versiones, versiones y versiones...Director, editor y operador: Diego Martínez Lora
Brane Mozetič:
“tenho medo de fazer amor contigo, sabes...” e outros 3 poemas
tenho medo de fazer amor contigo, sabes
não por medo da morte
da destruição, da terra molhada, ou
das longas separações, sentes demasiado pouco
demasiado rápido cortas a ferida, dizes
pensamento vazio e derrubas tudo
em frente de ti, como um furacão levas tudo
alheio e frio, como a vida
sinto medo quando ando pela cidade
que caio, de desmoronar-me ao nada
que a tua pressão me comprima contra o chão
que o rio não desagua, o sol cai,
a cabeça não arrebenta, os sonhos não morrem,
o medo é grande, como o mundo.
Tradução: Jasmina Markič
silenciosos, os feiticeiros das
metrópoles
semeiam impaciência e angústia com as suas mãos
secam os poços, às vezes, nublam a visão do condutor
ou atiram veneno nos vasos do terraço
de noite roubam o sonho das crianças e, aos
seres abraçados toda sensação, todo desejo de se dar
ontem puseram uma soga no vizinho,
privaram a mulher da vontade
a cor das flores, a fragrância dos cabelos
impuseram dores terríveis nas cabeças, o medo no peito
cabisbaixo, inclino-me ante os ídolos
a sua raiva é afiada, sua sede incomensurável
e o sangue não coagula, cada súplica anula-se
os lábios temerosos repetem frases insensatas
as mãos repetem gestos mecânicos
os feiticeiros traçam figuras ocas
cortam raízes, num instante de lassidão
esgotam-nos até à última gota.
Tradução: Luís Filipe Sarmento
não levantes as persianas, querido
para que a luz não penetre até nós
e o dia não destrua os sonhos
aninha-te em silêncio junto a mim
para que o sol não ouça, não note
o tempo como nos perdemos em beijos
e talvez passe sem nos ver o velho predador
que sempre transforma tudo em poeiras
mostra-me os teus pensamentos só com toques
só com mordiscos dos teus desejos
e se alguma vez quiseres gritar
lembra-te que tudo ao nosso redor espreita
para enrugar a pele, para que o fogo arrefeça
na cinza e o sangue que lambes se endureça.
Tradução: Raul Ferreira
numa noite profunda, quando nem sabes,
me rastejo ao quarto
em silêncio me aproximo
sob a luz da vela, observo a tua face
como um feiticeiro
coloco-me as mãos
por cima de ti
quando nem sabes, nem sentes,
quando nem podes me empurrar,
deito-me, encostando-me em ti,
suavemente para não te acordar
nesses momentos, penso ditosamente,
que ainda não há perguntas, nem dúvidas
como o rio serpenteamos através do tempo
embaraçados, na profundidade
há ainda peixes, e nas poças
umas mãos, uma boca bebem com paixão
lenta, seriamente, como um ritual.
Tradução: Jasmina Markič
(*)Brane Mozetič (1958, Ljubljana), poeta e tradutor esloveno. Muito cedo tornou-se uma das mais controversas personalidades da literatura eslovena.