versiones, versiones y versiones...renovar la aventura de compartir la vida con textos, imágenes y sonidosDirector, editor y operador: Diego Martínez Lora    Número 52 - octubre-noviembre 2003


João Manuel de Oliveira Ribeiro(*):

Da tua casa e outros poemas
(do Livro de Explicações, Vila Nova de Gaia, Editorial 100, 2003)


Da tua casa

 

Se me pedires
deixarei que a casa me (na)more:
aceitarei a brancura
plantando-se-me na alma
as flores no parapeito janela
como transpiração fugaz da memória

e o chão adentrasndo-se

se me pedires
a casa é tua


Do morrer

 

Sem raiz
à prócura de água
mor(r)o
estranhamente
ao pé
das acácias


Do inverno

 

perguntei pelas águas de fevereiro
como quem se fere nos pulsos

respondeste sendo um país líquido
com uma braçada de searas ao sul

reconheço-me húmido e pronto a trovejar


Silenciário

 

Um certo rumor de silêncio
cresceu nas ancas das palavras
após a entrega das bocas

escasseiam agora as explicações
na fronte excessiva do poema


Desapalavrada

 

Inventei para ti uma palavra
com mil cheiros mil sabores
uma palavra onde coubesses inteiro
uma palavra pequena onde te escondesses
uma palavra extensiva
ao tamanho dos sonhos que em ti se incendeiam

inventei uma palavra
onde podes des-morar
uma palavra soalheira ou chuvosa
(se te apetecer)
isso uma palavra apetecível
uma palabra (em) que te deita(s)

inventei uma palavra interjeição
ah uh hi palavra (a)fonética
palavra misteriosa espiritual
uma palavra poema

inventei-te numa palavra
indizível e inefável


(*)João Manuel de Oliveira Ribeiro,  poeta português. Actualmente mora entre Madrid e Porto. Publicou 2 livros pela Editorial 100: Amores (quase) perfeitos e outras arritmias e Livro de Explicações.


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