QUEM É TUA COBERTURA? (CAPÍTULO 5a)
UMA ABORDAGEM AO CONCEITO DE LIDERANÇA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE NA PRESTAÇÃO DE CONTAS
Traduzido para o Português
por Railton de Sousa Guedes
Copyrights 2005 (Present Testimony Ministry)
1. Prólogo, Prefácio, Introdução, Modelos de Liderança
5. Autoridade Apostólica I, II, III
6. Resumo,
Conclusão e Bibliografia
CAPÍTULO 5
A AUTORIDADE APOSTÓLICA
Considerando que uma discussão completa
do ministério apostólico está além do alcance deste livro o tratamento que dou
ao tema da anatomia da autoridade apostólica me leva a afirmar que os apóstolos
ainda existem hoje em dia. Sem dúvida, os doze apóstolos têm um lugar único na
obra de Deus. (Luc. 22:30; Ap. 21:14). (Os doze incluem a Matias, que
substituiu Judas Iscariotes –Atos 1:26).
No entanto , a Escritura menciona outros
apóstolos aparte dos doze. Paulo e Barnabé
(Atos 14:4,14; 1 Cor. 9:1-6), Tiago, o irmão do Senhor (Gál. 1:19), Timóteo e
Silas (1 Tes. 1:1; 2:6) são somente alguns dos apóstolos que aparecem nas
páginas do NT.
O ministério apostólico, portanto,
continuou depois da morte dos doze apóstolos originais. Este ministério não desapareceu depois do
primeiro século, nem foi transmitido formalmente através de uma hierarquia
institucional.
Embora os apóstolos contemporâneos não
estejam produzindo Escritura, eles estão comissionados divinamente para
edificar o Corpo de Cristo (1 Cor. 12:28-29; Efé. 4:11). A obra principal de um
apóstolo é levantar igrejas. Isto não significa que uma igreja não pode nascer
sem a mão de um apóstolo. As igrejas de Antioquia da Síria, Cesárea, Tiro e
Tolemaida não parecem ter sido fundadas por algum.
Mas todas estas igrejas receberam ajuda
de um obreiro apostólico depois de seu nascimento. De fato, cada igreja
que se menciona no NT foi plantada ou grandemente ajudada por um obreiro
apostólico.
Os obreiros apostólicos não estabelecem
missões, denominações, grupos de célula, organizações para-eclesiásticas ou
“igrejas” institucionais. Eles plantam
somente ekklesias que estão cimentadas e sustentadas por Jesus Cristo --
o Arquiteto Principal da igreja (1 Cor. 3:6-15).
Os obreiros apostólicos são irmãos que
possuem dons e que estão comissionados especialmente por Deus para realizar
este trabalho (Rom. 1:1; 1 Tim. 2:7; 2 Tim. 1:11). Estes são aprovados e
enviados à obra pelos crentes, quem lhes conhecem intimamente. Considere Atos
13:1-4:
Havia na
igreja que está em Antioquia, PROFETAS E MESTRES: Bernabé, Simeão (o chamado Negro), Lúcio (de Cirene), Manaém
(irmão de criação do rei Herodes, o tetrarca), e Saulo. Estando estes ministrando ao Senhor e
jejuando, disse o Espírito Santo: SEPAREM Bernabé e Saulo para A OBRA para qual
os chamei. Então, tendo jejuado e
orado, impuseram-lhes as mãos e Os DEIXARAM MARCHAR. Assim, ENVIADOS PELO SANTO
ESPÍRITO, eles desceram para a Selêucia, e dali navegaram para Chipre.
A comissão de um obreiro apostólico é pessoal,
mas o ser enviado é corporativo.
Um obreiro apostólico é, em geral, um mestre, profeta ou evangelista que
foi chamado diretamente por Deus a uma obra regional. Também é enviado
publicamente por um grupo de crentes locais.
É esta comissão interna e separação
externa que constitui um obreiro apostólico.
Os obreiros também podem ser enviados por um obreiro de mais idade que
os aconselha –1 Cor. 4:17; 2 Cor. 8:16-23; 12:18; Efé. 6:21-22; Filemon 4:7-8;
1 Tes. 3:1-2; 2 Tim. 4:12; Tito 3:12-13).
De modo significativo, a palavra grega apóstolos,
que se traduz “apóstolos”, literalmente significa alguém que é enviado. Portanto, o NT não diz absolutamente nada a
respeito de um apóstolo que se nomeia ou envia a si mesmo.
Os obreiros apostólicos, no sentido
Neotestamentário, são os que são enviados. Constituem um grupo de gente
itinerante e móvel, que avalia a cultura, proclama o evangelho, planta e nutre ekklesias. Como realizam estas tarefas e quanta
autoridade possuem são temas que consideraremos neste capítulo.
A Questão da Cobertura Apostólica
A noção da “cobertura apostólica” é
semelhante à da “cobertura denominacional”, mas com um matiz próprio. Dito ensino sustenta que uma igreja está
protegida do erro doutrinal se se submete a um apóstolo contemporâneo (= alguém
que planta igrejas). Isto se baseia na
idéia de que os obreiros apostólicos têm autoridade oficial para controlar e dirigir
os assuntos de uma igreja.
A Bíblia, no entanto, opõe-se a esta
idéia. Em nenhuma parte do NT encontramos que um apóstolo tenha assumido a
plena responsabilidade de uma igreja local existente. Ou seja, uma vez
estabelecidas, os apóstolos do NT reconheciam e respeitavam a autonomia espiritual
de cada igreja.
É verdade que a igreja estava nas mãos do
obreiro durante o tempo em que punha o fundamento, mas a responsabilidade
ficava nas mãos da igreja quando este seguia em frente. E sempre seguia
em frente!
No começo da vida de uma igreja, o ônus
da supervisão pertence ao obreiro apostólico. Esta passa depois aos anciãos,
uma vez que eles emergem. Os obreiros apostólicos são responsáveis por seus
próprios ministérios regionais. A
igreja é responsável por seus próprios assuntos locais.
Uma vez mais, quando um obreiro
apostólico dá nascimento a uma igreja, esta está em suas mãos. Este período se assemelha a uma fase de
encubação. O obreiro passa algum tempo
ministrando Cristo aos santos e equipando-lhes para o ministério. Foi
por esta razão que Paulo alugou uma casa para realizar reuniões
apostólicas junto com as reuniões da igreja (Atos 28:30-31).
Fez algo
similar quando esteve em Éfeso. Levava a cabo reuniões apostólicas na escola de
Tirano enquanto os crentes locais se reuniam nas casas (Atos 19:9; 20:20; 1Cor. 16:19). Estas reuniões apostólicas eram reuniões da obra . Foram
planejadas para equipar aos santos para que funcionassem na igreja .
Mas uma vez que o obreiro punha o
fundamento e deixava os santos por sua conta, delegava toda a supervisão e a
responsabilidade aos crentes locais. Desta maneira os apóstolos do primeiro
século nunca se estabeleciam numa igreja para controlar seus assuntos. Sempre marchavam.
Ainda que Paulo algumas vezes passasse um
longo período de tempo plantando uma igreja (em Corinto 18 meses e em Éfeso 3
anos), uma vez que o fundamento estava estabelecido, sempre deixava a estas
igrejas por sua conta. Depois de sua
partida, não se intrometia nos assuntos da igreja.
Da mesma maneira, a Antioquia serviu a
Paulo como base de operações para suas duas primeiras viagens apostólicas. No
entanto, não exerceu nenhum domínio sobre os assuntos desta igreja enquanto
esteve ali. Em Antioquia, Paulo era
simplesmente um irmão respeitado. Não era um apóstolo para essa igreja.
Isto explica por que o NT menciona os
anciãos de Éfeso, os anciãos de Jerusalém, os supervisores de Filipos, etc.,
mas nunca menciona os apóstolos desses lugares. Embora os doze residissem em Jerusalém como base de operações
para seu ministério durante a época inicial da existência da igreja, o NT
jamais os chama de “apóstolos de Jerusalém . No entanto, o ministério
dos obreiros apostólicos complementa o ministério das igrejas.
O ministério apostólico, ou “a obra” (érgon)
como a Bíblia o chama (Atos 13:2; 14:26; 15:38), existe como uma entidade
separada das igrejas A obra é
regional. As igrejas são locais. A obra
era transitória. As igrejas estão
estabelecidas. A obra é uma associação
itinerante. As igrejas são comunidades residentes. Os obreiros apostólicos são viajantes e não
colonizadores. São pioneiros, gente que sempre está em movimento.
Um estudo cuidadoso das viagens
apostólicas de Paulo revela o fato surpreendente de que em geral, passava muito
pouco tempo com as igrejas que plantava.
Como era seu costume, Paulo passava vários meses estabelecendo a base de
uma comunidade de crentes, só para deixá-la por sua conta por longos períodos
de tempo. Sempre estava disposto a
dar-lhes conselho (1 Cor. 7:1). Também lhes visitava periodicamente para
comprovar seu progresso e fortalecê-las (Atos 15:36; 18:23; 2 Cor. 12:14;
13:1), mas não se encarregava de seus
assuntos.
A prática de deixar as igrejas em sua
infância nos deixa ver o fato surpreendente de que Paulo cria que a igreja era
um organismo vivente capaz de desenvolver-se por si mesmo, pelo poder da vida
de Deus. Sabia que quando deixava uma
igreja, o Espírito ficava com ela.
Ao mesmo tempo, as igrejas que Paulo
plantava recebiam ajuda de outras igrejas (Atos 16:2; 1 Tes. 1:7-8). Também
estavam em contato constante com ele.
De fato, ainda depois de doze anos, a igreja em Filipos ainda precisava do
ministério espiritual de seu apóstolo fundador (Fil. 1:23-27).
É absolutamente essencial que as modernas
igrejas caseiras recebam o ministério dos obreiros apostólicos para que lhes
ajudem. Quando uma igreja não abre suas portas para obter ajuda exterior e se
julga a si mesma “auto-suficiente” por completo, sofrerá uma tremenda
perda. As igrejas caseiras não devem
isolar-se e converter-se em ilhotas que vivem para si mesmas. Fazer isto é
cometer um suicídio espiritual (veja meu livro Iniciando uma Igreja Caseira para
mais detalhes).
A obra existe a favor das igrejas -- não
para seu próprio benefício. De fato, a obra produz igrejas. Ao mesmo tempo, as
igrejas produzem obreiros. (No século
I, cada apóstolo, em primeiro lugar, era um irmão digno de confiança e
bem conhecido na igreja, antes de ser enviado). A obra nunca deve rivalizar,
substituir ou eclipsar a igreja porque a meta da obra é estabelecer e
fortalecer as igrejas
Numa palavra os apóstolos são
responsáveis por plantar e nutrir as igrejas em muitos lugares diferentes. Os
apóstolos genuínos nunca se estabelecem permanentemente nas igrejas que
plantam, nem assumem autoridade exclusiva sobre elas. A este respeito, o papel pastoral moderno é uma versão deformada
de um apóstolo estacionário. Semelhante criatura é uma contradição
Bíblica.