versiones, versiones y versiones...Director, editor y operador: Diego Martínez Lora
Maria Virgínia Monteiro(*)
3 de Precário Registo
o inimigo morto
... ó, não!
... digam-me por favor
e os medos e as fugas
nem sóis, e os céus sem deuses
ficaram para trás
na estrada repetida
em marcos siameses
que é morto o inimigo
e importa a luz que resta
caminhos de Avalon
falésias ou floresta
que é findo o tardo e nu
percurso dos meus pés
por trilhos aguçados
cortavam, proibidas!...
lembrem-me sim, que não chore
que o inimigo é morto,
o da lança o da aljava
que guardava-me a prisão;
o que rasgava em tiras
apunhalada, a hora
e enterrava juntos
o tempo e o perdão.
(ó mandem-me, que as invente
na nova luz do dia
as asas do momento
e alevantá-las tente
que rasam só o chão)
... ó digam-me que não chore
o inimigo morto
... o que era -
- e eu não o sabia! -
o meu próprio coração
companheira
Recuso-a
a dor
e logo vem
e fica
lá, onde eu for,
na tarde, na noite
no minuto absoluto
a que expulso
e torna
e envolve
e transforma
em sombra
em grade
em agonia
na tarde, na noite
a dor, a insidiosa companheira
Se
Um dia, se voltares
só digam que parti
que já não sou
o meu estar
que, até, talvez de mim
distante eu esteja
o tudo de eu amar
mas lá, tal como aqui
a imensurada rota, a não estrada
semente em só silêncio fecundada
percurso em mim do tempo, o longe-perto
pássaro louco, solto na distância
de só saber de ti a dor a ânsia
mais frágil do que um sopro, o pó no vento
baterá meu coração, fiel e certo
assim e só por ti, terno e violento
perdido coração e sem sossego
pássaro do longe, a ir, a vir
a fecundar, nó de silêncio
(*)Maria Virgínia Monteiro, Espinho, 1932. Poeta e escritora. Mora actualmente em Vila Nova de Gaia.