Versiones 33
Agosto-Setiembre 2000 - Año del Dragón
Director: Diego Martínez Lora
Ana Cecília Ferri Soares(*):
Curandeiro muito íntimo...
A Dona Maria, senhora já madura, se achava descrente dos médicos
por vários motivos: além de já ter sido testemunha de muitos casos de erros
destes profissionais, achava que eles cobravam quantias exorbitantes pelos serviços
prestados e que eram muito "pouco gentis" com os pacientes... Resolveu
tratar de sua saúde com um curandeiro jovem, mas que vinha fazendo grande
sucesso na redondeza, com seus remédios caseiros, poções antigas, orações
criadas por ele mesmo e com certos rituais secretos... nos quais ele demonstrava
todo o seu cavalheirismo e sua delicadeza para as suas clientes...
Essa Senhora tratava-se com ele com muita frequência e sempre
com muito êxito. Curou-se de uma antiga dor no peito, que médico nenhum
lograra curar. Curou-se de uma espécie de tristeza que o curandeiro disse ser
proveniente de muita inveja... Curou-se do corpo e da alma doentes...
Muito vaidosa, fazia regimes sistematicamente para não
engordar e tratava muito dos cabelos, das unhas e da pele...
Certa vez pediu ao Curandeiro que lhe fizesse um tratamento
intensivo de rejuvenescimento.
O homem, propôs a ela um tratamento intensivo de beleza, que
segundo ele além de ser sua grande especialidade, era "tiro e queda"!
O tratamento consistia no uso de alguns cremes à base de
ervas naturais que ele mesmo aplicava em massagens, durante os íntimos e secretíssimos
"rituais" que ocorriam três vezes por semana.
Para a Dona Maria, o único senão disso tudo, era a mania que
o curandeiro tinha de fazer-se sempre acompanhar por gatos e cachorros , no seu
modo de ver, mal cuidados do ponto de vista da higiene. Ela vivia cismada com
isso. Incomodava-se com a presença dos bichos! Chegava a sentir um certo asco!
O tratamento ia muito bem. Ela estava tão boa, que as
vizinhas já notavam as diferenças no humor, na aparência, no olhar...
Mas certo dia, notou que estavam aparecendo manchas vermelhas
em seu corpo. Foi imediatamente mostrá-las ao curandeiro. O homem fez suas
rezas, deu-lhe remédios para passar e nada melhorava as manchas.
Dona Maria , aborrecida com as antiestéticas vermelhidões,
resolveu procurar o médico.
O Dr. Pêras, médico muito experiente e amigo da família fez
logo o diagnóstico, mas não quis revelá-lo de pronto. Optou por pedir uns
exames , mais para ganhar tempo para pensar em como contaria a ela o que se
passava.
Amigo íntimo do marido de Dona Maria, o Dr. Pêras precisava
de tempo para investigar certas coisas: tentou falar com o esposo, mas ele
estava em viagem... e prolongada!
Os exames ficaram prontos e a mulher foi levá-los com muita
pressa ao médico. O Dr. abriu o envelope, coçou a cabeça embaraçado,
enquanto pensava: "Como dizer isso a ela? Conheço o casal há tantos
anos... Não esperava isso dele... Ela vai ficar furiosa!"
Mas Dona Maria insistiu: "Então Sr. Dr., o que é que eu
tenho?
Ele, ainda cauteloso perguntou a ela: "O teu marido está
também com essas manchas?" O Dr. Pêras, sabendo que se tratava de sífilis
pensou que ela se aborreceria seriamente com o marido.
Entretanto, ela respondeu prontamente que o marido não tinha
mancha nenhuma!
Mais surpreendido ainda o Dr. perguntava-se a si mesmo: de
quem então teria ela adquirido a sífilis, uma doença venérea?
Mas foi obrigado a dizer à cliente:
"Dona Maria, a senhora está com sífilis!"
Ela suspirou e deixou notar o nojo que tinha daqueles
cachorros do curandeiro e respondeu :
"Graças a Deus Sr. Dr.! E eu que estava pensando que era
sarna!"
(*)Ana Cecília Ferri Soares, escritora luso-portuguesa. Mora em Estoril.