versiones, versiones y versiones...Director, editor y operador: Diego Martínez Lora
Eduardo Correia(*)
A Tempestade e outros poemas
A TEMPESTADE
Onde está
o abrigo?
Sob a chuva,
no bosque outonal,
um par
enlaçado corre.
Em permanência estão, felicidade serena.
E a chuva não pára, melancolia contínua.
Nuvens
nascem de nuvens,
um céu atroz
reproduz-se na bruma.
As árvores
passam e ficam,
preenchendo o horizonte
com os seus
tristes lamentos.
E no bosque
enlaçados correm.
Em permanência estão, felicidade serena.
E a chuva não pára, melancolia contínua.
As folhas voam,
no dominante
e frio cinzento!
As aves volteiam,
dizendo atordoadas
que só os sonhos
são eternos!
E no bosque
enlaçados correm.
Em permanência estão, felicidade serena.
E a chuva não pára, melancolia contínua.
Uma aurora
que fica
renasce por dentro,
enquanto lágrimas
que falam
pelas faces rolam.
E no bosque
enlaçados correm.
Em permanência estão, felicidade serena.
E a chuva não pára, melancolia contínua.
Doces amantes,
a tempestade nunca,
nunca terá fim!
E esse olhar
tão terno
será sempre
o vosso
único abrigo!
Em permanência estão, felicidade serena.
E a chuva não pára, melancolia contínua.
Num louco galope, tudo devassando e destruindo os obstáculos, continuam a sua infernal cavalgada. Nada poupam, enquanto com selváticos gritos se incitam uns aos outros, chegando ao ponto de competirem entre si para descobrirem qual é o mais infernal. Já ao longe se distinguem, pelos seus gritos e os das vítimas, pela poeira que levantam, mas acima de tudo pelo odor a destruição que sempre os antecipa.
Nada a fazer, quando o ar é invadido pelo pestilento cheiro que tudo infesta como uma praga que ainda se desconhece. Os gritos dos que ainda vivem mas já sabem que nada podem fazer para escapar juntam-se aos dos que vão morrendo ao longe.
A cavalgada não tem rumo nem fim.
Às vezes,
o silêncio é tudo
o que temos
de tudo aquilo
que podemos ser.
O silêncio
e o mar,
que lentamente
nos invade
como uma alma
que sorri.
(E ao sorrir
desdobra-se,
desdobra-se como um
pássaro.)
De vidro.
Como o cristal,
ou como a água.
Assim é
o poema.
Que lentamente se forma
com a fragilidade extrema
de tudo aquilo
que ganha formas de mármore
mas da mudança nasce.
E depois
quebra-se em estilhaços.
Quando a água
cristaliza.
Perante a Vida
toda a Eternidade
é muda.
Perante a Vida,
até dizer que
perante a Vida
toda a Eternidade
é muda
é redundante.
É por isso
que eu à Vida
não digo que
perante a Vida
toda a Eternidade
é muda.
(*)Eduardo Correia, Espinho, 1974. Mora actualmente no Porto.