; 2 Tim. 4:12; Tito 3:12-13).

     De modo significativo, a palavra grega apóstolos, que se traduz “apóstolos”, literalmente significa alguém que é enviado.  Portanto, o NT não diz absolutamente nada a respeito de um apóstolo que se nomeia ou envia a si mesmo. 

     Os obreiros apostólicos, no sentido Neotestamentário, são os que são enviados. Constituem um grupo de gente itinerante e móvel, que avalia a cultura, proclama o evangelho, planta e nutre ekklesias.  Como realizam estas tarefas e quanta autoridade possuem são temas que consideraremos neste capítulo.

A Questão da Cobertura Apostólica

     A noção da “cobertura apostólica” é semelhante à da “cobertura denominacional”, mas com um matiz próprio.  Dito ensino sustenta que uma igreja está protegida do erro doutrinal se se submete a um apóstolo contemporâneo (= alguém que planta igrejas).  Isto se baseia na idéia de que os obreiros apostólicos têm autoridade oficial para controlar e dirigir os assuntos de uma igreja.

     A Bíblia, no entanto, opõe-se a esta idéia. Em nenhuma parte do NT encontramos que um apóstolo tenha assumido a plena responsabilidade de uma igreja local existente. Ou seja, uma vez estabelecidas, os apóstolos do NT reconheciam e respeitavam a autonomia espiritual de cada igreja.

     É verdade que a igreja estava nas mãos do obreiro durante o tempo em que punha o fundamento, mas a responsabilidade ficava nas mãos da igreja quando este seguia em frente. E sempre seguia em frente!

      No começo da vida de uma igreja, o ônus da supervisão pertence ao obreiro apostólico. Esta passa depois aos anciãos, uma vez que eles emergem. Os obreiros apostólicos são responsáveis por seus próprios  ministérios regionais. A igreja é responsável por seus próprios assuntos locais.

     Uma vez mais, quando um obreiro apostólico dá nascimento a uma igreja, esta está em suas mãos.  Este período se assemelha a uma fase de encubação.  O obreiro passa algum tempo ministrando Cristo aos santos e equipando-lhes para o ministério.  Foi  por esta razão que Paulo alugou uma casa para realizar reuniões apostólicas junto com as reuniões da igreja (Atos 28:30-31).

Fez algo similar quando esteve em Éfeso. Levava a cabo reuniões apostólicas na escola de Tirano enquanto os crentes locais se reuniam nas casas (Atos 19:9; 20:20;  1Cor. 16:19).  Estas reuniões apostólicas eram reuniões da obra . Foram planejadas para equipar aos santos para que funcionassem na igreja . 

     Mas uma vez que o obreiro punha o fundamento e deixava os santos por sua conta, delegava toda a supervisão e a responsabilidade aos crentes locais. Desta maneira os apóstolos do primeiro século nunca se estabeleciam numa igreja para controlar seus assuntos.  Sempre marchavam.

     Ainda que Paulo algumas vezes passasse um longo período de tempo plantando uma igreja (em Corinto 18 meses e em Éfeso 3 anos), uma vez que o fundamento estava estabelecido, sempre deixava a estas igrejas por sua conta.  Depois de sua partida, não se intrometia nos assuntos da igreja.

      Da mesma maneira, a Antioquia serviu a Paulo como base de operações para suas duas primeiras viagens apostólicas. No entanto, não exerceu nenhum domínio sobre os assuntos desta igreja enquanto esteve ali.   Em Antioquia, Paulo era simplesmente um irmão respeitado. Não era um apóstolo para essa igreja.

     Isto explica por que o NT menciona os anciãos de Éfeso, os anciãos de Jerusalém, os supervisores de Filipos, etc., mas nunca menciona os apóstolos desses lugares.  Embora os doze residissem em Jerusalém como base de operações para seu ministério durante a época inicial da existência da igreja, o NT jamais os chama de “apóstolos de Jerusalém . No entanto, o ministério dos obreiros apostólicos complementa o ministério das igrejas.

     O ministério apostólico, ou “a obra” (érgon) como a Bíblia o chama (Atos 13:2; 14:26; 15:38), existe como uma entidade separada das igrejas   A obra é regional. As igrejas são locais.  A obra era transitória.  As igrejas estão estabelecidas.  A obra é uma associação itinerante. As igrejas são comunidades residentes.  Os obreiros apostólicos são viajantes e não colonizadores. São pioneiros, gente que sempre está em movimento.

     Um estudo cuidadoso das viagens apostólicas de Paulo revela o fato surpreendente de que em geral, passava muito pouco tempo com as igrejas que plantava.  Como era seu costume, Paulo passava vários meses estabelecendo a base de uma comunidade de crentes, só para deixá-la por sua conta por longos períodos de tempo.  Sempre estava disposto a dar-lhes conselho (1 Cor. 7:1). Também lhes visitava periodicamente para comprovar seu progresso e fortalecê-las (Atos 15:36; 18:23; 2 Cor. 12:14; 13:1),  mas não se encarregava de seus assuntos.

     A prática de deixar as igrejas em sua infância nos deixa ver o fato surpreendente de que Paulo cria que a igreja era um organismo vivente capaz de desenvolver-se por si mesmo, pelo poder da vida de Deus.  Sabia que quando deixava uma igreja, o Espírito ficava com ela.

     Ao mesmo tempo, as igrejas que Paulo plantava recebiam ajuda de outras igrejas (Atos 16:2; 1 Tes. 1:7-8). Também estavam em contato constante com ele.  De fato, ainda depois de doze anos, a igreja em Filipos ainda precisava do ministério espiritual de seu apóstolo fundador (Fil. 1:23-27).

     É absolutamente essencial que as modernas igrejas caseiras recebam o ministério dos obreiros apostólicos para que lhes ajudem. Quando uma igreja não abre suas portas para obter ajuda exterior e se julga a si mesma “auto-suficiente” por completo, sofrerá uma tremenda perda.  As igrejas caseiras não devem isolar-se e converter-se em ilhotas que vivem para si mesmas. Fazer isto é cometer um suicídio espiritual (veja meu livro Iniciando uma Igreja Caseira para mais detalhes).

     A obra existe a favor das igrejas -- não para seu próprio benefício. De fato, a obra produz igrejas. Ao mesmo tempo, as igrejas produzem obreiros.  (No século I, cada apóstolo, em primeiro lugar, era um irmão digno de confiança e bem conhecido na igreja, antes de ser enviado). A obra nunca deve rivalizar, substituir ou eclipsar a igreja porque a meta da obra é estabelecer e fortalecer as igrejas  

     Numa palavra os apóstolos são responsáveis por plantar e nutrir as igrejas em muitos lugares diferentes. Os apóstolos genuínos nunca se estabelecem permanentemente nas igrejas que plantam, nem assumem autoridade exclusiva sobre elas.  A este respeito, o papel pastoral moderno é uma versão deformada de um apóstolo estacionário. Semelhante criatura é uma contradição Bíblica.




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