POR EDWARD
FROST, MINISTRO EMÉRITO, CONGREGAÇÃO UU DE ATLANTA, GEORGIA
Alguns de vocês vão se
lembrar de uma série de TV britânica de alguns anos, O Guia do Mochileiro da Galáxia, escrita por Douglas Adams. Ela gerou
uma espécie de seguidores de culto nos Estados Unidos. A premissa da série era
que a terra era de fato um computador gigante criado pelo planeta Magrathea para descobrir “A Derradeira Pergunta da Vida, do
Universo e de Tudo”.
A resposta a esta
pergunta já tinha sido encontrada por um computador chamado Pensamento Profundo.
Pensamento Profundo, como eu o compreendo, tinha sido desenvolvido por uma raça
de camundongos infinitamente avançada, para descobrir o significado da vida, do
universo e de tudo. A resposta — 42 — levou sete milhões e meio de anos para
ser calculada e foi, para dizer o mínimo, um desapontamento. Douglas Adams —
que tinha muito orgulho em ser aquilo que ele chamava de “ateu radical” — se
deleitava em fazer a tentativa de encontrar o significado derradeiro parecer
absurda e fútil.
Não mais absurda, talvez,
que muitas, se não a maioria, de nossas tentativas mais “pé-no-chão” de
compreender o que é tudo isso aí. Desde que nossos ancestrais peludos ou que
vestiam peles ficaram de pé, fitando sem compreender o céu da noite, ou o
companheiro de caverna morto, ou o fogo se alastrando pela floresta, sentimos
que era necessário — como membros da raça humana e como indivíduos — ruminar
sobre o que nossas vidas, o que o universo, de fato, o que tudo poderia
significar.
Nem todos, claro. Mais de um segundanista
no meio de uma aula de filosofia já grunhiu “quem se importa” abaixado em seu
cotovelo. Para alguns céticos, se toda essa ruminação sobre o sentido fosse
chegar a uma resposta como “
De acordo com alguns,
“
Realmente importa. Importa porque vivemos nossas vidas cotidianas e conduzimos nossos assuntos pessoais e os assuntos do mundo baseados no que acreditamos ser o sentido. Outro nome para tudo isso pode ser “fé”.
O que é de importância
tremenda é se acreditamos que qualquer sentido pelo qual vivemos vem de fora
para dentro ou de dentro para fora. Através das eras e para os bilhões de
adeptos da religião ocidental tradicional, o Sentido vem de fora para dentro. Ou, se você preferir, de cima para baixo.
Na visão religiosa ocidental
tradicional, a vida, o universo — tudo — tem sentido porque tudo foi criado por
um Ser Supremo. Anteriormente, claro, pensou-se que tudo tinha sido criado por
muitos deuses, mas esse pensamento foi refinado na idéia de que um Deus é
responsável por tudo. Um Deus criou tudo o que é, e, mais importante ainda,
criou tudo o que é por um motivo.
O sentido da vida,
então, para aqueles que crêem, está
O Sentido da Vida está
na mente de Deus. Nossa função, assim os fiéis acreditam, é tentar descobrir o
que é o sentido, viver a partir do que quer que possamos encontrar — lendo
textos sagrados, ouvindo os peritos — sacerdotes e o que quer que seja — e ter
experiências reveladoras ocasionais. O que muitas vezes dá terrivelmente errado
com essa compreensão dO Que Tudo Isso Significa é que
aqueles que vivem conduzidos por isso necessariamente se agarram firmemente à
convicção de que o sentido revelado a eles não é meramente o sentido para eles,
mas é, de fato, O Sentido pelo qual toda a humanidade deve viver.
Os fãs de Star Trek devem ter percebido que o Capitão Kirk
e toda a tripulação da Espaçonave Enterprise se referem
a todos os outros habitantes do universo como “alienígenas”. Alienígena a quê?
Alienígena a nós, claro. O que é não-nós é alienígena. O que a vida significa
se reflete em nossos ícones, nossas bandeiras, canções, literatura, seriados de
TV, carros do ano, rifles em raques dentro da caminhonete.
O que nós temos que
entender, se vamos viver no mundo com os outros, é que nós não brigamos contra
a razão, ou com a simples opinião, pensamento ou idéia. Nós brigamos contra o
que os outros afirmam ser o Sentido da Vida; a Maneira Que É; A Maneira Que
Deve Ser. Não é mais concebível àqueles acomodados a seu Sentido da Vida que os
valores, princípios, idéias e noções contidas em seu sentido possam ser algo
menos do que absolutas e universais do que é para nós conceber a possibilidade
de que nosso senso do que é bom, justo, verdadeiro e belo seja deformado a
partir de um pesadelo maníaco.
Na outra ponta do
espectro da especulação, e se não houver Sentido, nem Grande Propósito Divino
por trás de tudo isso? E se não
houver Deus Supremo Criador? Essa
é certamente uma possibilidade (há, pelo menos, aqueles dentre nós que dão um
crédito a essa possibilidade), uma possibilidade aventada, na história do
pensamento, por filósofos, poetas, artistas — até mesmo teólogos. O renomado
teólogo católico romano Hans Küng fica mais de
seiscentas páginas de seu livro “Deus Existe?” batalhando com essa pergunta. Obviamente,
lá perto do último capítulo ele responde “sim” — mas ele de fato te deixa
perturbado com isso.
Pode haver Sentido sem
um Criador?
Não havia nada — bem,
havia algo, um grãozinho de algo (eu não ouvi muito falar de onde isso veio), então
houve uma Grande Explosão e, depois de uma jornada de bilhões e bilhões de
anos, aqui estamos. Apenas estamos. E, para muitos, nada disso — nem a Vida, nem o Universo, nem Qualquer
Coisa — nada disso significa algo.
Aqueles dentre nós que
demos as costas — de maneira triste ou furiosa, alegre ou temerosa — ao Sentido
corporificado nas religiões tradicionais devem viver com a possibilidade da Ausência-de-Sentido. Deus ou “
Se chegamos aqui pela
evolução e não pelo planejamento, então estamos aqui não pela graça de Deus ou
de quaisquer deuses, mas por um completo e estúpido acaso. E se isso for
verdade, não temos mais nada do nosso lado para garantir a sobrevivência do que
nosso próprio raciocínio e vontade para vencer a corrida contra o micróbio e
contra nossa própria tendência à autodestruição.
Acontece que eu de
fato ponho minha fé pessoal num Fazedor de Sentido — Deus, se você quiser,
embora Deus de natureza muito distante daquele antigo intrometido, transportado
tão desajeitadamente, e tão desnecessariamente, à
vida contemporânea. A hipótese de trabalho que eu compartilho com certos
filósofos e teólogos do “processo” é que, no centro de todo ser há o que é às
vezes chamado Deus, Criatividade Divina, ou simplesmente Criatividade. É essa
Criatividade inerente que deseja a todas as coisas a máxima realização possível
a elas. Um teólogo afirma que a Criatividade “seduz” todas as coisas à sua
máxima realização. Isso não é um Deus que cria todas as coisas de uma forma
acabada, mas sim uma força criativa que pretende que todas as coisas devem
estar se tornando — para sempre no processo de tornar-se.
Para mim, isso
significa que nada é ordenado. Nada é como deve ser. Uma criança não morre
porque deve. A nação não é vitoriosa por causa de sua
fé. Não há
plano divino — exceto que todas as coisas se movam em direção à sua máxima
realização. Essa é a diferença essencial entre criacionismo
e evolução. Deus O Criador conserta todas as coisas em seus lugares. “Deus está
em seu céu e tudo está certo no mundo” foi um aforismo criado por alguém cujo
mundo estava todo certo.
Os criacionistas
abominam a idéia de evolução porque, para eles, ela elimina o Criador, e ao
eliminar o Criador, elimina o Sentido pelo qual eles acreditam que suas vidas e
seu mundo pode fazer sentido. Mas a evolução não
é sem sentido. Charles Darwin — que se casou na família
unitária Wedgewood — não era um homem sem Deus, em
nenhum sentido. Mas, para Darwin, toda a existência estava em processo e Deus
estava no processo. Para Darwin, Deus estava nas possibilidades inerentes a
cada forma de vida. O que Darwin descobriu sobre Deus — a descoberta que mudou
o que a vida significa — era que Deus não garante cada forma de vida. Pelo
contrário, o princípio que governa é a liberdade. Na liberdade está o risco. E na liberdade está a possibilidade. Quem sabe, o dinossauro poderia ter se
empurrado para o desenvolvimento de um cérebro grande e polegares opostos, e
poderíamos ter acabado de ter a idéia de acertar uns aos outros com um pedaço
de pau quando o meteoro nos destruiu. O Deus de Darwin teria permitido esse
resultado, para que não ficássemos “nos achando” muito. As chances do
dinossauro eram tão boas quanto as nossas e as chances da barata são melhores.
Mas aqui estamos. Aqui
estamos em liberdade e
O poeta disse que
nosso “alcance deve superar nossa compreensão, senão, para que mais serviria um
paraíso?” Para mim, Deus está ao alcance.
Um tempo atrás, no supermercado,
eu passei por uma senhora sentada num carrinho motorizado, olhando para uma
prateleira no alto. Eu perguntei a ela se eu poderia ajudá-la a alcançar algo
para ela. Conforme eu fui me afastando, eu pensei, “Sim. É aí onde ele está. Esse é o Significado da Vida, do Universo e de
Tudo para mim.” É viver pelo alcance — não apenas alcançar algo numa
prateleira, claro, mas uma pessoa alcançar outra, no alcance de todos os seres
em direção à realização. Deus está ao alcance.
Nós podemos formular e
articular o sentido de diferentes maneiras. O que é importante é que nós
reunamos a coragem para negar a importância de sentidos que não são nossos —
que vieram de fora, não de dentro. Fazer sentido é moldar uma maneira de viver
no mundo. Estou falando de chegar em nossas declarações de por que vamos ser o
que vamos ser, e por que fazemos o que fazemos. O que nós lutamos para declarar
é o sentido pelo qual podemos viver — viver com alcance, viver em direção à
realização para nós e para os outros, viver não em temor da vida, mas no amor
da vida cujo sentido criamos continuamente.