Mensagem a Todos os Trabalhadores

Comitê «Enragés» - Internacional Situacionista - Conselho para a Continuação das Ocupações



Texto considerado o testamento do movimento de ocupações de Maio de 68. 30 de maio de 1968, tradução para o espanhol de Juan Fonseca publicada em DEBATE LIBERTÁRIO 2 -- Serie Acción directa -- Campo Abierto Ediciones Primera edición: mayo 1977. Tradução do espanhol para o português pelos editores desta página *.


Companheiros:

O que fizemos na França atormenta a Europa e já ameaçará todas as classes dominantes do mundo, desde os burocratas de Moscou e Pequim aos milionários de Washington e Tóquio. Assim como fizemos Paris dançar, o proletariado internacional assaltará de novo as capitais de todos os Estados, de todas as fortificações da alienação. A ocupação das fábricas e dos edifícios públicos em todos os países não somente bloqueou o funcionamento da economia, mas também trouxe consigo a colocação em questão geral da sociedade. Um movimento profundo leva a quase todos os setores da população a desejar uma transformação da vida. A partir de agora é um movimento revolucionário, para o qual não lhe falta nada mais que a consciência do que ele já fez para possuir realmente essa revolução.

Que forças tratarão de salvar o capitalismo? O regime deve cair se não se mantiver com a ameaça de recorrer às armas (ajudado por uma hipotética convocatória de eleições que só podem acontecer depois da capitulação do movimento) e pela repressão armada imediata. Quanto ao eventual poder da esquerda, também defenderá o velho mundo por meio de concessões e pela força. O partido chamado comunista, o partido dos burocratas, que combateu o movimento desde o princípio e que não começou a vislumbrar a queda do gaulismo mais que a partir do momento em que este se encontre incapaz de ser por mais tempo sua principal proteção, será neste caso o melhor guardião desse «governo popular». Semelhante governo de transição não será realmente um «kerenskysmo» mais que se os estalinistas forem derrotados. O que dependerá essencialmente da consciência e das capacidades de organização autônoma dos trabalhadores: aqueles que recusaram os acordos irrisórios dos quais estão cheias as direções sindicais terão que descobrir que não podem «obter» muito mais dentro da estrutura da economia existente, mas que poderão tomá-la toda transformando todas as bases por eles mesmos. Os trabalhadores apenas podem pagar mais; mas podem desaparecer.

O movimento atual não se «politizou» indo além das miseráveis reivindicações sindicais sobre os salários e as férias, abusivamente apresentadas como «questões sociais». Está além da política: coloca a questão social em sua verdade simples. Volta a revolução que se prepara desde faz mais de um século. Não pode se afirmar mais que em suas próprias formas. Já é muito tarde para uma porcaria burocrático-revolucionária. Quando um André Barjonet, desestalinizado há pouco, apela à formação de uma organização comum que reunirá «todas as forças autênticas da revolução... que invocam a Trotsky, Mao, a anarquia, o situacionismo», só temos que lembrar que aqueles que invocam a Trotsky e a Mao, para não dizer nada da lamentável «Federação Anarquista», não tem nada a ver com a revolução atual. Os burocratas poderão agora mudar o parecer sobre o que chamam de «revolução autêntica» -- mas a revolução autêntica não mudará o juízo que pronunciou contra a burocracia.

É no momento presente, com o poder que tem, e com os partidos e sindicatos conhecidos, que os trabalhadores não tem outra saída que a apropriação direta da economia em todos os aspectos da reconstrução da vida social por comitês unitários de base, afirmar sua autonomia contra a direção político-sindical, assegurar sua autodefesa e federar-se em escala regional e nacional. Seguindo esses meios devem converter-se no único poder real no país, o poder dos Conselhos de trabalhadores. Se não, o proletariado, já que «é revolucionário ou não é nada», se converterá em objeto passivo. Reaparecerá diante de seus receptores de televisão.

O que é que define o poder dos Conselhos?


  • a dissolução de todo poder exterior a eles;
  • a democracia direta e total;
  • a unificação na prática da decisão e da execução;
  • o delegado revogável em qualquer momento por seus mandatários;
  • a abolição da hierarquia e das especializações independentes;
  • a participação criativa e independente das massas;
  • a extensão e a coordenação internacionalistas.

  • As exigências atuais não são menores. A autogestão não é outra coisa. Cuidado com os doutrinários modernistas -- até os padres -- que começam a falar de autogestão e de conselhos operários, sem admitir este mínimo, porque querem de fato salvar suas funções burocráticas, os privilégios de suas especializações intelectuais ou seu porvir de chefões.

    Na realidade, aquilo que é necessário agora já era desde o começo do projeto revolucionário proletário. Se tratava da autonomia da classe trabalhadora. Se lutou pela abolição do salário, da produção mercantil, do Estado. Se tratava de chegar a história consciente, de suprimir todas as separações e «tudo o que existe independentemente dos indivíduos». A revolução proletária esboçou espontaneamente suas formas adequadas nos Conselhos, tanto em São Petersburgo em 1905 como em Turim em 1920, tanto na Catalunha de 1936 como em Budapeste em 1956. A manutenção da velha sociedade ou a formação de novas classes de exploradores passou sempre pela supressão dos Conselhos. A classe trabalhadora conhece agora seus inimigos e métodos de ação que lhe são próprios. «A organização revolucionária deve aprender que já não pode combater a alienação sob formas alienadas» (A Sociedade do Espetáculo). É evidente que os conselhos de trabalhadores são a única solução, porque todas as outras formas de luta revolucionária terminaram no contrário do que queriam.

    30 de maio de 1968



    * Extraído da Biblioteca Virtual Revolucionária em

    http://www.oocities.org/autonomiabvr/princpl.html

     


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    railtong@g.com