versiones, versiones y versiones...renovar la aventura de compartir la vida con textos, imágenes y sonidosDirector, editor y operador: Diego Martínez Lora    Número 52 - octubre- noviembre 2003


Laura Moniz(*):

1950 e outros poemas de "A musa das coisas pequenas"


 

1950

 

 

tão longe fica

a lancha da meia morte

meia dor meia flor

para chegar em espera ao hospital

na lancha da meia morte

que tão longe fica

 

meio amor meu amor

que não acaba

na cana d’açucar

ou no poio cavado

meia dor minha dor

para encher de mel

o teu sorriso

que tão longe habita

 

 

tão longe fica

a lancha da meia morte

meio amor meia dor

meu amor minha dor

tão longe fica

e essa metade da vereda

que leva ao teu altar

tira-me o teu olhar

que de tão longe fita


    

Direi a Pavese I

 

esse céu

esse céu de frio azul

a torrente nortenha

as ondas sobre as rochas

e a secura da terra despojada

 

direi a pavese

das rochas agrestes

do mar contra as rochas

e o que dizem

a paisagem sem poios

sem camponês

e o vento

desse céu

desse céu de frio azul

onde apascento

os murmúrios da sua ausência


Direi a Pavese II

 

 

e desta flor de cacto

o pé de tabaibo em ascenção

restará o silêncio eterno e imutável

da fonte ausente

direi a pavese

desta flor de cacto

do avião que sobrevoa agora o céu

e da fonte ausente

onde não habita homem nenhum

nenhum servo da tempestade

nenhuma viúva lacrimosa

e desta flor de cacto

permanecerá o silêncio ausente

daquele que morreu

longe de mim


agora

a noite que se cala

quando nos deitamos

 

com um roçar de asas

as andorinhas abandonam um poema

o meu poema

e o silêncio

vão temperar teu rosto

com pequenas palavras

são interjeições em forma de

roçagar de mordedura

 

o verão passado

ai o verão passado

na noite que se cala

o verão passado

o verão passado na roca imóvel

é um subtil, tenro e terno,

muito terno rebento verde

a estalar no pico do facho

 

a noite que se cala

quando nos deitamos

com um roçar de asas

de poema abandonado

 

o café fechou meu amor,

pantera negra, selva africana,

na noite que se cala

atenta ao som da tua pele de ébano

 

tudo é esquecimento, meu amor,

e nele contemplo tua face momentaneamente ausente,

pantera negra alvejada, selva africana abandonada

quando nos deitamos

e as andorinhas abandonam o poema

às tuas mãos de noite

às tuas mãos de princesa regressada


(*)Laura Moniz, escritora madeirense.


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