QUEM É TUA COBERTURA? (CAPÍTULO 5b)

UMA ABORDAGEM AO CONCEITO DE LIDERANÇA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE NA PRESTAÇÃO DE CONTAS

 

Por FRANK A. VIOLA

Traduzido para o Português por Railton de Sousa Guedes

Copyrights 2005 (Present Testimony Ministry)


 

1. Prólogo, Prefácio, Introdução, Modelos de Liderança

2. Objeções Tradicionais

3. Autoridade e Submissão

4. Cobertura Denominacional

5. Autoridade Apostólica I, II, III

6. Resumo, Conclusão e Bibliografia



Plantadores de Igrejas ou Suplantadores de Igrejas

      Os apóstolos foram servos valiosos para as  primeiras igrejas,  nunca usurpadores (1 Cor. 4:1).  Não se conduziam como presidentes executivos ou chefes distantes acima das assembléias. 

     Em outras palavras, os apóstolos do século primeiro eram plantadores -- não suplantadores de igrejas.  Eram assistentes, e não aristocratas espirituais. Eram servos, não déspotas eclesiásticos. Eram instaladores de alicerces, não celebridades de altos vôos.  Os apóstolos do primeiro século instruíam e persuadiam às igrejas, jamais as controlavam.

     Enquanto hoje em dia alguns rodeiam de glamour a vocação apostólica, Paulo considerava os apóstolos como “néscios. . . débeis. . . sem honra. . . escória do mundo. . . desperdício” (1 Cor. 4:9-13).  Os verdadeiros obreiros, portanto,  não procuram glória.  Não tratam de impressionar o povo (2 Cor. 11:5-6; 1 Tes. 2:5-6). Não procuram ganhos financeiros (2 Cor. 2:17; 11:9), nem dominar as vidas dos demais (2 Cor. 1:24). 

     Os verdadeiros obreiros não ostentam credenciais impressionantes (2 Cor. 3:1-3). Não afirmam possuir uma herança superior ( 2 Cor. 11:21-22), nem se jactam de experiências espirituais extraordinárias (2 Cor. 10:12-15; 11:16-19; 12:1,12). 

     Para Paulo, os obreiros apostólicos não são elitistas espirituais que proclamam ou promovem a si mesmos.  Pelo contrário, são os que tiram com pá o esterco depois que termina o desfile! São os que derramam  seu sangue pelas igrejas. Como todo líder verdadeiro, os obreiros apostólicos sempre são encontrados servindo discretamente a cada um e a todos que estão em necessidade.

     Apossar-se do poder e exercer a própria autoridade sobre os demais não é apostolado. É nada mais que um reflexo rançoso de outra versão da opressão. Os verdadeiros obreiros são  antes de mais nada servos.   

     A marca de um verdadeiro obreiro apostólico é simplesmente esta:  planta ekklesias, segundo o NT, que sobrevivem em sua ausência (1 Cor. 9:2; 2 Cor. 3:1-2). Tudo isto coincide com a prática de Paulo  -- cujo ministério apostólico recebe enorme atenção no NT. 

     Em vez de utilizar metáforas imperiais, Paulo toma metáforas da família para descrever a relação que tinha com as igrejas que servia. Para as igrejas, Paulo não é um senhor, amo ou rei. Ele é como um pai, uma mãe e um servo (1 Cor. 3:2; 4:14-15; 2 Cor. 12:14; Gál. 4:19; 1 Tes. 2:7,11).

     Assim mesmo, as alusões persuasivas que impregnam suas cartas, mostram que tratava as igrejas como um pai faria com seus filhos adultos,  e não como a meninos pequenos. Como pai, dava sua opinião a respeito dos assuntos da igreja, mas não emitia decretos unilaterais. 

     A carta de 1 Coríntios é um claro exemplo desta orientação. Atinge seu ponto crítico quando Paulo oferece seu conselho com respeito a como tratar a um irmão que tinha cometido incesto. Convoca a toda a igreja para que o discipline (1 Cor. 5:1-13).

     Efetivamente, as igrejas que plantou, progressivamente deixaram de depender dele e cresceram em sua dependência de Cristo (1 Cor. 2:1-5).  Paulo lhes exortava a andar por este caminho (1 Cor. 14:20; Efé. 4:14).

 

O Método Paulino de Plantar e Nutrir Igrejas

     Uma das características mais dinâmicas do método de Paulo de plantar igrejas era sua constante sujeição aos demais Cristãos.  Desde o começo de sua conversão aprendeu a depender da provisão espiritual de seus irmãos.  Sua primeira lição de sujeição ao Corpo, veio de Ananias. Ananias foi o irmão de cujas mãos recebeu o Espírito e uma confirmação de seu chamado (Atos 9:17-19; 22:12-16). 

     Posteriormente, foi enviado pelos crentes de Beréa (Atos 17:14). Foi fortalecido por seus colaboradores em Corinto (Atos 18:5), refreado pelos santos de Éfeso (Atos 19:30), e também foi aconselhado pelos irmãos de Jerusalém (Atos 21:23).  Numa palavra Paulo sabia como enriquecer seu espírito e receber ajuda dos demais (Rom. 15.32; 1 Cor. 16:18; Fil. 2:19; 2 Tim. 1:16).

     Embora certamente provido de uma madura história espiritual e de muitos dons poderosos, Paulo entendia sua autoridade como funcional e relacional -- não oficial ou sacralizada. Para o apóstolo, a autoridade espiritual estava cimentada na aprovação do Senhor, e não em algum ofício formal (2 Cor. 10:18).

     Isto explica por que Paulo sempre procurava persuadir às igrejas com respeito à mente de Deus, em vez de promulgar mandamentos imperiais.  De fato, as duas palavras favoritas de Paulo para dirigir-se aos santos são parakalein e erotao. Parakalein  denota uma súplica. Erotao significa uma petição feita entre iguais.

     No mesmo sentido, Paulo se abstinha de usar o muito forte vocábulo epitagi ( = mandamento) para ordenar que se lhe obedecesse.  Consideremos os textos seguintes:

Digo isto como concessão, NÃO COMO MANDATO. (1 Cor. 7:6)

A respeito das donzelas NÃO TENHO MANDAMENTO DO SENHOR, MAS DOU MINHA OPINIÃO como quem atingiu misericórdia do Senhor para ser fiel. (1 Cor. 7:25)

NÃO O DIGO COMO MANDAMENTO, senão para provar também, por meio da solicitação de outros, vosso amor genuíno. (2 Cor. 8:8)

Pelo qual, embora tenha muita franqueza em Cristo para mandar-te o que é apropriado, PREFIRO TE ROGAR POR CAUSA DO AMOR. (Filemon 8-9)  

     Quando Paulo chamou aos crentes à ação ou a que tivessem a atitude adequada, preferiu “rogar”, “suplicar”, “rogar com insistência”, “implorar” e “pedir” em vez de promulgar decretos autoritários.  As epístolas de Paulo estão salpicadas deste tipo de tom cooperativo (veja Rom. 12:1; 15:30; 16:1-2,17; 1 Cor. 1:10; 4:16; 16:12,15; 2 Cor. 2:8; 5:20; 6:1; 8:6; 9:5; 10:1-2; 12:18; Gál. 4:12; Efé. 3:13; 4:1; Fil. 4:2-3; 1 Tes. 2:3,12; 4:1,10; 5:12,14; 2 Tes. 2:1; 3:14-15; 1 Tim. 1:3; 2:1; Filme. 9-10, 14).

     Para Paulo, o consentimento voluntário de sua audiência e a internalização da verdade era bem mais desejável que uma obediência nominal às coisas que escreveu. Às vezes, quando seu tom era necessariamente severo, exortava e recomendava que os santos obedecessem a Cristo, e não a ele (Rom. 1:5; 16:19,26; 2 Cor. 2:9; Fil. 2:12). 

     Em raras ocasiões mandava (paraggello) que se obedecesse às coisas que tinha escrito (1 Tes. 4:11; 2 Tes. 3:4,6,10,14). Mas o objeto da obediência não era Paulo como pessoa, senão Cristo, cujo pensamento estava expressando naquele momento

      Dito de outra maneira, cada vez que Paulo manifestava a mente de Cristo, suas palavras eram autoritativas, conquanto ele nunca se mostrou autoritário.  Considere os seguintes textos:

Eu sei, e fui persuadido PELO SENHOR JESUS, de que nada é imundo em si mesmo. . (Rom. 14.14)

E aos que se casaram, ordeno, NÃO EU, SENÃO O SENHOR. . . . (1 Cor. 7:10)

 

Se alguém supõe que é profeta ou espiritual, reconheça o que escrevo, PORQUE É MANDAMENTO DO SENHOR. (1 Cor. 14:37)

Porque não somos como muitos que negociam por lucro com a Palavra de Deus, senão com sinceridade, pelo contrário, DA PARTE DE DEUS, NA PRESENÇA DE DEUS, FALAMOS EM CRISTO. (2 Cor. 2:17)

PORQUE NÃO PREGAMOS A NÓS MESMOS, SENÃO A JESUS CRISTO COMO SENHOR; e a nós mesmos como servos vossos por causa de Jesus.  (2 Cor. 4:5)

Todo este tempo  pensais que fazemos nossa defesa ante vocês. DIANTE DE DEUS FALAMOS EM CRISTO; E TUDO, AMADOS, PARA VOSSA EDIFICAÇÃO. (2 Cor. 12:19)

Já que procurais UMA EVIDÊNCIA DAQUELE QUE FALA POR MIM, DO CRISTO, o qual não é débil com respeito a  vocês, senão poderoso em vocês e certamente foi crucificado por causa da debilidade, mas vive pelo poder de Deus.  Em verdade, também nós somos débeis nele, mas VIVEREMOS COM ELE PELO PODER DE DEUS PARA COM VOCÊS (2 Cor. 13:3-4)

E por isto, também nós damos graças a Deus sempre, de que tendo recebido a palavra da pregação de Deus, acolheste-la NÃO COMO PALAVRA DE HOMENS, MAS TAL COMO É EM VERDADE, PALAVRA DE DEUS. . . . (1 Tes. 2:13)

Porque sabeis que mandatos vos demos EM NOME DO SENHOR JESUS. (1 Tes. 4:2)

Porque isto vos dizemos PELA PALAVRA DO SENHOR. . . . (1 Tes. 4:15)

A QUAL agora ordenamos e exortamos NO SENHOR JESUCRISTO . . . (2 Tes. 3.12)

     Assim, pois, Paulo não era uma personalidade autoritária, nem trabalhava por sua conta.  De sua própria boca deixou bem claro que não considerava seu chamado apostólico como uma licença para exercer domínio sobre os assuntos das igrejas.  Nunca tirou vantagem de seu direito como apóstolo obtendo ajuda econômica dos que servia (1 Cor. 9:1-19).

     De fato, seu princípio inalterável era não aceitar dinheiro das igrejas que auxiliava.  Somente aceitava ajuda financeira de crentes de outras localidades, para não ser um ônus aos que eram os recipientes de sua ajuda imediata (2 Cor. 11:7-9). 

     Efetivamente, todo panorama da autoridade apostólica de Paulo se cristaliza nesta máxima “Não que pretendamos dominar sobre vossa fé, mas contribuímos para vosso gozo... (2 Cor. 1:24 BJ). Eugene Peterson parafraseia esta passagem da seguinte maneira: Não estamos a cargo de supervisionar como vivem vocês a fé, vigiando acima de seus ombros, receiosamente críticos. Somos colegas seus que trabalhamos a seu lado em prazeiroza expectativa. Eu sei que vocês estão sustentados por sua própria fé, não pela nossa”. 

     Neste sentido Paulo diferia imensamente de seus adversários (2 Cor. 11:19-21).




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