Sem a teoria da evolução por
seleção natural nada no mundo da biologia faz
algum sentido. Sem Darwin e o neo-Darwinismo, você não
pode responder a perguntas como "Por que os morcegos tem
asas? Por que os gatos tem cinco garras? Ou por que nossas
fibras óticas se cruzam na frente de nossas retinas?"
Você pode apenas se sentar e apelar para um criador imaginário.
Eu vou fazer uma afirmação
audaciosa.
Sem a teoria da evolução por
seleção memética nada no mundo da mente faz
algum sentido. Sem a memética você não pode
responder a perguntas como "Por que eu não consigo
tirar esse pensamento da minha mente? Por que eu decidi escrever
esse artigo e não esse outro? Quem sou eu?" Sem a
memética você pode apenas se sentar e apelar para
um agente consciente imaginário.
Nesse artigo eu quero expor as bases de
trabalho para a teoria da memética e ver até onde
nós podemos ir. Eu devo esboçar as linhas gerais
da história e origem da idéia, explorar como ela
foi usada, abusada e ignorada, e como ela proveu uma nova forma
de encarar o poder das religiões e dos cultos. Eu devo
então tomar o ponto de vista dos memes e usar isso para
responder cinco perguntas previamente não respondidas
sobre a natureza humana. Por que não conseguimos parar de
pensar? Por que nós falamos tanto? Por que nós
somos gentis com os outros? Por que nossos cérebros são
tão grandes? E, finalmente, o que é um eu?
Eu tentei escrever as seções
de forma a serem independentes. Se você quiser ler apenas
algumas delas eu sugiro que você leia a seção
Tomando o ponto de vista dos memes, e pegue qualquer outras que
sejam do seu gosto.
Uma História do Meme Meme
Em 1976 Dawkins publicou seu best-seller O
Gene Egoísta. Esse livro popularizou a visão
crescente na biologia que a seleção natural se
procede não no interesse das espécies ou do grupo,
nem mesmo do indivíduo, mas no interesse dos genes.
Embora a seleção tome partido amplamente no nível
do indivíduo, os genes são os verdadeiros
replicadores e é a competição deles que
dirige a evolução do design biológico.
Dawkins, claro e gentil como sempre,
sugeriu que toda a vida em todo lugar no universo deve evoluir
pela sobrevivência diferencial de entidades
auto-replicadoras ligeiramente imprecisas; ele os chamou de "replicadores".
Além disso, esses replicadores automaticamente se juntam
em grupos para criar sistemas, ou máquinas, que os
carregam por aí e trabalham em favor de sua replicação
continuada. Essas máquinas de sobrevivência, ou "veículos"
são nossos corpos familiares - e os dos gatos, da E. coli
e do repolho - criados para carregar e proteger os genes dentro
deles.
Bem no final do livro ele sugere que o
Darwinismo é uma teoria muito grande para ser confinada
no restrito contexto do gene. Então ele faz uma pergunta óbvia
e provocativa. Existem outros replicadores em nosso planeta?
Sim, ele afirma. Bem na nossa cara, embora ainda esteja
desajeitado à deriva em sua sopa primordial de cultura, é
um outro replicador - uma unidade de imitação. Ele
deu a ele o nome de "meme" (para rimar com "creme")
e como exemplos sugeriu "músicas, idéias,
slogans, modas de roupas, modos de fazer vasos ou de construir
arcos." Os memes são armazenados nos cérebros
humanos e passados adiante via imitação.
Em apenas algumas páginas ele dispôs
a fundação para a compreensão da evolução
dos memes. Ele discutiu sua propagação ao pular de
cérebro para cérebro, os comparou com parasitas
infectando um hospedeiro, tratou-os como estruturas vivas
fisicamente realizadas, e mostrou como memes que se ajudam
mutuamente irão se agrupar assim como os genes o fazem.
Ele argumentou que, uma vez que um novo replicador surge, ele
tenderá a tomar espaço e começar um novo
tipo de evolução. Acima de tudo ele tratou os
memes como replicadores por direito, castrando aqueles entre
seus colegas que sempre tendiam a retornar à "vantagem
biológica" para responder a perguntas sobre o
comportamento humano. Sim, ele concordou, nós temos
nossos cérebros por razões biológicas (genéticas)
mas agora que nós os temos, um novo replicador foi solto
e ele não necessita ser subserviente ao antigo. Em outras
palavras, a evolução memética pode agora
prosseguir sem se preocupar com seus efeitos nos genes.
Alguns anos depois Douglas Hofstadter
escreveu sobre frases virais e estruturas auto-replicadoras em
sua coluna Temas Metamágicos na Scientific American. Os
leitores responderam, com exemplos de textos usando iscas e anzóis
para assegurar a sua replicação. Eles sugeriram
frases virais desde a instrução mais simples, tal
como "Me copie!", indo entre aquelas que adicionaram
ameaças ("Me diga ou eu vou por uma maldição
em você") ou promessas ("Eu vou lhe conceder três
desejos"), até exemplos de cartas-corrente
virulentas (Hofstadter, 1985, p 53). Um leitor sugeriu o termo
memética para a disciplina que estuda os memes. Porém
a memética ainda não decolou realmente.
Por que não? A idéia básica
é muito simples. Se Dawkins está certo então
tudo que você aprendeu por imitação de alguém
é um meme. Isso inclui todas as palavras no seu vocabulário,
as estórias que você conhece, as habilidades e hábitos
que você tomou de outras pessoas e os jogos que você
gosta de jogar. Isso inclui as canções que você
canta e as regras que você obedece. Então, por
exemplo, se você dirige na direita (e eu na esquerda!),
come um hamburguer ou uma pizza, assobia "Parabéns
Pra Você" ou "Mamãe Eu Quero" ou até
mesmo aperta mãos, você está tratando com
memes.
O maior proponente da memética
desde Dawkins foi o filósofo Dan Dennet. Em seus livros
Consciência Explicada (1991) e A Perigosa Idéia de
Darwin (1995) ele expande a idéia do meme como um
replicador.
Em A Origem das Espécies, Darwin
(1859) explicou como a seleção natural deve
acontecer se certas condições são reunidas.
Se há hereditariedade do pai para a prole, variação
entre a prole, e nem toda a prole pode sobreviver - então
a seleção deve acontecer. Os indivíduos que
tem alguma vantagem útil "tem a melhor chance de ser
preservados na luta pela vida" (Darwin, 1859, p 127, e veja
Dennett, 1995, p 48) e então irão passar suas
vantagens para suas proles. Darwin claramente viu quão óbvio
o processo de seleção natural é uma vez que
você o compreendeu. Ele simplesmente deve acontecer.
Dennett descreve a evolução
como um algoritmo simples - que é, um procedimento
desprovido de mente que, quando levado adiante, deve produzir um
resultado. Para a evolução você precisa de
três coisas - hereditariedade, variação e
seleção - então a evolução é
inevitável. Você não precisa nos pegar,
claro, ou qualquer coisa remotamente parecida conosco; pois a
evolução não tem planos nem previsões.
Todavia, você tem que conseguir algo mais complexo do que
aquilo com o qual você começou. O algoritmo
evolucionário é "um esquema para criar Design
do Caos sem a ajuda da Mente" (Dennett, 1995, p 50). Essa,
disse Dennett, é a perigosa idéia de Darwin.
Não é nenhuma surpresa que
as pessoas tenham ficado aterrorizadas com isso, e lutaram tão
duramente contra ela. É escandalosamente simples e
terrivelmente poderosa.
Se a evolução é um
algoritmo então ela deveria ser capaz de rodar em
diferentes substratos. Nós tendemos a pensar na evolução
como dependente dos genes porque essa é a maneira com a
qual a biologia funciona neste planeta, mas o algoritmo é
neutro sobre isso e irá rodar onde quer que haja
hereditariedade, variação e seleção.
Ou - como Dawkins colocou - um replicador. Não importa
que replicador. Se os memes são replicadores então
a evolução irá ocorrer.
Então, são os memes
replicadores?
Existe uma enorme variedade nos
comportamentos que os humanos produzem, esses comportamentos são
copiados, mais ou menos precisamente por outros seres humanos, e
nem todas as cópias sobrevivem. O meme portanto se
encaixa perfeitamente com o esquema de hereditariedade, variação
e seleção. Pense em melodias, por exemplo. Milhões
de variantes são cantadas por milhões de pessoas.
Apenas algumas são passadas adiante e repetidas e até
mesmo algumas chegam até as paradas pop ou às coleções
de clássicos. Os ensaios científicos proliferam
mas apenas alguns poucos chegam às longas listagens nos
indexes de citações. Apenas algumas das tramas
nojentas feitas nos trabalhos chegam aos shows de TV que lhe
contam como funcionam as coisas e apenas algumas das minhas
brilhantes idéias foram apreciadas por alguém! Em
outras palavras, a competição para ser copiado é
violenta.
Claro que os memes não são
como os genes em muitos aspectos e nós devemos ter muito
cuidado ao aplicar os termos da genética nos memes. A cópia
dos memes é feita por um tipo de "engenharia reversa"
por uma pessoa copiando o comportamento de outra, ao invés
de por transcrição química. Nós também
não sabemos como os memes são armazenados nos cérebros
humanos e se eles irão são digitalmente
armazenados, como os genes, ou não. Entretanto, o ponto
importante é que se os memes são realmente
replicadores, a evolução memética deve
ocorrer.
Dennett está convencido que eles são
e ele explora como os memes competem para entrarem em quantas
mentes forem possíveis. Essa competição é
a força seletiva da memosfera e os memes bem sucedidos
criam a mente humana conforme seguem adiante, reestruturando
nossos cérebros para fazê-los melhores abrigos para
os memes. A consciência humana, afirma Dennett, é
um grande complexo de memes, e uma pessoa é melhor
entendida como um certo tipo de macaco infestado com memes. Se
ele está certo então nós não podemos
esperar entender as origens da mente humana sem a memética.
Isso torna mais fascinante que a maioria
das pessoas interessadas na mente humana tenham ignorado a memética
ou simplesmente falhado em entendê-la. Mary Midgley (1994)
chama os memes de "entidades míticas" que não
são interessantes; "uma metáfora vazia e errônea".
Num recente debate no rádio, Stephen Jay Gould chamou a
idéia dos memes de "metáfora sem sentido"
(embora eu não estou certa que alguém pode de fato
ter uma metáfora sem sentido!). Ele deseja "que o
termo "evolução cultural" deixe de ser
usado." (Gould, 1996, p 219-20)
A palavra "Meme" nem mesmo
aparece no index de livros importantes sobre a origem humana e
de linguagem (e.g. Donald, 1991; Dunbar, 1996; Mithen, 1996;
Pinker, 1994; Tudge, 1995; Wills, 1993), em uma excelente coleção
sobre a psicologia evolucionária (Barkow, Cosmides e
Tooby, 1992), nem em livros sobre a moralidade humana (Ridley,
1996; Wright, 1994). Embora existam muitas teorias sobre a evolução
da cultura, quase todas fazem a cultura ser totalmente
subserviente da conveniência genética, como na metáfora
de Wilson (1978) dos genes retendo a cultura em rédeas ou
a afirmação de Lumsden e Wilson que "a ligação
entre os genes e a cultura não pode ser rompida"
(1981, p 344). Cavalli-Sforza e Feldman (1981) tratam a "atividade
cultural como uma extensão da conveniência
Darwiniana" (p 362) e até mesmo Durham (1991), o único
a usar a palavra "meme", se restringe a exemplos de
características culturais de relevância óbvia
para a conveniência genética, tal como o nome das
cores, hábitos de dieta e costumes de casamento. Talvez
Boyd e Richerson (1990) chegam mais perto de tratar a unidade
cultural como um replicador verdadeiro. Entretanto eles
continuam vendo a "evolução genética e
cultural como um apertado processo casado coevolucionário
nos humanos" (Richerson & Boyd, 1992, p 80).
Tão quanto eu posso entendê-los,
ninguém exceto Cloak (1975) e Dawkins trataram suas
unidades de troca como verdadeiros replicadores. Se há um
continuum desde a completa rejeição de Gould em
uma ponta, até Dawkins e Cloak na outra, então a
maioria fica no meio. Eles aceitam a evolução
cultural mas não a idéia de um segundo replicador.
Quando eles dizem "adaptativa" ou "mal adaptativa"
eles dizem em relação aos genes. Quando chega na
hora do vamos ver eles sempre voltam para os apelos da vantagem
biológica, assim como Dawkins se queixou que seus colegas
fizeram vinte anos atrás.
Dawkins é claro sobre esse assunto
quando ele diz "não há razão para o
sucesso em um meme deveria ter qualquer conexão com
qualquer coisa sobre o sucesso genético". Eu
concordo. Eu vou propor uma teoria da memética que reside
no final desse continuum. Eu sugiro que, uma vez que a evolução
genética tenha criado criaturas que foram capazes de
imitar as outras, um segundo replicador nasceu. Desde então
nossos cérebros e mentes tem sido o produto de dois
replicadores, não um. Hoje muitas das pressões de
seleção nos memes ainda são de origem genética
(tal como quem nós achamos sexy e que comidas são
gostosas) mas conforme a evolução memética
prossegue cada vez mais rápido, nossas mentes estão
se tornando cada vez mais o produto dos memes, não dos
genes. Se a memética é verdadeira então os
memes criaram as mentes humanas e a cultura com a mesma certeza
que os genes criaram os corpos humanos.
Religiões como Complexos de Memes
Co-Adaptados
Dawkins (1976) introduziu o termo complexo
de memes co-adaptado. Com isso ele quis dizer um grupo de memes
que prosperam na companhia um do outro. Assim como os genes se
agrupam para proteção mútua, levando
finalmente à criação de organismos, então
nós devemos esperar que os memes se agrupem. Como Dawkins
(1993) põe "irá haver um agrupamento de idéias
que florescem na presença um do outro".
Complexos de memes incluem todos esses
grupos de memes que tendem a serem passados adiante juntos, tal
como as ideologias políticas, crenças religiosas,
paradigmas e teorias científicas, movimentos artísticos,
e linguagens. Os mais bem sucedidos entre eles não são
apenas frouxas aglomerações de idéias
compatíveis, mas grupos bem estruturados com memes
diferentes especializados como anzóis, iscas, ameaças,
e sistemas de imunidade. (O jargão memético ainda
está evoluindo e esses termos podem mudar, mas veja o "dicionário
memético" de Grant (Grant, 1990)).
Quando eu tinha uns dez anos de idade eu
recebi um cartão postal e uma carta que continha uma
lista de seis nomes e me instruiu a mandar um cartão
postal para o primeiro nome da lista. Eu deveria por o meu próprio
nome e endereço no final e mandar a nova lista para mais
seis pessoas. Me prometia que eu receberia diversos cartões
postais.
Essa foi uma carta corrente bastante inócua
como essas coisa são, consistindo apenas em uma isca (os
cartões postais prometidos) e um anzol (mande para mais
seis pessoas). Ameaças também são comuns
(mande isso ou o mal olhado irá lhe pegar) e muitas tem
conseqüências bem piores do que um desperdício
de selos. O que elas tem em comum é a instrução
para "me duplicar" (o anzol) juntamente com os
co-memes para coerção. Esses simples pequenos
grupos podem se espalhar muito bem.
Com o advento dos computadores grupos meméticos
virais tem muito mais espaço para brincar e podem pular
de disco para disco entre usuários de computador "sem
higiene". Dawkins (1993) discute como os vírus e
minhocas de computador usam truques para espalharem a si mesmos.
Alguns se enterram na memória apenas para surgir como uma
bomba relógio; alguns infectam apenas uma pequena proporção
do que eles podem conseguir, e alguns são acionados
probabilisticamente. Como vírus biológicos eles não
devem matar todos os hospedeiros muito cedo ou eles irão
morrer. O efeito final pode ser bem divertido, tal como um que
faz o alto-falante do Macintosh dizer "Não entre em
pânico!", mas alguns travaram redes inteiras e destruíram
teses doutorais inteiras. Meus alunos recentemente encontraram
um vírus no WORD6 que vive em uma seção
formatadora chamada "Tese" - lhe tentando à ser
infectado justamente quando seu trabalho de um ano inteiro está
quase terminado. Não é de espantar que nós
agora temos uma proliferação de antivírus -
o equivalente ao remédio da infosfera.
Os vírus de Internet são
relativamente uma coisa nova. A semana passada eu recebi um
aviso muito gentil de alguém que eu nunca conheci. "Não
baixe nenhuma mensagem entitulada "Cumprimentos do Amigo de
Correspondência"" ele dizia - e prossegui ume
avisando que se eu lê-se essa terrível mensagem eu
iria deixar entrar um vírus "Cavalo de Tróia"
que iria destruir tudo no meu hard drive e então enviaria
a si mesmo para cada endereço de e-mail na minha caixa
postal. Para proteger todos os meus amigos, e toda a rede de
computadores, eu deveria agir rápido e enviar esse aviso à
eles.
Você percebeu? O vírus
descrito não faz sentido - e não existe. O vírus
real é o aviso. Esse é um pequeno complexo de
memes muito esperto que usa ambas ameaças e apelos para o
altruísmo para te pegar - a vítima boba e
preocupada - para passá-lo adiante. Não é o
primeiro - "Bons Tempos" e "Deeyenda Maddick"
usaram um truque similar - e provavelmente não será
o último. Entretanto, quanto mais pessoais aprendem a
ignorar os avisos esses vírus irão começar
a falhar e talvez isso irá deixar entrar vírus
piores, conforme as pessoas começarem a ignorar as advertências
que eles deveriam avisar. Então cuidado!
O que isso tem a ver com as religiões?
De acordo com Dawkins, tem muito. A mais controversa aplicação
da memética é sem dúvida o seu tratamento às
religiões como complexos de memes co-adaptados (Dawkins
1976, 1993). Ele descreve, sem nenhum receio, as religiões
como "vírus da mente" e analisa como elas
funcionam.
Elas funcionam porque os cérebros
humanos são exatamente o que os info-vírus
precisam; cérebros podem absorver informação,
replicá-la razoavelmente com precisão, e obedecer às
instruções que elas incorporam. Dawkins usa o
exemplo do Catolicismo Romano; uma gangue de memes mutuamente
compatíveis que são estáveis o suficiente
para merecer um nome. O coração do Catolicismo são
suas maiores crenças; um poderoso e piedoso Deus, Jesus
seu filho que nasceu de uma virgem e se levantou dos mortos, o
espírito santo, e assim vai. Se isso não é
implausível o suficiente você pode adicionar a crença
em milagres ou a transmutação literal de água
em sangue. Por que alguém deveria acreditar nessas
coisas? Dawkins explica.
Ameaças de fogo infernal e danação
são técnicas efetivas e maldosas de persuasão.
Desde da tenra idade crianças são criadas por seus
pais Católicos para acreditar que se elas quebrarem
certas regras elas irão queimar no inferno para sempre após
a morte. As crianças não podem facilmente testar
isso já que nem o inferno nem Deus podem ser vistos,
embora Ele pode ver tudo o que elas fazem. Então elas
devem simplesmente viver um medo durante a vida toda até
a morte, quando elas irão descobrir com certeza - ou não!
A idéia de inferno é portanto um meme
auto-perpetuante.
E eu disse "testar" a idéia?
Algumas crenças religiosas podem ser testadas, tal como
se o vinho realmente vira sangue, se a prece realmente ajuda; daí
a necessidade de um meme anti-teste da fé. No
Catolicismo, a dúvida deve ser evitada, enquanto a fé
é nutrida e respeitada. Se o seu conhecimento de biologia
o leva a duvidar do parto virginal, - ou se a guerra, crueldade
e fome parecem desafiar a bondade de Deus - então você
deve ter fé. A história de São Tomé é
um conto-advertência contra a procura de evidências.
Como Dawkins o pôs "Nada é mais letal para
certos tipos de memes do que a tendência de procurar por
evidências" (Dawkins, 1976, p 198) e as religiões,
diferentemente da ciência, se certificam de desencorajar
isso. Também diferente da ciência, as religiões
freqüentemente incluem memes que tornam seus portadores
violentamente intolerantes à idéias novas e não
familiares e então protegem a si mesmos contra serem
expulsos em favor de uma religião diferente - ou de
nenhuma.
Finalmente os complexos de memes precisam
de mecanismos para assegurar sua própria disseminação.
"Mate o infiel" irá se desfazer da oposição.
"Siga em frente e multiplique-se" irá produzir
mais crianças para passarem eles adiante. Também o
fará proibir a masturbação, controle de
natalidade ou casamentos entre-fés. Se o medo de ficar
cego não funciona, existem prêmios no paraíso
para missionários e aqueles que convertem os descrentes
(Dawkins, 1993; Lynch, 1996).
O catolicismo geralmente se dissemina de
pai para filho mas os padres celibatos têm um papel também.
Isso é particularmente interessante já que o
celibato significa o fim da linha para os genes, mas não
para os memes. Um padre que não tem esposa ou filhos para
se preocupar tem mais tempo para disseminar seus memes,
incluindo os para o celibato. Celibato é outro parceiro
nesse vasto complexo de memes religiosos que se ajudam
mutuamente.
Dawkins (1993) dá outros exemplos
desde o Judaísmo, tal como a falta de sentido dos Rabinos
testando a pureza-kosher da comida, ou os horrores de Jim Jones
liderando seu rebanho para o suicídio em massa na selva
da Guiana. Hoje ele poderia adicionar o "Portão do
Paraíso" ao seu catálogo. "Obviamente um
meme que faz com que os indivíduos que topem com ele
matem a si mesmos tem uma grave desvantagem, mas não
necessariamente uma desvantagem fatal. ... um meme suicida pode
se disseminar, como quando um martírio dramático e
bem-divulgado inspira outros a morrer pela causa profundamente
amada, e isso por sua vez inspira outros a morrerem, e assim
vai." (Dawkins, 1982, p111).
Ele poderia igualmente ter escolhido o Islã;
uma fé que inclui o conceito de jihad ou guerra santa, e
tem punições particularmente maldosas para as
pessoas que desertam da fé. Até mesmo hoje o
autor, e herético, Salman Rushdie vive temendo por sua
vida porque muitos Muçulmanos consideram ser seu dever
sagrado matá-lo. Uma vez que o você tenha sido
infectado com memes poderosos como esses você deve pagar
um preço alto para se livrar deles.
Lynch (1996) explora profundamente alguns
truques usados pelas religiões e cultos. "Honre teu
pai e mãe" é um excelente mandamento,
aumentando as chances de que a criança tome as crenças
de seus pais, incluindo o próprio mandamento. Como um
meme secular ele não deve ter muito sucesso, já
que os garotos iriam certamente rejeitá-lo se eles
pensassem que ele veio diretamente dos pais. Entretanto,
apresentado como uma idéia de um Deus (que é
poderoso, vê tudo e pune a desobediência) ele tem
chances bem melhores - um bom exemplo de memes "virando
gangues".
Leis de dieta podem prosperar porque elas
protegem contra doenças, mas porem também manter
as pessoas na fé ao tornar mais difícil a elas se
adaptar a outras dietas de fora. Códigos morais podem
ampliar a cooperação efetiva e sobreviver mas
podem também ser formas de punir lapsos de fé.
Observar os "dias sagrados" garante muito tempo para
disseminar os memes, e as preces e graças públicas
nas refeições asseguram que muitas pessoas estão
expostas à eles. Aprender textos sacros de cor, e
colocando eles em músicas inspiradoras ou memoráveis
assegura sua longevidade.
Na longa história das religiões
a maioria delas se disseminou verticalmente - ou seja, de pai
para filho. Até mesmo hoje o melhor preditor de sua
religião é a religião de seus pais - mesmo
se você pensa que você racionalmente escolher a "melhor"
ou "mais verdadeira"! Entretanto, hoje mais e mais
religiões e cultos novos se disseminam horizontalmente -
de qualquer pessoa para qualquer outra pessoa. Os dois tipos
usam diferentes truques meméticos para sua replicação.
Como exemplo do primeiro tipo Lynch (1996)
dá os Hutterites. Eles tem em média mais de dez
filhos por casal, uma média fantástica que é
possivelmente ajudada pelo modo com o qual eles distribuem a
responsabilidade paterna, fazendo de cada criança extra
um fardo apenas um pouco mais pesado para seus pais naturais.
Outras religiões põem mais esforço na
conversão, como as fés evangélicas que
prosperam sobre recompensas instantâneas e alegria
espiritual na conversão.
Tomando o Ponto de Vista dos Memes
Nós estamos prontos agora para
tomar o ponto de vista dos memes. A aproximação básica
é assim - imagine um mundo cheio de hospedeiros para os
memes (e.g. cérebros) e muito mais memes do que existem
possíveis lares para eles. Agora pergunte - quais memes são
mais prováveis de encontrar um lar seguro e serem
passados adiante? É assim simples.
Ao fazer isso eu tentei seguir algumas
regras simples.
Primeiro, lembre-se que os memes (assim
como os genes) não tem poder de previsão!
Segundo, considere apenas os interesses
dos memes, não dos genes ou do organismo. Os memes não
se preocupam sobre os genes ou as pessoas - tudo o que eles
fazem é se reproduzirem. Afirmações
resumidas tais como "memes querem x" ou "memes
tentam fazer y" devem sempre serem traduzíveis de
volta para a forma maior, tal como "memes que tem o efeito
de produzir x são mais prováveis de sobreviver do
que os que não fazem isso."
Terceiro, os memes, por definição,
são passados adiante por imitação. Então
aprender por tentativa e erro ou por feedback não é
memético, nem o são todas as formas de comunicação.
Apenas quando a idéia, o comportamento ou a habilidade é
passado adiante por imitação é que conta
como um meme.
Agora, lembrando-se dessas regras, nós
podemos fazer a pergunta e ver para onde ela nos leva.
Imagine um mundo cheio de cérebros,
e muito mais memes do que existem possíveis lares para
eles. Que memes são mais prováveis de encontrar um
lar seguro e serem passados adiante?
Algumas das conseqüências são
inicialmente óbvias - uma vez que você as tenha
visto. E algumas são assustadoramente poderosas.
Eu devo começar com duas simples,
parcialmente como exercícios de como pensar
memeticamente.
1 Por que não conseguimos parar de
pensar?
Você consegue parar de pensar? Se
você já meditou você sabe saberá quão
difícil isso é - a mente simplesmente parece
continuar alegremente. Se estivéssemos pensando
pensamentos úteis, praticando habilidades mentais, ou
resolvendo problemas relevantes haveria algum sentido, mas na
maioria das vezes não parece que estamos. Então
por que nós simplesmente não podemos nos sentar e
não pensar? De um ponto de vista genético todo
esse pensamento extra parece extremamente desperdiçador -
e animais que desperdiçam energia não sobrevivem.
A memética provê uma resposta simples.
Imagine um mundo cheio de cérebros,
e muito mais memes do que existem lares. Que memes são
mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados
adiante?
Imagine um meme que encoraja seu
hospedeiro a mantê-lo mentalmente ensaiado, ou uma música
que é tão fácil de cantarolar que fica
girando em sua cabeça, ou um pensamento que simplesmente
te obriga a continuar pensando sobre ele.
Imagine em contraste um meme que se
enterra caladamente em sua memória e nunca é
ensaiado, ou uma música que é tão imemorável
para girar em sua cabeça, ou um pensamento que é
chato demais para ser repensado.
Qual se sairá melhor? Outras coisas
sendo iguais, o primeiro irá muito. Ensaio auxilia a memória,
e você é mais provável que você
expresse (ou até mesmo cante) as idéias e músicas
que preenchem suas horas ao acordar. Qual é a conseqüência?
A memosfera se enche de canções atraentes, e de
pensamentos pensáveis. Nós todos cruzamos com eles
e então nós todos pensamos um bocado.
O princípio aqui é familiar
da biologia. Em uma floresta, qualquer árvore que cresça
mais consegue mais luz. Então os genes para crescer alto
se tornam mais comuns na piscina de genes e a floresta termina
sendo tão alta quanto as árvores podem ser.
Nós podemos aplicar o mesmo princípio
novamente.
2 Por que nós falamos tanto?
Imagine um mundo cheio de cérebros,
e muito mais memes do que existem lares. Que memes são
mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados
adiante?
Imagine qualquer meme que encoraje a fala.
Ele pode ser uma idéia como "falar torna as pessoas
como você" ou "é amigável
conversar". Pode ser um pensamento urgente que você
sente obrigado a compartilhar, uma piada engraçada, boas
notícias que todos querem ouvir, ou qualquer meme que
prospere dentro de uma pessoa faladora.
Imagine em contraste qualquer meme que
desencoraje a fala, tal como o pensamento "falar é
perda de tempo". Ele pode ser algo que você não
ousa dizer alto, algo muito difícil de dizer, ou qualquer
meme que prospere dentro de uma pessoa tímida e retraída.
Qual se sairá melhor? Posto dessa
forma a resposta é óbvia. O primeiro será
muito mais ouvido por mais pessoas e, outras coisas sendo
iguais, simplesmente deve ter uma chance melhor de ser
propagado. Qual é a conseqüência disso? A
memosfera irá se encher com memes que encorajam a fala e
nós iremos todos falar bastante. E nós falamos!
Uma maneira mais simples de expor isso:-
pessoas que falam mais irão, em média, disseminar
mais memes. Então qualquer meme que prospere em tagarelas
é mais suscetível a ser disseminado.
Isso me faz enxergar a conversação
sob uma nova luz. Toda essa falação é
fundeada em vantagens biológicas? Falar gasta muita
energia e nós falamos sobre algumas coisas estúpidas
e sem sentido! Esses pensamentos e conversações
triviais e estúpidos tem alguma vantagem biológica
escondida?
Eu gostaria de pelo menos oferecer uma
sugestão que eles não oferecem. Que nós
fazemos toda essa falação e toda essa pensação
meramente porque os memes que nos fazem fazer isso são
bons sobreviventes. Os memes parecem estar trabalhando contra os
genes.
Isso prepara o palco para uma sugestão
mais audaciosa.
3 Por que nós somos tão
gentis com os outros?
Claro que nós não somos
sempre gentis com os outros, mas a cooperação
humana e o altruísmo são coisas misteriosas - a
despeito dos tremendos avanços feitos na compreensão
das seleção de grupo e conveniência
inclusiva, altruísmo recíproco e estratégias
evolucionárias estáveis (veja e.g. Wright, 1994;
Ridley, 1996). As sociedades humanas exibem muito mais cooperação
do que é típico das sociedades de vertebrados, e nós
cooperamos com os não-relativos em uma larga escala
(Richerson e Boyd, 1992). Como Cronin o pôs, a moralidade
humana "apresenta um desafio óbvio para a teoria
Darwiniana" (Cronin, 1991, p 325).
Todos podem pensar provavelmente nos seus
exemplos favoritos. Richard Dawkins (1989 p 230) chama a doação
de sangue de "um genuíno caso de altruísmo
puro e desinteressado". Eu fico mais impressionada pela
caridade de dar às pessoas em países distantes que
provavelmente compartilham tão poucos dos nossos genes
quanto qualquer outra pessoa na terra e que nós
provavelmente nunca iremos conhecer. E por que nós
devolvemos carteiras achadas na rua, resgatamos animais
selvagens machucados, suportamos companhias eco-amigas ou
reciclamos nossas garrafas? Por que tantas pessoas querem ser
pobres enfermeiras e conselheiras com péssimos salários,
assistentes sociais e psicoterapeutas, quando elas poderiam
viver em casas maiores, atrair companheiros mais ricos, e ter
mais crianças se elas fossem banqueiras, corretoras ou
advogadas?
Muitas pessoas acreditam que tudo isso
deve finalmente ser explicado em termos de vantagem biológica.
Talvez será, mas eu ofereço uma alternativa a ser
considerada; a teoria memética do altruísmo. Nós
podemos usar nossa tática, agora, familiar.
Imagine um mundo cheio de cérebros,
e muito mais memes do que existem lares. Que memes são
mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados
adiante?
Imagine o tipo de meme que encoraja o seu
hospedeiro a ser amigável e gentil. Ele poderia ser um
para dar boas festas, para ser generoso com a geleia de laranja
deita em casa, ou apenas estar preparado para gastar tempo
escutando às mágoas de um amigo. Agora compare
isso com os memes para ser antipático e pão-duro -
nunca cozinhando jantares para as pessoas ou pagando drinks, e
recusando a gastar seu tempo ouvindo os outros. Qual irá
se disseminar mais rapidanente?
O primeiro tipo, claro. As pessoas gostam
de ser gentis com as pessoas. Então aqueles que abrigam
muitos memes amigáveis irão gastar mais memes com
os outros e Ter mais chances de disseminar seus memes. Em conseqüência
muitos de nós iremos acabar abrigando muitos memes para
sermos gentis com os outros.
Uma maneira mais simples de dizer isso:-
as pessoas que são altruísticas irão, em média,
disseminar mais memes. Então qualquer meme que prospere
em pessoas altruísticas é mais provável de
disseminar - incluindo os memes para ser altruísta.
Você pode desejar desafiar qualquer
um dos passos acima. É portanto animador aprender com os
muitos experimentos de psicologia social, que as pessoas são
mais suscetíveis a adotar idéias de pessoas que
elas gostam (Eagly e Chaiken, 1984). Se isso é uma causa
ou é uma conseqüência do argumento acima é
algo debatível. Seria mais interessante se fatos psicológicos
como estes, ou outros tais como a dissonância cognitiva,
ou a necessidade de auto-estima, pudessem ser derivados
simplesmente de princípios meméticos - mas esse é
um tópico para outra hora!
Por enquanto nós devemos considerar
se a idéia é ou não testável. Ela
prediz que as pessoas deveriam agir de maneiras que beneficiem a
disseminação de seus memes mesmo à um certo
custo a si mesmas. Nós estamos acostumados em comprar
informação útil, e com anunciantes
comprando seus meios até a mente das pessoas com o propósito
de vender produtos, mas essa teoria prediz que pessoas irão
pagar (ou trabalhar) simplesmente para disseminar os memes que
elas carregam - porque os memes as forçam. Missionários
e Testemunhas de Jeová parece que o fazem.
Muitos aspectos da persuasão e da
conversão em causas podem acabar envolvendo altruísmo
dirigido por memes. Altruísmo é mais outro tipo de
truque memético que as religiões (aqueles
complexos de memes mais poderosos) tem explorado. Quase todas
elas prosperam ao fazer seus membros trabalharem para elas e
acreditar que eles estão fazendo o bem.
Claro, ser generoso é caro. Sempre
existirá pressão contra isso, e se os memes
puderem achar estratégias alternativas para disseminar,
eles irão. Por exemplo, pessoas poderosas podem ser
capazes de disseminar memes sem ser altruístas!
Entretanto, isso não muda o argumento básico - que
o altruísmo dissemina memes.
Você pode ter percebido que o tema
principal em todos esses argumentos é que os memes podem
agir em oposição ao interesse dos genes. Pensar o
tempo todo pode não usar muita energia mas deve custar
algo. Pensar é certamente dispendioso, como qualquer um
que tenha estado totalmente exausto ou seriamente doente iria
atestar. E, claro, qualquer ato altruísta é, por
definição, custoso para o autor.
Eu diria que isso é exatamente o
que nós deveríamos esperar se os memes são
verdadeiros replicadores. Eles não se preocupam com os
genes ou as criaturas que os genes criaram. O único
interesse deles é a auto-propagação. Então
se eles puderem se propagar ao roubar recursos dos genes, eles o
farão.
No próximo exemplo nós
veremos os memes forçando a mão dos genes de uma
forma muito mais dramática.
4 Por que nossos cérebros são
tão grandes?
Sim, eu sei que isso é um velho
castanheiro, e que existem muitas e muitas boas respostas para a
pergunta. Mas elas são boas o suficiente? Não
vamos nos esquecer quão misteriosa a questão
realmente é. Os cérebros são notoriamente
caros tanto para serem construídos quanto para
funcionarem. Eles tomam cerca de 2% do peso do corpo mas usam
cerca de 20% de sua energia. Nossos cérebros tem três
vezes o tamanho dos cérebros dos macacos com corpo de
tamanho equivalente. Comparados com outros mamíferos
nosso quociente de encefalização é ainda
maior, até 25 vezes (Jerison, 1973; Leakey, 1994; Wills,
1993). Em muitas medidas a capacidade do cérebro humano
se destaca. O fato que tal inteligência surgiu em um
animal que fica de pé pode ou não ser uma coincidência
mas ele certamente aumenta o problema. Nossos pélvis não
são idealmente adaptador para dar a luz a cérebros
grandes e então o nascimento das crianças é
um processo arriscado para os seres humanos - mesmo assim nós
o fazemos. Por que?
O mistério ficou mais profundo para
mim ao pensar sobre o tamanho da vantagem biológica
requerida para sobrevivência. Em um estudo a respeito do
destino dos Neandertais, Zubrow (Leakey, 1994) usou simulações
de computador para determinar o efeito de uma margem
ligeiramente competitiva. Ele concluiu que uma vantagem de 2%
poderia eliminar a população competidora em menos
de um milênio. Se nós necessitamos apenas de uma
vantagem tão pequena por que nós temos uma tão
grande?
Diversas respostas foram recentemente
propostas. Por exemplo, Dunbar (1996) argumenta que nós
precisamos de cérebros mais largos para poder fazer
fofocar, e fofocar é um tipo de trote verbal para manter
grandes bandos de pessoas juntas. Christopher Wills (1993)
argumenta que a evolução desenfreada do cérebro
humano resulta de um acelerante loop de feedback gene-ambiente.
Miller (1993) propõe que nossos vastos cérebros
foram criados pela seleção sexual; e Richerson e
Boyd (1992) afirmam que eles são usados para aprendizado
individual e social, favorecido pelas crescentes taxas de variação
ambiental.
O que todos esses autores tem em comum é
que seu último apelo é para os genes. Como os
colegas de Dawkins que gemem, eles sempre desejam voltar para a
vantagem biológica. Eu proponho uma alternativa baseada
na vantagem memética.
Imagine hominídeos antigos que, por
boas razões biológicas, ganharam a habilidade de
imitar uns aos outros e a desenvolver uma linguagem simples. Uma
vez que esse passo tenha ocorrido os memes podem começar
a se disseminar, e o segundo replicador nasceu. Lembre-se - uma
vez que isso tenha acontecido os genes não seriam mais
capazes de parar a disseminação! Presumivelmente
os memes mais antigos seriam úteis, tal como maneiras de
fazer vasos ou facas, ou maneiras de pegar ou desmembrar a
presa. Vamos assumir que algumas pessoas teriam cérebros
um pouco maiores e que esses cérebros maiores fossem
melhores copiadores. Conforme mais e mais pessoas começaram
a pegar esses memes antigos, o ambiente iria mudar e então
iria se ficar mais e mais necessário ter novas
habilidades para poder sobreviver.
Uma pessoa que poderia rapidamente
aprender a fazer um bom vaso ou contar uma história
popular iria achar mais facilmente um companheiro, e então
a seleção sexual iria adicionar mais pressão
para cérebros grandes. No novo ambiente pessoas com cérebros
maiores iriam ter uma vantagem e a importância da vantagem
iria aumentar conforme os memes se disseminassem. Me parece que
essa mudança fundamental nas pressões de seleção,
aumentar a taxa de propagação dos memes, provê
pela primeira vez uma razão plausível por quê
nossos cérebros são totalmente destacados de todos
os outros cérebros no planeta. Eles foram dirigidos pelos
memes. Um replicador forçou os movimentos do outro.
5 Quem sou eu?
Nós podemos agora ver a mente
humana como o produto de dois replicadores, um usando para sua
replicação a maquinaria criada pelo outro. Como
Dennett apontou, as pessoas são animais infestados com
memes. Nossas personalidades, habilidades e qualidades únicas
derivam da complexo interação desses replicadores.
E sobre nossos mais profundos eus - o "verdadeiro eu",
a pessoa que experimenta a "minha" vida?
Eu diria que os eus são complexos
de memes co-adaptados - embora apenas um dos muitos suportados
por qualquer cérebro dado (Blackmore, 1996). Como as
religiões, sistemas de crença política e
cultos, eles são conjuntos de memes que prosperam na
companhia uns dos outros. Como as religiões, sistemas de
crença política e cultos, eles são abrigos
seguros para todos os tipos de memes viajantes e eles estão
protegidos da destruição por vários truques
meméticos. Eles não tem que ser verdadeiros.
De fato nós sabemos que "eus"
são um mito. Olhe dentro do cérebro e você
achará apenas neurônios. Você não
achará uma pessoazinha puxando as cordas ou um homúnculo
observando o show em uma tela lá dentro (Dennett, 1991).
Você não acha o lugar onde as "minhas"
decisões conscientes são tomadas. Você não
acha a coisa que apaixonadamente segura todas essas crenças
e opiniões. A maioria de nós ainda persiste em
pensar sobre nós mesmos dessa forma. Mas a verdade é
que - não há ninguém lá!
Nós agora temos uma resposta
radicalmente nova para a pergunta "Quem sou eu?", e de
certa forma uma horripilante. "Eu" sou um dos muitos
complexos de meme co-adaptados vivendo dentro desse cérebro.
Essa idéia assustadora pode explicar por que a memética
não é mais popular. A memética lida com um
terrível sopro na supremacia do eu.
O Futuro para os Memes
Os memes estão aí fora! Na
maior parte da história humana os memes evoluíram
ao lado dos genes. Eles foram passados adiante na maioria das
vezes verticalmente - de pai para filho - e portanto evoluíram
na mesma velocidade que os genes. Isso não é mais
verdade. Os memes podem pular de cérebro para cérebro
em segundos - mesmo quando os cérebros estão a
meio planeta de distância.
Enquanto alguns memes ficam em cérebros
por semanas, meses ou anos antes de serem passados adiante,
muitos agora se disseminam na velocidade da luz. A invenção
do telefone, das máquinas de fax e e-mail, todas aumentam
a velocidade de propagação dos memes. Conforme a
alta velocidade, a precisão e a cópia horizontal
dos memes aumenta nós podemos esperar alguns
desenvolvimentos dramáticos na memosfera.
Primeiro, quanto mais rápido os
memes se disseminam mais fraca é a resistência da
seleção natural (genética). Esse divórcio
relativo de genes e memes pode significar que mais do que nunca
os memes que são prejudiciais para seus portadores irão
se disseminar. Nós podemos já estar vendo isso em
alguns dos cultos perigosos, fads, sistemas políticos,
crimes audazes e crenças falsas que agora podem se
disseminar tão rapidamente.
Segundo, nós podemos esperar que os
memes construam para si mesmos veículos cada vez melhores
para sua própria propagação. Os genes
construíram para si mesmos organismos para carregá-los
por aí. Qual é o equivalente memético?
Artefatos como livros, pinturas, ferramentas e aeroplanos podem
contar (Dennett, 1995) mas eles são fracos comparados com
computadores ou a Internet. Até essas recentes invenções
ainda estão amplamente dependentes de humanos para seu
funcionamento, e dos genes que esses humanos carregam - apesar
de tudo, sexo é o tópico mais popular na Internet.
Então, pode o segundo replicador algum dia se libertar?
Ele pode se nós algum dia construirmos rob6os que
diretamente imitem uns aos outros. Felizmente essa é uma
tarefa tão difícil que não será
alcançada tão cedo e talvez até lá nós
já teremos uma compreensão melhor da memética
e estaremos em uma posição melhor para estar à
altura dos nossos novos vizinhos.
Conclusão
Eu demonstrei como a teoria da memética
provê novas respostas para algumas perguntas importantes
sobre a natureza humana. Se eu estou certa, então nós
humanos somos o produto de dois replicadores, não apenas
um. Nos últimos cem anos nós perdemos com sucesso
a ilusão que um Deus é necessário para
compreender o design de nossos corpos. Talvez no próximo
milênio nós poderemos perder a ilusão de que
agentes conscientes são necessários para
compreender o design de nossas mentes.
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