Teses sobre a
revolução cultural
Publicado no # 1 de Internacional Situacionista (1-VI-1958). Tradução para o
espanhol por Luis Navarro. Traduzido do espanhol.
1
O objetivo
tradicional da estética é fazer sentir, na privação e na ausência, alguns elementos
passados da vida que escapariam da confusão das aparências através da arte, posto
que é a aparência que sofre o reinado do tempo. O alcance do estético se mede
pela beleza inseparável da duração e tende sempre a reclamar a eternidade. O ideal
situacionista é a participação imediata em uma abundância apaixonante de vida
mediante a mudança de momentos efêmeros conscientemente dispostos. O logro destes
momentos só pode ser seu efeito passageiro. Os situacionistas consideram a realidade,
desde o ponto de vista da totalidade, como um método de construção experimental
da vida quotidiana, que pode desdobrar-se permanentemente com a extensão do ócio
e com a desaparição da divisão do trabalho (começando pelo trabalho artístico).
2
A
arte pode deixar de ser uma relação de sensações e ser uma organização direta
de sensações mais elevadas: a questão é produzirmos a nós mesmos e não coisas
que nos domine.
3
Mascolo
está certo ao dizer («Le Communisme») que a redução da jornada de
trabalho pela ditadura do proletariado é «a melhor prova que pode oferecer
sobre sua autenticidade revolucionária». Com efeito, «se o homem
é uma mercadoria, se é tratado como um objeto, se as relações gerais entre os
homens estão coisificadas, é porque é possível comprar seu tempo». Todavia,
Mascolo se apressa ao concluir «que o tempo de um homem livremente empregado»
se emprega sempre bem e que «o comércio do tempo é o único mal».
Não há liberdade no emprego do tempo sem a posse dos instrumentos modernos para
construção da vida quotidiana. O uso de tais instrumentos marcará o salto de
uma arte revolucionária utópica para uma arte revolucionária experimental.
4
Uma
associação internacional de situacionistas pode tomar-se como uma união de trabalhadores
em um setor avançado da cultura, ou mais precisamente como uma união de todos
aqueles que reclamam o direito a um trabalho agora impedido pelas condições
sociais. Portanto como um intento de organização de revolucionários profissionais
da cultura.
5
Na
prática, nos encontramos separados do controle real dos poderes materiais acumulados
em nosso tempo. A revolução comunista não aconteceu e nos achamos ainda dentro
da estrutura de decomposição das velhas superestruturas culturais. Henri Lefebvre
entende corretamente que esta contradição está no coração de uma discordância
especificamente moderna entre o indivíduo progressista e o mundo, e chama de
romântico-revolucionária à tendência cultural baseada nesta discordância, O
defeito na concepção de Lefebvre reside em fazer com que a simples expressão
de desacordo seja um critério suficiente para uma ação revolucionária dentro
da cultura. Lefebvre renuncia de antemão a qualquer experimento tendente a uma
mudança cultural profunda e fica satisfeito com um conteúdo: a consciência do
(ainda demasiado remoto) impossível-possível, que pode ser expresso sem importar
que forma tome dentro da estrutura de decomposição.
6
Quem
quer superar a ordem estabelecida em todos os seus aspectos não pode ligar-se
a desordem presente, inclusive na esfera da cultura. Deve lutar e não esperar,
também no campo cultural, para fazer com que a ordem móvel do futuro seja uma
aparição concreta. Esta possibilidade sua, presente já entre nós, desacredita
toda expressão dentro das formas culturais conhecidas. Devem ser levadas todas
as formas de pseudocomunicação até sua completa destruição para chegar um dia
à comunicação real e direta (em nossa hipótese de trabalho de um cultura mais
elevada significa: a situação construída). A vitória pertencerá a quem for capaz
de criar a desordem sem amá-la.
7
No
mundo da decomposição cultural podemos provar nossas forças, mas não empregá-las.
A tarefa prática de superar nosso desacordo com o mundo, ou seja, de vencer
a decomposição mediante construções mais elevadas, não é romântica. Seremos
«revolucionários românticos», no sentido de Lefebvre, na medida
precisa de nosso fracasso.
Extraído
da Biblioteca Virtual Revolucionária em
http://www.oocities.org/autonomiabvr/princpl.html
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railtong@g.com