versiones,
versiones, versiones y versiones...Director, editor y
operador: Diego Martínez Lora
Paula Margarida Pinho:
Elogio da noite, Demanda e Um mundo só meu
Quando à noite me debruço na janela
e sorvo a melodia do silêncio
há retalhos de sombras e sussurros
que se prendem aos meus olhos e aos ouvidos.
E uma magia íntima e secreta
vai crescendo e palpitando nos espaços;
embala nostalgias e desejos,
extrai brilhos e cores dos sonhos baços.
É então que eu sinto agudamente
que a noite é o meu lar, o meu refúgio -
e toda me recolho nos seus braços.
Procurei uma ave dentro de mim –
ou talvez uma flor,
talvez uma brisa.
Procurei um silêncio
redondo como o sol,
acre como a maresia.
Procurei seixos transparentes
e brilhos de água clara.
Mas apenas senti um adejar ligeiro,
uma promessa de voos
ou de encontros.
Apenas senti
a sede desses sonhos.
Fechada, isolada,
vou construindo um universo meu
– como se nada mais me afectasse;
como se a mim mesma eu me bastasse.
Encerrada num dia claro e lento
faço crescer as palavras que há em mim:
sol, mar, flor e luar;
vida, tempo, azul, lamento;
breve, leve, espaço, ausente...
Crescem em mim lentamente,
numa mágoa antecipada.
Porque esse mundo que eu crio
e que queria que fosse
um abrigo ou uma estrada
é um fragmento de nada,
a réstia de um ideal,
a sombra de um sonho errante.
Mesmo assim insisto.
E, aberta ao vazio
de uma inspiração,
acolho os ecos subtis
das palavras que há em mim
e se enraízam e crescem
nas dobras do coração.
(*)Paula Margarida Pinho, portuguesa,
poeta e professora. Nasceu e mora actualmente em Vale de Cambra.
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